Edifício Máster e a realidade urbana de cada dia Um prédio como outro qualquer. Com o mesmo cotidiano, os mesmos tipos , as mesmas fofocas e a mesma rotina de tantos outros, espalhados por todo o país. De um roteiro banal o diretor Eduardo Coutinho (Cabra Marcado Para Morrer (1986), Santo Forte (1997) e Babilônia 2000 (2000) entre outros trabalhos) consegue extrair um retrato da diversidade de tipos de vida que formam o coletivo do brasileiro. Através de sucessivos depoimentos de moradores de um prédio em Copacabana, zona sul do Rio de Janeiro, vai se desenhando um pouco do universo diferente e diverso que estamos incluídos mas nem sempre percebemos. Quase impossível não se identificar em alguns deste depoimentos ou não identificar algum vizinho, parente ou conhecido. Esta iniciativa prova que através de boas idéias e baixo orçamento, também se conseguem fazer bons filmes. Durante uma semana a equipe acompanhou o cotidiano dos moradores do Edifício Máster, situado a uma quadra do mar no outrora boêmio e hoje violento bairro de Copacabana- um dos mais belos cartões postais do Brasil. O prédio tem 12 andares e 23 apartamentos por andar. Ao todo são 276 apartamentos conjugados, onde moram cerca de 500 pessoas. Eduardo Coutinho e sua equipe entrevistaram 37 moradores e conseguiram extrair histórias íntimas e reveladoras de suas vidas. O filme ganhou o prêmio de Melhor Documentário, no último Festival de Gramado e teve sua estréia em outubro na 26ª Mostra BR de Cinema, em São Paulo. Diversos sentimentos desfilam durante os depoimentos, ilustrando as diversas maneiras humanas de lidar com situações, hoje quase inevitáveis da vida, nas quais a maioria das pessoas estão submetidas como a velhice, a solidão, o desemprego e as responsabilidades. Os caminhos para enfrentamento destas questões se ilustram nos rostos e nas vozes dos moradores quando contam suas próprias histórias. A garota de programa, de 20 anos que é mãe desde os 14, descortina a realidade deste mundo tão discriminado quando afirma que recebeu no primeiro programa mais do que ganhava trabalhando um mês e “gastou tudo com a ilha numa tarde no shopping.” O casal homossexual feminino, fala da divisão de tarefas domésticas e a espanhola radicada no Brasil há quatro décadas reclama do jeito “reclamão e vagabundo” dos pobres que não querem se submeter a disciplina e ao esforço para reverter suas situação. Na narrativa não falta um ex-ator global, 73 anos de vida, 30 novelas e 60 filmes, aposentado após um acidente com uma espoleta que lhe tirou a audição e chama a atenção o depoimento do casal sexagenário que se conheceu através de anúncios de um jornal. A solidão e a opressão das grandes metrópoles fica estampada na maior parte dos depoimentos. Por diversas vezes pensamentos de suicídio são relatados, além de amargos depoimentos sobre os incômodos de se viver na aglomeração, ouvindo a intimidade dos vizinhos “ que invadem os apartamentos pelas janelas”. Este sentimento fica mais claro no depoimento da jovem professora de inglês, que fala de lado sem encarar a câmera, e se sente “feliz”, quando consegue descer no elevador sozinha, sem a necessidade de conviver com estranhos por aqueles poucos momentos. A situação econômica do país também é retratada na forma que os moradores encaram o desemprego, na perspectiva de vida futura, nas contas para pagar, nos relatos de violência que ofusca a beleza do Rio de Janeiro e nas ações enérgicas empreendidas pela administração do prédio para garantir “dignidade e decência” aos moradores. Intercalando os depoimentos, há cenas filmadas nos corredores do Master. A de um menino, morador do condomínio, que recolhe um gato perdido no corredor e bate na porta para devolvê-lo à dona é muito bem feita e revela que a solidariedade também esta presente, mesmo onde a vida solitária impera.. Uma grande parte universo, que se mostra nos apartamentos, é visto através das janelas, fazendo uma associação clara com Janela Indiscreta, de Alfred Hitchcock. Na vida individualizada e compartimentalizada das grandes metrópoles, uma riqueza e uma diversalidade de formas de encarar o mundo, a existência e as coisas se escondem. Este trabalho, além de trazer a luz esta realidade nos remete a lembrança que nos cubículos produzidos pelo capitalismo, existem pessoas com histórias, sonhos e amarguras. Não muito diferentes das que estamos acostumados a conviver nas portarias, escadas, elevadores ou reuniões de condomínio, mas muito raramente mostradas nas telas dos cinemas
2006-09-04 04:01:56
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answer #1
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answered by Peteleco 7
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