"Je pense, donc je suis" de Descartes (e que Nietzsche, ao seu estilo, rebateu: "Sun, ergo cogito").
Mas afinal, o que há por detrás dessa famosa frase "Penso, logo existo"?
A vida interior de Descartes imperava uma profunda fé católica e uma dúvida sobre tudo o mais. Embora fosse um entusiasta da matemática, não era um devoto pitagórico. Desta forma a matemática dava a ele o tão ansiado sentido dedutivo da certeza. Ele gostou, e se inspirou, na maneira que Galileu se utilizava da matemática para entender o mundo. Sem nenhuma
modéstia quis descobrir as regras para a busca do conhecimento.
Certa noite ele pirou. Começou a ter visões, e pior, passou a tentar dar uma interpretação para elas. Emergiu desse devaneio sua "doutrina das idéias claras e distintas". Bem, mas isso pouco importa. Importante é que ele concluiu que o primeiro passo para achar a verdade era não aceitar nada como verdadeiro. Dividindo todo e qualquer problema científico em partes, ele começaria a resolve-lo pelas mais simples. Ao trabalhar um problema, ele não deixaria nada de fora. A matemática se prestava com perfeição ao seu método, mas acima disto Descartes estava convencido que o próprio
método acabaria por leva-lo à total compreensão da natureza.
Sua busca da certeza não se baseou no céu ou na Bíblia, mas no sistema nervoso. Ele indagou-se como alguém pode ter certeza de que o que sente é real. Essa era uma nova perspectiva. Até então colhia-se a visão de Aristóteles que acreditava que, quando olhamos para uma montanha verde, sua
forma viajava pelo ar e se impunha ao olhar. A seguir, essa forma se expressava na alma, permitindo ao dono do olho sentir o formato e o verde da montanha.
A idéia aristotélica perdurou por 1.500 anos até que Kepler resolveu estudar o olho da mesma maneira como estudaria uma lente de vidro: como um instrumento ótico sujeito às leis da física. Num olho de boi descobriu que as imagens eram projetadas em sua parede posterior, de forma invertida, e
também descobriu que esta imagem era mandada ao cérebro (só não ousou especular em como a imagem retornava a posição original).
Descartes pega carona com Kepler e amplia essa pesquisa, indo um pouco adiante nas descobertas sobre o olho humano, aplicando sempre a geometria.
Ele se convenceu que a própria estrutura dos nossos sentidos e nervos era um certificado de garantia para sua doutrina de idéias claras e distintas.
Descartes era tão arrogante quanto brilhante (embora também tenha falado muita asneira no percurso). Ele passou a explicar o funcionamento do corpo com a mesma linguagem que usaria para descrever um relógio. O corpo era uma "maquina de barro", em sua opinião, e podia viver e mover-se sem ajuda de
uma alma vital. E a partir daqui ele entra em conflito com sua fé
religiosa. Para não ver toda estrutura de deus, fé e alma ruir ele
prontamente tentou achar uma solução. Não sujeitas as leis da mecânica a alma humana era capaz de coisas que nenhuma máquina poderia realizar: consciência, vontade, abstração, dúvida e entendimento. "Só existe uma alma em nós", declarou, "e esta alma não tem em si qualquer diversidade de
partes". Mas como é possível para algo sem tamanho, forma ou lugar controlar um corpo material? Ele imaginou que deveria haver algum lugar na cabeça que correspondesse a essa estranha interação. Ele estudou o cérebro de bezerros (embora os bezerros não devessem ter alma, né?) e achou um
pedacinho de carne do tamanho de um grão de arroz, chamado glândula pineal.
Vá saber lá por que (na verdade é por causa de Galeno, mas isso é outra história), Descartes disse que tal glândula era responsável por aprendermos a falar, escrever e andar. Finalmente ele havia encontrado uma solução para
a religião. Por causa da glândula pineal (que hoje sabemos, foi um erro crasso) chegou a afirmar: "A mente é capaz de agir independentemente do cérebro."
Em 1632 ele reuniu sua obra para escrever o volumoso livro que chamara simplesmente de "Tratado do Mundo", mas ao receber notícias sobre o julgamento de Galileu, titubeou, já que muito provavelmente sua obra acabaria no mesmo lugar da obra de Copérnico, o Index.
Para resolver o problema com a Igreja era preciso dar um 'reforço' metafísico, digamos assim, para agradar o clero. Saiu-se da sinuca com o seguinte: ele não mais afirmaria que era seguro confiar nos nossos sentidos por serem eles confiáveis por natureza, pois assim se tornaria vulnerável a
acusações de que dependia da natureza e não de Deus. Em vez disso, Descartes sugeriu que tudo que via à sua volta fosse uma ilusão. Como ter certeza da existência de alguma coisa? Ele deu as costas às representações de seus sentidos e voltou-se para o único ponto cuja existência se comprovava pela natureza mesma da indagação: seu próprio ser. Agora o
universo dependia da alma para sobreviver "Cogito ergo sum".
Passou pelos padres, passa com outro sentido até hoje, mas finalmente ele pode escrever (com garantia divina) seu famoso livro "Discurso sobre o Método".
2006-09-06 12:04:36
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answer #1
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answered by Mauro 3
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ele acreditou sempre em algo concreto, por isto lutou até o fim para provar e, o mundo também só evolui, graças a certeza da dúvida!
2006-09-06 05:24:29
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answer #3
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answered by kekomacdonalds 4
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Bom, ele acreditou na existência de Deus. Há um texto que ele PROVA pela raciocínio e ciência que Deus existe. O nome desse texto, que me lembre, é "Discurso do Método".
2006-09-06 05:22:45
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answer #4
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answered by Lady of Moon 5
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