Tigres Asiáticos
Para entender o sucesso do bloco: "Tigres Asiáticos", faz-se necessário mencionar um pouco da história do Japão, pois foi espelhando-se no seu desenvolvimento, que seus vizinhos menores, conseguiram espantoso crescimento num curto espaço de tempo.
JAPÃO: O Japão emergiu da 2a. Guerra Mundial totalmente arrasado. A estratégia de reconstrução ocorreu através de dois elementos básicos: a formação de poupança interna e a conquista dos mercados externos. Esta reconstrução realizou-se quase às margens dos capitais norte-americanos (ao contrário da Europa). A capitalização dos conglomerados industriais apoiou-se no baixo custo da força de trabalho e fragilidade do movimento sindical. Contaram também, com um imenso volume de poupança popular, garantido pela debilidade do sistema de previdência social e carência habitacional, canalizado para os investimentos empresariais por um poderoso sistema financeiro.
O consumo comprimido transformou-se em capital e este, em tecnologia.
A competitividade da economia japonesa se fortaleceu com investimentos vultosos em educação.
A conquista dos mercados externos apoiou-se numa política agressivamente exportadora, com a subvalorização do iene: os produtos japoneses seriam baratos fora do Japão e os produtos estrangeiros seriam caros dentro do Japão. A força do dólar fez o resto.
Década de 60: o Japão registra saldos positivos no comércio com os EUA, exportando relógios, carros, aparelhos de som e televisores. De exportador a investidor, foi um pulo: logo as fábricas japonesas começaram a ingressar no país.
Em pouco tempo, as siderúrgicas e a construção naval (ramos que lideraram a reconstrução) davam lugar aos automóveis e aparelhos eletrônicos.
Na década de 70: a informática e a microeletrônica assumem o topo entre as manufaturas de exportação.
O crescimento econômico japonês alastrou-se para muito além das fronteiras do arquipélago.
A crise do petróleo acelerou o processo de deslocamento de indústrias tradicionais, de consumo intensivo de trabalho e energia, para a periferia do Japão, oportunizando o crescimento econômico do leste e sudeste asiático: Coréia do Sul, Hong Kong, Formosa (Taiwan), Cingapura, Indonésia, Malásia e Tailândia.
Começava a surgir o megabloco transnacional da Bacia do Pacífico.
A polaridade exercida por este bloco atraiu a Austrália, tradicional parceiro comercial da Europa ocidental. Nas últimas décadas, o Japão vem progressivamente substituindo a Inglaterra como principal parceiro comercial da Austrália.
A Austrália detêm vastos recursos minerais e potencialidades agropecuárias, que a transformaram numa promissora fronteira de recursos para o capitalismo japonês.
Com as reformas ocorridas na China Popular, houve a abertura de um novo espaço de desenvolvimento industrial na Bacia do Pacífico. Japão e Formosa lideram as Zonas Econômicas Especiais (ZPEs), criadas com o propósito de atrair investimentos estrangeiros e diversificar as bases tecnológicas do país.
O bloco econômico liderado pelo Japão não tem estruturas institucionais oficiais. Estão longe de constituir uma união formal como a que resultou do processo de unificação européia. Isto não impede contudo, que se origine um bloco de poder dinâmico e interligado, onde apesar de não existir um projeto de unificação política, há uma vinculação econômica e certo nível de identidade cultural, considerado como elemento fundamental para o padrão de reprodução capitalista nesta área.
É objeto de discussões em nível internacional, o sucesso do capitalismo nos "Tigres Asiáticos", pequenos estados que imprensados entre o poderio do Japão e da China acabaram constituindo o que se chama de "periferia imediata" dentro do bloco de poder oriental liderado pelos japoneses.
Este processo tem raízes muito distantes, especialmente no caso do Japão, que remonta à 2a. Guerra Mundial e, no caso dos tigres, manifestou-se com muita intensidade nos anos 80, reestruturando as disputas pelo poder, dentro da chamada "ordem internacional".
Para demonstrar a importância econômica deste bloco, seguem alguns dados:
A Coréia do Sul foi o país do mundo cuja economia mais cresceu em 1987 (12 %). Possui a maior indústria naval do mundo.
Hong Kong é o primeiro exportador de tecidos para vestuário, relógios, rádios.
Taiwan tem a maior indústria de bicicletas e a 2a. reserva mundial em moeda estrangeira (US$ 80 bilhões de dólares), logo após o Japão.
Cingapura possui o terceiro complexo de refinarias do mundo.
AS BASES DO CAPITALISMO:
Como pontos fundamentais para o desenvolvimento inicial do capitalismo no Japão temos: além das contradições da estrutura feudal e da abertura do país ao comércio exterior (com a assimilação de tecnologia), o acúmulo de excedentes extraídos dos camponeses (impostos e arrendamentos de valor muito elevados) e investidos na indústria, o papel do Estado autoritário, indispensável na criação de infra-estrutura, no fortalecimento do setor bancário e no fornecimento de subsídios aos grandes clãs familiares que originaram as grandes corporações (zaibatsus).
O papel do Estado centralizador e autoritário ainda hoje, repercute na economia do país, onde a fábrica é vista pelo trabalhador como "a grande família". Embora diga-se que o Estado não intervém na economia, o protecionismo do governo à agricultura e a muitos setores industriais contradizem tal afirmação.
O Japão reergueu-se rapidamente da destruição sofrida na 2a. Guerra, além dos maciços investimentos dos EUA, devido à ampla reforma agrária, ocorrida no período de domínio militar norte - americano.
Na reforma agrária, o poder dos grandes latifundiários foi alterado, com a criação de uma classe média rural. O sucesso desta iniciativa estendeu-se também para os dois tigres asiáticos: Coréia do Sul e Taiwan (onde o latifúndio predominava).
Até a 2a. Guerra, a agricultura sustentava o país ( em 1940, 43 % da população vivia da agricultura). Hoje, continua importante quando comparado a outros países capitalistas, pois cerca de 12 % da população vive exclusiva ou parcialmente do setor primário e o Estado considera essencial manter o máximo de auto-suficiência em produtos agrícolas. Hoje, corresponde a 3 % da economia nacional e ocupa 16 % do território.
ASCENSÃO NO PÓS-GUERRA:
A rearticulação da economia japonesa no pós-guerra, além da reestruturação do espaço agrário (onde a propriedade média tem 1,17 ha e apenas 1 % tem mais de 5 ha) ocasionou uma profunda transformação da indústria, comércio e setor financeiro.
Esta ascensão, deve-se aos seguintes fatores:
a) fatores geo (políticos):
posição estratégica do arquipélago japonês diante do avanço do socialismo ( China, Coréia) no pós-guerra, rendendo maciços investimentos norte-americanos para combater a expansão do " perigo vermelho".
conseqüências das guerras da Coréia e do Vietnã, que fizeram do Japão uma fonte abastecedora, impulsionando uma indústria de equipamentos pesados e os serviços de atendimento às tropas.
estabilidade política do PLD (Partido Liberal Democrata), conservador, até hoje no poder.
legislação trabalhista e seu controle sobre a força de trabalho, gerando sindicatos fracos e atrelados às empresas. O trabalhador tem assegurada grande estabilidade no emprego, com rígida promoção por tempo de serviço.
planejamento e coordenação estatal através do MITI (Ministério da Indústria e Tecnologia), com subsídios governamentais para empresas em dificuldades, garantia de preços para o setor agrícola e maciços investimentos em educação, ciência e tecnologia.
expansão internacional visando definir áreas prioritárias para o suprimento de matérias-primas e fechamento (relativo) do mercado interno a empresas e/ ou produtos estrangeiros.
estímulo oficial à poupança: os japoneses poupam em torno de 20 % dos seus salários, contra 5 % dos norte-americanos.
b) fatores econômicos:
fortalecimento do mercado interno ( 85% da produção destina-se ao mercado interno), sólida tradição em poupança ( a previdência social é mais restrita que na Europa e EUA, obrigando o trabalhador a poupar mais), assim garante investimentos, subsídios e um mercado potencial a ser acionado em períodos de problemas no comércio exterior.
aquisição maciça de tecnologia no exterior, com capacidade de readaptação e aperfeiçoamento, uma automatização crescente da indústria e acentuado controle da qualidade dos produtos.
c) fatores de ordem cultural:
herança filosófica confuciana com preceitos de obrigação, confiança e respeito mútuo. Como dito anteriormente, a empresa é vista como uma grande família, onde todos buscam soluções, vencendo o consenso. A grande maioria dos trabalhadores passa sua vida (ou grande parte dela), ligado à empresa.
valorização da educação, para conseguir melhores empregos, tornando-se altamente competitiva, baseada na reprodução de conhecimentos (obediência), muito mais do que na inovação e criatividade.
CONCENTRAÇÃO ECONÔMICA:
A estrutura econômica é altamente centralizada, concentrada, com oligopólios que dirigem todas as etapas do processo produtivo, estendendo sua atuação ao próprio setor financeiro.
A inovação tecnológica é assegurada pelos elevados gastos estatais em Pesquisa e Desenvolvimento (P & D) e à tradição japonesa de aperfeiçoar tecnologias importadas.
Em virtude da concorrência em determinados setores como a indústria naval e a siderurgia (a Coréia do Sul os tem desenvolvido a preços mais vantajosos), dedica-se o Japão a novas tecnologias e setores como: microeletrônica e indústria aeroespacial.
A cidade de Tóquio abriga 9,8 % da população do país em 0,16 % do território, gera 46 % da poupança, 52% das vendas no setor de informática e agrupa 40,5% das médias e pequenas empresas do país.
O Japão enfrenta extrema carência de energia e matérias-primas, importando 99% do petróleo, 90% do gás natural e 82% do carvão que consome.
O envelhecimento da população e a carência de mão-de-obra está levando o país a estimular a emigração de idosos e a imigração de jovens. Contratam trabalhadores de países do sudeste asiático, do Brasil, descendentes de japoneses, para trabalhar num determinado período no país. Estas pessoas realizam as piores tarefas dentro das empresas e são discriminadas pelos japoneses.
RELAÇÕES INTERNACIONAIS:
As relações internacionais do Japão incluem hoje a própria imigração e envolvem um comércio que domina toda a região do Pacífico.
Os EUA são o principal parceiro comercial do Japão, com o qual o país mantém um superávit: 29 % das exportações japonesas vão aos EUA e 22% das importações provêm daquele país.
O Japão importa matérias-primas do Terceiro Mundo, especialmente petróleo dos países do Oriente Médio.
A segunda área importadora para o Japão é constituída pelos Tigres e sudeste asiático, que fornecem 21% das importações.
2006-09-05 08:32:18
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answer #4
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answered by Anonymous
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