O Comportamentalismo em seus primórdios: John B. Watson (1878-1958)
Um pouco sobre a vida de Watson
Como vimos reiterando, fundar não é o mesmo que originar algo novo. Entretanto, Wtson dedicou muito de seu tempo para, deliberadamente, fundar uma nova escola.
Sua vida foi intensa, marcada por um ritmo tenaz de trabalho, pela paixão por mulheres, pelo gosto em freqüentar a elite social e ter amizades com pessoas importantes e por ter traÃdo a esposa, em situações tais que, acabou sendo banido da vida acadêmica nas proximidades dos seus 50 anos. Nem isso destruiu Watson, um homem de origem humilde, pai alcoólatra, libertino e mãe extremamente religiosa. Watson renasceu das próprias cinzas, começou sua segunda carreira profissional como psicólogo aplicado no campo da publicidade, aplicando seus pressupostos comportamentalistas em campanhas de marketing. Com 58 anos já havia conquistado a vice-presidência da J. Walter Thompson. Neste mesmo ano muda de agência, permanecendo como vice-presidente até 1945, quando se aposentou, depois de ter acumulado uma boa quantidade de dinheiro.
Como psicólogo aplicado, propôs o estudo do comportamento do consumidor em situações de laboratório. Acreditava qualquer coisa poderia ser vendida se se escolhesse os estÃmulos condicionados certos demonstrando a inferioridade dos produtos existentes e a melhor qualidade daquele que se quer vender. Foi pioneiro no uso dos endossos dados por pessoas famosas a produtos, objetivando a manipulação dos motivos, emoções e necessidades humanas, assim como no recurso a necessidades e temores básicos com a meta de vender tudo - de automóveis a apólices de seguro.
Escrevia freqëmtemente para revistas e jornais destinados ao público (Harper’s, Cosmopolitan, McCall’s, Collier’s e The Nation), num estilo sedutor, ágil e compreensÃvel. Conquistou boa parte do empresariado americano com suas idéias de vendas e também pais e professores que liam seus artigos.
Watson publicou muitos textos. Em 1913, seu artigo na Psychological Rewiew13 marcou seu incisivo manifesto contra a psicologia introspectiva e lançando oficialmente o comportamentalismo. Behavior: An Introduction to Comparative Psychology (O Comportamento: Introdução à Psicologia Comparada) saiu no ano seguinte.14 Em seu livro de 1919 apresentou um quadro mais completo do comportamentalismo e afirmou que os métodos e princÃpios aplicados à psicologia animal eram aplicáveis e legÃtimos no estudo de seres humanos.15
Em 1928, pubicou um livro sobre puricultura expressando suas opiniões de como os pais deveriam criar suas crianças. Eles nunca deveriam
“abraçá-las e beijá-las, ou permitir que se sentem no colo. Se não houver jeito, dê-lhes um único beijo na testa quando elas disserem boa noite. Dê-lhes a mão pela manhã. Passe a mão em sua cabeça quando elas saÃrem extraordinariamente bem numa tarefa difÃcil. Experimente. Em uma semana você vai descobrir como é fácil ser perfeitamente objetivo com o seu filho, sem perder a ternura. Você vai ficar bastante envergonhado com o modo sentimental e piegas com que o tem tratado até agora. (Watson, 1928, pgs. 81-82).16
Como resultado provavelmente dessas práticas, seu filho James fez psicanálise durante 6 anos após tentar o suicÃdio. Seu irmão William suicidou-se tempos depois de ter se formado em Psiquiatria.
Mas aos olhos do público, Watson possuÃa uma imagem carismática, figura muito lembrada nos eventos promovidos pela nata da sociedade novaiorquina. Foi a morte de sua segunda esposa, Rosalie, que acabou por nocateá-lo. Vendeu sua mansão e foi morar numa simples casa de madeira, muito simples, lembrava a de seus pais. Faleceu um ano seguinte (1958) após ter sido homenageado pela associação americana de Psicologia. Antes, queimou todas suas notas, manuscritos, cartas etc recusando-se a deixá-los para a história.
As idéias de Watson
Em Psychology as the Behavirist Views It, Watson faz crÃticas à introspecção por sua não replicabilidade, por estar relacionada à habilidade do observador (sujeito) e não à s condições experimentais.
“... se você não puder observar 3-9 estados de nitidez na atenção, sua introspecção é ruim. Se, por outro lado, um sentimento lhe parecer razoavelmente claro, sua introspecção também é deficiente: você está vendo demais, os sentimentos nunca são claros”.
Assinalou o fato de que não havia boa concordância entre os próprios psicólogos sobre quais seriam os atributos, necessários e suficientes, para cada sensação particular. O funcionalismo pouca coisa teria acrescentado: teria removido o “ ‘cadáver’ do conteúdo” e substituÃdo por termos não menos claros como função, processos de etc.
Criticou a Psicologia por não oferecer nenhuma participação prática à sociedade:
“Pergunte a qualquer médico ou jurista se a psicologia cientÃfica tem alguma participação prática em sua rotina diária e você os ouvirá negar que a psicologia dos laboratórios tenha um lugar em seu esquema de trabalho. Penso que a crÃtica é justa. Uma das primeiras condições que me deixaram insatisfeito com a psicologia foi a sensação de que não havia domÃnio de aplicação para os princÃpios que estavam sendo elaborados em termos de conteúdo”.
(Re)define a psicologia como ciência do comportamento. Ao contrário de Pillsbury17, que já a havia definido do mesmo modo, Watson acreditava que o comportamento poderia ser produzido, descrito, observado e reproduzido, sob as mesmas condições experimentais, sem haver necessidade de qualquer menção a termos vagos como consciência, imagens mentais etc. Para ele o organismo se adaptaria ao meio devido tanto a seu equipamento hereditário como por hábitos aprendidos. O comportamento, para ele, do mais simples ao mais complexo (como o raciocÃnio e a linguagem) seriam constituÃdo por hábitos ou feixes integrados de hábitos que, em última análise, poderiam ser descritos em termos de seus constituintes básicos: S-R.
Os métodos de observação seriam para ele: (a) a observação, com ou sem uso de instrumentos; (b) os testes; © o relato verbal; (d) reflexo condicionado.
Apesar de ter sido criticado por manter como método o relato verbal, já que era tão crÃtico em relação à introspecção, Watson alegava que falar era um tipo de comportamento observável. Além disso limitou os relatos a situações que pudessem ser verificadas como a observação de diferenças de tons, os demais tipos de relatos (imagens mentais, por exemplo) foram excluÃdos.
O método do reflexo condicionado foi o que conferiu a marca do comportamentalismo. Apesar de já ter sido usada por Pavlov, Bekhterev e Thorndike, deve-se a Watson sua disseminação, popularização e uso em situações práticas fora do laboratório.
Watson deu continuidade à tradição atomista ao afirmar que todo o comportamento poderia ser reduzido a seus constituintes elementares, composto por S e R. Seu foco de atenção era as unidades mais amplas de comportamento, ou a resposta total do organismo a uma situação dada.
Com ele, o observador treinado se transformara em sujeito ou em objeto, ele próprio, de observação. O observador passa a ser, agora, o experimentador. O sujeito era apenas um organismo que se comportava e qualquer ser humano poderia fazê-lo: tanto os normais como os débeis mentais. Essa perspectiva reforçou a idéia do homem-máquina: “você põe um estÃmulo numa das ranhuras e sai um pacote de reações” (Burt, cit. Schultz & Schultz, 1995,pag 248, ib.).
A partir de 1925, recusou o conceito de instinto (Behaiviorism) 18 negando a existência de instintos, capacidades, temperamentos ou talentos herdados de qualquer espécie.
Watson não estava sózinho, nesta época, em esposar a primazia do ambiente sobre a conduta. Na aula seguinte vamos ver que neste mesmo perÃodo (1925-1930) estava sendo tecido o determinismo cultural na Antropologia, tese defendida por Franz Boas e Margaret Mead. Portanto as idéias antibiológicas de Watson foram recebidas de braços abertos tanto por muitos cientistas como pela população em geral, que via, agora, um modo de educar seus filhos sem crendices religiosas mas de modo cientÃfico.
Para Watson a aprendizagem do adulto era decorrente dos condicionamentos a que fora submetido na infância. As emoções eram respostas corporais a estÃmulos especÃficos. O amor, o medo e a raiva seriam os únicos sentimentos não aprendidos, os demais deles seriam derivados por condicionamentos ambientais.
O pensamento seria o hábito verbal silenciado pela repressão social, já que os adultos costumavam recriminar as crianças por falarem sozinhas ou por pensarem em voz alta. Sustentava esta idéia porque alguns de seus estudos mostravam ligeiras vibrações da lÃngua e das cordas vocais durante o ato de pensar.
De acordo com ele bebês saudáveis poderiam ser condicionados ao que se quisesse que fossem: de ladrões a juristas. Bastaria os condicionamentos certos. Anos mais tarde Burrhus Frederick Skinner cria uma sociedade baseada neste mesmo princÃpio em seu best seller Walden Two.
Watson fez oponentes ardorosos mas vários seguidores que trataram de fazer mudanças internas no novo paradigma, o que permitiu sua permanência em nossos dias.
2.3- O comportamentalismo depois de Watson
O comportamentalismo ulterior, ou o neocomportamentalismo, sustenta: (a) que o objetivo primeiro da Psicologia é o estudo da aprendizagem; (b) que por mais complexo que seja, todo comportamento pode ser perfeitamente explicado em termos das leis que regulam o condicionamento; © a Psicologia deve poder oferecer definições operacionais de seus termos, a fim de tornar a linguagem e a terminologia usadas mais objetivas e precisas.
2006-09-09 08:54:03
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answer #2
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answered by regina o 7
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