Texto 1
Na mitologia grega, Sísifo, filho de Éolo, rei da Tessália, e Enarete, era considerado o mais astuto de todos os mortais. Foi o fundador e primeiro Rei de Ephyra, depois chamada Corinto, onde governou por diversos anos. Casou-se com Merope, filha de Atlas, sendo pai de Glauco e avô de Belerofonte.
Mestre da malícia e dos truques, ele entrou para a tradição como um dos maiores ofensores dos deuses.
Assim ele despertou a raiva do grande Zeus, que enviou o deus da morte, Tânatos para levá-lo ao mundo subterrâneo. Porém o esperto Sísifo conseguiu enganar o enviado de Zeus e fez dele seu prisioneiro. Enquanto permanecia cativo, ninguém na Terra podia morrer, e o reinado de Hades estava ameaçado. Foi então enviado o deus da guerra Ares para libertá-lo, permitindo que a ordem natural fosse restabelecida.
Quando o deus novamente tentou levá-lo ao mundo inferior, Sísifo fez sua esposa prometer que não iria enterrá-lo, e que exporia seu corpo no meio de uma praça pública. Quando acordou nos Ínferos, disse a Hades que precisava retornar à terra para repreender sua esposa por não haver enterrado seu corpo. Assim ele conseguiu convencer ao deus que enquanto não fossem prestadas as oferendas costumeiras, ele não podia ser considerado verdadeiramente morto.
Usando este subterfúgio, Sísifo conseguiu permanecer por mais algum tempo no mundo dos vivos, até que a paciência de Zeus se esgotou. O deus resolveu pôr um fim à malícia do mortal, enviando Hermes para conduzi-lo à força ao reino das sombras.
No Hades, Sísifo teve um castigo imenso pela sua ousadia. Por toda a eternidade ele foi condenado a rolar uma grande pedra de mármore com suas mãos até o cume de uma montanha, sendo que toda vez que ele estava quase alcançando o topo, a pedra rolava novamente montanha abaixo até o ponto de partida por meio de uma força irresistível. Por esse motivo, tarefas que envolviam esforços inúteis passaram a ser chamadas "Trabalhos de Sísifo".
Texto 2
Os deuses condenaram Sísifo a incessantemente rolar uma rocha até o topo de uma montanha, de onde a pedra cairia de volta devido ao seu próprio peso.
Eles pensaram, com alguma razão, que não há punição mais terrível do que o trabalho inútil e sem esperança.
Acreditando em Homero, Sísifo foi o mais sábio e prudente dos mortais. Entretando, de acordo com outra tradição, ele foi designado a praticar a profissão de salteador.Eu não vejo nenhuma contradição nisto.
As opiniões diferem quanto às razões pelas quais ele se tornou o inútil trabalhador do subterrâneo.
Para começar, ele é acusado de uma certa frivolidade a respeito dos deuses. Ele roubou seus segredos. Egina, a filha de Esopo, foi raptada por Júpiter. O pai ficou chocado com aquele desaparecimento e queixou-se a Sísifo.
Ele, que sabia do seqüestro, ofereceu-se para contar o que sabia com a condição de que Esopo desse água à cidadela de Corinto. Ele a preferiu a bênção da água ao invés dos raios celestiais.
Ele foi punido por isso no inferno.
Homero nos conta também que Sísifo acorrentou a Morte. Plutão não pôde suportar a visão do seu império abandonado e silencioso. Ele despachou o Deus da Guerra, que libertou a Morte das mão de seu conquistador.
É dito que Sísifo, estando próximo à morte, imprudentemente quis testar o amor de sua esposa. Ele ordenou a ela jogar seu corpo insepulto no meio da praça pública. Sísifo acordou no inferno. E lá, irritado por aquela obediência tão contrária ao amor humano, ele obteve de Plutão permissão para retornar à Terra para punir sua esposa. Mas quando ele viu novamente a face do seu mundo, gozou a água e o sol, as pedras quentes e o mar, não quis mais retornar à escuridão infernal.
Chamados, sinais de raiva, avisos foram de nenhuma utilidade. Ele viveu muitos anos mais diante da curva do golfo, do mar brilhante, e dos sorrisos da Terra. Um decreto dos deuses foi necessário. Mercúrio veio e agarrou o homem atrevido pelo colarinho, e, arrancando-o de seus prazeres, conduziu-o forçosamente de volta ao inferno, onde sua rocha estava pronta para ele.
Você já captou que Sísifo é o herói absurdo. Ele o é, tanto pelas suas paixões quanto pela sua tortura.
Seu desdém pelos deuses, seu ódio pela morte e sua paixão pela vida fizeram com que ele recebesse aquele inexprimível castigo no qual todo seu ser se esforça para executar absolutamente nada. Este é o preço que deve ser pago pelas paixões neste mundo. Nada nos é dito sobre Sísifo no inferno. Mitos são feitos para a imaginação soprar vida neles. Quanto a este mito, vê-se simplesmente todo o esforço de um corpo esforçando-se para levantar a imensa pedra, rolá-la e empurrá-la ladeira acima centenas de vezes; vê-se o rosto comprimido, a face apertada contra a pedra, o ombro que escora a massa recoberta de terra, os pés apoiando, o impulso com os braços estendidos, a segurança totalmente humana de duas mãos cobertas de terra. Ao final deste longo esforço medido pelo espaço e tempo infinitos, o objetivo é atingido. Então Sísifo observa a rocha rolar para baixo em poucos segundos, em direção ao reino dos mortos, de onde ele terá que empurrá-la novamente em direção ao cume. Ele desce para a planície. É durante este retorno, esta pausa, que Sísifo me interessa.
Um rosto que trabalhou tão próximo à pedra, já é a própria pedra!
Eu vejo aquele homem descendo com um passo muito medido, em direção ao tormento que ele sabe que nunca terá fim. Aquela hora, que é como um momento de respiração, que sempre voltará assim como seu sofrimento; é a hora da consciência. Em cada um destes momentos, quando ele deixa as alturas e gradualmente mergulha no covil dos deuses, ele é superior ao seu destino. Ele é mais forte do que sua pedra. Se este mito é trágico, é porquê seu herói é consciente. Onde estaria realmente sua tortura se a cada passo a esperança de prosperar o sustentasse ? O trabalhador de hoje trabalha todos os dias de sua vida nas mesmas tarefas, e seu destino não é menos absurdo. Mas é trágico apenas nos raros momentos em que ele toma consciência. Sísifo, proletário dos deuses, impotente e rebelde, sabe a total extensão de sua miserável condição: é nisso que ele pensa durante sua descida. A lucidez que deveria constituir sua tortura ao mesmo tempo coroa sua vitória. Não há destino que não possa ser superado pelo desprezo. Se desta maneira, a descida é realizada às vezes com tristeza, também pode ser realizada com alegria. Esta palavra não é exagerada. Novamente, eu imagino Sísifo retornando em direção à sua rocha; o sofrimento estava no início. Quando as imagens da Terra aderem-se com muita força à memória, quando o chamado da felicidade torna-se muito insistente, acontece da melancolia aparecer no coração do homem: esta é a vitória da rocha, esta é a própria rocha. O sofrimento sem limites é muito pesado para se suportar. Estas são nossas noites de Gethsêmane. Mas verdades esmagadoras perecem quando tornam-se conhecidas. Assim, Édipo no início obedece ao destino sem saber dele. Mas a partir do momento em que ele sabe, sua tragédia inicia. Mas, ao mesmo tempo, cego e desesperado, ele percebe que a única ligação que o une ao mundo é a fresca mão de uma moça. Então uma tremenda observação soa: "A despeito de tantas experiências difíceis, minha idade avançada e a nobreza da minha alma me fazem concluir que está tudo bem". O Édipo de Sófocles, assim como o Kirilov de Dostoievsky, desta forma dão a receita para a vitória absurda. A sabedoria antiga confirma o heroísmo moderno. Não se descobre o absurdo sem ser tentado a escrever um manual sobre a felicidade. "O que ? --- Por estes estreitos caminhos ? --- " Não há um só mundo, de qualquer maneira. Felicidade e absurdo são dois filhos da mesma Terra. Eles são inseparáveis. Seria um erro dizer que a felicidade nasce necessariamente do descobrimento do absurdo. O mesmo quanto ao sentimento do absurdo nascer da felicidade. "Eu concluo que está tudo bem", diz Édipo, e esta observação é sagrada. Ela ecoa no universo selvagem e limitado do homem. Ela ensina que tudo não foi e nem está esgotado. Ela expulsa deste mundo um deus que veio a ele com descontentamento e com uma preferência pelo sofrimento inútil. Ela faz do destino uma questão humana, que deve ser resolvida entre os homens. Toda a alegria silenciosa de Sísifo está contida nisto. Seu destino pertence a ele. Sua rocha é algo semelhante ao homem absurdo quando contempla seu tormento; silencia todos os ídolos. No universo subitamente devolvido ao seu silêncio as pequenas vozes extremamente fascinantes do mundo elevam-se. A inconsciência, os chamados secretos, os convites de todos os aspectos, eles são o reverso necessário e o preço da vitória. Não há sol sem sombra, e é essencial conhecer a noite. O homem absurdo diz sim e seus esforços doravante serão incessantes. Se há um destino pessoal, não há um destino superior, ou há, mas um que ele conclui que é inevitável e desprezível. Para o restante, ele reconhece a si mesmo como o mestre de seus dias. No momento sutil quando o homem dá uma olhada para trás em sua vida, Sísifo retornando à sua pedra, neste modesto giro, ele contempla aquela série de ações não relacionadas que formam o seu destino, criado por ele, combinados e sujeitos ao olhar de sua memória e logo selados por sua morte. Assim, convencido da origem totalmente humana de tudo o que é humano, o homem cego, ansioso para ver, que sabe que a noite não tem fim, este homem permanece em movimento. A rocha ainda está rolando.
Eu deixo Sísifo no pé da montanha! Sempre se acha sua carga novamente. Mas Sísifo ensina a mais alta honestidade, que nega os deuses e ergue rochas. Ele também conclui que está tudo bem. O universo, de agora em diante sem um mestre, não parece a ele nem estéril nem inútil. Cada átomo daquela pedra, cada lasca mineral daquela montanha repleta de noite, em si próprio forma um mundo. A própria luta em direção às alturas é suficiente para preencher o coração de um homem.
Deve-se imaginar Sísifo feliz.
2006-09-02 09:18:09
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answer #1
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answered by Daniel 6
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