Como eu imagino que quando Vc fala de mensalão, se refere também a uns oito anos atrás....
Donos da Planam afirmam que o ex-ministro José Serra está envolvido com a máfia das ambulâncias e
entregam novos documentos sobre a distribuição de propinas
Na última semana, os termômetros na capital de Mato Grosso registravam temperaturas superiores aos 35 graus centÃgrados. Tão quentes quanto Cuiabá são os documentos que os empresários Darci Vedoin e seu filho Luiz Antônio obtiveram junto a bancos para ser entregues à Justiça, ao Ministério Público e à CPI dos Sanguessugas. Ambos são donos do grupo Planam, as empresas flagradas pela PolÃcia Federal em maio deste ano em um esquema de compras superfaturadas de ambulâncias que foram distribuÃdas a todo o PaÃs. Na ocasião, a PF prendeu 46 pessoas, entre elas os Vedoin, que permaneceram na cadeia por 80 dias.
Na quinta-feira 14, pai e filho fizeram chegar à s mãos dos responsáveis pelas investigações uma pasta recheada de novos documentos. ISTOà teve acesso a esses documentos com exclusividade. Os mais importantes são extratos bancários que demonstram dezenas de depósitos feitos pelo grupo Planam a pessoas fÃsicas e jurÃdicas até agora não mencionadas. Com essa documentação, a Justiça, o Ministério Público e a CPI ficam aparelhados para incluir nas investigações sobre a máfia das ambulâncias a efetiva participação dos ex-ministros da Saúde José Serra e Barjas Negri. “Na época deles o nosso negócio era bem mais fácil. O dinheiro saÃa muito mais rápido. Foi quando mais crescemos”, diz Darci. “A confiança do pagamento era tão grande que chegamos a entregar cento e tantos carros apenas com o empenho do Ministério, antes de a verba ser liberada.”
Entre os documentos entregues pelos Vedoin está uma relação de emendas feitas no Orçamento da União que acabaram liberadas e atenderam aos interesses da Planam. A papelada indica que entre 2000 e 2004 a Planam comercializou 891 ambulâncias. Dessas, 681, mais de 70%, foram negociadas até o final de 2002, quando Barjas Negri deixou o Ministério da Saúde, após substituir José Serra, que disputara a eleição presidencial. Para explicar a importância e a contundência do que estão delatando, Darci e Luiz Antônio apresentam um novo personagem na máfia das ambulâncias. Trata-se de Abel Pereira, um empresário da construção civil sediado em Piracicaba, cidade do interior paulista coincidentemente hoje administrada por Barjas Negri. “O Abel falava em nome do ministro Barjas e se tornou o nosso principal operador no Ministério da Saúde a partir do segundo semestre de 2002”, relata Luiz Antônio. Segundo ele, naquele perÃodo houve uma pequena mudança no esquema. “Quando o Serra era ministro as operações eram feitas pelos parlamentares. Quando o Barjas deixou de ser secretário executivo e assumiu o comando do Ministério, Abel passou a ser o responsável pela liberação dos recursos, apesar de não possuir nenhum cargo naquela Pasta.”
Nos documentos bancários aos quais ISTOà teve acesso há cópias de pelo
menos 15 cheques emitidos pela Klass, uma das empresas dos Vedoin, que
teriam sido entregues ao próprio Abel. “Os cheques estão ao portador, mas
foram entregues nas mãos dele”, acusa Darci. No total, esses cheques somam
R$ 601,2 mil. Um deles, o de número 850182, datado de 30 de dezembro de 2002, tem o valor de R$ 87,2 mil. No mesmo dia, há outros sete cheques, seis deles são de R$ 30 mil e recebem os números de 850183 a 850188. O cheque 850181, também de 30 de dezembro de 2002, tem o valor de R$ 45 mil. “Depois que eles perderam a eleição, o Abel me procurou e passamos a fazer muitas liberações”,
diz Darci. De fato, 2002, último ano da administração tucana, foi o ano em que a Planam mais distribuiu ambulâncias pelo Brasil. Foram 317 no total. No Ministério Público, há quem suspeite que esses seguidos repasses tenham se destinado a pagar despesas da campanha presidencial de 2002. Agora, os procuradores deverão rastrear o destino desses cheques.
Quando o dinheiro não era repassado diretamente para Abel, segundo os Vedoin, as empresas do grupo Planam faziam depósitos em contas de pessoas jurÃdicas ou fÃsicas, indicadas pelo preposto do ministro. Três depósitos têm chamado especial atenção dos parlamentares da CPI que já tiveram acesso a essa documentação. Trata-se de dinheiro entregue para a Kanguru Factoring Sociedade de Fomento Comercial. A empresa, dona do CGC 003824340/0001-25, encerrou suas atividades em 2003, no começo do governo Lula. Dois depósitos no valor de R$ 66,5 mil foram feitos em 27 de dezembro de 2002. Três dias antes, há o registro de um depósito de R$ 33,5 mil. Há, porém, outras empresas que serão investigadas. A Datamicro Informática, por exemplo, sediada em Governador Valadares (MG), foi beneficiada com dois depósitos. Um deles, realizado em 19 de dezembro de 2002, é de R$ 70 mil. Também de Minas, foi beneficiada a Império Representações TurÃsticas. Com sede na cidade de Ipatinga, a empresa recebeu dois depósitos. O maior deles foi de R$ 60 mil, realizado em 18 de dezembro de 2002, na conta corrente 25644-7, do Banco do Brasil.
As relações de Serra e Barjas Negri são estreitas. O atual prefeito de Piracicaba
tem enorme trânsito junto à cúpula tucana. Esteve com Serra no Ministério do Planejamento, foi secretário executivo no Ministério da Saúde, ministro da Saúde
e, antes de se eleger prefeito de Piracicaba, em 2004, ocupou o cargo de secretário de Habitação do Estado de São Paulo. Os donos da Planam afirmam que começaram a operação de distribuição de propinas para parlamentares que aprovassem emendas para a compra de ambulâncias em 1998, quando Serra assumiu o Ministério da Saúde. “Naquela época, a bancada do PSDB conseguia aprovar tudo e, no Ministério, o dinheiro era rapidamente liberado, inclusive com a ajuda de Barjas”, lembra Luiz Antônio. Um ofÃcio datado de 13 de dezembro de
2001 mostra que o gabinete acompanhava de perto as liberações de recursos
para a compra de ambulâncias. No documento, já em poder da CPI, o então secretário executivo, Barjas Negri, se reporta ao Fundo Nacional de Saúde e pede “o empenho e a elaboração do convênio, com posterior retorno a essa Secretaria Executiva”. No mesmo ofÃcio, Barjas diz tratar-se de “uma determinação do
senhor ministro José Serra.”
Quando operava usando os parlamentares (até o segundo semestre de 2002), o grupo Planam destinava a eles 10% do que conseguia receber. Com a entrada de Abel na operação foi feita nova negociação, favorável ao empresário. “O Abel me chamou para um encontro em São Paulo. Conversamos no aeroporto de Congonhas. Tudo ficou acertado. No inÃcio da conversa ele queria manter os 10% que eram tratados com os deputados e senadores, mas no final da conversa fechamos com 6,5%”, narra Darci. “Foi quando mais crescemos, pois tudo o que pedÃamos era facilmente liberado”, completa Luiz Antônio. Com os nomes das pessoas fÃsicas e jurÃdicas listadas pelos Vedoin, os procuradores que investigam a máfia das ambulâncias poderão saber por que razão Abel indicava os depósitos e qual o destino dado ao dinheiro das ambulâncias superfaturadas. Na relação entregue pelos donos da Planam constam, por exemplo, seis depósitos feitos a favor de pessoas ainda desconhecidas do caso. Uma delas é Valdizete Martins Nogueira. Ela foi a destinatária de um depósito de R$ 7 mil feito na agência 3325-1 do Banco do Brasil em Jaciara, no interior mato-grossense, em janeiro de 2003. Na mesma cidade e na mesma agência do BB foram feitos três depósitos para outro personagem novo: Robson Rabelo de Almeida. Um desses depósitos teve o valor de R$ 20,1 mil, feito em 17 de dezembro de 2002. Em 3 de janeiro de 2003, o favorecido foi Mario J. Martignago, igualmente desconhecido até aqui, com um depósito de R$ 20 mil.
“A entrega desses documentos mostra que estamos cumprindo nosso acordo de dizer e provar tudo o que sabemos”, conclui Luiz Antônio. Com essas pistas todas, tanto o Ministério Público como a CPI poderão aprofundar ainda mais o esquema dos sanguessugas e talvez sugerir medidas para que coisas como essas não se repitam. “Somos culpados, mas não somos os maiores. A maior culpa é de governos antigos que propiciaram tudo isso. Jamais liguei para parlamentares. Eles é que ligavam para mim”, conclui Darci.
"Na época do Serra era mais fácil"
Segundo donos da Planam, esquema das ambulâncias tinha um empresário de Piracicaba, Abel Pereira, que operava dentro do Ministério da Saúde
Na tarde da quinta-feira 14, quando receberam a reportagem de ISTOà na confortável casa de um amigo em um bairro nobre de Cuiabá (MT), os empresários Darci e seu filho Luiz Antônio estavam tensos. Antes de gravarem a entrevista consultaram dois advogados e em três oportunidades a conversa foi paralisada. Gravador desligado e Darci, com 66 anos, reclamava de problemas com sua pressão arterial. “Tenho ido quase todos os dias ao hospital e hoje com certeza sairei daqui para o pronto-socorro”, dizia com ar abatido. Luiz Antônio, mais falante, parecia dar pouca atenção aos reclamos do pai e insistia em manifestar seu “real interesse” em colaborar com as investigações. “Precisamos mudar nossa imagem. Não é verdade que estejamos mudando de versão a cada momento. Vamos colaborar com a Justiça provando tudo o que dizemos”, afirmava Luiz Antônio. Ambos temem que manobras polÃticas possam fazer com que percam os benefÃcios legais obtidos com o instituto da delação premiada. De fato, sem esse benefÃcio, é grande a possibilidade de voltarem para a prisão, onde estiveram por 80 dias entre maio e julho deste ano. Mais experiente, Darci parecia profundamente incomodado na condição de “delator”, embora demonstrasse ter clareza de que tudo será desvendado e que sua colaboração apenas irá acelerar um processo de investigação. “Sou um homem que faz acordo com o fio do bigode. Trabalho há 30 anos com o Congresso e nunca passei por uma situação como essa”, afirmava o pai. A seguir, trechos da entrevista:
ISTOà – Os srs. entregaram à Justiça e à CPI diversos documentos. Entre eles estão extratos bancários que mostram depósitos feitos para pessoas fÃsicas e jurÃdicas ainda não mencionados nesse caso. Como esses documentos podem ajudar nas investigações sobre os sanguessugas?
Luiz Antônio Vedoin – São depósitos relacionados ao Abel Pereira. Nós criamos uma parceria com ele para a liberação de verbas para a compra de ambulâncias em vários municÃpios.
Darci Vedoin – Quando o dinheiro era liberado, o Abel nos indicava as contas e as pessoas para as quais deveriam ser feitos os depósitos. O que entregamos são os comprovantes desses depósitos.
ISTOà – Quem é Abel Pereira?
Luiz Antônio – à um empresário de Piracicaba que operava dentro do Ministério da Saúde para nós. Era ele quem conduzia todo o processo e fazia sair todos os empenhos... Era um operador, uma pessoa indicada e muito ligada ao Barjas Negri, secretário executivo do Ministério quando José Serra era o ministro e seu sucessor.
Darci – O Barjas Negri é o braço direito do José Serra. Nosso esquema já funcionava no Ministério. Quando o Serra saiu, o Barjas assumiu o Ministério e foi indicado o Abel para continuar a operar.
ISTOà – O Abel, então, deu continuidade a um esquema que já existia?
Darci – Quando nós iniciamos a montagem, em 1998, já existia esquema dentro do Ministério da Saúde, com os parlamentares. Nós acertávamos com os parlamentares e o dinheiro saÃa. Naquela época era muito mais rápido para sair os empenhos e os pagamentos.
ISTOà – A que época o sr. se refere exatamente?
Darci – Entre 2000 e 2002. Quando o Serra era ministro foi o melhor perÃodo para nós. As coisas saÃam muito rápido.
ISTOÃ – Como exatamente funcionava o chamado Esquema Sanguessuga?
Darci – O parlamentar apresentava a emenda orçamentária pedindo o recurso e quando o dinheiro era liberado nós pagávamos 10% ao parlamentar. A cobrança deles sempre foi de 10% sobre o valor da emenda.
Luiz Antônio – No melhor perÃodo, quando o Serra e depois o Barjas eram os ministros, a bancada do PSDB é que conseguia agir com maior rapidez. Com eles era muito mais fácil e muito rápido. Quando as emendas eram da bancada era coisa de um dia para o outro.
Darci – A confiança de pagamento naquela época era tão grande que nós chegamos a entregar cento e tantos carros somente com o empenho do Ministério da Saúde, antes de o dinheiro ser liberado. Isso acontecia no PaÃs inteiro. Sempre quando se tratava de parlamentares das bancadas ligadas ao governo.
ISTOà – Os srs. estiveram reunidos pessoalmente com o ex-ministro José Serra alguma vez?
Darci – No ano de 2001 estivemos com ele em dois eventos no Mato Grosso. Um
na capital e outro em Sinop.
ISTOà – à natural e até dever de um ministro da Saúde participar de eventos para entrega de ambulâncias. O ministro sabia que nos bastidores daqueles eventos havia um esquema de propinas?
Luiz Antônio – Era nÃtido a todos.
Darci – Posso te afirmar que as emendas quando eram destinadas para esses eventos saÃam ainda mais rápido.
ISTOÃ – Como o Abel entrou nesse esquema?
Darci – Foi no final de 2002. Eles haviam perdido a eleição e, em nome do ministro, o Abel nos procurou. Eu fui a São Paulo, conversei com ele no aeroporto e ele pediu um valor para poder liberar uma série de recursos. Queria 10% de tudo o que eu viesse a receber. Acabamos negociando e fechamos a 6,5%. No mesmo dia ele perguntou quais os Estados que eu queria que ele liberasse. Respondi que seria o Mato Grosso e Alagoas. Três dias depois o dinheiro estava na conta das prefeituras.
ISTOÃ – Quanto isso representou em reais?
Darci – O compromisso é que ele liberaria o que fosse entrando. E tudo o que nós pedimos foi liberado. Quando o dinheiro saÃa do Ministério e antes de chegar à s prefeituras nos fazÃamos os depósitos nas contas indicadas pelo Abel. Essa é a documentação que entregamos agora à Justiça e à CPI.
ISTOÃ – O Abel se encontrava pessoalmente com os srs. para indicar para quem
e em qual conta deveriam ser feitos os depósitos?
Darci – No final de 2002, nós ficávamos juntos em BrasÃlia. Ele ia ao Ministério, liberava o recurso e passava para mim dizendo o que era para ser feito e para quem era para ser feito.
ISTOÃ – O Abel dizia qual seria o destino do dinheiro?
Luiz Antônio – Falava que era para o ministro.
ISTOà – Para parte da CPI e até entre procuradores da República há uma impressão de que os srs. estão negociando de todos os lados, pois em um ano eleitoral têm entregado a conta-gotas os nomes dos polÃticos envolvidos com a máfia das ambulâncias.
Luiz Antônio – Isso não é verdade. Quem deflagrou todo esse processo foi a PolÃcia Federal. Não fui eu que escolhi a data da operação. Se é um perÃodo eleitoral, quem escolheu isso foi a PolÃcia Federal.
ISTOà – à fato que os srs. têm entregue nomes a conta-gotas.
Luiz Antônio – Não. Não tenho entregado nomes a conta-gotas. Eu tenho um
acordo com o Ministério Público e com o juiz.
ISTOÃ – Que acordo?
Luiz Antônio – Vou entregar todos aqueles contra os quais eu conseguir reunir provas. Vou cumprir isso, independente de partido, Estado ou qualquer outra situação. Vou entregar todos que eu puder comprovar o acontecimento.
ISTOà – Então o sr. está buscando novas provas?
Luiz Antônio – Não que eu esteja atrás. Foram oito anos de negócios e intermediações. Se novos documentos surgirem, cumprirei com o meu papel de encaminhar tudo à Justiça e à CPI.
ISTOà – Por que só agora, à s vésperas das eleições, os srs. encaminharam essa documentação que compromete dois ex-ministros da Saúde, um deles candidato favorito ao governo de São Paulo?
Luiz Antônio – Estou cumprindo o acordo com a Justiça. Não tinha esses documentos e a CPI encontrava dificuldades burocráticas para a quebra de meu sigilo bancário. Então, eu mesmo fui ao banco e solicitei os extratos. Só com esses documentos em mãos é que pude relacionar os depósitos feitos a pedido do Abel.
ISTOà – O sr. não se lembrava então de ter feito depósitos em contas
indicadas por um operador que falava em nome do ministro da Saúde?
Luiz Antônio – Não posso ser leviano a ponto de dizer o que não posso provar. Meu compromisso é com a verdade.
ISTOà – Como tem sido a vida dos srs. depois que esse escândalo se
tornou público?
Luiz Antônio – Está muito difÃcil. Mudou tudo...
Darci – Até as amizades. Hoje se nota nas pessoas uma diferença muito grande, quando se passa na rua. Não temos mais os amigos que tÃnhamos antigamente. Estamos sendo julgados, mas a população precisa saber que os maiores culpados disso tudo não somos nós.
ISTOà – Quem são?
Darci – Temos culpa, sim. Mas o grande culpado foi o governo lá de trás que vem fazendo tudo isso e nos deu a oportunidade de fazer. Podem pegar todos os meus telefonemas e verão que eu não ligo para nenhum parlamentar. Eram eles que ligavam para nós.
ISTOà – O que os srs. esperam que aconteça a partir da entrega
desses documentos?
Luiz Antônio – Que seja dita a verdade e que as pessoas percebam que estamos efetivamente querendo colaborar com a Justiça.
2006-09-21 18:08:44
·
answer #2
·
answered by Anonymous
·
0⤊
0⤋