Surrealismo.
Movimento estético baseado na quebra dos padrões racionais ou conscientes de criação. Batizado pelo escritor Guillaume Apollinaire, desenvolveu-se na Europa no perÃodo entre as duas guerras mundiais.
DadaÃsmo ; DalÃ, Salvador ; Ãluard, Paul ; Ernst, Max ; Escultura ; Francesa, literatura ; Lautréamont, conde de ; Literatura ; Loucura ; Maneirismo ; Pintura ; Portuguesa, literatura ; Ray, Man
v. tb. Bosch, Hieronymus; Breton, André; Jacob, Max; Lam, Wifredo; Magritte, René; Néri, Ismael
Extinto como movimento artÃstico na década de 1930, o surrealismo continuou a exercer grande influência ao longo de todo o século XX. Seus postulados, contrários ao pensamento estético, ético e polÃtico tradicionais, abriram espaço para novos sÃmbolos e mitos alheios ao racionalismo.
O termo surrealismo, criado pelo escritor Guillaume Apollinaire, designa um movimento artÃstico de vanguarda que ocorreu entre as duas guerras mundiais principalmente na França. Derivado do dadaÃsmo, teve no crÃtico e poeta André Breton seu principal ideólogo. Da literatura, o movimento se estendeu à s artes plásticas, cinema, teatro, filosofia, moda e também ao modo de vida. O movimento foi inaugurado por Breton com a publicação do Manifeste du surréalisme (1924; Manifesto surrealista).
No artigo "Les Champs magnétiques" (1920; "Os campos magnéticos"), publicado na revista Littérature, Breton definiu o traço fundamental do surrealismo, a chamada "escrita automática". Tratava-se de transmitir diretamente, sem refletir ou concentrar-se no que se queria dizer, as palavras que, sem tema preconcebido, viessem à mente de forma imediata. Essas frases procederiam diretamente do inconsciente e não teriam relação lógica entre si. Por isso, Breton se recusava a apagar, refazer ou retificar e negava o exercÃcio da crÃtica sobre a escrita automática, considerada por ele como "texto puro", ou poema surgido do inconsciente.
Dessa forma, Breton reagiu contra as limitações impostas pela razão e pela ordem social estabelecida e pretendeu criar um novo código de poesia e de conduta em geral. De acordo com a definição que ele mesmo formulou, "surrealismo é o puro automatismo psÃquico, pelo qual propomos expressar verbalmente, por escrito ou por qualquer outro meio, o processo real do pensamento. O ditado do pensamento, na ausência de todo controle exercido pela razão e na ausência de toda preocupação estética ou moral".
Breton afirmava que o sonho tem realidade objetiva e exerce sua influência sobre a realidade consciente objetiva. Se para Freud, criador da psicanálise, o sonho consiste num conteúdo inconsciente que assume formas do mundo da experiência, para Breton o sonho é a própria experiência.
Em seu interesse pelo onÃrico, Breton refez não apenas o caminho de Freud, mas também o de outros pensadores e escritores interessados no mundo subjetivo, tais como Gérard de Nerval, Rimbaud e Isidore-Lucien Ducasse, que publicou sua obra como conde de Lautréamont. Evocador de outras correntes estilÃsticas, Breton se considerou herdeiro de Chateaubriand, Victor Hugo, Edgar Allan Poe, Baudelaire e outros. Entre os pintores, escolheu Uccello, Seurat, Gustave Moreau, André Derain, Picasso e Marcel Duchamp, entre outros. Pontos de referência foram também as teorias de Hegel e Marx.
Entre os poetas e escritores que aderiram ao "surrealismo absoluto" de Breton encontravam-se Louis Aragon, Robert Desnos, Paul Ãluard e Philippe Soupault. De inÃcio, não havia pintores no grupo, mas no notável ensaio Le Surréalisme et la peinture (1925-1928; O surrealismo na pintura) Breton falou sobre a existência de um movimento pictórico paralelo ao literário. O modelo surrealista na pintura tinha por base o objeto perturbador e mágico: objeto e imagens procedentes do sonho e formados em associações livres, de forma semelhante ao automatismo verbal.
A primeira exposição de pintura surrealista foi realizada na galeria Pierre, de Paris, em 1925. Os pintores dessa tendência se interessaram pela arte das crianças e dos psicopatas. Na busca de uma nova linguagem, recorreram a diversas técnicas, como a colagem, o frottage etc.; e estilos, que oscilaram desde as formas abstratas da pintura de André-Aimé-René Masson aos detalhes de efeito nas formas concretas de Salvador Dalà e René Magritte.
A pintura surrealista englobou assim diversas tendências. Embora com caracterÃsticas próprias, a escola metafÃsica italiana, com Giorgio de Chirico e Carlo Carrà , constituiu um movimento paralelo. Procedente do dadaÃsmo, Max Ernst realizou obras surrealistas plenas, como sucessões de imagens contraditórias, reflexo de seu interesse pelo desconhecido e pelo medo irracional. Yves Tanguy criou formas irreais em paisagens marcadas pela profusão de detalhes.
Salvador Dalà realizou suas primeiras obras surrealistas sob influência dos metafÃsicos italianos e empreendeu, com Luis Buñuel, as primeiras experiências cinematográficas surrealistas, com Un chien andalou (Um cão andaluz), em 1928, e com L'Ãge d'or (A idade de ouro), em 1931. Dalà desenvolveu em sua pintura o que chamou de método paranóico-crÃtico, que propunha uma incursão no mundo alucinatório e paranóico para liberar as imagens inconscientes com maior força, transpondo-as assim com sucesso para as obras e para a própria vida. Em suas obras abundam imagens múltiplas distorcidas mas reconhecÃveis.
Na pintura de Magritte, o observador se encontra com uma aparente realidade, na qual se estabelecem relações absurdas ou ilógicas. Paul Delvaux combinou o padrão clássico de beleza com as imagens onÃricas de personagens em estado de transe. André Masson e Joan Miró realizaram uma pintura surrealista abstrata. Miró empregou a técnica do desenho automático em suas representações imaginárias de animais ou personagens de formas caligráficas. A esses devem somar-se os nomes dos escultores Jean Arp e Alberto Giacometti e do fotógrafo americano Man Ray.
Aragon, Louis; Breton, André; Buñuel, Luis; DadaÃsmo; DalÃ, Salvador; Ãluard, Paul; Ernst, Max; Giacometti, Alberto; Magritte, René; Miró, Joan; Ray, Man
Max Ernst: muito além da pintura
Floriano Martins
Paul Ãluard certa vez esboçou uma curiosa descrição de Max Ernst: "Desenha sem pensá-lo. Fez algumas grandes telas, como todos os pintores, inclusive os mais célebres. Aos doze anos abandona seus pais e escolhe um ofÃcio. à então quando começa uma nova vida." Disse isto em 1922. Posteriormente, em 1937, recordava o que chamou de "nova vida", afirmando que ela "veio para reforçar a ofensiva de Picasso contra tudo o que separa o homem de suas obras", destacando o quanto que se identifica Ernst com "aquilo que nos ensina".
Eis aà uma primeira chave para o entendimento da obra de Max Ernst, cuja abordagem tecida por Gérard Legrand nos brinda com grande lucidez, ao destacar que sua pintura "descobre (por vezes até à saciedade) os achados de uma fusão – bastante rara na arte moderna – entre o consciente e o inconsciente, ou se o preferem, entre a raiva manÃaca e o abandono maravilhado que ao mesmo tempo maravilha". A Ernst interessava muito peculiarmente o bailado das associações de idéias, onde o acaso tinha uma participação decisiva. Defendia que a arte é "produto de um intercâmbio de idéias", não sendo feita por um só artista mais sim por muitos.
O alemão Max Ernst nasceu em Brühl, em abril de 1891. Filho de um desenhista e pintor autodidata, desce cedo toma aulas de desenho com seu pai. Aos 19 anos, indo residir em Bonn, conhece Augusto Macke, que logo trata de apresentá-lo a Robert Delaunay e Guillaume Apollinaire. Em seguida, conhece Hans Arp, um de seus grandes amigos. Escreve então artigos sobre arte e teatro para a imprensa local e participa de algumas exposições coletivas. Explode a I Guerra Mundial e contra ela o DadaÃsmo. O mundo desenha-se propÃcio a uma fase brutal de autoritarismos de toda ordem. Ganham corpo as idéias de propaganda e arte engajada, raÃzes com que foram bordados conceitos como os de alienação e indústria do entretenimento.
Depois da Guerra surge o Surrealismo. Disse Artaud que "quando a guerra se vai, chega a poesia". Contudo, a guerra estava disseminada demais em todos os espÃritos. Recordo aqui uma preciosa observação de Wolfgang Paalen: "As obras nas quais a guerra será completamente vencida não farão alusão a ela, da mesma forma que as obras verdadeiramente revolucionárias não mostram as bandeiras vermelhas". Também o Surrealismo esteve entranhado de guerra e um obscuro fio teceu equÃvocos cenários.
Ernst esteve com os surrealistas em inúmeras circunstâncias. Desenvolveu a técnica do gotejamento (drapping) que seria desdobrada pelo estadunidense Jackson Pollock. Conduziu outra técnica a seus instantes-limites: a frottage, a revelação de uma imagem outra a partir do decalcamento de uma determinada superfÃcie. E cabe a ele, sobretudo, o estabelecimento de uma técnica essencial: a collage. Em todo momento, a arte vinculava-se à mistura, à fusão. Ele próprio declarou, a propósito de uma exposição em 1921, que se considerava um artista "além da pintura". Tocava a criação com tudo de si, não se prendendo a meios ou a mensagens se observados isoladamente.
Seus métodos propostos definiram todo um tratamento com que a arte moderna é hoje reconhecida entre nós. Se Pollock desdobrou o drapping, Magritte e Dalà passaram a pintar collages à mão. E o frottage, segundo ele próprio, seria "o equivalente verdadeiro da escritura automática". Disse Breton, em 1941, que a collage correspondia ao que buscara, na poesia, Lautréamont e Rimbaud. TerÃamos que retomar um sentido de mescla já aqui abordado. Se o recurso dessa fusão é provocar estranheza, já não temos nada a ver especificamente com Lautréamont ou Ernst. O assombro é o barro de onde surge toda poesia. Todas as formas nascem do assombro. O mundo está fundado no assombro.
O próprio Ernst sempre defendeu que a arte é feita de vertigem, que formas vão sendo tecidas a partir de um estado de aturdimento, de uma disponibilidade para o enunciado, que nos recompensa sempre com sua prodigiosa ironia. Claro, damos nossa contribuição, o requinte singular do entendimento de formas e conceitos. A arte não é, portanto, a expressão de uma comunidade ou de um sistema. A arte exprime e define tão-somente o indivÃduo.
Ernst também esculpiu incansavelmente. Estive em uma retrospectiva de sua obra no Museu Brasileiro da Escultura (São Paulo, 1997) e as esculturas mostravam-se Ãntimas das técnicas que ele havia propiciado. Ali havia tanto de collage quanto de frottage, depuradas e propiciadoras de novos abismos. Como ele próprio disse, a expressão última da arte é uma depuração de situações perigosas, abissais, um encontro com o imprevisÃvel despido de toda sustentação moral, ou seja, de toda condição redutora.
Está certo Ãluard ao dizer que Max Ernst tomou a decisão de "enterrar a velha razão". Em um de seus poemas, Ernst indagava Enfants du ciècle / où sont vos trident, diante de uma clara preocupação com a degeneração humana por que passava então a humanidade. O poema, escrito em 1953, pode ser hoje melhor compreendido, quando o mito foi convertido em uma expressão do efêmero. à deriva da história, o homem contemporâneo exprime apenas o vazio de sua imagem diante do espelho. à luz de refletor, incidência externa, jogo de imagens. à outra a razão de ser, ou melhor, de não-ser.
Ernst envolveu-se em inúmeras aventuras. Cinema, poesia, teatro. Não se tratava de uma voracidade da evidência, mas de uma identificação pela totalidade. Foi, de fato, artista tocado pela totalidade. O reconhecimento por sua atividade incessante veio de inúmeras formas. Em 1954, recebeu o grande prêmio da XXVII Bienal de Veneza. Tê-lo aceito provocou sua exclusão do grupo surrealista. Em 1941, declarara Ernst que "os homens se tornaram horrendos e terrÃveis por haverem se entregado durante séculos à quela que é a mãe de todos os vÃcios: a confissão". Falava especificamente de um ritual da igreja católica. Contudo, tendo sido expulso do Surrealismo, não se pode deixar de pensar em sua confissão pública, desde os anos 20, na condição de um surrealista.
Não foi criado pela guerra. Sua arte definia-se por um princÃpio de ação e não de reação. Não propôs propriamente discordâncias e sim acréscimos. Não foi tutelado senão por uma profusão desconcertante de acentos estilÃsticos, na pintura, no desenho, na escultura, mesmos nos versos ocasionais. Ernst é um dos nomes cimeiros da arte neste nosso controvertido século, onde a vertigem tecnológica (ciência) busca apoderar-se uma vez mais do abismo criativo (arte).
2006-09-03 19:26:25
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answer #7
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answered by regina o 7
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