A QUEM DEVEMOS EDUCAR?
Geraldo Henrique Corrêa
Narra-se que o extraordinário orador ateniense Licurgo recebeu oportuno convite para falar sobre a educação. Depois de haver reflexionado, o mestre da oratória solicitou à comissão que lhe concedesse seis meses para preparar o tema.
Na oportunidade estabelecida, no imenso anfiteatro de Atenas, Licurgo apresentou-se, levando algumas jaulas, nas quais estavam dois cães e duas pequenas lebres.
Antes de emitir qualquer conceito, o admirável filósofo, que era psicólogo, abriu uma das jaulas e libertou uma lebre; ato contÃnuo, abriu outra jaula e libertou um mastim. O cão desesperado saiu em desabalada correria, e, caçando a lebre, surpreendeu-a, estraçalhando-a, diante da multidão comovida.
Ainda não terminara aquele impacto perturbador, quando Licurgo abriu uma outra jaula e libertou outra lebre, abriu ainda mais uma e libertou outro cão. Dominadas pela cena grotesca de antes, as pessoas aguardavam que se repetisse a cena deprimente. Para surpresa geral, o cão acercou-se da lebre e começou a brincar com solidariedade. A pequenina lebre também, por sua vez, acercou-se do animal e começou a lamber-lhe as patas e, como dois amigos, estiveram deitando e rolando no solo.
Ante a emoção que tomou conta de todos, Licurgo começou a sua peça de oratória dizendo:
Os dois cães são da mesma raça, têm a mesma idade, receberam a mesma alimentação. A diferença entre o primeiro e o segundo é que o segundo foi educado, o primeiro, não.
Aà estava demonstrada, de maneira incontestável, a excelência da educação. Educar é criar hábitos, hábitos saudáveis que se arraigam e que passam a constituir uma nova natureza em a criatura humana.
Situação-Problema
A todo instante estamos ouvindo pessoas falarem da importância do trabalho e da educação.
Diz Allan Kardec, na nota da pergunta 685 de O Livro dos EspÃritos que nós, seres humanos, devemos ter durante nossa existência uma atividade de trabalho, que é imprescindÃvel que tenhamos algo para nos ocupar, pois a suspensão do trabalho se generaliza e toma as proporções de um flagelo como a miséria. A Ciência econômica procura o remédio no equilÃbrio entre a produção e o consumo para suprir essa falta de trabalho existente. Mas há um elemento que, comumente, não entra na balança no momento da busca desse remédio e sem o qual a ciência econômica não é mais que uma teoria: a educação. Não a educação intelectual, mas a educação moral, e não, ainda, a educação moral pelos livros, mas aquela que consiste na arte de formar os caracteres, a que dá os hábitos - porque a educação é o conjunto de hábitos adquiridos.
Comentam professores, educadores e aficionados pela arte de ensinar que para haver educação devemos nos impor de duas premissas básicas: amor e auto-educação, amar para educar e auto-educar-se para amar. Muitos ainda dizem que a meta maior da educação é promover o desenvolvimento simultâneo das faculdades morais, fÃsicas e intelectuais das pessoas.
Bem, se já sabemos que o centro da Educação deve ser o ser humano e não o ensino, e se já temos uma visão do trabalho e da direção que devemos tomar para educar as nossas crianças, por que não as estamos conseguindo educar a contento?
Pois bem, o que está acontecendo no terceiro milênio com os nossos jovens educados por professores e educadores conhecedores dos princÃpios básicos da educação?
O que pensar da massa de jovens jogados a toda hora no seio da Humanidade, sem princÃpios, sem freios e entregues aos seus próprios instintos? Devemos nos espantar das conseqüências desastrosas que disso resultam?
Busquemos os jornais nestes últimos 180 dias; quantas mortes foram efetuadas pelos nossos jovens, qual foi o grau de barbárie utilizado nessas ações? Quantos Pais, Mães, Avós e amigos foram atingidos por jovens educados por essa metodologia em voga.
Em 1828, Hippolyte Léon Denizard Rivail (Allan Kardec), discÃpulo de Pestalozzi, já dizia que não basta conhecer o objetivo a ser atingido, é preciso ainda conhecer perfeitamente o caminho que se deve percorrer. E fazia a seguinte pergunta: O sistema educacional atual pode nos conduzir até lá? Quais são os obstáculos que se opõem a isso? Quais são os meios de remediá-los?
Já estamos no terceiro milênio e até agora poucos conseguiram responder à primeira pergunta de Allan Kardec. Por que será que o sistema atual não pode nos conduzir até lá?
à moda nos dias de hoje os professores e educadores dizerem que aplicam a metodologia do Construtivismo no Brasil. Mas será que de fato eles sabem aplicar e conhecem a fundo essa metodologia?
Dizem muitos educadores mal-informados por aà que a idéia central do Construtivismo foi desenvolvida por Piaget, ou seja, é o sujei- to (no caso a criança) que constrói o seu próprio desenvolvimento.
Dora Incontri em a Educação da Nova Era faz a seguinte observação:
"Essa idéia já foi defendida desde Sócrates, passando por Rousseau, Pestalozzi, Montessori e tantos outros. Por ser uma idéia comum aos maiores filósofos e educadores de todos os tempos e por ser um fato que se pode observar empiricamente, trata-se de uma verdade incontestável. E nela repousa a filosofia de que o centro da Educação deve ser a criança e não o ensino.
Mas é preciso distinguir as diferenças ideológicas que existem entre as diversas correntes.
Para Sócrates, Rousseau, Pestalozzi, Montessori e tantos outros, existe no ser humano um princÃpio espiritual, que é o centro da individualidade, da inteligência, do sentimento. E é esse sujeito, o EspÃrito, embora condicionado pelo corpo, que rege e determina o desenvolvimento, evidentemente numa interação com o meio. O sujeito construindo seu desenvolvimento é o EspÃrito se manifestando.
PoderÃamos, portanto, chamar essa corrente de construtivismo espiritualista.
Já para autores como Piaget, Vygotsky e outros, o homem é apenas um ser biológico e social. Não existe uma instância espiritual que comanda o processo do desenvolvimento. Desse modo, quando se diz que é o sujeito que faz seu desenvolvimento, esse sujeito é uma dada estrutura genético-biológica e ponto. Chamemos, portanto, esse construtivismo de construtivismo materialista.
Há uma contradição insuperável no construtivismo materialista:
se o homem é apenas um ser biológico, ele é predominantemente determinado pelas leis fÃsicas, pela hereditariedade, pelos instintos da espécie. à um animal que aprendeu a pensar. Se ele tem também uma dimensão social, sua mente é fruto de uma cultura dada, de uma historicidade, um produto de seu tempo. E é sobre esse determinismo fÃsico e social, que os construtivistas querem montar a liberdade humana, e querem pregar que o indivÃduo constrói a si mesmo! à um pensamento absurdo. Só a existência do EspÃrito, que transcende o determinismo biológico e o determinismo social, é que pode explicar, justificar, e embasar a liberdade do homem de fazer a si mesmo."
Drauzio Varella, muito conhecido como médico e apresentador da vida humana no Fantástico, autor do livro Estação Carandiru, em artigo na Folha de São Paulo, no caderno Folha Ilustrada, de 25 de janeiro de 2003, descreveu sobre Os genes e a alma humana. Logo de partida já expôs o seu pensamento de forma clara e objetiva. “A maioria de nós acredita na existência de uma alma imortal, caracterÃstica inequÃvoca da condição humana. Pondo a imortalidade de lado, pois se trata de questão de fé, seria cabÃvel dizer que o conjunto de genes contidos no genoma constituiria o substrato bioquÃmico da alma humana?"
Em outros parágrafos faz as seguintes colocações:
"Embora a biologia molecular possa nos ajudar a entender nossa constituição orgânica e as diferenças e semelhanças entre nós e os demais seres vivos, através dela jamais explicaremos o mistério mais profundo da condição humana: como emerge a consciência? "
"O que chamamos a alma humana liga-se à emergência de uma consciência pessoal, única, sem a qual a individualidade não existe. E a consciência é algo que transcende a estrutura do próprio sistema nervoso, porque não está aprisionada em nenhuma circuitaria de neurônios, muito menos pode ser reduzida à expressão do genoma contido num zigoto. Ela nasce da construção de uma narrativa pessoal enriquecida por fatos culturais que dependem da história de vida de cada um de nós."
Pelo que vejo, a segunda pergunta o Dr. Drauzio Varella já respondeu, agora só falta coragem aos homens para aceitar a existência do EspÃrito e enfrentar a lei de Causa e Efeito, bem como o livre-arbÃtrio.
Mas mesmo assim vamos completar a informação a respeito. Vejamos agora o feito do admirável investigador inglês Firsoff(1847-1946), que definiu o EspÃrito (alma humana encarnada) como sendo uma energia semelhante à eletricidade e à gravidade, e a faculdade de pensar constituÃda de mindons, de partÃculas de mente, demonstrando que o EspÃrito possui uma psicologia e uma fisiologia, tendo, portanto, um peso, não sendo um ser abstrato, mas um ser fÃsico, dentro do conceito da FÃsica Quântica.
Amit Goswami, Ph.D. em FÃsica Quântica, no livro O Universo Autoconsciente, editado em 1993, reafirma essa idéia e demonstra que o Universo é matematicamente inconsistente sem a existência de um conjunto superior (Deus). Isto torna sólida sua afirmação de que é a consciência que cria a matéria e não o contrário, como até hoje crê o pensamento estabelecido.
A Psicologia Transpessoal veio decretar a realidade da ciência espÃrita quando Allan Kardec interrogou à s Entidades Venerandas, conforme se lê na questão 621 de O Livro dos espÃritos: "Onde está escrita a lei de Deus? Na consciência."
A consciência não pertence ao cérebro, a consciência é a exteriorização da realidade do ser eterno, que viaja na indumentária carnal, que mergulha no corpo e dele se liberta, ininterrupta, incessantemente, até lograr o seu estado de Nirvana, de Reino dos Céus, de plenitude ou de Samadi.
Neste momento só nos falta responder à última pergunta de Allan Kardec e de muitos Pais, Mães, Educadores, Professores. Quais são os meios existentes para remediar toda essa agressividade, todo esse ódio, todo esse desamor, toda essa falta de educação constatada através das infindáveis atitudes violentas geradas por nossos jovens e contidas em nossas consciências, à espera de uma breve resposta.
Na palestra de improviso proferida pelo médium e orador espÃrita Divaldo Pereira Franco -"A Educação para a Plenitude do ser" -, na qual nos apoiamos para alimentar os nossos pensamentos, Allan Kardec considera que a solução para o grande problema da Humanidade é a educação. Não essa educação intelectual apenas, mas a de natureza moral, aquela que pode mudar os quadros da violência e da irresponsabilidade, essas duas grandes chagas da Humanidade, que a educação perfeitamente aplicada pode superar. Volta a dizer que a educação agora é uma arte, arte difÃcil, porque é vivencial, toda ela estabelecida em bases em que a Pedagogia, com o apoio da Psicologia, reconhecem como necessárias.
Portanto, a Doutrina EspÃrita nos traz a proposta da educação para a plenitude do ser, dizendo que ela começa no momento do auto-encontro da criatura, quando identificamos a consciência e despertamos para a realidade espiritual que somos, transmitindo à queles que conosco vivem, aprendizes que somos todos uns dos outros, o contributo da nossa mensagem positiva, alimentadora de esperanças, enriquecedora de valores.
Nesse sentido, a Doutrina EspÃrita faz um grande apelo, quando nos propõe educar o EspÃrito, orientar a forma, direcionar o instinto, coibir o abuso, disciplinar as tendências negativas, as más inclinações, e trabalhar concomitantemente para o desenvolvimento intelecto-moral do ser e desta forma contribuir para que ele perceba que é uma criatura por Deus criada, com uma finalidade especÃfica, que é a felicidade total.
Quando essa arte for conhecida, cumprida e praticada, o homem ocasionará no mundo hábitos de ordem e de previdência para si mesmo e os seus, de respeito por tudo o que é respeitável, hábitos que lhe permitirão atravessar, menos penosamente, os maus dias inevitáveis. Esse é o ponto de partida, o elemento real do bem-estar, a garantia da segurança de todos.
Agora novamente volto a perguntar aos nossos professores, educadores e aficionados pela arte de formar os caracteres: A quem devemos educar e qual corrente construtivista devemos acatar?
2006-09-04 10:25:06
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answer #2
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answered by Anonymous
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