A Missa do Galo, um culto solar na tradição cristã
Subitamente, ouvi uma pancada na janela, do lado de fora, e uma voz que bradava: "Missa do galo! Missa do galo"!
Conto “Missa do Galo” de Machado de Assis
Existe um paralelo entre o mito xistoista do Galo como anunciador do dia e o mito cristão do cantar do Galo, após o nascimento de Jesus, que anuncia um novo dia, aqui no sentido do nascimento de uma luz para o mundo, de um renascimento de esperança para a Humanidade e a morte da ignorância espiritual.
De facto, na simbologia cristã, o Galo simboliza a (nova) luz . A Missa do Galo, também conhecida por Missa da Meia Noite, é a missa da Luz. Esta celebração é claramente inspirada nos cultos antigos, nomeadamente celtas, em que se escolhia o solstício do Inverno (22/23 de Dezembro) para prestar culto ao deus Sol. O Cristianismo substituiu essa tradição, de origem celta, pela festa cristã do nascimento de Cristo, o verdadeiro Deus Sol que vence as trevas. Esta celebração foi instituída no séc. VI pelos católicos romanos e não por S. Francisco de Assis (séc.XIII) como se lê muitas vezes. Nos países latinos, a tradição popular adoptou o nome desta missa da meia noite de "Missa do Galo", numa alusão directa à lenda que conta que a única vez que um galo cantou à meia-noite foi na noite do nascimento de Jesus.
Nas Filipinas, o maior país católico da Ásia, as festividades da Simbang Gabi ou Misa de Gallo, que se iniciam a 16 de Dezembro e duram nove dias consecutivos, terminando com a missa da noite de 24 de Dezembro, são uma componente importante da tradição católica filipina.
O nome original da Missa do Galo parece ter sido Missa da Vigília do Canto do Galo, porque o canto do galo anuncia que as trevas da noite estão dando lugar à luz do novo dia, “como o Sol Jesus, com seu nascimento, traz a luz verdadeira para a humanidade”.
Já na mitologia grega o Galo estava associado a Hélios, o deus do Sol, que considerava o Galo um animal sagrado. Também Apolo, Atenas, Hércules o reverenciavam como um símbolo sagrado do Sol e Perséfone como a Renascente Primavera
Também na tradição cigana o Galo está presente como anunciador do dia e da luz. O galo é um animal sagrado entre as comunidades ciganas. É ele quem diz: "Eu sou aquele que canta o raiar de um novo dia, de uma nova vida e de uma nova esperança!", numa clara alusão ao Sol como deus e origem da vida.
Na mitologia Yoruba, a região de África que é agora a Nigéria, o Galo surge igualmente como um colaborador do deus Olurum, também designado por Olodumare, deus criador do mundo, da luz e da vida. Conta essa mitologia africana que Olorum, O Supremo Ser, assistido por um deus menor Obatala também chamado Orixanla, envia esse deus menor para criar a Terra onde só havia água e caos. Obatala leva com ele um galo, algum ferro e uma semente de palmeira. Chegado ao planeta Terra, espalhou em primeiro lugar o metal sobre o planeta e colocou o galo sobre o metal. O galo com as suas garras esgravatou o metal e criou o solo onde Obatala plantou a semente de palmeira, a partir da qual foi criada a vegetação no planeta. Esta mitologia encontra-se ainda viva, designamente, no Brasil na religião Umbanda e nos rituais do Candomblé.
Na tradição chinesa o Galo está associado ao conceito de Yang, ou seja, do calor, da luz e da vida do universo, daí o Yang ser também representado por um Galo.Da mesma forma, o Galo que está ligado ao culto solar, e a interessante lenda da minoria étnica Miao Como o galo adquiriu a sua coroa vermelha é expressão dessa sua ligação ao culto do Sol.
Os Miao têm como costume admirar o pôr do sol a desaparecer para lá das montanhas do Tibete. Ao crepúsculo os contadores de histórias, cada um com a sua versão, contam, entre outras, a história de Como o galo adquiriu a sua coroa vermelha:
Há muitos muitos anos atrás, quando o mundo acabara de ser criado, a Terra vivia debaixo de seis sóis e não de apenas um. Uma Primavera, após os camponeses terem preparado os seus campos já semeados, a água das chuvas não veio e os seis sóis queimaram tudo. Então o povo dirigiu-se ao imperador Yao que reinava na China e pediu-lhe ajuda. ‘Como fazer para resolver tal situação?’, questionou o imperador. Um seu conselheiro sugeriu-lhe que se tentasse acertar nos sóis e matá-los. O Imperador chamou então os seus melhores archeiros e determinou-lhes que apontassem para os sóis. Os archeiros lançaram as suas flechas em direcção aos sóis mas as suas flechas bem longe ficaram dos alvos.
Resolveu então solicitar ajuda do príncipe Ho Yi de uma tribo vizinha, dado que era famoso na sua mestria de archeiro. Ho Yi acedeu, apontou o arco, mas disse ao imperador: ‘Lamentavelmente eles estão longe demais para os poder alcançar’. De repente, olhando o lago existente no palácio do Imperador e vendo os seis sóis nele reflectidos, exclamou: ‘Mas se os temos aqui tão perto porque não alvejá-los aqui?’ E um a um, certeiramente, foi alvejando os sóis e, um a um, foram desaparecendo. Porém, o sexto, prevenindo-se, fugiu para detrás da montanha mais próxima. Os camponenses jubilaram e foram dormir descansados. No dia seguinte, porém, acordaram numa imensa escuridão pois o sexto sol, de tanto medo de ser morto, mantinha-se escondido. Tudo foi tentado pelos camponeses: primeiro, um tigre rugindo, rugindo para o fazer sair detrás da montanha para outro local; depois, a táctica inversa, uma vaca mugindo de forma apaziguadora e dócil para o calmar e mostrar-se. Mas o Sol recusava-se a aparecer. Estão um camponês trouxe um galo que cantou. E ouve-se a voz do Sol dizendo: ‘Ó que maravilhosa voz!’ E espreitando sobre a montanha fez-se, de novo, luz.
O Sol, como prémio ao belo cantor, coroou-o com uma coroa vermelha. E desde aí o galo, orgulhoso da sua coroa, canta pela aurora acordando o Sol.
O Galo é também na tradição chinesa, por excelência, o espantador de demónios. É por esta razão que muitas vezes são colocadas figuras de um galo branco nos caixões para “limpar” de demónios o caminho que o defunto irá percorrer. O seu canto ao nascer do sol tem, também segundo a tradição chinesa, o efeito de afugentar os demónios que vivem mal com a luz do dia.
É também pela mesma razão que nos casamentos as noivas comem, durante a cerimónia, pedaços de açucar branco em forma de galo para se prevenirem contra influências demoníacas.
2006-09-03 23:14:49
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answer #3
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answered by regina o 7
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A partir do ano 330, a Igreja celebra, em Roma, o nascimento de Jesus a 25 de dezembro. Porque é o dia do solstício do inverno romano. Porque nesse dia do nascimento do sol, os pagãos festejavam o natal do Deus-Sol – Natalis Invictus. Por isso, os romanos passaram a celebrar, nesse dia, a festa da posse do Deus-Imperador. Por isso, o Imperador Constantino, cristão, substituiu as festas pagãs, com um sincretismo do culto ao Sol e ao Imperador. Instituiu a Festa de Natal do Sol da Justiça e da Luz do Mundo, Jesus Cristo.
Como preparavam a festa do Sol, com as festas pagãs de 17 a 24 de dezembro, chamadas Saturnais, assim surgiu o Tempo do Advento, para preparar o Natal de Cristo.
No século IV, a comunidade cristã de Jerusalém ia em peregrinação a Belém, para celebrar a Missa do Natal na primeira vigília da noite dos judeus, na hora do primeiro canto do galo, mencionado por Jesus na traição de Pedro (Mt. 26,34 e Mc 14,68.72).
Por isso, a Missa da meia noite no Natal, se chama Missa do Galo, do primeiro canto do galo. Essa missa do galo é celebrada, em Roma, desde o século V, na Basílica de Santa Maria Maior. Pois, o galo,tam bém publica o nascer do sol. E o galo passou a simbolizar vigilância, fidelidade e testemunho cristão. Por isso, no século IX, o galo foi parar no campanário das igrejas.
2006-09-03 22:33:24
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answer #4
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answered by Dudusp2006 2
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