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AS DIFICULDADES DO NEGRO NO MERCADO DE TRABALHO -
JUSTIFICATIVA
Observando o nosso meio acadêmico, notamos que o número de pessoas da raça negra é reduzido, sugerindo este fato a presença do racismo em nossa sociedade. Partindo desta observação decidimos pesquisar a questão do racismo em nosso país, preconceito este que se apresenta, diversas vezes, de forma camuflada.
Tendo como base principalmente dados estatísticos e publicações de sociólogos, políticos e instituições que trabalham o papel do negro na sociedade brasileira, captamos informações de suma importância para o levantamento de questões que ajudarão na compreensão do processo que exclui o negro de determinadas áreas em que pessoas da raça branca e nível social elevado predominam.
A discriminação étnica coibindo o acesso do negro às escolas e sua participação nas posições melhor remuneradas no mercado de trabalho estão implícitas nas atitudes dos dirigentes escolares e administradores de empresas, onde se detecta um número insignificante dos mesmos nestes ambientes.
A partir de uma análise histórica da presença do negro na sociedade brasileira, pudemos perceber a ideologia do branqueamento presente em nossa sociedade, o que o leva a sentir-se inferiorizado ao ver sua identidade: cultura, valor humano, força de trabalho..., menosprezados, e ainda uma tentativa de sua total destruição. Nota-se a intenção da manutenção do negro como classe proletária, novamente escravos, agora no sistema capitalista.
PROBLEMATIZAÇÃO
O Brasil é o país com a segunda maior população negra do mundo. Contudo, analisando o mercado de trabalho, percebe-se que a quantidade de negros em setores "elitizados" é muito baixa. O mesmo problema ocorre no ingresso do negro nas universidades do Brasil. De acordo com a pesquisa realizada pela FASE (Federação para Assistência Social e Educacional de São Paulo), a possibilidade de um negro ingressar na universidade é de 18%, enquanto esta possibilidade para os brancos é de 43%. Outro dado importante é que, segundo o IBGE, em relação a qualidade de vida da população, o Brasil ocupa a 63ª posição no mundo. Considerando-se a população negra, o Brasil fica na 120ª posição mundial, ressaltando com isso a diferença entre os níveis de vida da população branca e da população negra.
O que se verifica é que há uma dificuldade de inserção do negro e sua ascensão em áreas do mercado de trabalho de maior status social. Reserva-se a ele apenas a ocupação das áreas de menor remuneração e projeção social. Este fato é bastante sério e gera problemas sociais graves, demonstrando a presença de vários fatores que impedem essa inserção: problemas históricos, educacionais, governamentais, e ainda o racismo presente em nossa sociedade.
Observando a capital nacional, somando-a também ao problema em toda a sociedade brasileira, fazemos assim uma comparação dos dados, permitindo então visualizar de forma clara a discriminação profissional por que passa o negro.
OBJETIVOS
Geral:
Verificar a quantidade de negros nas áreas profissionais, observando sua participação em cargos e funções diretivas e administrativas de empresas, no cenário político nacional, e no meio acadêmico como professores universitários, na cidade de Brasília-DF.
Específicos:
Mostrar as causas que dificultam o acesso e posterior ascensão do negro nestas áreas, onde o problema ocorre de maneira mais explícita;
Demonstrar, por meio de análise histórica, a tentativa de proletarização do negro na sociedade, através da sua colocação no mercado de trabalho em cargos de baixo nível social;
Coletar dados que demonstrem que o preconceito racial, ao relegar o negro a posições inferiores no mercado de trabalho, contribui para reforçar a baixa qualidade do seu nível de vida;
Pesquisar o nível de qualificação e preparo do profissional negro para o mercado de trabalho.
HIPÓTESES
Essa pesquisa pretende demonstrar que dentre as várias causas que impossibilitam o ingresso e ascensão do negro em algumas áreas do mercado de trabalho, uma das principais e menos explícitas é a existência do racismo em nossa sociedade, analisando a possibilidade de conivência por parte dos governantes brasileiros com relação à manutenção do preconceito racial, e do negro em classes inferiorizadas.
METODOLOGIA UTILIZADA
Para o bom desenvolvimento da pesquisa utilizamos recursos que nos permitirão levantar dados que tratem do problema e comprovem as hipóteses acima elencadas
A metodologia empregada, a princípio, constitui-se do levantamento bibliográfico, que nos permita uma visão maior do problema, dando-nos embasamento para a pesquisa de campo.
Engloba também a seleção de um grupo de profissionais e estudantes, dentro de áreas elitizadas, como empresas privadas, públicas, e universidades, onde se realizaram entrevistas e aplicou-se questionários, respectivamente a cada um desses grupos, procedendo-se assim a coleta de dados a serem posteriormente analisados, possibilitando-nos levantamentos estatísticos, o que nos possibilitou uma visão da integração do negro no mercado de trabalho.
Aplicamos junto ao meio universitário o seguinte questionário:
Você acredita que o problema do racismo está presente no Brasil?
Com relação a área em que você pretende atual (ou atua) profissionalmente, o problema também ocorre?
Qual é a proporção de alunos negros em sua classe?
E com relação aos professores, qual é a proporção?
Você é negro? Se sim, já sofreu algum tipo de preconceito no mercado de trabalho?
Qual a sua expectativa para o mercado de trabalho?
Você se considera uma pessoa racista?
Realizamos entrevistas com representantes públicos, através das seguintes questões:
Entrevista à Deputada Distrital Maninha:
O que vem a ser "boa aparência"?
A Sra. Acredita que existe algum tipo de discriminação racial durante os processos de contratação em Brasília?
Quais fatos induziram a Sra. à elaboração desse projeto?
Muitas pessoas consideram Brasília uma cidade preconceituosa. A Sra. Acredita que aqui a discriminação racial existe, porém é bem maquiada?
A Câmara Legislativa já estudou a questão do negro no mercado de trabalho? Há projetos voltados para esse fato?
Entrevista ao Deputado Federal Luiz Alberto:
Qual o ponto de vista do Sr. em relação à "democracia racial"?
Observa-se que em algumas áreas, como na política, por exemplo, há um número reduzido de negros. Que fatores contribuem para essa realidade? O problema do racismo deve ser considerado como principal?
Quais as formas de práticas racistas mais comuns em relação ao mercado de trabalho?
Qual a importância do MNU na integração do negro?
Quais as últimas grandes conquistas obtidas pela comunidade negra?
Quais os principais projetos que o Sr. já aprovou ou vem tentando aprovar relacionados à defesa dos direitos humanos?
O que é a "política de exclusão" que vem sendo implantada pelo governo de Salvador?
Quais as expectativas futuras e projetos que possibilitarão a conquista por parte do negro de novos espaços?
Entrevista à Coordenadora do Centro Educacional Projeção:
Quais os critérios utilizados por esta empresa para contratação de seus funcionários?
Qual o número de funcionários que possui esta empresa? Qual a proporção de negros que compõe este número?
Nesta empresa, já ocorreu algum caso de preconceito racial entre os funcionários?
Como a Sra. analisa o fato de um número reduzido de pessoas da raça negra integrar o quadro de funcionários nos cargos diretivos e decisório das empresas?
Quais seriam as causas que permitem a existência de uma proporção inferior de negros na área educacional?
Qual o seu ponto de vista em relação ao racismo no mercado de trabalho?
UM PROCESSO HISTÓRICO
Historicamente, a discriminação e exploração do negro no Brasil-colônia mostra-se claramente aos olhos de toda a sociedade brasileira, leigos ou estudiosos da historiografia nacional. A exemplo dessa prática, podemos citar a exploração da mulher negra àquela época, fortemente presente. Tratada como objeto de prazer, era vista pelos senhores de engenho como prova de virilidade e emancipação sexual do seu filho adolescente, objeto excêntrico de desejos. Para ela, o desejo do seu senhor representava uma forma de ascenção social.
Surge também, com a colocação do mulato para exercer funções específicas, face à escassez da mão-de-obra branca, incorporando-os nas casas grandes coloniais, a idéia da democracia racial brasileira. É dessa forma que ele vai integrar o mundo da casa-grande, a serviço da família branca dominante. Associou-se à tez mais clara do mulato, seu processo de mobilidade social vertical. Esta é a raiz da ideologia do branqueamento, código racial nacional por excelência, base das relações raciais brasileiras e informativa da conduta dos sujeitos. Cria-se e ganha corpo a grande violência racista brasileira: a sociedade pretende que o negro se torne branco. Busca-se, assim, a destruição da identidade do sujeito negro.
Com a campanha abolicionista, movimento para libertação dos escravos, intensificada a partir do final da Guerra do Paraguai, milhares de negros foram utilizados nas frentes de batalhas. Anos mais tarde, o Exército assumiu a defesa da abolição e se negou a perseguir os negros que fugiam.
O principal responsável pelo processo de abolição foi o grupo da aristocracia cafeeira paulista, que introduziu o trabalho assalariado via imigrantes. Neste processo, destacam-se os caifases que segundo o historiador Francisco Assis Silva "era o nome dado aos homens que, em São Paulo, formaram um grupo anti-escravista e que organizara incursões às fazendas para ajudar os negros fugidos e estimulava a revolta dos escravos contra os senhores".
Outro fator de grande importância foi a pressão externa sendo mais fortemente expressada pela Inglaterra sendo que o Brasil era o único país americano que mantinha a escravidão. Diante de forte pressão o governo imperial decretou algumas leis abolicionistas, quais sejam: a Lei do Ventre Livre, Lei dos Sexagenários e Lei Áurea.
Mesmo com o negro alcançando a igualdade jurídica com a abolição, mantinha-se não só a desigualdade econômica e social entre brancos e negros, mas ainda a antiga ideologia que definia bem a diferença entre os dois e reservava ao negro uma posição de submissão. O preconceito racial continuou a ser exteriorizado de maneira discreta e branda, ou seja, o preconceito de cor existe em várias regiões do Brasil, e penetra em maior ou menor grau, todas as classes sociais, sem contudo associar-se com manifestações ostensivas.
A abolição é relativamente recente e o processo de passagem da condição de escravo para a de cidadão foi feito de maneira errada e sem se pensar o que fazer com o contingente de trabalhadores livres. Da noite para o dia os negros foram declarados livres e após a "comemoração" encontravam-se sem abrigo, trabalho e meios de subsistência. Mesmo sendo forçado, no trabalho escravo o negro recebia um mínimo para sua subsistência. Com a libertação, não se considerou a necessidade de proporcionar-lhes meio de sobrevivência, como posse da terra para sua fixação. Supondo-os sem direito àquela, dava-se o primeiro passo para sua marginalização e desfavorecimento.
Os negros que viviam na cidade encontravam-se agora perambulando pelas ruas como mendigos e começaram a habitar cortiços que deram origem a favelas, fato que pode ser observado claramente na cidade do Rio de Janeiro. Os que viviam no campo emigraram para as cidades causando uma das grandes manifestações de êxodo rural em nosso país. Durante muito tempo, os negros não conseguiram acesso a profissões ou ocupações, mesmo aquelas das quais foram desalojados, principalmente devido a chegada de emigrantes europeus que passaram a substituir o homem negro primeiramente nas lavouras de café. Os serviços mais modestos, que exigiam especialização mínima, e eram mal remunerados representavam normalmente as oportunidades mais amplas do negro no mercado de trabalho.
Com o capitalismo o negro, por não possuir qualificação, fica à margem do processo ou é utilizado em serviços pesados nas indústrias. A necessidade de colocação no mercado de trabalho do trabalhador livre inicia-se com o novo modo de produção, que não condiz com o trabalho escravo e não especializado. Ao sistema capitalista faz-se mister a conformação de sua produção à necessidade de lucro. "Quando a procura de ocupações foi maior que a oferta, ou quando esta foi seletiva, os negros e mulatos ficaram em último lugar."
Essa situação se refletiu tanto no nível econômico dos negros quanto levou a um processo de marginalização social, uma vez que implicou na acumulação de riquezas e na elevação do nível de vida. O escravo passa de meio de produção para assalariado, porém não participa da elevação social no mesmo nível que os senhores brancos.
A reprodução da deterioração do nível de vida do negro dá-se então a partir daí, sendo ele impedido de exercer plenamente as atividades de trabalhador livre, uma vez que não tem fácil acesso ao mercado de trabalho e à participação política
Com o escravismo, constituíra-se uma estrutura de privilégios a favor da população branca. Admitir o negro como um cidadão significaria, para esse contingente dominante, a provável perda dos benefícios angariados ao longo da adoção do trabalho escravo. Preconceito e discriminação ganham, então, novos significados e espaços de atuação, voltados para a defesa desta estrutura de privilégios.
O RACISMO NO BRASIL ATUAL
Porque disfarçado, o racismo ainda é a forma mais clara de discriminação na sociedade brasileira, apesar de não admitir o brasileiro seu preconceito. "A emoção das pessoas, o sentimento inferior delas é que é racista. Quando racionalizam, elas não se reconhecem assim, não identificam em suas atitudes componentes de discriminação", analisa Alcione Araújo, escritor e dramaturgo. O brasileiro tem dificuldade em assumir o seu racismo devido ao processo de convivência cordial que distorce o conflito. Devido a isto, por estar dissimulado, hipócrita, é difícil de ser combatido.
A discriminação racial está espalhada pelo Brasil. Escola e mídia apresentam um modelo branco de valorização. O acesso aos espaços políticos, aos bens sociais, à produção do pensamento, a riqueza, tem sido determinado pela lógica escravocrata. O espaço negro é reduzido. O negro é discriminado e não é reconhecido em suas atividades.
Entretanto, as narrativas de humilhações e dificuldades entram em choque com o fato concreto que é a presença e importância fundamental dos negros e seus descendentes na cultura e nas artes brasileiras. Grandes nomes como o do escultor Aleijadinho, do autor Machado de Assis, do jurista Rui Barbosa, todos mulatos, devem ser lembrados como engrandecedores de nossa sociedade.
O preconceito está sempre queimando e maltratando alguém. Note-se na atitude de Pio Guerra ao desqualificar a Senadora Benedita da Silva, na comparação com o mito norte-americano Marilyn Monroe; na grosseria da composição Veja os Cabelos Dela, de Tiririca, perdoada como gracinha inocente; ou em pesquisas informais, como a realizada entre vinte e oito pessoas de pigmentação clara, residentes num mesmo prédio da Zona Norte carioca: ninguém admitiu o racismo, apesar do uso de expressões clássicas do tipo "bom crioulo", "negro de alma branca", "é negro, mas é educado", "fulano de tal tem cabelo duro".
2006-09-18 08:30:24
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answer #4
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answered by Anonymous
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