Eu estudo Tupi, e já comecei a estudar Esperanto, mas desisti precocemente.
Perde de tempo? Estudo por prazer. Fazer algo por prazer é perda de tempo?
Falta do que fazer? Faço muitas coisas como qualquer ser humano normal. Trabalho e estudo. Aliás, uma das coisas que eu estudo é a língua tupi e sua relação com a cultura indígena e formação cultural do brasileiro.
Atestado de burrice? E que sinal de burrice poderia ser encontrado em estudos de línguas como tupi ou esperanto?
O estudo de línguas sempre contribue para a mais fácil apreensão de outras mais línguas. Já foram feitas pesquisas comprovando que crianças que estudam Esperanto, por exemplo, tem mais facilidade para aprender outras línguas estrangeiras naturais.
Além disso, a utopia do esperanto já é interessante por si só, embora muito controversa. Ela serviria como língua franca para a comunicação entre nações, sem o uso do padrão linguístico de uma ou outra sociedade. De fato, é injusto e desvantajoso aceitar o inglês como a língua mundial: os falantes nativos já saem, de cara, na frente de todos os outros, pois já sabem de berço o inglês. Nós, os outros, temos que nos matar de estudar, muitas vezes não atigindo o nível de um falante nativo, e isso sem falar na maior parte das pessoas, que não tem oportunidade de estudarem inglês e tantas outras coisas, e estão excluídas desse processo de comunicação mundial.
O Tupi, língua indígena morta, foi a principal língua do Brasil até o secúlo XIX. Mesmo os brancos, descendentes dos portugueses, falavam majoritariamente essa língua. Sua influência na língua portuguesa usada no Brasil é notável. Participa, principalmente, na formação de nomes de lugares - os topônimos - além de nomes de aves, frutas etc.
Por que estudá-la em pleno século XXI? Saber falar o Tupi tem pouca utilidade, isso é fato. Não há falantes de Tupi por aí a fim de que pratiquemos esse idioma. Mas para estudarmos alguma coisa, é imprescindível que essa tenha alguma aplicação prática?
O próprio conhecimento em si já tem valor. Saber algo por saber satisfaz a sede de conhecimento humano. Mesmo curiosidades inúteis, povoam sites internet afora, livros, programas de TV etc. O que diferencia a necessidade humana de saber coisas banais e inúteis, de aprender uma língua morta? Respondo, é o trabalho que aprender uma língua dá. Daí a idéia de que, quem faz isso, é ele próprio um inútil, pois não tem mais nada pra fazer.
Então, vale mais aí a idéia de que o estudante é que é inútil, e não propriamente seu objeto de estudo. Por um processo metonímico, diz-se que estudar Tupi, Esperanto etc, é absolutamente inútil, perda de tempo, bobagem.
Parece até clichê, mas isso nos remete à idéia atual de que todos os nossos atos devem ter alguma finalidade, alguma utilidade. Trabalhamos o dia inteiro, sobra-nos pouco tempo, e ele deve ser usado para estudar coisas úteis, a fim de que se progrida profissionalmente, daí podemos ganhar mais dinheiro, e com esse dinheiro a gente pode gastar com os objetos, bens, lazer, viagens etc. Ou nem isso, a gente tem que usar o tempo pra ganhar mais dinheiro para as coisas mais básicas, como um padrão de vida um pouco melhor, um plano de saúde, um supermercado melhor, uma escola particular pro filho etc. Estudar Tupi, nesse contexto, realmente é de se dar risada e chamar o cara de burro.
Mas é necessário divergir, sair da lógica do utilitarismo e da maquinalização do ser humano. É necessário parar o tempo e estudar algo que você tenha vontade, uma língua nova, por exemplo. Ou ler um livro que todos dizem que é ruim, mas que você quer ler porque gostou da capa, ou porque o autor lhe parece muito peculiar e interessante, ou por mera curiosidade, ou por qualquer outro motivo.
Qualquer coisa que lhe der na telha, oras! E danem-se todos que se opuserem.
2006-09-07 06:01:32
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answer #2
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answered by Gabriel MQ 1
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