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2006-09-14 03:49:53 · 10 respostas · perguntado por vagner p 1 em Ciências e Matemática Outras - Ciências

10 respostas

Martim Lutero nasceu no dia 10 de novembro de1483, na cidade de Eisleben, Turíngia, na Alemanha. No dia seguinte, foi batizado. Era o segundo filho dentre muitos irmãos. Seu pai mudou-se com a família para Mansfeld, onde transformou-se num bem-sucedido mineiro, dono de vários fornos numa mina de cobre.

A partir dos 5 anos, Martim freqüentou a escola em Mansfeld. Ali, aperndeu latim e os fundamentos da fé cristã. Em 1496, foi para a escola em Magdeburgo e, a partir de 1497, estudou em Eisenach, onde moravam muitos parentes da família de sua mãe.

Em abril de 1501, Martim Lutero ingressou na Universidade de Erfurt. Após os estudos na Faculdade dos Artistas - onde, naquele tempo, eram estudados os fundamentos científicos -, tornou-se Mestre nas Artes, em 1505. Depois disso, cumprindo o desejo de seu pai, iniciou o curso de Direito. Os muitos anos de estudo prepararam a base para a formação abrangente de Lutero.

No dia 02 de julho de 1505, ao retornar de uma visita a seus pais, em Mansfeld, uma tempestade surpreendeu Lutero, perto da vila de Stotternheim, a noroeste de Erfurt. Um raio atirou-o ao chão. Poucos dias antes, um amigo seu havia morrido. Lutero prometeu tornar-se monge. Contra a vontade de seu enfurecido pai, Martim ingressou na Ordem dos Agostinianos e passou a dedicar-se ao estudo da Bíblia.

Lutero foi ordenado sacerdote e recebeu o grau de Doutor em Teologia. A partir de 1508, atuou como professor na Universidade de Wittenberg. Como professor responsável pela leitura e exposição das Sagradas Escrituras, percebeu que certas práticas e crenças da Igreja estavam em desacordo com a mensagem de Jesus. Passou a denunciá-las publicamente, mas não foi ouvido pelas autoridades responsáveis.

Não podendo ficar calado, Lutero, a 31 de outubro de 1517, afixou na porta da igreja do castelo de Wittenberg suas 95 Teses contra os abusos da Igreja e especialmente contra a venda de indulgências.

Em 1520, Lutero foi excomungado pelo Papa e, no mesmo ano, queimou a Bula de Excomunhão em praça pública, rompendo assim com a Igreja Católica da época. Em 1530, surgiu a Confissão de Augsburgo que foi escrita a quatro mãos, juntamente com seu fiel companheiro, Melanchton. Este documento trazia um resumo dos ensinos luteranos. Excluído da Igreja, persistiu em reclamar e propor alterações na forma de fazerem e dizerem as coisas tanto no culto como na vida coletiva e individual. Assim tornou-se um dos grandes reformadores da Igreja, mais pela força das circunstâncias do que por vontade própria.

A fim de combater erros e propor manifestações de fé e piedade próprias do Evangelho, produziu escritos polêmicos, didáticos e pastorais, reformulou ordens de culto, compôs hinos e, juntamente com colegas da Universidade, traduziu, primeiro, o Novo Testamento e, depois, a Bíblia toda para a língua do povo. Suas obras, sucessivamente reeditadas e traduzidas, constituem um tesouro inestimável para todos que buscam compreender a identidade e vocação da Igreja cristã.

Lutero faleceu aos 62 anos, no dia 18 de fevereiro de 1546, após ter traduzido a Bíblia para o alemão popular e ter escrito inúmeras obras e tratados teológicos. Sua posição firme e coerente lhe granjeou grande estima e em 1555, 9 anos após sua morte, a Paz de Augsburgo atendeu, de certa forma, aos reclamos dos evangélicos. Os príncipes e cidadãos do império respeitariam a filiação religiosa de cada um, e o povo teria a opção de adotar a confissão religiosa do respectivo domínio ou de emigrar a território que tivesse a confissão desejada.

2006-09-14 03:53:37 · answer #1 · answered by MeninadosOlhos 4 · 0 0

As 95 Teses de Martin Lutero*

[Versão bilíngüe, com texto original em latim]



Estudo Introdutório:

Essas teses foram afixadas na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg a 1o de outubro de 1517. Era esse o modo usual de se anunciar uma “disputa”, prática regular da vida universitária. Ao fazer isso, não havia nada de excepcional na atitude de Lutero(1483-1546), pois apenas agia conforme costumes medievais ainda presentes nas universidades européias. Não se tratava de uma ação que deveria ter uma conotação individual, visto que as disputas eram debates que envolviam professores e estudantes, daí o fato de Lutero pedir para aqueles que não pudessem se fazer presentes às disputas que, ao menos, enviassem suas opiniões por escrito para serem lidas. Portanto, as “teses” deveriam ser vistas como “pontos a serem debatidos” em uma plenária. Nesse sentido, trata-se de um ato público envolvendo doutos e/ou seus estudantes, como demonstra o fato de as teses terem sido escritas originalmente em latim e não em alemão (língua familiar de Lutero). Observe-se também que o tom irônico e uma certa preocupação com métrica e rima fazem parte do ritual de “belo discurso”(arte da retórica), matéria obrigatória nas universidades da época. Portanto, ao lançar suas “95 Teses”, Lutero tornava públicas e não populares as suas idéias, com a finalidade de expor questões que o incomodavam a respeito das “vendas de perdão/indulgências”, cujas contradições práticas e doutrinais, somadas à corrupção de determinados setores do clero, eram vistas por ele como uma ameaça à credibilidade em relação à fé cristã e à Igreja de Roma. Isso significa que, ao tornar públicas suas teses, Lutero esperava receber o apoio do papa e não a sua censura. No entanto, depois de novas disputas teológicas, desta vez com agentes enviados pelo Papa Leão X(1475-1521; pontificado: 1513-1521), foi redigida contra Lutero uma carta de excomunhão datada em 21 de janeiro de 1521, que ele receberia meses depois.

Entre 1517 e 1521, Lutero foi submetido a algumas disputas teológicas e quase metade de suas teses foi refutada pelos agentes teológicos do papa. Aos poucos, a situação fugiu dos muros da universidade, e muitas idéias de Lutero foram convenientemente distorcidas por membros da nobreza alemã, que utilizaram a “desculpa da fé” para tomar bens e terras de famílias inimigas e da própria Igreja. Toda esta situação foi consolidando uma situação de cisma religioso na Europa que estava longe das intenções de Lutero. Portanto, deve-se entender que a ação de Lutero misturou-se involuntariamente com interesses políticos e outras tendências do debate teológico que remontavam ao século XIII. Por isso, ele criticou tanto as revoltas camponesas (marcadamente anabatistas) quanto os nobres que misturavam o plano religioso com o secular. Inserido numa realidade mental de Antigo Regime, Lutero era muito cioso das hierarquias sociais e criticava a nobreza e parte do clero que não davam “bom exemplo” e, explorando os camponeses com tributações extraordinárias, alimentavam as suas revoltas. Assim, não surpreende que em 1520 tenha escrito “Apelo à Nobreza Germânica” e, em 1525, no contexto das guerras camponesas ocorridas na Alemanha, tenha escrito “Sobre a Autoridade Secular”, que tinham um teor claramente secularizante e favorável ao equilíbrio dos diretos e responsabilidades que justificavam, aos seus olhos, as hierarquias sociais. Portanto, frente a um mundo que se apresentava instável e inseguro, Lutero apelava para dispositivos tradicionais como meio de restaurar a segurança do mundo, mas com uma novidade que jamais foi praticada plenamente em parte nenhuma da Europa até o final do Antigo Regime: apenas quem julga a fé é Deus e, portanto, nenhuma autoridade política deve, em nome dela, causar desperdício de vida e bens de seus subordinados políticos.

Valeria fazer uma indagação final: Se a ação de Lutero de lançar suas teses em 1517 não tinha nada de excepcional, por que posteriormente isso foi lembrado em muitos livros didáticos de história com conotações de heroicidade ou excepcionalidade? Em primeiro lugar, porque os desdobramentos não necessariamente luteranos de uma fé reformada ganhou avultado corpo e agentes sociais. Sem isso, não há quem celebre ou crie memória social em torno de determinado evento. Em segundo lugar, várias idéias de outros escritos de Lutero foram utilizadas por políticos e intelectuais da segunda metade do século XIX para, muito antes de Max Weber, fazer a ponte entre “protestantismo” e “espírito capitalista” e, assim, explicar a emergência imperial da Grã-Bretanha e do Império Prussiano, em contraponto ao “atraso ibérico” e à “decadência francesa”. No entanto, foi ao final do século XVII, contexto da expansão militar de Luís XIV (que revogou o Édito de Nantes em 1685), que se começou a celebrar nos meios “protestantes” o dia de lançamento das teses de Lutero como um “marco de ruptura” com Roma.


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Cronologia Básica:

1483, 10 de novembro: Nasce Lutero.

1509: Henrique VIII(1491-1547) torna-se rei da Inglaterra. Nasce João Calvino em 10 de julho.

1517, 1.º de outubro: Lutero fixa as suas “95 Teses” na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg.

1518: Lutero recusa-se a retratar-se perante o papa Leão X(1475-1521; pontificado: 1513-1521).

1520, junho: Leão X condena 41 proposições de Lutero.

1521, 21 de janeiro: Leão X excomunga Lutero, mas leva vários meses até a ordem de excomunhão chegar à Alemanha.

1522: Lutero publica a sua advertência contra os distúrbios e publica a tradução do hebreu para o alemão do Novo Testamento, com gravuras de Lucas Kranach(1472-1553).

1523: Lutero publica texto que fala do direito de a comunidade de fiéis julgar toda a doutrina e nomear e demitir clérigos.

1524-1525: Guerra dos camponeses de Müntzer.

1525: Lutero publica texto contra os “profetas sagrados” e contra as “revoltas camponesas”.

1528: Mandato imperial ameaça de morte os anabatistas.

1530: Carlos I(1500-1558) – rei de Espanha desde 1516 e eleito imperador desde 1519 – fracassa em impor uma ortodoxia religiosa ao império.

1534: Ruptura de Henrique VIII da Inglaterra com Roma, supressão dos monastérios e concessão de permissão para os padres se casarem. Na Alemanha, Lutero publica a tradução do hebreu para o alemão do Velho Testamento.

1534-1535: Anabatistas tomam o poder em Münster, mas seu reino é derrubado por forças católicas e protestantes.

1536: Calvino edita “Instituições da Religião Cristã”. Há também a introdução da bíblia vernacular na Inglaterra.

1542: Calvino organiza o seu catecismo em Genebra.

1544: Calvino admoesta os anabatistas.

1545, 13 de dezembro: Começa o Concílio de Trento.

1546, 18 de fevereiro: Morre Lutero.

1547: Eduardo VI(1537-1553) assume o trono na Inglaterra e demonstra forte tendência calvinista.

1549: Eduardo VI lança o livro de pregações e pretende forçar a uniformidade religiosa em torno da fé reformada na Inglaterra.

1553: Morre Eduardo VI e sua irmã mais velha, Maria I(1516-1558), pretende o retorno da Inglaterra ao Catolicismo.

1558: Morre Carlos V da Espanha e Maria I da Inglaterra. Elizabeth (1533-1603) assume o trono da Inglaterra e tenta restaurar o anglicanismo de seu pai, Henrique VIII, o que significava evitar os extremos puritano(Eduardo VI) e católico(Maria I).

1560, Março: Fracasso de uma conspiração de jovens aristocratas huguenotes franceses contra a Casa Católica do Duque de Guise. Primeiro édito de tolerância é editado.

1561, Setembro-Novembro: Colóquio de Poissy, mas fracassa a tentativa de restaurar a unidade entre huguenotes e católicos na França.

1562, março: Massacre dos huguenotes em Vassy comandada pela Casa Católica de Guise. Primeira Guerra Civil Religiosa na França.

1563: Em março, Catarina de Médicis(1519-1589; regente: 1560-1674) tenta por fim à guerra civil francesa com a assinatura da Paz de Amboise, que concede certo grau de tolerância para os huguenotes. Neste mesmo ano, encerra-se o Concílio de Trento.

1564, 27 de maio: Morre João Calvino. Théodore de Béze(1519-605) sucede Calvino como líder da reforma protestante centrada em Genebra.

1572, 23-24 de agosto: Noite do Massacre de São Bartolomeu em Paris.

1598: Publicação do Édito de Nantes.

1685: Revogação do Édito de Nantes.


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Latim
Português

Amore et studio elucidande veritatis hec subscripta disputabuntur Wittenberge, Presidente R. P. Martino Lutther, Artium et S. Theologie Magistro eiusdemque ibidem lectore Ordinario. Quare petit, ut qui non possunt verbis presentes nobiscum disceptare agant id literis absentes.

In nomine domini nostri Hiesu Christi.

Amen.
Com um desejo ardente de trazer a verdade à luz, as seguintes teses serão defendidas em Wittenberg sob a presidência do Rev. Frei Martinho Lutero, Mestre de Artes, Mestre de Sagrada Teologia e Professor oficial da mesma. Ele, portanto, pede que todos os que não puderem estar presentes e disputar com ele verbalmente, façam-no por escrito.

Em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Amém.

1. Dominus et magister noster Iesus Christus dicendo ‘Penitentiam agite &c.’ omnem vitam fidelium penitentiam esse voluit. 1. Ao dizer: "Fazei penitência", etc. [Mt 4.17], o nosso Senhor e Mestre Jesus Cristo quis que toda a vida dos fiéis fosse penitência.
2. Quod verbum de penitentia sacramentali (id est confessionis et satisfactionis, que sacerdotum ministerio celebratur) non potest intelligi. 2. Esta penitência não pode ser entendida como penitência sacramental (isto é, da confissão e satisfação celebrada pelo ministério dos sacerdotes).
3. Non tamen solam intendit interiorem, immo interior nulla est, nisi foris operetur varias carnis mortificationes. 3. No entanto, ela não se refere apenas a uma penitência interior; sim, a penitência interior seria nula se, externamente, não produzisse toda sorte de mortificação da carne.
4. Manet itaque pena, donec manet odium sui (id est penitentia vera intus), scilicet usque ad introitum regni celorum. 4. Por conseqüência, a pena perdura enquanto persiste o ódio de si mesmo (isto é a verdadeira penitência interior), ou seja, até a entrada do reino dos céus.
5. Papa non vult nec potest ullas penas remittere preter eas, quas arbitrio vel suo vel canonum imposuit. 5. O papa não quer nem pode dispensar de quaisquer penas senão daquelas que impôs por decisão própria ou dos cânones.
6. Papa non potest remittere ullam culpam nisi declarando, et approbando remissam a deo Aut certe remittendo casus reservatos sibi, quibus contemptis culpa prorsus remaneret. 6. O papa não tem o poder de perdoar culpa a não ser declarando ou confirmando que ela foi perdoada por Deus; ou, certamente, perdoados os casos que lhe são reservados. Se ele deixasse de observar essas limitações, a culpa permaneceria.

7. Nulli prorus remittit deus culpam, quin simul eum subiiciat humiliatum in omnibus sacerdoti suo vicario.
7. Deus não perdoa a culpa de qualquer pessoa sem, ao mesmo tempo, sujeitá-la, em tudo humilhada, ao sacerdote, seu vigário.

8. Canones penitentiales solum viventibus sunt impositi nihilque morituris secundum eosdem debet imponi. 8. Os cânones penitenciais são impostos apenas aos vivos; segundo os mesmos cânones, nada deve ser imposto aos moribundos.

9. Inde bene nobis facit spiritussanctus in papa excipiendo in suis decretis semper articulum mortis et necessitatis. 9. Por isso, o Espírito Santo nos beneficia através do papa quando este, em seus decretos, sempre exclui a circunstância da morte e da necessidade.
10. Indocte et male faciunt sacerdotes ii, qui morituris penitentias canonicas in purgatorium reservant. 10. Agem mal e sem conhecimento de causa aqueles sacerdotes que reservam aos moribundos penitências canônicas para o purgatório.
11. Zizania illa de mutanda pena Canonica in penam purgatorii videntur certe dormientibus episcopis seminata. 11. Essa cizânia de transformar a pena canônica em pena do purgatório parece ter sido semeada enquanto os bispos certamente dormiam.
12. Olim pene canonice non post, sed ante absolutionem imponebantur tanquam tentamenta vere contritionis. 12. Antigamente se impunham as penas canônicas não depois, mas antes da absolvição, como verificação da verdadeira contrição.
13. Morituri per mortem omnia solvunt et legibus canonum mortui iam sunt, habentes iure earum relaxationem. 13. Através da morte, os moribundos pagam tudo e já estão mortos para as leis canônicas, tendo, por direito, isenção das mesmas.
14. Imperfecta sanitas seu charitas morituri necessario secum fert magnum timorem, tantoque maiorem, quanto minor fuerit ipsa. 14. Saúde ou amor imperfeito no moribundo necessariamente traz consigo grande temor, e tanto mais quanto menor for o amor.
15. Hic timor et horror satis est se solo (ut alia taceam) facere penam purgatorii, cum sit proximus desperationis horrori. 15. Este temor e horror por si sós já bastam (para não falar de outras coisas) para produzir a pena do purgatório, uma vez que estão próximos do horror do desespero.
16. Videntur infernus, purgaturium, celum differre, sicut desperatio, prope desperatio, securitas differunt. 16. Inferno, purgatório e céu parecem diferir da mesma forma que o desespero, o semidesespero e a segurança.
17. Necessarium videtur animabus in purgatorio sicut minni horrorem ita augeri charitatem. 17. Parece desnecessário, para as almas no purgatório, que o horror diminua na medida em que cresce o amor.
18. Nec probatum videtur ullis aut rationibus aut scripturis, quod sint extra statum meriti seu augende charitatis. 18. Parece não ter sido provado, nem por meio de argumentos racionais nem da Escritura, que elas se encontrem fora do estado de mérito ou de crescimento no amor.
19. Nec hoc probatum esse videtur, quod sint de sua beatitudine certe et secure, saltem omnes, licet nos certissimi simus. 19. Também parece não ter sido provado que as almas no purgatório estejam certas de sua bem-aventurança, ao menos não todas, mesmo que nós, de nossa parte, tenhamos plena certeza disso.
20. Igitur papa per remissionem plenariam omnium penarum non simpliciter omnium intelligit, sed a seipso tantummodo impositarum. 20. Portanto, por remissão plena de todas as penas, o papa não entende simplesmente todas, mas somente aquelas que ele mesmo impôs.
21. Errant itaque indulgentiarum predicatores ii, qui dicunt per pape indulgentias hominem ab omni pena solvi et salvari. 21. Erram, portanto, os pregadores de indulgências que afirmam que a pessoa é absolvida de toda pena e salva pelas indulgências do papa.
22. Quin nullam remittit animabus in purgatorio, quam in hac vita debuissent secundum Canones solvere. 22. Com efeito, ele não dispensa as almas no purgatório de uma única pena que, segundo os cânones, elas deveriam ter pago nesta vida.
23. Si remissio ulla omnium omnino penarum potest alicui dari, certum est eam non nisi perfectissimis, i.e. paucissimis, dari. 23. Se é que se pode dar algum perdão de todas as penas a alguém, ele, certamente, só é dado aos mais perfeitos, isto é, pouquíssimos.
24. Falli ob id necesse est maiorem partem populi per indifferentem illam et magnificam pene solute promissionem. 24. Por isso, a maior parte do povo está sendo necessariamente ludibriada por essa magnífica e indistinta promessa de absolvição da pena.
25.Qualem potestatem habet papa in purgatorium generaliter, talem habet quilibet Episcopus et Curatus in sua diocesi et parochia specialiter. 25. O mesmo poder que o papa tem sobre o purgatório de modo geral, qualquer bispo e cura tem em sua diocese e paróquia em particular.
[26] Optime facit papa, quod non potestate clavis (quam nullam habet) sed per modum suffragii dat animabus remissionem. 26. O papa faz muito bem ao dar remissão às almas não pelo poder das chaves (que ele não tem), mas por meio de intercessão.
[27] Hominem predicant, qui statim ut iactus nummus in cistam tinnierit evolare dicunt animam. 27. Pregam doutrina humana os que dizem que, tão logo tilintar a moeda lançada na caixa, a alma sairá voando [do purgatório para o céu].
[28] Certum est, nummo in cistam tinniente augeri questum et avariciam posse: suffragium autem ecclesie est in arbitrio dei solius. 28. Certo é que, ao tilintar a moeda na caixa [1] , pode aumentar o lucro e a cobiça; a intercessão da Igreja, porém, depende apenas da vontade de Deus.
[29] Quis scit, si omnes anime in purgatorio velint redimi, sicut de s. Severino et Paschali factum narratur. 29. E quem é que sabe se todas as almas no purgatório querem ser resgatadas, como na história contada a respeito de São Severino e São Pascoal?
[30] Nullus securus est de veritate sue contritionis, multominus de consecutione plenarie remissionis. 30. Ninguém tem certeza da veracidade de sua contrição, muito menos de haver conseguido plena remissão.
[31] Quam rarus est vere penitens, tam rarus est vere indulgentias redimens, i. e. rarissimus. 31. Tão raro como quem é penitente de verdade é quem adquire autenticamente as indulgências, ou seja, é raríssimo.
[32] Damnabuntur ineternum cum suis magistris, qui per literas veniarum securos sese credunt de sua salute. 32. Serão condenados em eternidade, juntamente com seus mestres, aqueles que se julgam seguros de sua salvação através de carta de indulgência.
[33] Cavendi sunt nimis, qui dicunt venias illas Pape donum esse illud dei inestimabile, quo reconciliatur homo deo. 33. Deve-se ter muita cautela com aqueles que dizem serem as indulgências do papa aquela inestimável dádiva de Deus através da qual a pessoa é reconciliada com Ele.
[34] Gratie enim ille veniales tantum respiciunt penas satisfactionis sacramentalis ab homine constitutas. 34. Pois aquelas graças das indulgências se referem somente às penas de satisfação sacramental, determinadas por seres humanos.
[35] Non christiana predicant, qui docent, quod redempturis animas vel confessionalia non sit necessaria contritio. 35. Os que ensinam que a contrição não é necessária para obter redenção ou indulgência, estão pregando doutrinas incompatíveis com o cristão.
[36] Quilibet christianus vere compunctus habet remissionem plenariam a pena et culpa etiam sine literis veniarum sibi debitam.
36. Qualquer cristão que está verdadeiramente contrito tem remissão plena tanto da pena como da culpa, que são suas dívidas, mesmo sem uma carta de indulgência.
[37] Quilibet versus christianus, sive vivus sive mortuus, habet participationem omnium bonorum Christi et Ecclesie etiam sine literis veniarum a deo sibi datam.
37. Qualquer cristão verdadeiro, vivo ou morto, participa de todos os benefícios de Cristo e da Igreja, que são dons de Deus, mesmo sem carta de indulgência.

[38] Remissio tamen et participatio Pape nullo modo est contemnenda, quia (ut dixi) est declaratio remissionis divine.
38. Contudo, o perdão distribuído pelo papa não deve ser desprezado, pois – como disse – é uma declaração da remissão divina [2] .

[39] Difficillimum est etiam doctissimis Theologis simul extollere veniarum largitatem et contritionis veritatem coram populo.
39. Até mesmo para os mais doutos teólogos é dificílimo exaltar simultaneamente perante o povo a liberalidade de indulgências e a verdadeira contrição. [3]

[40] Contritionis veritas penas querit et amat, Veniarum autem largitas relaxat et odisse facit, saltem occasione.
40. A verdadeira contrição procura e ama as penas, ao passo que a abundância das indulgências as afrouxa e faz odiá-las, ou pelo menos dá ocasião para tanto. [4]

[41] Caute sunt venie apostolice predicande, ne populus false intelligat eas preferri ceteris bonis operibus charitatis.
41. Deve-se pregar com muita cautela sobre as indulgências apostólicas, para que o povo não as julgue erroneamente como preferíveis às demais boas obras do amor. [5]

[42] Docendi sunt christiani, quod Pape mens non est, redemptionem veniarum ulla ex parte comparandam esse operibus misericordie.
42. Deve-se ensinar aos cristãos que não é pensamento do papa que a compra de indulgências possa, de alguma forma, ser comparada com as obras de misericórdia.

[43] Docendi sunt christiani, quod dans pauperi aut mutuans egenti melius facit quam si venias redimereet. 43. Deve-se ensinar aos cristãos que, dando ao pobre ou emprestando ao necessitado, procedem melhor do que se comprassem indulgências. [6]
[44] Quia per opus charitatis crescit charitas et fit homo melior, sed per venias non fit melior sed tantummodo a pena liberior. 44. Ocorre que através da obra de amor cresce o amor e a pessoa se torna melhor, ao passo que com as indulgências ela não se torna melhor, mas apenas mais livre da pena.
[45] Docendi sunt christiani, quod, qui videt egenum et neglecto eo dat pro veniis, non idulgentias Pape sed indignationem dei sibi vendicat. 45. Deve-se ensinar aos cristãos que quem vê um carente e o negligencia para gastar com indulgências obtém para si não as indulgências do papa, mas a ira de Deus.
[46] Docendi sunt christiani, quod nisi superfluis abundent necessaria tenentur domui sue retinere et nequaquam propter venias effundere. 46. Deve-se ensinar aos cristãos que, se não tiverem bens em abundância, devem conservar o que é necessário para sua casa e de forma alguma desperdiçar dinheiro com indulgência.
[47] Docendi sunt christiani, quod redemptio veniarum est libera, non precepta. 47. Deve-se ensinar aos cristãos que a compra de indulgências é livre e não constitui obrigação.
[48] Docendi sunt christiani, quod Papa sicut magis eget ita magis optat in veniis dandis pro se devotam orationem quam promptam pecuniam. 48. Deve ensinar-se aos cristãos que, ao conceder perdões, o papa tem mais desejo (assim como tem mais necessidade) de oração devota em seu favor do que do dinheiro que se está pronto a pagar.
[49] Docendi sunt christiani, quod venie Pape sunt utiles, si non in cas confidant, Sed nocentissime, si timorem dei per eas amittant. 49. Deve-se ensinar aos cristãos que as indulgências do papa são úteis se não depositam sua confiança nelas, porém, extremamente prejudiciais se perdem o temor de Deus por causa delas.
[50] Docendi sunt christiani, quod si Papa nosset exactiones venialium predicatorum, mallet Basilicam s. Petri in cineres ire quam edificari cute, carne et ossibus ovium suarum. 50. Deve-se ensinar aos cristãos que, se o papa soubesse das exações dos pregadores de indulgências, preferiria reduzir a cinzas a Basílica de S. Pedro a edificá-la com a pele, a carne e os ossos de suas ovelhas.
[51] Docendi sunt christiani, quod Papa sicut debet ita vellet, etiam vendita (si opus sit) Basilicam s. Petri, de suis pecuniis dare illis, a quorum plurimis quidam concionatores veniarum pecuniam eliciunt. 51. Deve-se ensinar aos cristãos que o papa estaria disposto – como é seu dever – a dar do seu dinheiro àqueles muitos de quem alguns pregadores de indulgências extorquem ardilosamente o dinheiro, mesmo que para isto fosse necessário vender a Basílica de S. Pedro.

[52] Vana est fiducia salutis per literas veniarum, etiam si Commissarius, immo Papa ipse suam animam pro illis impigneraret. 52. Vã é a confiança na salvação por meio de cartas de indulgências, mesmo que o comissário ou até mesmo o próprio papa desse sua alma como garantia pelas mesmas.
[53] Hostes Christi et Pape sunt ii, qui propter venias predicandas verbum dei in aliis ecclesiis penitus silere iubent. 53. São inimigos de Cristo e do Papa aqueles que, por causa da pregação de indulgências, fazem calar por inteiro a palavra de Deus nas demais igrejas.
[54] Iniuria fit verbo dei, dum in eodem sermone equale vel longius tempus impenditur veniis quam illi. 54. Ofende-se a palavra de Deus quando, em um mesmo sermão, se dedica tanto ou mais tempo às indulgências do que a ela.
[55] Mens Pape necessario est, quod, si venie (quod minimum est) una campana, unis pompis et ceremoniis celebrantur, Euangelium (quod maximum est) centum campanis, centum pompis, centum ceremoniis predicetur. 55. A atitude do Papa necessariamente é: se as indulgências (que são o menos importante) são celebradas com um toque de sino, uma procissão e uma cerimônia, o Evangelho (que é o mais importante) deve ser anunciado com uma centena de sinos, procissões e cerimônias.
[56] Thesauri ecclesie, unde Pape dat indulgentias, neque satis nominati sunt neque cogniti apud populum Christi. 56. Os tesouros da Igreja, a partir dos quais o papa concede as indulgências, não são suficientemente mencionados nem conhecidos entre o povo de Cristo.
[57] Temporales certe non esse patet, quod non tam facile eos profundunt, sed tantummodo colligunt multi concionatorum. 57. É evidente que eles, certamente, não são de natureza temporal, visto que muitos pregadores não os distribuem tão facilmente, mas apenas os ajuntam.
[58] Nec sunt merita Christi et sanctorum, quia hec semper sine Papa operantur gratiam hominis interioris et crucem, mortem infernumque exterioris. 58. Eles tampouco são os méritos de Cristo e dos santos, pois estes sempre operam, sem o papa, a graça do ser humano interior e a cruz, a morte e o inferno do ser humano exterior.
[59] Thesauros ecclesie s. Laurentius dixit esse pauperes ecclesie, sed locutus est usu vocabuli suo tempore. 59. S. Lourenço disse que os pobres da Igreja são os tesouros da mesma, empregando, no entanto, a palavra como era usada em sua época.
[60] Sine temeritate dicimus claves ecclesie (merito Christi donatas) esse thesaurum istum. 60. É sem temeridade que dizemos que as chaves da Igreja, que foram proporcionadas pelo mérito de Cristo, constituem estes tesouros.
[61] Clarum est enim, quod ad remissionem penarum et casuum sola sufficit potestas Pape. 61. Pois está claro que, para a remissão das penas e dos casos especiais, o poder do papa por si só é suficiente. [7]
[62] Verus thesaurus ecclesie est sacrosanctum euangelium glorie et gratie dei. 62. O verdadeiro tesouro da Igreja é o santíssimo Evangelho da glória e da graça de Deus.
[63] Hic autem est merito odiosissimus, quia ex primis facit novissimos. 63. Mas este tesouro é certamente o mais odiado, pois faz com que os primeiros sejam os últimos.
[64] Thesaurus autem indulgentiarum merito est gratissimus, quia ex novissimis facit primos. 64. Em contrapartida, o tesouro das indulgências é certamente o mais benquisto, pois faz dos últimos os primeiros.
[65] Igitur thesauri Euangelici rhetia sunt, quibus olim piscabantur viros divitiarum. 65. Portanto, os tesouros do Evangelho são as redes com que outrora se pescavam homens possuidores de riquezas.
[66] Thesauri indulgentiarum rhetia sunt, quibus nunc piscantur divitias virorum. 66. Os tesouros das indulgências, por sua vez, são as redes com que hoje se pesca a riqueza dos homens.
[67] Indulgentie, quas concionatores vociferantur maximas gratias, intelliguntur vere tales quoad questum promovendum. 67. As indulgências apregoadas pelos seus vendedores como as maiores graças realmente podem ser entendidas como tais, na medida em que dão boa renda.
[68] Sunt tamen re vera minime ad gratiam dei et crucis pietatem comparate. 68. Entretanto, na verdade, elas são as graças mais ínfimas em comparação com a graça de Deus e a piedade da cruz.
[69] Tenentur Episcopi et Curati veniarum apostolicarum Commissarios cum omni reverentia admittere. 69. Os bispos e curas têm a obrigação de admitir com toda a reverência os comissários de indulgências apostólicas.
[70] Sed magis tenentur omnibus oculis intendere, omnibus auribus advertere, ne pro commissione Pape sua illi somnia predicent. 70. Têm, porém, a obrigação ainda maior de observar com os dois olhos e atentar com ambos os ouvidos para que esses comissários não preguem os seus próprios sonhos em lugar do que lhes foi incumbidos pelo papa.
[71] Contra veniarum apostolicarum veritatem qui loquitur, sit ille anathema et maledictus. 71. Seja excomungado e amaldiçoado quem falar contra a verdade das indulgências apostólicas.
[72] Qui vero, contra libidinem ac licentiam verborum Concionatoris veniarum curam agit, sit ille benedictus. 72. Seja bendito, porém, quem ficar alerta contra a devassidão e licenciosidade das palavras de um pregador de indulgências.
[73] Sicut Papa iuste fulminat eos, qui in fraudem negocii veniarum quacunque arte machinantur. 73. Assim como o papa, com razão, fulmina aqueles que, de qualquer forma, procuram defraudar o comércio de indulgências,
[74] Multomagnis fulminare intendit eos, qui per veniarum pretextum in fraudem sancte charitatis et veritatis machinantur. 74. muito mais deseja fulminar aqueles que, a pretexto das indulgências, procuram fraudar a santa caridade e verdade.

[75] Opinari venias papales tantas esse, ut solvere possint hominem, etiam si quis per impossibile dei genitricem violasset, Est insanire. 75. A opinião de que as indulgências papais são tão eficazes a ponto de poderem absolver um homem mesmo que tivesse violentado a mãe de Deus, caso isso fosse possível, é loucura.
[76] Dicimus contra, quod venie papales nec minimum venialium peccatorum tollere possint quo ad culpam. 76. Afirmamos, pelo contrário, que as indulgências papais não podem anular sequer o menor dos pecados venais no que se refere à sua culpa.
[77] Quod dicitur, nec si s. Petrus modo Papa esset maiores gratias donare posset, est blasphemia in sanctum Petrum et Papam. 77. A afirmação de que nem mesmo São Pedro, caso fosse o papa atualmente, poderia conceder maiores graças é blasfêmia contra São Pedro e o Papa.
[78] Dicimus contra, quod etiam iste et quilibet papa maiores habet, scilicet Euangelium, virtutes, gratias, curationum &c. ut 1.Co.XII. 78. Dizemos contra isto que qualquer papa, mesmo São Pedro, tem maiores graças que essas, a saber, o Evangelho, as virtudes, as graças da administração (ou da cura), etc., como está escrito em I.Coríntios XII.
[79] Dicere, Crucem armis papalibus insigniter erectam cruci Christi equivalere, blasphemia est. 79. É blasfêmia dizer que a cruz com as armas do papa, insigneamente erguida, equivale à cruz de Cristo.
[80] Rationem reddent Episcopi, Curati et Theologi, Qui tales sermones in populum licere sinunt. 80. Terão que prestar contas os bispos, curas e teólogos que permitem que semelhantes sermões sejam difundidos entre o povo.
[81] Facit hec licentiosa veniarum predicatio, ut nec reverentiam Pape facile sit etiam doctis viris redimere a calumniis aut certe argutis questionibus laicorm. 81. Essa licenciosa pregação de indulgências faz com que não seja fácil nem para os homens doutos defender a dignidade do papa contra calúnias ou questões, sem dúvida argutas, dos leigos.
[82] Scilicet. Cur Papa non evacuat purgatorium propter sanctissimam charitatem et summam animarum necessitatem ut causam omnium iustissimam, Si infinitas animas redimit propter pecuniam funestissimam ad structuram Basilice ut causam levissimam?
82. Por exemplo: Por que o papa não esvazia o purgatório por causa do santíssimo amor e da extrema necessidade das almas – o que seria a mais justa de todas as causas –, se redime um número infinito de almas por causa do funestíssimo dinheiro para a construção da basílica – que é uma causa tão insignificante?
[83] Item. Cur permanent exequie et anniversaria defunctorum et non reddit aut recipi permittit beneficia pro illis instituta, cum iam sit iniuria pro redemptis orare? 83. Do mesmo modo: Por que se mantêm as exéquias e os aniversários dos falecidos e por que ele não restitui ou permite que se recebam de volta as doações efetuadas em favor deles, visto que já não é justo orar pelos redimidos?

[84] Item. Que illa nova pietas Dei et Pape, quod impio et inimico propter pecuniam concedunt animam piam et amicam dei redimere, Et tamen propter necessitatem ipsius met pie et dilecte anime non redimunt eam gratuita charitate? 84. Do mesmo modo: Que nova piedade de Deus e do papa é essa que, por causa do dinheiro, permite ao ímpio e inimigo redimir uma alma piedosa e amiga de Deus, mas não a redime por causa da necessidade da mesma alma piedosa e dileta por amor gratuito?
[85] Item. Cur Canones penitentiales re ipsa et non usu iam diu in semet abrogati et mortui adhuc tamen pecuniis redimuntur per concessionem indulgentiarum tanquam vivacissimi? 85. Do mesmo modo: Por que os cânones penitenciais – de fato e por desuso já há muito revogados e mortos – ainda assim são redimidos com dinheiro, pela concessão de indulgências, como se ainda estivessem em pleno vigor?
[86] Item. Cur Papa, cuius opes hodie sunt opulentissimis Crassis crassiores, non de suis pecuniis magis quam pauperum fidelium struit unam tantummodo Basilicam sancti Petri? 86. Do mesmo modo: Por que o papa, cuja fortuna hoje é maior do que a dos ricos mais crassos, não constrói com seu próprio dinheiro ao menos esta uma basílica de São Pedro, ao invés de fazê-lo com o dinheiro dos pobres fiéis?
[87] Item. Quid remittit aut participat Papa iis, qui per contritionem perfectam ius habent plenarie remissionis et participationis? 87. Do mesmo modo: O que é que o papa perdoa e concede àqueles que, pela contrição perfeita, têm direito à plena remissão e participação?
[88] Item. Quid adderetur ecclesie boni maioris, Si Papa, sicut semel facit, ita centies in die cuilibet fidelium has remissiones et participationes tribueret? 88. Do mesmo modo: Que benefício maior se poderia proporcionar à Igreja do que se o papa, assim como agora o faz uma vez, da mesma forma concedesse essas remissões e participações cem vezes ao dia a qualquer dos fiéis?
[89] Ex quo Papa salutem querit animarum per venias magis quam pecunias, Cur suspendit literas et venias iam olim concessas, cum sint eque efficaces? 89. Já que, com as indulgências, o papa procura mais a salvação das almas do que o dinheiro, por que suspende as cartas e indulgências, outrora já concedidas, se são igualmente eficazes?
[90] Hec scrupulosissima laicorum argumenta sola potestate compescere nec reddita ratione diluere, Est ecclesiam et Papam hostibus ridendos exponere et infelices christianos facere. 90. Reprimir esses argumentos muito perspicazes dos leigos somente pela força, sem refutá-los apresentando razões, significa expor a Igreja e o papa à zombaria dos inimigos e fazer os cristãos infelizes.
[91] Si ergo venie secundum spiritum et mentem Pape predicarentur, facile illa omnia solverentur, immo non essent. 91. Se, portanto, as indulgências fossem pregadas em conformidade com o espírito e a opinião do papa, todas essas objeções poderiam ser facilmente respondidas e nem mesmo teriam surgido.
[92] Valeant itaque omnes illi prophete, qui dicunt populo Christi “Pax pax”, et non est pax. 92. Portanto, fora com todos esses profetas que dizem ao povo de Cristo "Paz, paz!" sem que haja paz!
[93] Bene agant omnes illi prophete, qui dicunt populo Christi “Crux crux”, et non est crux. 93. Que prosperem todos os profetas que dizem ao povo de Cristo "Cruz! Cruz!" sem que haja cruz! [8]
[94] Exhortandi sunt Christiani, ut caput suum Christum per penas, mortes infernosque sequi studeant, 94. Devem-se exortar os cristãos a que se esforcem por seguir a Cristo, seu cabeça, através das penas, da morte e do inferno.
[95] Ac sic magis per multas tribulationes intrare celum quam per securitatem pacis confidant. 95. E que confiem entrar no céu antes passando por muitas tribulações do que por meio da confiança da paz.
M.D.Xvii. [1517 A.D.]


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[1] Lutero refere-se à caixa de coleta de rendas oriundas da venda de “cartas de indulgência”. (Vide Tese 36)

[2] Observa neste trecho o quanto a postura de Lutero não é cismática, mas reformadora, pois reconhecia, pelo menos em 1517, o papel do Papa como intercessor.(Vide Teses 61, 69, 70, 71, 72, 73, 74, 75, 76, 77, 78, 79, 80, 81, 83, 84, 87, 89, 90, 91)

[3] No século XVII, o padre católico Gregório da Mattos Guerra(1633-1696) voltaria, com sarcasmos, a este tema em seu poema-missiva “A Jesus Cristo Nosso Senhor”: Pequei, Senhor; mas não porque hei pecado./Da vossa clemência me despido,/porque, quanto mais tenho delinqüido,/vos tenho a perdoar mais empenhado./.../Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada./ Cobrai-a e não queirais, pastor divino,/perder na vossa ovelha a vossa glória. (MATOS, Gregório de. Poemas Escolhidos. São Paulo, Cultrix, 1976. p. 297).(Vide Teses 44, 49, 67, 76, 84, 93)

[4] Lutero é marcadamente agostiniano e, por isso, insiste no valor pedagógico do castigo, na utilidade do sofrimento, no recurso necessário aos métodos repressivos – tanto em matéria de fé quanto de política.(Vide Teses 94, 95)

[5] Em 1525, Lutero afirmaria abertamente que condenada estaria toda a obra que não nascesse do amor, no sentido da “charitas” de Cristo, o que significava que a “obra” concebida como “cálculo de indulgência” não teria o menor efeito, mesmo porque não caberia ao homem julgar a fé de outrem, pois somente Deus conheceria o que se passava no coração dos homens. O efeito disso, diferentemente do tom ainda conciliador de 1517, era tornar a instituição eclesiástica completamente desnecessária para reger o “mundo interior” do cristão.(Vide Teses 47, 48, 49, 51, 52, 53, 55, 57, 58, 65, 66)

[6] Esta tese tem dois alvos: em âmbito geral, a elite nobre e não-nobre alemã que desperdiçava recursos em encomendas de missas ou patrocínio de igrejas às custas da miséria ou exação de seus subordinados; em âmbito particular, o Cardeal Alberto de Brandeburgo(1490-1545). Para ter sua confirmação para o Arcebispado de Mayence em 1514, Alberto tinha que conseguir uma soma considerável e enviá-la para Roma. Para tanto, ele fez um empréstimo e o assentou, com autorização papal, sobre a arrecadação das indulgências vinculadas à construção da Basílica de São Pedro em Roma. Segundo o acordo entre Alberto e o Papado, metade do arrecadado iria para a construção da basílica e a outra metade para Alberto quitar suas dívidas provenientes da investidura no arcebispado. No final das contas, o Papa teria o conjunto das rendas de Brandeburgo vinculadas às indulgências.(Vide Teses 46, 47, 48, 50, 51, 52, 55, 56, 59, 65, 66, 82, 83, 85, 86, 88)

[7] Vide Tese 38.

[8] Com tal imprecação, Lutero espera uma reforma moral da Igreja e seu rebanho, o que significava a interiorização da fé, da contrição e da “charitas”.(Supra notas “3” e “5”)

2006-09-14 08:05:13 · answer #2 · answered by Rog鲩o Fernando P 2 · 0 0

Resumindo: Lutero foi um padre locasso, teólogo prof d universidade, que começou a se revoltar com igreja católica visto os grrandes desmandos e dessvirtuações internas.
Cansado de tanta mentira começou a pregar o que achava ser certo, o que provocou a ira dos poderosos cardeais e bispos da época.
Devido a uma má interpretação de suas ideia, que eram pacificas e reveladoras da palavra de Deus, se iniciou uma revolta "protestante" (protestante pq protestava contra a igreja católica) que acabou por criar uma ruptura na Europa, o que gerou mudanças não somente religiosas mas em todos os sentidos (economia, governança etc.)



FONTE: Meus estudos. C tivé coisa errada é pq eu aprendi errado hehehe.

2006-09-14 05:01:02 · answer #3 · answered by Guedan 1 · 0 0

Martinho Lutero (1483-1546), Foi um teólogo e reformador alemão que iniciou a Reforma Protestante, a qual teve uma vasta influência não apenas em religião, mas também em política, economia, educação, e línguas. A extensão do Protestantismo influência de Lutero uma das mais cruciais figuras da história moderna européia.

2006-09-14 04:17:05 · answer #4 · answered by Robson F 6 · 0 0

Martin Lutero foi o individuo que contrariou a igreja, em 1400 depois de Cristo, este foi seminarista, e convivendo com a igreja durante a sua preparação desafiou a forma como a igreja tratava a parte da sociedade de classe baixa. Após a sua formação religiosa começou a dar aula em uma Faculdade onde colocava as suas idéias e fazia os novos seminaristas entender a religião de uma forma diferente da igreja católica romana, foi perseguido mas conseguiu fugir e formar uma igreja revolucionária na época a igreja Luterana católica, onde as suas regras foram diferenciadas e o pastor pode casar e ter bens de imóveis.

2006-09-14 04:07:05 · answer #5 · answered by ceapo 2 · 0 0

Martim Lutero nasceu no dia 10 de novembro de1483, na cidade de Eisleben, Turíngia, na Alemanha. No dia seguinte, foi batizado. Era o segundo filho dentre muitos irmãos. Seu pai mudou-se com a família para Mansfeld, onde transformou-se num bem-sucedido mineiro, dono de vários fornos numa mina de cobre.

A partir dos 5 anos, Martim freqüentou a escola em Mansfeld. Ali, aperndeu latim e os fundamentos da fé cristã. Em 1496, foi para a escola em Magdeburgo e, a partir de 1497, estudou em Eisenach, onde moravam muitos parentes da família de sua mãe.

Em abril de 1501, Martim Lutero ingressou na Universidade de Erfurt. Após os estudos na Faculdade dos Artistas - onde, naquele tempo, eram estudados os fundamentos científicos -, tornou-se Mestre nas Artes, em 1505. Depois disso, cumprindo o desejo de seu pai, iniciou o curso de Direito. Os muitos anos de estudo prepararam a base para a formação abrangente de Lutero.

No dia 02 de julho de 1505, ao retornar de uma visita a seus pais, em Mansfeld, uma tempestade surpreendeu Lutero, perto da vila de Stotternheim, a noroeste de Erfurt. Um raio atirou-o ao chão. Poucos dias antes, um amigo seu havia morrido. Lutero prometeu tornar-se monge. Contra a vontade de seu enfurecido pai, Martim ingressou na Ordem dos Agostinianos e passou a dedicar-se ao estudo da Bíblia.

Lutero foi ordenado sacerdote e recebeu o grau de Doutor em Teologia. A partir de 1508, atuou como professor na Universidade de Wittenberg. Como professor responsável pela leitura e exposição das Sagradas Escrituras, percebeu que certas práticas e crenças da Igreja estavam em desacordo com a mensagem de Jesus. Passou a denunciá-las publicamente, mas não foi ouvido pelas autoridades responsáveis.

Não podendo ficar calado, Lutero, a 31 de outubro de 1517, afixou na porta da igreja do castelo de Wittenberg suas 95 Teses contra os abusos da Igreja e especialmente contra a venda de indulgências.

Em 1520, Lutero foi excomungado pelo Papa e, no mesmo ano, queimou a Bula de Excomunhão em praça pública, rompendo assim com a Igreja Católica da época. Em 1530, surgiu a Confissão de Augsburgo que foi escrita a quatro mãos, juntamente com seu fiel companheiro, Melanchton. Este documento trazia um resumo dos ensinos luteranos. Excluído da Igreja, persistiu em reclamar e propor alterações na forma de fazerem e dizerem as coisas tanto no culto como na vida coletiva e individual. Assim tornou-se um dos grandes reformadores da Igreja, mais pela força das circunstâncias do que por vontade própria.

A fim de combater erros e propor manifestações de fé e piedade próprias do Evangelho, produziu escritos polêmicos, didáticos e pastorais, reformulou ordens de culto, compôs hinos e, juntamente com colegas da Universidade, traduziu, primeiro, o Novo Testamento e, depois, a Bíblia toda para a língua do povo. Suas obras, sucessivamente reeditadas e traduzidas, constituem um tesouro inestimável para todos que buscam compreender a identidade e vocação da Igreja cristã.

Lutero faleceu aos 62 anos, no dia 18 de fevereiro de 1546, após ter traduzido a Bíblia para o alemão popular e ter escrito inúmeras obras e tratados teológicos. Sua posição firme e coerente lhe granjeou grande estima e em 1555, 9 anos após sua morte, a Paz de Augsburgo atendeu, de certa forma, aos reclamos dos evangélicos. Os príncipes e cidadãos do império respeitariam a filiação religiosa de cada um, e o povo teria a opção de adotar a confissão religiosa do respectivo domínio ou de emigrar a território que tivesse a confissão desejada.

2006-09-14 04:02:52 · answer #6 · answered by kaysye 4 · 0 0

Se quiser saber quem foi Lutero, visite os links abaixo, e neles dê uma pesquisada sobre quem foi Lutero:

www.veritatis.com.br
www.montfort.org.br

A propósito, "editar e colar" dos sites da Igreja Luterana é esforço que merece 10 pontos?

2006-09-14 04:00:53 · answer #7 · answered by A Breaker Boy 3 · 0 0

foi um cara(hahaah), q viu mentira na reigião, e se revoltou e fez a reforma protestante.

God Bless

2006-09-14 03:58:25 · answer #8 · answered by MuRe 2 · 0 0

Martinho Lutero, cujo nome original em alemão era Martin Luther era filho de Hans Luder e Margarethe Lindemann. Nascido em 1483 e morto em 1546. Mudou-se para Mansfeld, onde seu pai dirigia várias minas de cobre. Tendo sido criado no campo, Hans Luther deseja que seu filho viesse a tornar-se um funcionário público, melhorando assim as condições da família. Com este objetivo, enviou o jovem Martinho para escolas em Mansfeld, Magdeburgo e Eisenach.

Aos dezessete anos, em 1501, Lutero ingressou na Universidade de Erfurt, onde tocava alaúde e recebeu o apelido de "O filósofo". O jovem estudante graduou-se em bacharel em 1502 e o mestrado em 1505, o segundo entre dezessete candidatos[1]. Seguindo os desejos paternos, inscreveu-se na escola de Direito dessa Universidade. Mas tudo mudou após uma grande tempestade, com descargas elétricas, ocorrida neste mesmo ano (1505): um raio caiu próximo de onde ele estava, ao voltar de uma visita à casa dos pais. Aterrorizado, gritara então: "Ajuda-me, Sant'Ana! Eu me tornarei um monge!"

Tendo sobrevivido aos raios, deixou a faculdade, vendeu os seus livros com exceção dos de Virgílio, e entrou para a ordem dos Agostinianos, de Erfurt, a 17 de julho de 1505.[2]

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Vida monástica e acadêmica

Lutero com a tonsura monásticaO jovem Martinho Lutero dedicou-se por completo a sua vida no mosteiro, empenhando-se em realizar boas obras a fim de agradar a Deus e servir ao próximo através de orações por suas almas. Dedicou-se intensamente à meditação, às auto-flagelações, muitas horas de oração diárias, às peregrinações e à confissão. Quanto mais intentava ser agradável ao Senhor, mais dava-se conta de seus pecados[3]

Johann von Staupitz, o superior de Lutero, concluiu que o jovem necessitava de mais trabalhos, para afastá-lo de sua excessiva reflexão. Ordenou portanto ao monge que iniciasse uma carreira acadêmica. Em 1507 Lutero foi ordenado sacerdote. Em 1508 começou a lecionar teologia na Universidade de Wittenberg. Lutero recebeu seu bacharelado em Estudos Bíblicos a 19 de março de 1508. Dois anos depois visita Roma, de onde regressa bastante decepcionado. [4]

Em 19 de outubro de 1512, Martinho Lutero graduou-se Doutor em Teologia e a 21 de outubro deste ano foi "recebido no Senado da Faculdade Teológica", com o título de "Doutor em Bíblia". Em 1515 foi nomeado vigário de sua ordem, tendo sob sua ordem onze monastérios.

Durante este período estuda o grego e o hebraico, para aprofundar-se no significado e origem das palavras utilizadas nas Escrituras - conhecimentos que logo utilizaria para a tradução da Bíblia.

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A teologia da graça de Lutero
O desejo de obter os graus acadêmicos levaram Lutero a estudar as Escrituras em profundidade. Influenciado por sua formação humanista de buscar ir "ad fontes" (às fontes), mergulhou nos estudos sobre a Igreja Primitiva. Devido a isto, termos como "penitência" e "honestidade" ganharam novo significado para ele, já convencido de que a Igreja havia perdido sua visão de várias das verdades do cristianismo ensinadas nas Escrituras - sendo a mais importante delas a doutrina da chamada "Justificação" apenas pela fé. Lutero começou a ensinar que a Salvação era um benefício concedido apenas por Deus, dado pela Graça divina através de Jesus Cristo e recebido apenas com a fé.[5]

Mais tarde, Lutero definiu e reintroduziu o princípio da distinção própria entre o Torá (Leis Mosaicas) e os Evangelhos, que reforçavam sua teologia da graça. Em conseqüência, Lutero acreditava que seu princípio de interpretação era um ponto inicial essencial para o estudo das Escrituras. Notou, ainda, que a falta de clareza na distinção da Lei e dos Evangelhos era a causa da incorreta compreensão dos Evangelhos de Jesus pela Igreja de seu tempo, instituição a quem responsabilizava por haver criado e fomentado muitos erros teológicos fundamentais.

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A controvérsia por causa das indulgências
Além de suas atividades como professor, Martinho Lutero ainda laborava como pregador e confessor na igreja de Santa Maria, na cidade. Também pregava habitualmente na igreja do Castelo (chamada de "Todos os Santos" - por causa de ali haver uma coleção de relíquias, estabelecidas por Frederico II de Sabóia). Foi durante este período em que o jovem sacerdote deu-se conta dos efeitos em se oferecer indulgências aos fiéis, como se fossem fregueses.

A indulgência é a remissão (parcial ou total) do castigo temporal que alguém permanece devedor por conta dos seus pecados, de cuja culpa tenha se livrado pela absolvição. Naquele tempo qualquer pessoa poderia comprar uma indulgência, quer para si mesmo, quer para um parente já morto que estivesse no Purgatório. O frade Johann Tetzel fôra recrutado para viajar através dos territórios episcopais do arcebispo Alberto de Mogúncia, promovendo e vendendo indulgências com o objetivo de financiar as reformas da Basílica de São Pedro, em Roma.

Lutero viu este tráfico de indulgências como um abuso que poderia confudir as pessoas e levá-las a confiar apenas nas indulgências, deixando de lado a confissão e o arrependimento verdadeiro. Proferiu, então, três sermões contra as indulgências em 1516 e 1517. Segundo a tradição, a 31 de outubro de 1517 foram pregadas as 95 Teses na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, com um convite aberto ao debate sobre elas. Estas teses condenavam a avareza e o paganismo na Igreja como um abuso, e pediam um debate teológico sobre o que as Indulgèncias significavam. Para todos os efeitos, nelas ele não questionava diretamente a autoridade do Papa para conceder as tais indulgências.

As 95 Teses foram logo traduzidas para o alemão e amplamente copiadas e impressas. Ao cabo de duas semanas haviam se espalhado por toda a Alemanha e em dois meses por toda a Europa. Este foi o primeiro episódio da História em que a imprensa teve papel primacial, pois facilitava uma distribuição simples e ampla de qualquer documento.

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A resposta do Papado
Depois de fazer pouco caso de Lutero, dizendo ser ele um "alemão bêbado que escrevera as teses", e afirmando que "quando estiver sóbrio mudará de opinião"[6] o Papa Leão X ordenou em 1518 ao professor de teologia dominicano Silvestro Mazzolini que investigasse o assunto. Este denunciou que Lutero se opunha de maneira implícita à autoridade do Sumo Pontífice, quando discordava de uma de suas bulas. Declarou ser Lutero um herege e escreveu uma refutação acadêmica a suas teses. Nela, mantinha a autoridade papal sobre a Igreja e condenava cada "desvio" como uma apostasia.

Lutero replicou de igual forma, dando assim início à controvérsia.

Enquanto isto, Lutero tomava parte da convenção dos agostinianos em Heidelberg, onde apresentou uma tese sobre a escravidão do homem ao pecado e a graça divina. No decorrer da controvérsia sobre as indulgências, o debate se elevou até ao ponto de duvidar do poder absoluto e autoridade do Papa, pois as doutrinas de "Tesouraria da Igreja" e "Tesouraria dos Merecimentos", que serviam para reforçar a doutrina e venda e das indulgências, haviam se baseado na bula papal "Unigenitus" (de 1343), do Papa Clemente VI. Por causa de sua oposição a esta doutrina, Lutero foi qualificado como heresiarca e o Papa, decidido a suprimir por completo com seus pontos de vista, ordenou que fosse chamado a Roma, viagem que deixou de ser realizada por motivos políticos.

Lutero, que anteriormente professava a obediência implícita à Igreja, negava agora abertamente a autoridade papal e apelava para que fosse realizado um Concílio. Também declarava que o papado não formava parte da essência imutável da Igreja original.

Desejando manter-se em relações amistosas com o protetor de Lutero, Frederico, o Sábio, o Papa engendrou uma tentativa final de alcançar uma solução pacífica para o conflito. Uma conferência com o representante papal Karl von Miltitz em Altenburgo, em janeiro de 1519 levou Lutero a decidir guardar silêncio, assim como seus opositores, como também a escrever uma humilde carta ao Papa e compor um tratado demonstrando suas opiniões sobre a Igreja Católica. A carta escrita nunca chegou a ser enviada, pois não continha nenhuma retratação. E no tratado, que compôs mais tarde, Lutero negou qualquer efeito das indulgências no Purgatório.

Quando Johann Eck, em Carlstadt, desafiou um colega de Lutero para um debate em Leipzig, Lutero juntou-se à discussão (27 de junho-18 de julho de 1519), no curso do qual negou o direito divino do solidéu papal e da autoridade de possuir o "poder das chaves", que, segundo ele, haviam sido outorgados à Igreja (como congregação de fé). Negou que a salvação pertencesse à Igreja Católica ocidental sob a autoridade do Papa, mas que esta se mantinha na Igreja Ortodoxa, do Oriente. Depois do debate, Eck afirmou que forçara Lutero a admitir a semelhança de sua própria doutrina com a de João Huss, que havia sido queimado numa fogueira.

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Aumenta a cisão
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Lutero durante os acontecimentos

Martinho LuteroNão parecia haver esperanças de entendimento. Os escritos de Lutero circulavam amplamente, alcançando a França, Inglaterra e Itália em 1519, e os estudantes dirigiam-se a Wittenberg para escutar Lutero, que naquele momento publicava seus comentários sobre a Epístola aos Gálatas e suas "Operationes in Psalmos" (Trabalho nos Salmos).

As controvérsias geradas por seus escritos levaram Lutero a desenvolver suas doutrinas mais a fundo, e o seu "Sermão sobre o Sacramento Abençoado do Verdadeiro e Santo Corpo de Cristo, e suas Irmandades", levou mais além o significado da eucaristia para o perdão dos pecados e ao fortalecimento da fé naqueles que o recebem, e ainda apoiava a realização de um concílio a fim de restituir a comunhão.

O conceito luterano de "igreja" foi desenvolvido em seu "Von dem Papsttum zu Rom" (Sobre o Papado de Roma), uma resposta ao ataque do franciscano Augustin von Alveld, em Leipzig (junho de 1520); enquanto o seu "Sermon von guten Werken" (Sermão das Boas Obras), publicado na primavera de 1520, era contrário à doutrina católica das boas obras e dos atos como meio de perdão, mantendo que as obras do crente são verdadeiramente boas, quer para o secular como para o clérigo, se ordenadas por Deus.

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Os tratados de 1520
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A Nobreza alemã
A disputa havida em Leipzig em 1519 fez com que Lutero travasse contato com os humanistas, especialmente Melanchthon, Reuchlin e Erasmo de Roterdão, que por sua vez também influenciara ao nobre Franz von Sickingen. Von Sickingen e Silvestre de Schauenbur queriam manter Lutero sob sua proteção, convidando-o para seus castelos na eventualidade de não ser-lhe seguro permanecer na Saxônia, em virtude da proscrição papal.

Sob estas circunstâncias de crise, e confrontando aos nobres alemães, Lutero escreveu "À Nobreza Cristã da Nação Alemã" (agosto de 1520), onde recomendava ao laicado, como um sacerdote espiritual, que fizesse a reforma requerida por Deus mas abandonada pelo Papa e pelo clero. Pela primeira vez Lutero referiu-se ao Papa como o Anticristo[7].

As reformas que Lutero propunha não se referiam apenas a questões doutrinárias, como também aos abusos eclesiásticos: a diminuição do número de cardeais e outras exigências da corte papal; a abolição das rendas do Papa; o reconhecimento do governo secular; a renúncia da exigência papal pelo poder temporal; a abolição dos Interditos e abusos relacionados com a excomunhão; a abolição das peregrinações nocivas; a eliminação dos excessivos dias santos; a supressão dos conventos para monjas, da mendicidade e da suntuosidade; a reforma das universidades; a abrogação do celibato do clero; a união dos boêmios; e, finalmente, uma reforma geral na moralidade pública.

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O cativeiro babilônico
Lutero gerou polêmicas doutrinárias em seu "Prelúdio no Cativeiro Babilônico da Igreja", em especial no que diz respeito aos sacramentos.

Eucaristia - apoiava que fosse devolvido o "cálice" ao laicado; na chamada questão do dogma da transubstanciação, afirmava que era real a presença do corpo e do sangue do Cristo na eucaristia, mas rechaçava o ensinamento de que a eucaristia era o sacrifício oferecido por Deus.
Batismo - ensinava que apenas trazia a justificação apenas se combinado com a fé salvadora em o recebedor; de fato, mantinha o princípio da salvação inclusive para aqueles que mais tarde se convertiam.
Penitência - afirmou que sua essência consiste na palavra de promessa de desculpas recebidas com fé.
Para ele, apenas estes três sacramentos podiam assim ser considerados, pois sua instituição era divina e a promessa da salvação de Deus estava conexa a eles; mas, em sentido estrito, apenas o batismo e a eucaristia seriam verdadeiros sacramentos, pois apenas estes tinham o "sinal visível da instituição divina": a água no batismo e o pão e vinho da eucaristia. Lutero negou, em seu documento, que a confirmação, o matrimônio, a ordenação sacerdotal e a extrema unção fossem sacramentos.

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Liberdade de um Cristão
Da mesma forma, o completo desenvolvimento da doutrina de Lutero sobre a salvação e a vida cristã foi exposta em "A liberdade de um cristão" (publicado em 20 de novembro de 1520, onde exigia uma complet união com Cristo mediante a palavra através da fé, e a inteira liberdade do cristão como sacerdote e rei sobre todas as coisas exteriores, e um perfeito amor ao próximo.

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A excomunhão
A 15 de junho de 1520 o Papa advertiu a Lutero, com a bula "Exsurge Domine", onde ameaçava-o com a excomunhão, a menos que num prazo de sessenta dias repudiasse 41 pontos de sua doutrina, selecionados em seus escritos. Em outubro de 1520 Lutero enviou seu escrito "A liberdade de um cristão" ao Papa, acrescentando a frase significativa:

"Eu não me submeto a leis ao interpretar a palavra de Deus".
Enquanto isto, um rumor chegara de que Johan Ech saíra de Meissem com uma proibição papal, enquanto este se pronunciara realmente a 21 de setembro. O último esforço de paz de Lutero foi seguido em 12 de dezembro da queima da bula, que já tinha expirado há 120 dias, e o decreto papa de Wittenberg, defendendo-se com seus "Warum des Papstes und seiner Jünger Bücher verbrannt sind" e "Assertio omnium articulorum". O Papa Leão X excomungou Lutero a 3 de janeiro de 1521, na bula "Decet Romanum Pontificem".

A execução da proibição, com efeito, foi evitada pela relação do Papa com Frederico III da Saxônia, e pelo novo imperador, Carlo I da Espanha (Carlos V) que julgou inoportuna apoiar as medidas contra Lutero, diante de sua posição face a Dieta.


Castello Wartburg em Eisenach[editar]
A Dieta de Worms
Ver artigo principal: Dieta de Worms.
O Imperador Carlos V inaugurou a Dieta real a 22 de janeiro de 1521. Lutero foi chamado a renunciar ou confirmar seus ditos e foi-lhe outorgado um salvo-conduto para garantir-lhe o seguro deslocamento.

A 16 de abril Lutero apresentou-se diante da Dieta. Johann Eck, assistente do Arcebispo de Trier, mostrou a Lutero uma mesa cheia de cópias de seus escritos. Perguntou então a Lutero se os livros eram seus e se ele acreditava naquilo que as obras diziam. Lutero pediu um tempo para pensar na sua resposta, o que lhe foi concedido. Este então isolou-se em oração, e depois consultou seus aliados e amigos, apresentando-se à Dieta no dia seguinte. Quando a Dieta veio a tratar do assunto, o conselheiro Eck pediu a Lutero que respondesse explicitamente:

"Lutero, repeles seus livros e os erros que eles contêm?"
Lutero então ripostou:

"Que se me convençam mediante testemunho das Escrituras e claros argumentos da razão - porque não acredito nem no Papa nem nos concílios já que está provado amiúde que estão errados, contradizendo-se a si mesmos - pelos textos da Sagrada Escritura que citei, estou submetido a minha consciência e unido à palavra de Deus. Por isto, não posso nem quero retratar-me de nada, porque fazer algo contra a consciência não é seguro nem saudável."
De acordo com a tradição, Lutero então proferiu essas palavras:

"Nao posso fazer outra coisa, esta é a minha posição. Que Deus me ajude![8]
Nos dias seguintes seguiram-se muitas conferências privadas para determinar qual o destino de Lutero. Antes que a decisão fosse tomada, Lutero abandonou Worms. Durante seu regresso a Wittenberg, desapareceu.

O Imperador redigiu o Édito de Worms a 25 de maio de 1521, declarando Martinho Lutero fugitivo e herege, e proibindo suas obras.

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Processo Romano
Em Junho de 1518 foi aberto o processo contra Lutero, com base na publicação das suas 95 Teses. Alegava-se que este incorria em heresia, a ser examinado pelo processo. Nas aulas que dava na Universidade de Wittenberg, espiões registram os comentários negativos de Lutero sobre a excomunhão. Depois disso, em agosto de 1518, o processo é alterado para heresia notória. Lutero é convidado para ir a Roma, onde desmentiria sua doutrina.


O selo de Lutero.Lutero recusa-se a fazê-lo, alegando razões de saúde e pretende uma audiência em território alemão. O seu pedido baseia-se no argumento (Gravamina) da Nação Alemã. O seu pedido foi aceito, ele foi convidado para uma audiência com o Cardeal Caetano, durante a reunião das cortes (Reichstag) imperiais de Augsburg. Entre 12 e 14 de Outubro de 1518, Lutero fala a Caetano. Este pede-lhe que revogue a sua doutrina. Lutero recusa-se a fazê-lo.

Do lado romano, o caso pareceu terminado. Por causa da morte de Imperador Maximiliano I (Janeiro de 1519), houve uma pausa de dois anos. O Imperador tinha decidido que o seu sucessor seria Carlos (futuro Carlos V). Por causa das pertenças de Carlos em Itália, o papa renascentista Leão X receava o cerco do estado da Igreja e procurava evitar que os príncipes-eleitores alemães (Kurfürsten) renunciassem a Carlos.

O papel de protetor de Lutero assumido por Frederico, o sábio levou a que Roma pedisse a Karl von Miltiz que intercedesse junto ao príncipe por uma solução razoável. Após a escolha de Carlos V como imperador (26 de junho de 1519), o processo de Lutero voltará a ser reatado.

Em junho de 1520 reaparece a ameaça no escrito "Exsurge Domini", em Janeiro de 1521 a bula "Decet Romanum Pontificem". Com ela foi excomungado Lutero. Seguiu-se a ameaça oficial do imperador (Reichsacht).

Notável é no entanto que Lutero foi mais uma vez recebido em audiência, que também deixou claras as diferenças entre o papado e o rei/imperador. Carlos foi o último rei (após uma reconciliação) a ser coroado imperador pelo papa. A 17 e 18 de Abril de 1521 Lutero é ouvido na Dieta de Worms (conferência governativa) e após ter negado a revocação da sua doutrina, é publicado o Édito de Worms, banindo Lutero.

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Exílio no Castelo de Wartburg
O seqüestro de Lutero durante a sua viagem de regresso foi arranjado. Frederico, o sábio ordenou que Lutero fosse capturado no seu retorno da Dieta de Worms por um grupo de homens mascarados a cavalo, que o levaram para o Castelo de Wartburg, em Eisenach, onde ele permaneceu por cerca de um ano. Deixou crescer a barba e tomou as vestes de um cavaleiro, assumindo o pseudónimo de Jörg. Durante este período de retiro forçado, Lutero trabalhou na sua célebre tradução da bíblia para o alemão.


Martínho Lutero pregando no Castelo Wartburg, quadro de Hugo VogelCom o início da moradia de Lutero em Wartburg começou um período construtivo de sua carreira como reformista. Em seu "deserto" ou "Patmos" (como ele mesmo chamava, em suas cartas) de Wartburg, começou a tradução da Bíblia, da qual foi impresso o Novo Testamento em setembro de 1522.

Produziu outros escritos, preparou a primeira parte de seu guia para párocos e "Von der Beichte" (Sobre a Confissão), em que nega a obrigatoriedade da confissão, e admite como saudável a confissão privada voluntária. Também escreveu contra o Arcebispo Albrecht, a quem obrigou com isto a desistir de retomar a venda das indulgências; enquanto que em seus ataques a Jacobus Latomus avançou em sua visão sobre a relação entre a graça e a lei, assim como sobre a natureza revelada pelo Cristo, distinguindo o objetivo da graça de Deus para o pecador, que, por acreditar, é justificado por Deus devido à justiça de Cristo, pois a graça salvadora reside dentro do homem pecador; e ainda que o "princípio da justificação" é insuficiente, ante a persistência do pecado depois do batismo - pela inerência do pecado em cada boa obra.

Lutero amiudadamente escrevia cartas a seus amigos e aliados, respondendo-lhes ou perguntando-lhes por seus pontos de vista e respondendo-lhe aos pedidos de conselhos. Por exemplo, Felipe Melanchthon lhe escreveu perguntando-lhe como responder à acusação de que os reformistas renegavam a peregrinação, e outras formas tradicionais de piedade. Lutero lhe respondera em 1 de agosto de 1521:

"Se és um pregador da misericórdia, não pregues uma misericórdia imaginária, mas sim uma verdadeira. Se a misericórdia é verdadeira, deve penitenciar ao pecado verdadeiro, não imaginário. Deus não salva apenas aqueles que são pecadores imaginários. Conheça o pecador, e veja se os seus pecados são fortes, mas deixai que tua confiança em Cristo seja ainda mais forte, e que se alegre em Cristo que é o vencedor sobre o pecado, a morte e o mundo. Cometeremos pecados enquanto estivermos aqui, porque nesta vida não há um só lugar onde resida a justiça. Nós todos, sem embargo, disse Pedro (2ª Pedro 3:13), estamos buscando mais além um novo céu e uma nova terra onde a justiça reinará".

Seu quarto no castelo de Wartburg, em Eisenach.Enquanto isto, alguns sacerdotes saxões haviam renunciado ao voto de castidade, ao tempo em que outros tantos atacavam os votos monásticos. Lutero, em seu De votis monasticis (Sobre os votos monásticos), aconselhava a ter mais cautela, aceitando no fundo que os votos eram geralmente tomados "com a intenção da salvação ou à busca de justificação". Com a aprovação de Lutero em seu "De abroganda missa privata (Sobre a abrogação da missa privada), mas contra a firme oposição de seu prior, os agostinianos de Wittenberg realizaram a troca das formas de adoração e terminaram com as missas. Sua violência e intolerância, certamente, desagradaram a Lutero, que em princípios de dezembro passou uns dias entre eles. Ao retornar para Wartburg, escreveu "Eine treue Vermahnung... vor Aufruhr und Empörung" (Uma sincera admoestação por Martinho Lutero a todos os cristãos para que se resguardem da insurreição e rebelião). Apesar disto, em Wittengerg, Carlstadt e o ex-agostiniano Gabriel Zwilling reclamavam pela abolição da missa privada e da comunhão em duas espécies, assim como a eliminação das imagens nas igrejas e na abrogação do celibato.

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Regresso a Wittenberg e os Sermões Invocavit
Ao fim de 1521, os anabatistas de Zwickau se entregam à anarquia. Contrário a tais concepções radicais e temendos seus resultados, Lutero regressa em segredo a Wittenberg a 6 de março de 1522. Durante oito dias, a partir de 9 de março (domigo de Invocavit) e concluindo no domingo seguinte, Lutero pregou outros tantos sermões que tornaram-se conhecidos como os "Sermões de Invocavit".

Nestas pregações Lutero aconselha uma reforma cuidadosa, que leve em consideração a consciência daqueles que ainda não estão persuadidos a acolher a reforma. A consagração do pão foi restaurada por um tempo e o cálice sagrado foi ministrado somente aqueles do laicado que o desejaram. O cânon das missas, devido ao seu caráter imolatório, foi suprimido. Devido ao sacramento da confissão haver sido abolido confrontou-se com a necessidade que muitas pessoas ainda tinham de confessar-se e buscar assim o perdão. Esta nova forma de serviço foi dada a Lutero em "Formula missæ et communionis" (Fórmula da missa e Comunhão), de 1523. Em 1524 apareceu o primeiro hinário de Wittenberg, com quatro hinos.

Como esta parte da Saxônia ser governada pelo Duque Jorge, que proibira seus escritos, Lutero declarou que a autoridade civil não podia promulgar leis para a alma, em seu "Über die weltliche Gewalt, wie weit man ihr Gehorsam schuldig sei" (Autoridade Temporal: em que medida deve ser obedecida).




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A guerra dos camponeses
A guerra dos camponeses (1524-1525) foi de muitas maneiras uma resposta aos discursos de Lutero e de outros reformadores. Revoltas de camponeses já tinham existido em pequena escala Flandres (1321-1323), França (1358), Inglaterra (1381-1388), durante as guerras hussitas do século XV, e muitas outras até o século XVIII, mas muitos camponeses julgaram que os ataques verbais de Lutero à Igreja e sua hierarquia significavam que os reformadores iriam igualmente apoiar um ataque armado à hierarquia social. Por causa dos fortes laços entre a nobreza hereditária e os líderes da Igreja que Lutero condenava, isto não seria surpreendente.

Já em 1522, enquanto Lutero estava em Wartburg, colaboradores seus perverteram seus ensinamentos e passaram a pregar mensagens revolucionárias por toda a Alemanha. Enfatizava-se a formação de um grupo de "santos"(espalharam boatos de que estes santos, seriam a causa da derrota da Igreja Católica), com a tarefa de lutar contra a autoridade constituída e promover a aniquilação dos "ímpios"(i. católica). Um desses pregadores foi Tomas Müntzer.

A mensagem escatológica de Müntzer, na verdade, tinha pouco a ver com a proposta dos camponeses, tanto que ele procurou a nobreza da Saxônia para obter apoio. Com a negativa destes e a eclosão dos conflitos camponeses no sudoeste alemão, ele logo viu o instrumento para a concretização de seus planos.

Lutero desde cedo prevenira a nobreza e os próprios camponeses sobre a revolta e particularmente sobre Müntzer, um dos "profetas do assassínio", colocando-o como um dos mentores do movimento camponês. Lutero escreveu a Terrível História e Juízo de Deus sobre Tomas Müntzer, inaugurando essa linha de pensamento.

Na iminência da revolta (1524), Lutero escreveu a Carta aos Príncipes da Saxônia sobre o Espírito Revoltoso, mostrando a tirania dos nobres que oprimiam o povo e a loucura dos camponeses em reagir através da força e a confiar em Müntzer como pregador. Houve pouca repercussão deste escrito.

Ainda em 1524, Müntzer mudou-se para a cidade imperial de Mühlhausen, oferecendo-se como pregador. Lutero escreveu a Carta Aberta aos Burgomestres, Conselho e toda a Comunidade da Cidade de Mühlhausen com o propósito de alertar sobre as intenções de Müntzer. Também este escrito não teve repercussão, pois o conselho da cidade limitou-se a pedir informações sobre Müntzer na cidade imperial de Weimar.

O principal escrito dos camponeses eram os Doze Artigos, onde as reinvidicações foram expostas. Neles haviam artigos de fundo teológico (direito de ouvir o Evangelho através de pregadores chamados por eles próprios) e artigos que tratavam dos maus tratos (exploração nos impostos, etc.). Os artigos eram fundamentados com passagens bíblicas e pedia-se que se alguém pudesse provar pelas Escrituras que aquelas reinvidicações eram injustas, eles as abandonariam, e entre aqueles que se consideravam dignos de fazer tal coisa estava o nome de Lutero.

De fato Lutero escreveu sobre os Doze artigos em seu livro Exortação à Paz: Resposta aos Doze artigos do Campesinato da Suábia, de 1525. Nele Lutero ataca os príncipes e senhores por cometerem injustiças contra os camponeses e ataca os camponeses pela rebelião e desrespeito à autoridade.

Infelizmente também esse escrito não teve repercussão e durante uma viagem de Lutero pela região da Turíngia ele pôde testemunhar as atrocidades cometidas pelos camponeses, motivando-o a escrever o Adendo: Contra as Hordas Salteadoras e Assassinas dos Camponeses. Tratava-se de um apêndice de Exortação à Paz..., mas cedo tornou-se um livro separado. O Adendo foi publicado quando a revolta camponesa já estava no final e os príncipes cometiam atrocidades contra os camponeses derrotados, de modo que o escrito causou grande revolta na opinião pública contra Lutero. Nele, Lutero encorajava os príncipes a castigar os camponeses, até com a morte.

Tal repercussão negativa obrigou Lutero a pregar um sermão no dia de pentecostes de 1525 que tornou-se o livro Posicionamento do Dr. Martinho Lutero Sobre o Livrinho Contra os Camponeses Assaltantes e Assassinos, onde o reformador contesta os críticos e reafirma sua posição anterior.

Como ainda havia repercussão negativa, Lutero novamente se posiciona sobre a questão no seu Carta Aberta a Respeito do Rigoroso Livrinho Contra os Camponeses, onde lamenta e exorta contra a crueldade que estava sendo praticada pelos príncipes mas reafirma sua posição anterior.

Por fim, a pedido de um amigo, o cavaleiro Assa von Kram, Lutero redigiu Acerca da Questão, Se Também Militares Ocupam uma Função Bem-Aventurada, em 1526, com o propósito de esclarecer questões sobre consciência do cristão em caso de guerra e sua função como militar.

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Obras importantes
Foi o autor de uma das primeiras traduções da Bíblia para o alemão, algo que na altura não era permitido pela Igreja católica sem especial autorização eclesiástica. Lutero não foi o primeiro tradutor da Bíblia para o alemão. Já havia traduções mais antigas. A tradução de Lutero, contudo, suplantou as anteriores. Além da qualidade da tradução, foi amplamente divulgada em decorrência da sua difusão por meio da imprensa, desenvolvida por Gutenberg em 1453.

O latim, a língua do extinto Império Romano, permanecia a lingua franca européia, imediatamente conotada com o passado romano glorioso, uma era de ciência, de progresso económico e civilizacional, sendo também a língua dos textos sagrados tal como estes foram transmitidos às províncias do império romano, por mais longínquas que fossem, nos menos de 100 anos que separam a oficialização da religião cristã pelo Imperador Romano Teodósio I em 380 d.C. e a deposição do último imperador de Roma pelo Germânico Odoacro em 476 d.C., data avançada por Edward Gibbon e convencionalmente aceite como ano da queda de Roma (Império Ocidental). O fim da perseguição da religião cristã pelo império romano tinha-se dado em 313 d.C. (Ver: Édito de Milão, Concílio de Niceia, Constantino I, A história do declínio e queda do império romano, Santo Jerónimo).

No entanto, o domínio do latim era, no século XVI, no fim da Idade Média e princípio da chamada Idade Moderna, apenas o privilégio de uma percentagem ínfima de população instruída, entre os quais os elementos da própria igreja. A tradução de Lutero para o alemão foi simultaneamente um acto de desobediência e um pilar da sistematização do que viria a ser a língua alemã, até aí vista como uma língua inferior, dos ignorantes, plebeus. (É preciso adicionar que Lutero não se opôs ao latim, e ele mesmo publicou uma edição revisada da tradução latina da Bíblia (Vulgata). Lutero escrevia tanto em latim como em alemão. A tradução da Bíblia para o alemão não significou, portanto, rejeição do latim como língua acadêmica.)

pelo esforço mereço os 10 pontos

2006-09-14 03:55:56 · answer #9 · answered by Anonymous · 0 0

Martinho Lutero (Eisleben, 10 de Novembro de 1483 — Eisleben, 18 de Fevereiro de 1546) foi um teólogo alemão. É considerado o pai espiritual da Reforma Protestante.

2006-09-14 03:54:35 · answer #10 · answered by celsovinna 2 · 0 0

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