No ano de 1468[i], no Castelo de Belmonte, propriedade da famÃlia Cabral, nascia um menino de nome Pedro, filho de Fernão Cabral e de Dona Isabel de Gouveia. Fernão Cabral lutou ao lado de D. João I e os três Infantes, na famosa conquista de Ceuta, em 1415, junto com seu pai, LuÃs Ãlvares Cabral.
A genealogia e a origem do nome “Cabral” perdem-se nas brumas da história portuguesa. O Visconde de Sanchez de Baêna assim escreve: “A famÃlia Cabral demarca a sua existência desde tempos imemoráveis... Nenhuma outra a sobrepuja em sólida antigüidade de nobreza, e feitos de edificante e variada lição. O seu aparecimento, embora a princÃpio não se possa coordenar numa série genealógica, que nos leve, indivÃduo por indivÃduo, a estabelecer a sua continuidade desde os primeiros tempos da monarquia, remonta-se todavia bem longe, vendo nós brilhar de espaço a espaço nas lutas de Portugal nascente, alguns indivÃduos do apelido Cabral”.[ii]
A elevada linhagem da famÃlia (impossÃvel de reproduzir em um curto artigo) e o seu prestÃgio, permitiram a Pedro Ãlvares Cabral contrair matrimônio com Dona Isabel de Castro, dama pertencente à mais alta nobreza do Reino, como terceira neta dos Reis Dom Fernando de Portugal e Dom Henrique de Castela, sobrinha do célebre herói da Ãndia, Afonso de Albuquerque.
Qualidades pessoais: critério para a escolha de Cabral
Nessa época Portugal, cheio dos “cristãos atrevimentos” de que nos fala Camões, estava preparando armada a ser enviada à s Ãndias. Para organizar a expedição, o Rei Dom Emanuel o Venturoso, convocou seu Conselho: “E não somente se assentou no conselho o número de naus e gente que havia de ir nesta armada, mais ainda o capitão-mor dela, que por ‘calidades’ de sua pessoa, foi escolhido Pedralvares Cabral, filho de Fernam Cabral”[iii].
Pedro Ãlvares Cabral fora escolhido, por suas “qualidades pessoais”, para chefiar a esquadra que, no dia 9 de março de 1500, após a Santa Missa celebrada pelo Bispo D. Diogo Ortiz, Bispo de Cepta, rumaria para as Ãndias, passando pelo Brasil.
Dessa expedição, que trataremos em artigo posterior, participaram 13 navios, tendo apenas quatro deles conseguido retornar à Portugal. Os demais perderam-se todos, tragados pelo mar, juntamente com sua tripulação. No dia 23 de junho de 1501 – ou seja, um ano, três meses e 14 dias depois de sua partida, totalizando 470 dias de viagem – chega Pedro Ãlvares Cabral ao Tejo.
Pôde, desse modo, Dom Emanuel, o Venturoso, acrescentar ao seu tÃtulo de “Rei de Portugal e dos Algarves Daquém e de Além Mar em Ãfrica, e Senhor da Guiné” o de “Senhor da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e da Ãndia.”
Não percebera ele ainda, a essa altura, que Cabral enriquecera sua coroa com um florão incomparavelmente mais suntuoso e, sobretudo mais do que isso, levantara o Estandarte da Cruz na terra que estava destinada a ser o paÃs de maior população católica do mundo[iv].
Incompreensões e afastamento da Corte
Pedro Ãlvares Cabral retorna à Portugal e, como freqüentemente acontece na vida dos homens escolhidos pela Providência Divina para realizarem grandes obras, sofreu incompreensões e dissabores, tendo se retirado do Corte e nunca mais recebido qualquer encargo público.
Não sabemos o motivo que levou o descobridor do Brasil a se afastar da vida pública[v]. Sabemos que ele se manteve retirado e, depois dos sucessos referidos, recolheu-se em suas terras de Santarém, tendo falecido em 1520 ou 1528, segundo a divergência de alguns autores.
Sua sepultura esteve perdida durante o século XVII e XVIII, tendo sido encontrada em 1839 pelo historiador brasileiro Francisco Adolpho de Varnhagen, Visconde de Porto Seguro, na sacristia da Igreja de Nossa Senhora da Graça, em Santarém.
Em 1903, o Bel. Alberto de Carvalho trouxe para o Brasil parte dos restos mortais de Pedro Ãlvares Cabral, que foram depositados em uma urna na capela-mor da Catedral Metropolitana do Rio de Janeiro.
Pouco conhecida é a história de um grande descobridor. Mais do que descobrir terras, ele comandou uma expedição que iniciou a evangelização dos Ãndios, trazendo incontáveis almas para a Igreja de Cristo.
Intrépido batalhador, ele desejava dilatar a Fé e expandir o império. Sabia ser gentil e amável, como o foi com os Ãndios brasileiros, mas também sabia guerrear contra os inimigos de Cristo, como o fez com mouros que o traÃram na Ãndia.
Devoção mariana: virtude do Descobridor e de sua famÃlia
Em sua nau capitânia, ele levava consigo uma pequena imagem da Senhora da Esperança, até hoje venerada em Belmonte, certo de ser Ela o melhor refúgio nas inconstâncias do mar tenebroso. Foi diante dessa imagem que ele, no momento em que seus companheiros celebravam o descobrimento do Brasil, se ajoelhou e agradeceu a Deus o sucesso do empreendimento [vi].
Quando retornou de sua viagem, o nosso descobridor mandou construir uma capela para a Senhora da Esperança. Capela essa ampliada pelos seus descendentes que a iluminaram quotidianamente com um cÃrio.[vii]
Pedro Ãlvares Cabral foi, antes de tudo, um homem de Fé, que se lançou ao mar sob a proteção da Cruz de Cristo, nome com o qual foi primeiramente ‘batizado’ o nosso Brasil segundo seu desejo, como capitão da esquadra. Uma esquadra que levava a bandeira da Ordem de Cristo, em cujas velas se estampava a Cruz caracterÃstica dessa Ordem de Cavalaria, e que chegou ao solo de um paÃs iluminado pelas estrelas do Cruzeiro do Sul.
Que a Senhora da Esperança, que tão bem protegeu o descobridor do Brasil, continue a derramar suas bênçãos sobre a Terra de Santa Cruz.
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[i] Segundo se acredita, pois não se tem certeza do ano.
[ii] Sanches de Baêna, O Descobridor do Brasil, Pedro Ãlvares Cabral, Lisboa, 1987, pp. 10-22.
[iii] João de Barros, Décadas da Ãndia, Década I, Livro V, Cap. 1.
[iv] Apud O ‘Muy Bom fidalgo’ que descobriu o Brasil., Catolicismo, nº 219, março de 1969.
[v] Alguns historiadores, como Gaspar Corrêa em seu livro Lendas da Ãndia, levantam a hipótese de um desentendimento com Vasco da Gama, que teria exigido ser o comandante, em lugar de Pedro Ãlvares Cabral, da esquadra que partiria para as Ãndias em 1502.
[vi] Bueno, Eduardo, A Viagem do Descobrimento, Vol. 1, Coleção Terra Brasilis, Ed. Objetiva, Rio de Janeiro, 1998.
[vii] Cortesão, Jaime, A Expedição de Pedro Ãlvares Cabral e o Descobrimento do Brasil”, Portugália editora, Lisboa, 1967
2006-09-21 18:21:07
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answer #2
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answered by Rodrigo M 3
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