Groucho, O "nada" em vida (nesta vida, que é a úncia que nos é dado conhecer), suponho. O "nada" dos existencialistas. De uma lado, te escrevo de memória uma frase de Sir Herbert Read, imenso filósofo, sociólogo e crítico de artes (plásticas) e, apesar do "Sir", imenso ativista anarquista: A virtude de todo ponto de equilíbrio é o ele ser facilemente abalável. (Eu, e não Read: Não o fosse, deixaríamos de evoluir. E nos é dado evoluir permanecendo fiéis a nosso ponto de partida, o primeiro ponto de equilíbrio). De outro te escrevo que o "nada" dos existencialistas jamais poderia ser estável: seu corolário seria o suicídio.
Vez que v tem escolheu esse bonito apelido de Groucho Marx, se ainda não o viu, te proporia assistir ao filme de Michelangelo Antonioni, "Profissão: Réporter". Vi-o em 1975 e ora, revendo-o três vezes, VI.
Finalmente, há o querer ser "nada" de alguém que trilha caminho místico. Na minha opinião, está ele PLENAMENTE expresso no filme "Nostalghia" de Andreï Tarkóvski. Penso este nada tem o condão de ser realmente estável, vez que é "nada" transcendente.
Abçs.
2006-09-25 11:22:07
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answer #1
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answered by Anonymous
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O NADA
Em meio à elaboração deste texto, eis que me deparo com esta frase do escritor argentino Ernesto Sabato ao expressar muito bem o que quero exprimir: “O nada é a forma mais imaculada da pureza”.
Sugestiva também é a citação atribuÃda a Virginia Woolf no filme “As Horas”, quando a escritora responde a uma menina que lhe pergunta para onde vamos após a morte: “Para o mesmo lugar que viemos antes de nascer”.
Após essas considerações iniciais seria interessante estabelecer algumas premissas para situar a presente argumentação, para que este ensaio não pareça pregação de ermitão desiludido ou perplexo com a vida. Não se propõe fazer proselitismo de nada. Simplesmente especula-se sobre um tema. Filosofa-se sobre o Nada numa perspectiva humana e individual. Assim posto, o nada, neste contexto, é, basicamente, a inexistência de uma vida humana. Contudo, sem qualquer perspectiva mórbida. Muito pelo contrário, o objetivo é compreender melhor o fenômeno da nossa vida para vivê-la melhor.
O Nada poderia ser considerado também sob o ponto de vista do fenômeno humano, do ser humano como um todo. O Nada ainda poderia ser analisado sob o prisma mais amplo, cósmico ou universal. Neste caso ele teria uma conotação mais absoluta, além da ausência da vida, no primeiro caso, mas da ausência de tudo, no segundo.
Como dito, o ensaio limita-se à análise do tema dentro de uma perspectiva humana e individual. Assim definido o escopo do trabalho, o Nada é a ausência de uma vida ou o seu fim.
O corpo, seus órgãos, o metabolismo, doenças, instintos, sexo e gêneros. Ascendência, descendência e história. Parceiros, amigos, cônjuges, filhos, sobrinhos, netos, toda e qualquer sociabilidade. Perspectivas. Amor e afetividade. Aflições, preocupações e agonias. Alegrias, êxtases, gozos e prazeres. Dor. Patrimônio, riqueza e renda. Compromissos, vÃnculos, deveres, direitos. Passado, lembranças, futuro. Enfim, nada, absolutamente nada. Embora o Nada não comporte o absoluto nem tampouco o relativo. O Nada é nada.
Como isso deve ser bom, no devido tempo, livrar-nos das aflições da vida, depois de vivê-la da melhor maneira possÃvel! Mas o nada não comporta o bom ou o mau. Tampouco o bem e o mal.
Incoerentemente, o ser humano despreza o Nada, ele objetiva o Tudo. Pelo menos é isso que está na base do pensamento, pelo menos o da civilização ocidental. A filosofia oriental talvez seja menos idealista, embora também dê lugar a expectativas absolutas. Porque só o Tudo pode ser absoluto, constituindo-se seus limites: O Nirvana, o ParaÃso, a Eternidade, a Graça, o Divino e a Reencarnação.
Está certo que no decurso de sua vida, o ser humano procure renda, riqueza, conhecimentos, reconhecimento, afetos e afins, para ter as condições que achar necessárias para o bem viver. Progresso, civilização e cultura. Melhorias para as gerações vindouras. Mesmo assim, e como sabem não está nas cogitações deste ensaio, poderia se orientar pela perspectiva do Nada para pautar sua vida. O Tudo induz ao Todo e ao Muito. A perspectiva do Nada pode lhe sugerir a virtude da parcimônia. Não a Penúria, mas o Bastante. Que poderia até conter o “caviar das crianças”, dependendo das “necessidades” de cada um. Mas este parágrafo está fora no nosso escopo presente. Voltemos à trilha preconizada. Aqui foi posto só para eliminar qualquer exaltação à pobreza.
A busca do Tudo, do Todo, do Muito é uma carga muito penosa para o ser humano. A angústia, a depressão e o “stress” são suas moedas de troca. Toda a civilização humana, notadamente a ocidental, está voltada para esses fins. O Tudo é que domina o pensamento filosófico e principalmente religioso de grande parte da humanidade. O homem não se dá conta da importância do Nada. Almeja o Tudo e se dilacera, desconfiando, embora sem admitir, da fatalidade do Nada.
Numa outra linha de raciocÃnio, considere-se este faceta diferente do conceito de liberdade. Acredito que tenha sido José Carlos de Oliveira que tenha dito: “Liberdade não se ganha, não se conquista; liberdade se perde”. Ao longo da vida, as pessoas vão abdicando de porções de sua liberdade, se comprometendo, se vinculando, se envolvendo, criando alianças, participando de grupos, seitas, empresas, escolas de pensamento etc. E perdendo sua liberdade individual. A conquista da liberdade só se dá voltando ao Nada. A liberdade total está no Nada.
Durante muito tempo, prenhe de sentimentos humanistas, adorava os versos do poeta russo Maiakovski, que diziam: “O século XXX vencerá”. Considerava-os o máximo de altruÃsmo. O homem preocupado com uma longÃnqua geração. Ainda os admiro. Hoje, pasmo-me diante a citação de um sobrinho num quadro surrealista, que diz: “Não deixarei memórias”. Esse posicionamento supera em muito o desprendimento e o despojamento anterior, porque ele implica em abrir mão da transcendência, um valor muito caro ao homem, quando, na busca do Tudo tenta negociar algo com o Nada, restando-lhe um troco qualquer, sua memória.
O Nada não comporta sequer a paz eterna. à o Nada. Como diria o português da piada, “O nada é um punhal, sem lâmina e sem cabo”.
No mais, viva a vida! O pequeno lapso que une o Nada ao Nada, o Não-Ser ao Não-Ser.
Termino com a nÃtida sensação que estar querendo reinventar o homem. Inglória e arrogante pretensão! Esta sensação acentuou-se diante do que acabo de ler, outra vez em Ernesto Sabato que, mais ou menos, assim se expressa: entre os problemas em que os homens se debatem estão o anseio de absoluto e de eternidade diante da revolta do absurdo da existência.
2006-09-24 23:58:49
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answer #3
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answered by Anonymous
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