Teodoro, funcionário público do Ministério, levava uma vida tranqüila, como muitos desejam. Mas ele ambicionava luxos, como poder jantar em hotéis caros. Um dia ele acha dentro de um livro uma medalha, com as instruções para “apertar essa campainha, que o rico mandarim chinês Ti-Chin-Fu irá morrer você herdará seus tesouros”. Ele fica receoso, afinal é uma espécie de assassinato, mas aperta. Então ele tem uma visão da morte do Mandarim, interrompida pela chegada de sua senhoria.
Depois de um mês ele recebe a visita de um advogado que lhe entrega letras de câmbio no valor de uma fortuna, depositada em seu nome pelo espólio do Mandarim. Então ele resolve viver a vida que sempre quis: vai a Restaurantes caros, compra um palacete, arruma uma mulher que lhe chama “anjo totó” quando ele abre a bolsa... Mas que lhe enfeita os chifres, provando que o dinheiro, se conquista os favores de certas mulheres, não lhes conquista o coração. Entretanto, sempre há outras mulheres, e a plebe de Lisboa vai constantemente à janela de seu Palácio puxar saco, os jornais elogiam até os estampidos do seu intestino... O Ministério onde trabalhava lhe oferece generosamente a presidência, que ele recusa. Recebe correspondência de reis e princesas. Só uma coisa lhe incomoda: alucinações constantes em que vê o Mandarim morto, acusando sua consciência de um assassinato. Vive angustiado com o pensamento que o Mandarim tinha filhos, netos... É uma tortura chinesa.
Teodoro pede ajuda de Nossa Senhora das Dores, de quem é devoto, manda rezar missas em intenção do Mandarim, chega a ponto de tentar “comprar” Nossa Senhora erguendo uma Catedral (!) para a santa. Nada interrompe suas visões e ele resolve partir de Lisboa, começando uma viagem pelo mundo.
Por essa época, mais um remorso lhe ataca: cada vez que acontece alguma coisa ruim na China, ele acha que a culpa é dele, por tê-la privado do seu Mandarim. Então ele se entrega a orgias, bebedeiras, prostitutas, sem que nada aplaque seus remorsos. Uma nova idéia (mais uma genial!) surge: ele resolve então ir para a China e casar com uma mulher da família do mandarim, para “legitimar sua fortuna”. Na China ele faz amizade com um tal “General Camiloff” e finalmente conta a ele o seu drama e sua idéia de casar. O General diz que não dá, porque ele não entende nada de China. Aconselha Teodoro a apenas dar uns agrados para a família do mandarim, e entra a procurar esses Ti-Chin-Fu na imensa China. Finalmente descobre, e partem para a aldeia do mandarim. Lá chegando, constatam que é uma aldeia miserável, desde a morte de seu mandarim, e habitada por malfeitores. Estes os atacam, por causa dos tesouros e mantimentos que carrega, e ele foge em um pônei, ferido. Mas a porta da cidade está fechada. Ele foge por uma lagoa, cai do cavalo, e corre pra dentro do mato. Todo lascado de espinho, adentra cada vez mais a densa floresta, até que encontra um tenebroso caixão... Desmaia imediatamente, e ao acordar, encontra-se dentro de um convento. Lá escreve para Camiloff, que lhe responde que infelizmente aquela era a aldeia errada...
Teodoro parte para Lisboa, e constata tristemente que as visões do mandarim continuam. Abandona, então seu palacete e volta para a antiga pensão e o antigo emprego. Julgando-o arruinado, os jornais detonam com ele diariamente. A sociedade despreza-o. A senhoria volta a apelida-lo “enguiço”, e se ele reclama da comida só falta lhe bater. Indignado, volta ao palacete, às antigas festas. Lisboa e a senhoria voltam a “jogar-se a seus pés”, os jornais voltam a elogiá-los. Seu desprezo pelo gênero humano alcança tal ponto que ele se questiona por que Deus criou tais seres miseráveis.
Teodoro sente-se morrer. Faz seu testamento, deixando tudo pro Diabo. E deixa uma lição para os leitores: «Só sabe bem o pão que dia a dia ganham as nossas mãos: nunca mates o Mandarim!»
O conto é auto-explicativo, apenas coloco aqui as questões mais relevantes:
a)O dinheiro não trás felicidade, apenas compra puxa-sacos, relacionamentos por interesse.
b)O dinheiro deve ser ganho com dificuldade, sendo um reflexo do trabalho. Por ironia do destino, dez anos depois de escrever “O Mandarim”, Eça de Queirós herdou uma quinta em Santa Cruz do Ouro, tornando-se um homem rico.
c)Eça de Queirós criticava todo mundo: a sociedade lisboense, os jornalistas, os padres, as mulheres libertinas e interesseiras de Portugal, o governo, etc. Podemos observar, entretanto, que suas críticas são sempre objetivas e lógicas.
d)Você deve ter notado o senso de humor de Eça de Queirós, sua fina ironia domina todo o conto.
e)Nota-se claramente no conto a influência do socialismo científico de Marx, e o desprezo pelo excesso de luxos e confortos.
f)O conto traduz um grande desprezo por reis, e princesas. Isso se chama antimonarquismo.
g)Como quase todos os livros de Eça, tem chifre no meio. Isso porque o realismo é antifamiliar.
h)Note a análise psicológica de todo o drama, presente em todos os romances do realismo. Eça esmiúça os pensamentos mais mesquinhos de cada personagem.
i)Após ler esse resumo, faça seus próprios comentários, não é difícil.
j)Obrigado pela oportunidade de reler este conto.
2006-09-06 16:21:58
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answer #1
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answered by filósofo 3
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