Rubem Braga viveu 77 anos. Falar de contexto fica complicado já que ele nasceu no Espírito Santo, morou em Niteroi, iniciou faculdade de direito no Rio de Janeiro e formou-se em Belo Horizonte.
Teve várias profissões, foi até nosso Embaixador no Marrocos. Foi também Chefe do Escritório Comercial do Brasil em Santiago, no Chile, em 1953.
Como jornalista cobriu a Revolução Constitucionalista e foi correspondente de guerra na Itália em 1945. Quando voltou ao Brasil morou em Recife, Porto Alegre e São Paulo, antes de se estabelecer definitivamente no Rio de Janeiro. Numa época em que os veículos de comunicação de massa não eram tão significativos, ter tido todos esses endereços deu a ele uma visão de contexto bastante ampla. E politicamente falando, sua vida no Brasil, na época do Estado Novo, não foi mais fácil do que a dos tempos de guerra. Foi preso algumas vezes, e em diversas ocasiões andou se escondendo da repressão. Nesse aspecto podemos traçar um paralelo com a época da revolução de 1964, mas não caberia comparar aos tempos atuais.
Como escritor, sua principal característica era a de só escrever crônicas. Gostava de dizer que trabalhava como se fosse para um jornal. Queria escrever hoje e ser lido amanhã. Por isso tornou-se o maior cronista da literatura brasileira. Certa vez disse a Fernando Sabino: "Sempre escrevi para ser publicado no dia seguinte. Como o marido que tem que dormir com a esposa: pode estar achando gostoso, mas é uma obrigação. Sou uma máquina de escrever com algum uso, mas em bom estado de funcionamento." .
Seu sucesso deve-se principalmente ao fato de escrever sempre com palavras simples e pouco rebuscadas. Cronista do cotidiano, falava das coisas da cidade. Segundo Afrânio Coutinho, Braga escrevia a "crônica poética, na qual alia um estilo próprio a um intenso lirismo, provocado pelos acontecimentos cotidianos, pelas paisagens, pelos estados de alma, pelas pessoas, pela natureza."
Não sei qual seria o texto mais conveniente para fazer um paralelo com os dias atuais, mas um de seus sonetos é particularmente especial por ser eterno, portanto atual:
SONETO
E quando nós saímos era a Lua,
Era o vento caído e o amor sereno
Azul e cinza-azul anoitecendo
A tarde ruiva das amendoeiras.
E respiramos, livres das ardências
Do sol, que nos levara à sombra cauta
Tangidos pelo canto das cigarras
Dentro e fora de nós exasperadas.
Andamos em silêncio pela praia.
Nos corpos leves e lavados ia
O sentimento do prazer cumprido.
Se mágoa me ficou na despedida
Não fez mal que ficasse, nem doesse –
Era bem doce, perto das antigas.
2006-09-19 06:13:16
·
answer #1
·
answered by Ricardo 6
·
0⤊
0⤋
Cronista ele era excelente, a literatura precisa muito de gênios como ele, é como se fosse um poeta versando sobre coisas cotidianas de uma forma não ufanista.
2006-09-19 15:30:19
·
answer #2
·
answered by rubsgouvea 4
·
0⤊
0⤋
De acordo com a crítica literária Rubem Braga é considerado simplesmente o melhor cronista brasileiro de todos os tempos. Rubem Braga é maravilhoso.
Segundo Manuel Bandeira, o segredo de Braga seria: "pôr em suas crônicas o melhor da poesia que Deus lhe deu. Braga na crônica é sempre bom, e quando não tem assunto então é que tripula no melhor: mestre no puxa-puxa, espreme no palmo da coluna certa inefável poesia que é só dele." Precisa mais?
2006-09-17 15:23:11
·
answer #3
·
answered by Noel Prosa 3
·
0⤊
0⤋