Certa madrugada de 1956, o jornalista Stanislaw Ponte Preta, entrou num botequim de Ipanema e deparou com alguém que não lhe parecia estranho, apesar do aspecto maltratado: um negro magro, desdentado, de aparência pouco saudável. “Você não é o Cartola da Mangueira?”. Ante a resposta afirmativa, Sérgio abraçou, emocionado, o grande compositor, e se apresentou. Soube então que Cartola tinha um emprego noturno de lavador de carros numa garagem da rua Visconde de Pirajá, e só tinha dado uma escapulida para tomar uma caninha por causa do frio. Tal era o estado de abandono em que se encontrava este que hoje é reconhecido como um dos maiores compositores da história do samba.
Cartola tinha tido diversas composições gravadas por Francisco Alves, Araci de Almeida e outros cantores de prestígio, como Divina dama (sua predileta), Não quero mais (“... amar a ninguém”), Sim (“... deve haver o perdão / para mim”). Tinha criado vários sambas-enredo para a Estação Primeira de Mangueira, a escola de samba que ele ajudou a fundar em 1928.
Cartola , Angenor de Oliveira,nasceu em 1908, no Catete. Aos onze anos, mudou-se com os pais e os seis irmãos para o morro da Mangueira, onde moraria por mais de quarenta anos. Lá ele conheceu o futuro compositor Carlos Cachaça, então rapazola de dezessete anos, que seria seu amigo por toda a vida e o seu parceiro musical mais constante. Aprendeu com o pai a tocar cavaquinho, que depois trocaria pelo violão. Como não queria nada com os bancos escolares, foi posto a gerar renda para a família. Trabalhou primeiro como tipógrafo, depois como pedreiro – o pó de cimento das obras que caía sobre sua cabeça fê-lo adotar um chapéu-coco que ele chamava de cartola e que lhe valeu o famoso apelido.Cartola morreu em 1980, enlutando a Mangueira e o país. Na ocasião, a mais bela síntese do sentimento geral foi feita pelo também mangueirense compositor Nélson Sargento: “Cartola não existiu. Foi um sonho que a gente teve...”
2006-09-20 08:37:30
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answer #1
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answered by Mimosa 3
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CARTOLA
Angenor de Oliveira nasceu no Rio de Janeiro, em 11 de outubro de 1908. Ganhou seu apelido de Cartola quando, como pedreiro, resolveu usar um chapéu coco para que o cimento não grudasse em seus cabelos. Seus colegas não resistiram a gozação e lhe deram o apelido.
Cartola é a prova da natureza surpreendente do verdadeiro talento. Fez somente o primário e jamais conseguiu se integrar à estrutura de trabalho. Trabalhou sempre com bicos, como pedreiro, pintor de paredes, lavador de carros, vigia de prédios e contínuo de repartição pública. Mas seu dom fez dele o maior sambista carioca de todos os tempos, com letras impecáveis e batidas deliciosas.
Na década de 20, quando os blocos de carnaval resolveram se organizar em sociedades permanentes, Ismael Silva e o pessoal do Estácio criaram uma associação que se autodenominava Escola de Samba, a Deixa Falar. Cartola, então, juntou o pessoal da Mangueira, escolheu o nome Estação Primeira de Mangueira, adotou as cores verde e rosa e também criou sua escola. Nascia assim o maior fenômeno do carnaval carioca. Em seu primeiro desfile na Praça Onze, com o samba enredo de Cartola, Chega de Demanda, a Mangueira ganhava também o primeiro prêmio do carnaval.
Apesar do sucesso de seus sambas, Cartola morreu pobre, morando numa casa doada pela prefeitura do Rio de Janeiro, em 30 de novembro de 1980
2006-09-20 15:39:23
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answer #2
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answered by astrorei, carioca e busólogo 6
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Cartola - O Trovador do Samba
Os mais antigos textos da literatura portuguesa datam do século XII, época em que algumas pessoas costumavam escrever poesias conjugadas com a música. Surgiram então as cantigas, um tipo de produção literária que basicamente enaltecia o amor ou criticava comportamentos da sociedade daquela época. Eram as cantigas de amor, amizade, escárnio e maldizer. Todas escritas pelos chamados trovadores. Mas por que estamos dizendo tudo isso? Porque oito séculos depois do Trovadorismo, nascia no Rio de Janeiro um dos maiores compositores da música brasileira de todos os tempos. Cartola, como ficaria conhecido, era um homem simples que ao longo de mais de cinco décadas construiu um dos legados musicais mais importantes do cancioneiro nacional. Ele compôs e cantou o amor como ninguém. Seu ritmo era o samba... Cartola pode ser considerado o nosso trovador do século XX, por ter composto as mais lindas cantigas de amor. Angenor de Oliveira, vulgo Cartola, é o trovador do samba.
Cartola, "trovador do samba"
As composições do mestre Cartola
Paulinho da Viola e Cartola "Quem gosta de homenagem póstuma é estátua. Eu quero continuar vivo e brigando pela nossa música. Sinceramente, eu não acreditava que ainda viveria esse tempo de grande justiça que o povo brasileiro – apesar dos pesares - faz à música brasileira" (Cartola, Revista Manchete, 03.12.1977).
Ao longo de seus 72 anos de vida, Cartola compôs, sozinho ou em parcerias, cerca de quinhentas canções. Seus principais parceiros: Elton Medeiros, Carlos Cachaça, Noel Rosa e Dalmo Castello. Até hoje essas músicas são regravadas por vários intérpretes, tamanha é a grandeza de seus versos e melodias. "O Sol Nascerá" (uma composição do inÃcio dos anos 60), por exemplo, já teve mais de seiscentas regravações até o momento.
Entre algumas antológicas gravações das músicas de Cartola estão "Alvorada no Morro" (de Cartola, Carlos Cachaça e HermÃnio Bello de Carvalho) na voz de Carlos Cachaça; "Garças Pardas" (parceria dos anos trinta de Cartola e Zé da Zilda), na voz de Clementina de Jesus; "Soldado do Amor" (de Cartola e Nuno Veloso) com Maria Creuza, e "Não Posso Viver Sem Ela" (de Cartola e Bide), com Paulinho da Viola.
A vida de Cartola
(da infância até o reencontro com Dona Zica)
Angenor de Oliveira, o Cartola, nasceu no dia 11 de outubro de 1908, no Rio de Janeiro - mais precisamente no bairro do Catete. Por erro de um escrivão, seu prenome foi grafado Angenor. Era o quarto filho - de um total de sete - do casal Sebastião Joaquim de Oliveira e AÃda Gomes de Oliveira. Aos 8 anos de idade, já desfilava em blocos carnavalescos de rua. Aos 11, por problemas financeiros, foi morar com a famÃlia no morro de Mangueira. Começou a trabalhar muito cedo. Foi tipógrafo e pedreiro. Aliás, foi na época em que trabalhava em obras que surgiu seu apelido – por causa do chapeu coco que usava durante o serviço para evitar que seu cabelo ficasse sujo de cimento.
Cartola aos 11 anos
Dona AÃda morreu prematuramente. Seu Sebastião era muito severo e chegou a expulsar Cartola de casa aos 17 anos de idade. Sozinho, o jovem Angenor envolveu-se com várias mulheres, adoeceu e deixou de trabalhar. Recuperado, juntou-se a mais seis amigos para criar a primeira escola de samba do subúrbio carioca – a Estação Primeira de Mangueira. Em 28 de abril de 1928, reunidos na casa do Euclides da Joana Velha, na favela da Mangueira, sete homens fundaram a Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira: seu Euclides, Saturnino Gonçalves (o Satur), Marcelino José Claudino (o Massu), Pedro Caim (o Pedro Paquetá), Abelardo da Bolinha, Cartola e Zé Espinguela. Cartola tornou-se diretor de harmonia da Escola. Passou a se dedicar à composição e aos poucos foi construindo um enorme repertório.
"Um dia apareceu lá no morro o Mário Reis, querendo comprar uma música. Estava com outro rapaz, que veio falar comigo. 'O Mário Reis está aà e quer comprar um samba teu'. Fiquei surpreso: 'O quê? Querendo comprar samba, você está maluco? Não vendo coisa nenhuma'. No dia seguinte ele voltou e me levou até o Mário Reis. Ele confirmou. 'Ã, Cartola, quero gravar um samba seu. Fique tranqüilo, seu nome vai aparecer direitinho. Quanto você quer por ele?' Pensei em pedir uns 50 mil réis. O outro rapaz falou baixinho: 'Pede uns 500 mil'. Eu disse: 'Você está louco, o homem não vai dar tudo isso'. Com muito medo, pedi os 500 mil. Em 1932, era muito dinheiro. O Mário Reis respondeu: 'Então eu dou 300 mil réis, está bom para você?'. Bom, ele comprou o samba mas não gravou. Quem acabou gravando foi o Chico Alves."
Depoimento de Cartola sobre o samba "Que infeliz sorte", ao programa MPB Especial (direção de Fernando Faro) - TV Cultura, 1973
Nos anos 40, sua vida entraria numa fase negativa. Ficou viúvo, contraiu meningite e trocou o morro da Mangueira pela Baixada Fluminense. Curado, voltou a viver no morro e começou a namorar dona Euzébia Silva do Nascimento, a famosa dona Zica - irmã da mulher do compadre Carlos Cachaça.
Dona Zica e Mangueira: duas paixões
Dona Zica nasceu em 1913. Conheceu Cartola ainda na infância, nos desfiles dos blocos carnavalescos de rua. Cartola pertencia aos Arrepiados, enquanto dona Zica era do Bloco do Seu Júlio. Foram se reencontrar depois de muitos anos, em 1952. Casaram-se depois de 12 anos juntos, em 1964. Passaram por dificuldades financeiras, abriram com mais dois sócios um restaurante chamado Zicartola (cartaz promocional no destaque) e desfrutaram juntos momentos inesquecÃveis. Dona Zica foi fundamental na vida e na carreira de Cartola. Na época em que moravam juntos, Cartola compôs "As Rosas Não Falam", "Nós Dois" (feita dias antes do casamento de Cartola e Dona Zica) e "O sol Nascerá" (parceria com Elton Medeiros que se tornou um grande sucesso na voz de Nara Leão).
"Cartola e eu nos conhecÃamos desde crianças, vivÃamos ali no morro. Ele saÃa num bloco e eu em outro. Depois ele fundou a Mangueira e eu comecei a sair nela. Cartola casou-se com uma moça e eu também casei com outro rapaz. Saà do morro e ficamos muito tempo longe um do outro. Mais tarde eu fiquei viúva, ele também. Um dia nos reencontramos na casa da minha irmã. Ele jogou aquele papinho dele, eu também estava à toa, e daà estamos juntos até hoje".
Depoimento de dona Zica ao programa MBP Especial (direção de Fernando Faro) - TV Cultura, 1973
A outra paixão: o Grêmio Recreativo Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira. O mestre de Mangueira, durante os dez primeiros anos, foi o compositor oficial dos sambas enredo da escola. à de sua autoria o primeiro samba escolhido para a escola desfilar, "Chega de Demanda". Alguns deles tornaram-se imortais, como "Vale do São Francisco" e "Tempos Idos". Cartola, no entanto, nem sempre se relacionou bem com a Mangueira. Durante os anos de 1949 e 1977, ele sequer desfilou. Os motivos eram sempre os mesmos: divergências com os diretores da Escola, que em várias ocasiões teriam transformado a escola num reduto eleitoreiro.
Mestre Cartola: seus discos, os últimos dias de vida e as homenagens póstumas
Cartola morreu de câncer em 30 de novembro de 1980, deixando vários orfãos na música. Seus parceiros, amigos e todos aqueles que desfrutaram de sua convivência até hoje sentem enorme saudade do grande e "divino" mestre de Mangueira.
Cartola só conseguiu realizar seu sonho de gravar um disco em 1974, aos 65 anos de idade. Sua vida conturbada e a falta de oportunidades fizeram com que sua obra só fosse conhecida oficialmente num disco lançado pelo produtor Marcus Pereira. Apesar de ter sido famoso nos anos trinta, reconhecido nos anos setenta e muito querido por todos (em destaque com o maestro Radamés Gnattali), Cartola nunca recebeu consideração à altura de sua obra. Nas duas últimas décadas, muitas foram as homenagens póstumas prestadas a ele por artistas como Beth Carvalho, Alcione, Paulinho da Viola, Chico Buarque, Leny Andrade, Cazuza e Marisa Monte. Exemplos disso são o LP "Bate Outra Vez" de 1988, o CD de Leny Andrade, lançado em 1994, e a homenagem prestada por Chico Buarque num CD gravado em 1997 (Chico Buarque de Mangueira) feito em companhia dos integrantes da Estação Primeira de Mangueira.
FICHA TÃCNICA
Material preparado a partir do especial "Cartola - O Trovador do Samba"
Rádio Cultura AM - 1998
Apresentação: Gilberto Rocha
Locução: Alfredo Alves
Montagem: Marcelo Aguiar, Alcides Antonucci
Roteiro, produção e texto original para a Internet: Alexandre Tondella
Coordenação: Valvênio Martins
Gerência: João Batista Torres
Texto final para a Internet: Zeca Castellar
Pesquisa de referências sobre Cartola: Marta Angare Borlenghi, PatrÃcia Sacomano
Coordenação pedagógica: Pedro Paulo Demartini
Supervisão: Nadia Hatori
Informações complementares
Veja mais na Internet:
A vida é um moinho
Angenor de Oliveira - "Cartola"
Cartola
Estação Primeira de Mangueira
Bibliografia:
SILVA, MarÃlia T. Barboza e OLIVEIRA FILHO, Arthur. Cartola, os Tempos Idos. Rio de Janeiro: Funarte, 1983.
Enciclopédia da Música Brasileira - Popular, Erudita e Folclórica. São Paulo: Art Editora, 1998.
Cartola. História da Música Popular Brasileira, volume 17, São Paulo, Abril Cultural,1971.
Cartola. Nova História da Música Popular Brasileira, volume 15, São Paulo, Abril Cultural, 1977.
DIAS, Rosa Maria. Filosofia na Verde-Rosa. Rumos - os caminhos do Brasil em debate, ano I, nº 1, dezembro 1998/ janeiro 1999: p. 90 - 94.
BÃSCOLI, Ronaldo. Cartola, uma Vida a Passo e Compasso. Manchete, nº 1337, Rio de Janeiro, Bloch, dezembro 1977, p. 62 - 65.
FERNANDES, Dirley. A Festa do Divino. Manchete, nº 2394, Rio de Janeiro, Bloch, fevereiro 1998, p. 86 - 91.
2006-09-20 15:29:32
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answer #4
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answered by Anonymous
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