Cenógrafo, pintor de gênero, aquarelista, ilustrador, desenhista, caricaturista, decorador, ator... São algumas das habilidades por que se fez conhecer Crispim do Amaral. Nascido em Olinda, Pernambuco, em 1858, deve ter começado seus estudos nas Artes com um artista de nome Chapelin, provavelmente François Etienne Chapelin, escultor que trabalhava no departamento de obras públicas do Recife. Mas alguns afirmam, entretanto, que o Chapelin que serviu de inciador do jovem Crispim do Amaral foi Leon Chapelin, pintor que vivia em Salvador, mais ou menos neste tempo.
Ainda novo, Crispim do Amaral veio para o norte brasileiro, primeiramente Belém, depois Manaus, por volta de 1876, junto da companhia teatral de Vicente Pontes de Oliveira, trabalhando na iluminação, decoração, cenografia e acessórios das peças. Mas do Norte do Brasil, onde viveu cerca de 8 anos, com uma breve lapso que passou no Recife, o pernambucano partiu para a Europa, onde deve ter encontrado sua formação decisiva, tendo estudado, supõem-se, na Academia di San Lucca, na Itália, uma das mais renomadas escolas de arte da época. Em seguida, Crispim do Amaral foi a Paris, onde, dentre outras coisas (diz-se que ele esteve trabalhando um tempo no teatro da Comédie Française), era cartunista do jornal «Le Rire», sendo admirado por alguns intelectuais da fervilhante Paris da época. Entretanto, uma caricatura sua que mostrava a rainha inglesa Vitória em posição vexatória, rendeu-lhe um processo da justiça francesa, no qual foi condenado a 3 anos de prisão. Retornou imediatamente ao Brasil e em 1894 já estava em Manaus, onde envolveu-se com as obras do Teatro Amazonas, na condição de encarregado dos trabalhos de decoração. Reputam-se como sendo dele algumas das idéias da fachada do Teatro Amazonas, como os óculos da cimalha, alusivos aos que existem na Ópera de Paris, e mesmo a proeminente cúpula com suas escamas coloridas. Mas acima de tudo, quase todas as benfeitorias artísticas planejadas para o interior do Teatro Amazonas saíram de sua criação ou por ele foram encomendadas, como os trabalhos artísticos no Salão Nobre e Sala de Espetáculos do Teatro Amazonas, de autoria dos italianos Giovanni Capranesi e Domenico De Angelis, subcontratados por Crispim do Amaral para este serviço. A dupla romana também havia se formado na Academia di San Lucca e pode ter conhecido o brasileiro lá.
Crispim do Amaral permaneceu em Manaus até o fim do século XIX, mais ou menos, executando outros trabalhos que não só os relacionados ao Teatro Amazonas. Na capital amazonense ele assentou postes de propaganda (novidade à época) e explorou uma concessão pública de quiosques, que eram pontos de venda de certos artigos, como jornais e cigarros, em locais públicos determinados para este fim.
Para Manaus, Crispim do Amaral mostrou mais uma das suas facetas de artista múltiplo, envolvendo-se em grupos musicais, atuando em concertos e saraus, sempre como flautista. Nesta qualidade chegou a substituir membros da orquestra no Teatro da Paz, em Belém, quando de temporadas artísticas.
Por volta do início do século XX, retornou ao Rio de Janeiro, onde deve ter ido algumas vezes neste meio tempo em que voltara da França e trabalhava em Manaus. Na capital da recém-instalada república ele voltou a trabalhar como caricaturista e em especial no jornal «O Malho», que ajudou a fundar.
Retirado para sua chácara há algum tempo, veio a falecer na Assistência Pública do Rio de Janeiro, em 17 de dezembro de 1911, de ataque de uremia, depois que descia de um bonde, ao fim de um dia de trabalho na cidade.
Crispim do Amaral, homem de muitas habilidades, teve mais dois irmãos ligados às Artes, igualmente caricaturistas: Amaro do Amaral e Libânio do Amaral.
Libânio do Amaral era, sobretudo, pintor e fotógrafo. Associou-se ao suiço Georges Hübner e fundaram no Rio de Janeiro a casa fotográfica «Hübner & Amaral», chamada posteriormente de «Photographia Alemã». Vieram para Manaus por volta de 1900 para abrir uma outra loja da sociedade «Hübner & Amaral», que também seria chamada de «Photographia Alemã». Antes disso, passaram por Belém, onde adquiriram a célebre Casa Fidanza, também do ramo fotográfico e que realizou trabalhos importantes para Manaus.
Na capital amazonense, Libânio do Amaral construiu prestígio semelhante ao do irmão, vindo a se tornar professor da Academia Amazonense de Belas Artes, dirigida pelo maestro Joaquim Franco. A «Photographia Alemã», afamada no Rio pela realização das fotos de ilustres personalidades da época, sobreviveu em Manaus ainda por muitos anos, mesmo depois do desparecimento de seus fundadores.
Fontes:
1. Teixeira Leite, José Roberto – Pintores Negros do Oitocentos – Ed. Emanoel Araújo e Indústria de Freios KNORR/MWM motores, 1988
2. Lopes Gonçalves, Augusto de Freitas – Dicionário Crítico e Literário do Teatro no Brasil – Ed. Cátedra, Vol.1, 1976
Lima, Herman – História da Caricatura no Brasil – 1968, vol.3
3. Páscoa, Márcio – A Vida Musical em Manaus na Época da Borracha (1850-1910) – Governo do Estado do Amazonas/Funarte, 1997.
4. Valadares, Clarival do Prado – Restauração e recuperação do Teatro Amazonas – Governo do Estado do Amazonas/Norberto Odebrecht, 1974.
2006-09-22 13:54:58
·
answer #1
·
answered by miosotis 7
·
0⤊
0⤋