As mulheres solteiras da contemporaneidade (entre 30 e 40), numa pesquisa feita nos EUA, entre 09 de 10 mulheres, são independentes, bem-sucedidas, estudadas, malhadas, viajadas, elegantes, com vida social intensa e intelectualmente inquietas.
Nos grandes centros urbanos, esse grupo é cada vez mais numeroso e importante. É composto da geração de mulheres que colhem as conquistas da revolução feminina. Elas são maioria nas universidades, tomam conta do mercado de trabalho e, em certas instâncias, nivelaram seus ganhos aos dos homens. No Brasil, há quase 20 milhões de mulheres assim.
A antropóloga Mirian Goldenberg, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, atribui a crise das solteiras a um descompasso entre valores e comportamento: as mulheres querem as mesmas coisas que suas mães, mas vivem uma vida completamente diferente da que elas tiveram. 'É como se nenhuma conquista tivesse valor sem um homem em casa", analisa. A apresentadora de programa infantil Eliana, de 29 anos, engrossa esse coro. Rica, bonita e bem-sucedida, ela se diz frágil. "Quero um grande amor", afirma, direta. "Sou independente, mas preciso de homem, sim." A raiz do impasse é a nova linha do tempo na vida da mulher. Ela dedica os primeiros anos da fase adulta a estudar, firmar-se profissionalmente e conquistar o próprio espaço, o que culmina em morar sozinha. Esse estágio anterior não existia. A condição de solteira era uma transição entre o fim dos estudos e o casamento - o tempo de fazer o enxoval. Quando essa etapa não se completava, a moça havia fracassado e deveria conformar-se com o papel de titia.
A idéia de casar, hoje, surge perto dos 30 anos, e esse adiamento faz com que a mulher saia do ambiente em que era mais fácil encontrar parceiros. Ainda não existe um sistema de paquera para substituir o anterior, em que os namoros sérios que acabavam resultando em casamento nasciam na escola e na faculdade. A desvantagem principal tem nome: relógio biológico. Como entra nos 30 sem um parceiro estável, a mulher fica em xeque com a questão da maternidade. Angustia-se para encontrar o homem e, quando o consegue, pressiona-o para casar. No segundo encontro já quer apresentá-lo aos pais. "Entro em qualquer relacionamento com a expectativa de que aquele homem será meu futuro marido, o pai de meus filhos", confessa a publicitária carioca Mônica Marcondes, de 35 anos. "Olho o cara e já imagino nossos netos."
Apesar dos avanços e da liberação sexual, a sociedade aceita a vida avulsa apenas como uma etapa. A americana Renée Jones, de 39 anos, divorciada, um filho, se diz vítima dessa cobrança. Tanto que resolveu expor seus desabafos e criou o site Single Goddess (www.singlegoddess.com), uma espécie de fórum das não-casadas. 'A sociedade considera que há algo errado quando uma mulher não consegue arrumar marido, mas isso é uma escolha. Melhor sozinha do que num relacionamento que poda o crescimento. Quando a gente fica aflita para arrumar alguém, atrai o tipo errado de homem.' A publicitária Mônica esteve ä à beira do altar com um rapaz com quem não tinha nada em comum. 'Ele não gostava de ir à praia, dançar, sair para beber com os amigos. Como eu ia viver com alguém assim?', pondera.
Como não precisam mais casar para fazer sexo ou pagar as contas no fim do mês, as mulheres esperam algo mais de um relacionamento. Um 'melhor amigo com benefícios', como define Alanis Morissette, autora de músicas que fazem sucesso com o público feminino dos 15 aos 40. Então, não é que falte homem. Aparentemente falta um tipo de homem, sensível, capaz de expressar suas emoções, de se entregar, que queira compromisso e que não fique intimidado diante de uma mulher cheia de conquistas. Será?
Antes, os papéis eram determinados. Agora, como tudo é possível, os relacionamentos ficaram mais difíceis. As mulheres simplificaram a relação sexual, mas esse ainda é um ponto sensível. Elas acham os homens muito egoístas, e eles acham que elas nunca estão satisfeitas, reivindicam muito e são complicadas. Ou seja:não progredimos na compreensão um do outro.
"Esse discurso é o machismo invertido", contesta o psicólogo Aquiles Paiva, de São Paulo, que trabalha também com grupos de homens. "Necessidade de compreensão e troca não é privilégio feminino".Paiva considera que os dois sexos, acostumados à independência, relutam em se adaptar à vida com alguém - e às concessões que isso implica. O representante comercial José Antonio Correia Alexandre, de 38 anos, foi casado durante 11, separou-se há três e gostaria de repetir a experiência. Seu último namoro durou somente dois meses. "A mulher de hoje quer modelar o homem. O relacionamento tem de ser do jeito que ela idealiza, porque não se dispõe a mudar a vida que construiu", diz, referindo-se a parceiras que, pela primeira vez, têm poder de fogo e fazem exigências e cobranças antes impensáveis. Para Alexandre, o individualismo egoísta que prevalecia entre os homens foi incorporado pelas mulheres. "Está todo mundo na defesa. Querem um grande amor, mas na hora que encontram perdem, porque têm medo e criam muitas exigências."
Coordenador do Centro de Estudos de Identidade do Homem e da Mulher, o psiquiatra Luiz Cuschnir diz que "os homens se sentem descartáveis, parte de um pacote em que não são prioridade", aponta. "Elas querem um homem para sair, para não continuar solteiras a partir de certa idade, para ter filho, para ter sexo em casa, mas não fazem esse homem se sentir particularmente desejado."
Elas podem fazer por si mesmas a maioria das coisas que os homens faziam. Não querem um companheiro para ter segurança financeira, status ou mesmo filhos. Querem os homens para suporte emocional, intimidade, amizade. Só que eles não foram educados para isso. Então, elas sentem que há poucos homens capazes de se comunicar, de ser consistentes afetivamente ou não se intimidar com as conquistas femininas.
Habitantes de um passado que não existe mais e de um futuro que ainda não chegou, homens e mulheres de nosso tempo vivem nos relacionamentos amorosos os reflexos de um presente de regras pouco definidas, com papéis que sofreram mudanças consideráveis, visíveis em outras esferas das relações humanas. Até o modelo de família está em mutação e, hoje, não é mais necessariamente estruturado em torno da figura do patriarca. Já se admite adoção por casais homossexuais e até que uma criança seja criada pela namorada da mãe, como ocorreu com o filho da cantora Cássia Eller. No que diz respeito ao namoro e ao casamento, os padrões de conduta também são diferentes - mais flexíveis, menos hipócritas. Isso é muito bom, mas tem seu preço. Na ausência de um modelo a seguir, as pessoas enfrentam momentos de enorme angústia, esperando que as dores da transição resultem num período de melhor entendimento entre homens e mulheres.
2006-09-07 05:30:01
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answer #2
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answered by Mauricio 7
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