ARANHA, Osvaldo
Representante do Brasil na ONU
Aranha dedicou-se em 1946 às atividades empresariais, participando da criação da Gastal SA, companhia que atuava na área de importação e venda de automóveis, máquinas e equipamentos. Em meados do ano, a Gastal já representava mais de 20 indústrias.
Convidado pelo novo ministro das Relações Exteriores, João Neves, em junho de 1946, para chefiar a delegação brasileira que participaria no mês de janeiro seguinte da Conferência das 21 Nações, para o estabelecimento dos termos da paz, Aranha preferiu recusar, cabendo então ao próprio chanceler a chefia da missão. Em novembro, o periódico Time Magazine convidou-o a fazer, durante o Council of World Affairs que se realizaria em dezembro em Cleveland (EUA), uma palestra sobre as relações latino-americanas com os Estados Unidos. Aranha embarcou para aquela cidade no dia 5 de janeiro de 1947. Encontrava-se ainda em Cleveland quando Raul Fernandes, que substituíra João Neves no Itamarati, indicou-o para chefiar a delegação do Brasil na ONU em lugar de Pedro Leão Veloso, recém-falecido. Alegando não poder afastar-se por muito tempo dos seus negócios no Brasil, Aranha concordou em aceitar a indicação desde que permanecesse no cargo somente até abril. Ao término da reunião de Cleveland, visando a informação do governo de Dutra, Osvaldo Aranha fez um levantamento de opiniões para avaliar a imagem do Brasil no exterior e a situação pan-americana e internacional, justificando desse modo os contatos que então estabeleceu com a alta cúpula política e empresarial dos EUA. O resultado obtido foi de que a "opinião geral em relação ao Brasil é de desconfiança" e que "o pan-americanismo está em crise".
A 1º.de fevereiro, Aranha foi nomeado chefe da delegação do Brasil junto à ONU e seu representante no Conselho de Segurança da organização. Ainda em fevereiro, assumiu a presidência desse conselho, função que, por rotatividade, cabia ao Brasil. Em abril chefiou a delegação brasileira à I Sessão Especial da Assembléia Geral da ONU, que o elegeu para presidi-la. Segundo documento que se encontrava em seus arquivos, o governo norte-americano desejava que a presidência da Assembléia Geral da ONU fosse ocupada pelo Brasil, tendo encontrado resistência a esse propósito por parte da representação inglesa. O delegado norte-americano recuou, então, de seu intento. Enquanto isso o secretário-geral da ONU, o norueguês Trygve Lie, sabendo que os soviéticos objetariam fortemente à indicação inglesa, resolveu-se por Osvaldo Aranha como candidato de conciliação e fez com que a imprensa publicasse a notícia do apoio total da América Latina ao político brasileiro, o que atou as mãos dos representantes latino-americanos.
Como representante do Brasil no Conselho de Segurança da ONU, Osvaldo Aranha teve por preocupação básica estabelecer um acordo continental para a redução dos armamentos, pois o governo brasileiro inquietava-se com a posição militar da Argentina, país que tradicionalmente mantinha divergências com o Brasil. Prevendo as dificuldades que poderiam surgir nos debates, Aranha manteve sistemática correspondência com o ministro da Guerra, general Canrobert Pereira da Costa, partilhando ambos do ponto de vista de Dutra: através do pacto continental, o Brasil deveria ser colocado politicamente na mesma posição da Argentina, mas militarmente em posição superior. De modo a facilitar a atuação dos representantes brasileiros na ONU, o ministro da Guerra determinou que o general Góis Monteiro, então no Comitê de Defesa Política em Montevidéu, colaborasse com Aranha. Nesse mesmo sentido, o general Henrique Teixeira Lott recebeu instruções para acompanhar o ex-chanceler. De modo geral, a posição argentina quanto ao acordo era vista como uma ofensiva político-militar favorecida por sua situação econômica privilegiada.
A primeira reunião da Comissão para o Desarmamento Convencional foi realizada no final de março. No mês seguinte, Osvaldo Aranha fez um pronunciamento perante o órgão defendendo a restrição dos aparatos bélicos nacionais à necessidade mínima de defesa e segurança de cada país, a exemplo de acordos existentes entre os EUA e o Canadá e entre a França e a Inglaterra. Propôs que se desse aos EUA competência para controlar o armamento continental, como primeiro passo para o desarmamento em todo o mundo. Em fins de maio, Aranha regressou ao Brasil e acertou com o chanceler a prorrogação de sua. permanência à frente da delegação brasileira na ONU. Ainda em junho, à Académie Diplomatique Internationale pediu-lhe autorização para recomendar seu nome ao comitê executivo da entidade para preencher a vaga deixada por Afrânio de Melo Franco.
A 1º. de fevereiro, Aranha foi nomeado chefe da delegação do Brasil junto à ONU e seu representante no Conselho de Segurança da Organização. Ainda em fevereiro, assumiu a presidência desse conselho, função que, por rotatividade, cabia ao Brasil. Em abril chefiou a delegação brasileira à I Sessão Especial da Assembléia Geral da ONU, que o elegeu para presidi-la.
Poucos dias depois de sua chegada a Nova Iorque, para a II Sessão da Assembléia Geral, já corriam rumores sobre sua possível reeleição para a presidência da Assembléia. Sua candidatura a que se opunham os soviéticos, era ainda incerta, embora de grande interesse para os norte-americanos. O objetivo maior do governo Dutra, nessa altura era no entanto, o de assegurar a entrada do Brasil no Conselho Econômico e Social da ONU e temia-se que a reeleição impedisse esse intento. Assim, Raul Fernandes orientou Aranha a aceitá-lo apenas se lhe fosse oferecida. Isso levou o embaixador brasileiro a anunciar, durante a reunião dos países latino-americanos, que o Itamarati decidira não aceitar sua reeleição, preferindo indicar o ministro das Relações Exteriores da Austrália, Herbert Evatt, o que provocou continuados protestos. Criou-se uma comissão para proceder à apuração dos votos. A delegação norte-americana, que já apoiava abertamente Evatt, ofereceu a Aranha a presidência do Comitê de Justiça, mas o brasileiro acabou reeleito para a presidência da Assembléia por 29 votos contra 22.
A atitude dos EUA de apoiar a candidatura do ministro australiano deu margem a algumas especulações. Segundo alguns, tratava-se de uma manobra para fazer a União Soviética acreditar que Washington apoiava Aranha apenas para o Comitê de Justiça, levando Moscou desse modo a votar no brasileiro para a presidência da Assembléia. Segundo outros, o resultado da eleição representou uma mudança da tática soviética em relação aos EUA, procurando conquistar a simpatia de Aranha para tê-lo como possível mediador entre as duas potências e fazer do bloco latino-americano um aliado contra o Plano Marshall (reorganização da Europa no pós-guerra). Essa interpretação justificaria o voto soviético, que por outro lado deu margem a posteriores acusações de uma suposta simpatia de Aranha por Moscou. Em fins de setembro já se delineava, a partir dessas insinuações, uma área de atrito entre Raul Fernandes e o chefe da delegação brasileira na ONU. Criticava-se o fato de Aranha ter aceito a reeleição, que segundo o chanceler teria burlado a política de rotatividade traçada pelos países membros da ONU.
Nesse segundo semestre de 1947, o Brasil defendeu na ONU, entre outros pontos, a revisão do posicionamento político dos países membros frente à Espanha franquista e uma atitude de reserva quanto ao pedido de admissão do Iêmen e do Paquistão. Quanto ao problema da Palestina, Aranha foi orientado por Raul Fernandes para procurar uma "solução de compromisso entre as partes litigantes, evitando favorecer abertamente uma ou outra facção e acompanhando ... o voto dos Estados Unidos". Em outubro era orientação brasileira abster-se de qualquer julgamento sobre a questão, já que os árabes eram contrários à partilha daquele território. Aranha estava orientado, porém, a votar com as grandes potências em caso de impasse, pois a elas caberia a responsabilidade de colocar em prática a resolução da partilha, afinal aprovada no fim desse mês com o voto favorável do Brasil. Tal medida propiciou em 1948 a criação do Estado de Israel, do qual Aranha passaria a ser considerado grande benemérito.
Com a recusa da Tchecoslováquia em candidatar-se ao Conselho de Segurança, foi indicada a Ucrânia para substituí-la, conforme a política da ONU de ter cada bloco ideológico representado por um país. Também do bloco soviético, a Ucrânia parecia ter assegurada sua eleição graças a um acordo tácito entre os EUA e outros países, entre eles o Brasil. No dia da votação, no entanto, a delegação norte-americana alterou seu posicionamento, votando na índia, cuja indicação era apoiada por Londres. O Império Britânico pretendia, desse modo, fazer três lugares no Conselho de Segurança. Como presidente da Assembléia e diante da nova posição dos EUA, Aranha transferiu a votação, considerando a eleição da índia um desprestígio para a diplomacia brasileira. Sua atitude provocou nova série de insinuações de que se teria passado para o lado soviético. As críticas provinham tanto dos EUA quanto do Brasil, onde o ministro Raul Fernandes liderava a campanha de acusações.
Em cartas ao chanceler brasileiro, Aranha defendeu-se afirmando que os soviéticos não o apoiaram quando de sua eleição e que cabia exclusivamente ao governo norte-americano a responsabilidade pelos acontecimentos: votara com a URSS, a favor da Ucrânia, a pedido dos próprios norte-americanos, e não era seu dever procurá-los a todo momento para saber se continuavam com a mesma posição - "A nossa solidariedade não pode ser nunca uma servidão", disse. Por outro lado, a representação soviética fez declarações consideradas ofensivas ao governo brasileiro e às forças armadas, assim como aos Estados Unidos. Ainda em outubro, quando o Brasil rompeu relações diplomáticas com Moscou, Aranha não foi previamente notificado do fato.
Quanto à política interna, o ano de 1947 foi marcado por algumas especulações em torno da sucessão presidencial. Principalmente a partir de setembro, cogitou-se do lançamento da candidatura de Osvaldo Aranha pela UDN, chegando-se a comentar a possibilidade de apoio dos comunistas, pois Aranha se manifestara a favor do monopólio estatal do petróleo e contra o fechamento, em maio, do Partido Comunista, considerando sua preservação fundamental ao regime democrático .
Em fins de 1947, quando se afastou da delegação brasileira na ONU, Aranha teve seu nome cogitado como possível candidato ao prêmio Nobel da Paz. Nos primeiros meses do ano seguinte prosseguiram as articulações nesse sentido e, em fins de janeiro, sua candidatura foi apoiada por 15 delegações de países integrantes da União Pan-Americana. Era defendida também por entidades sionistas norte-americanas. O prêmio foi dado, no entanto, ao Conselho dos Quacres, da Grã-Bretanha.
No início de 1949, Dutra liberou os partidos políticos para os debates sucessórios, tendo em vista as eleições presidenciais de outubro de 1950, o que acelerou as articulações das candidaturas. A movimentação em torno da indicação de Aranha pela UDN concentrou-se no Rio de Janeiro, em São Paulo e Minas Gerais. Em janeiro de 1950, sua candidatura foi anunciada pelo jornal Folha da Manhã; de Porto Alegre, mas no mês seguinte o próprio Aranha a desmentiu, afirmando já ter candidato, o brigadeiro Eduardo Gomes.
O brigadeiro, no entanto, continuava a sofrer a oposição de alguns membros da UDN, como o deputado federal gaúcho Flores da Cunha, que em março tornou a propor a candidatura de Osvaldo Aranha, por considerá-la capaz de congregar as diferentes tendências do partido. Em abril, o próprio Vargas escreveu a Aranha que esta seria a sua grande oportunidade. Na carta expressava o desejo de ajudá-lo, mas lembrava um conjunto de fatores estranhos à sua vontade que o impediam de fazêlo - na verdade, a candidatura de Getúlio já vinha sendo articulada há algum tempo pelo Partido Social Progressista (PSP) e pelo PTB, acabando por ser lançada publicamente em meados do mês por João Goulart. Na mesma carta, Vargas afirmava que ambos deveriam aguardar os acontecimentos, permitindo ao PSD o lançamento de um candidato. Poucos dias depois, no entanto, o diretoria racional da UDN indicava à convenção partidária o nome do brigadeiro Eduardo Gomes. Realizado o pleito em 3 de outubro de 1950, Vargas foi eleito na legenda do PTB.
http://www.cpdoc.fgv.br/dhbb/verbetes_htm/313_15.asp
2006-09-27 09:59:52
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answer #2
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answered by CURIOSO 2
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