Lutero se irritava com o aspecto comercial e, em seu ponto vista ilógico, absurdo, da Igreja no sentido de se vender a paz de espírito e um lugar no Céu através das "Cartas de Indugência", vendas essas que financiavam a construção da Igreja de São Pedro, em Roma, e enriqueciam o clero.
Em 1517, Lutero não aguentava mais este comércio e quis provocar um debate público sobre a venda de indulgências promovidas pelo Papa Leão X e o arcebispo Alberto de Mogúncia através da Ordem dos Dominicanos. Quando pregou à porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, em 31 de outubro de 1517, o pergaminho com as 95 teses em latim para serem debatidas entre os acadêmicos, conforme o costume da época, Lutero estava ainda longe de acreditar que seu ato iria desencadear um movimento revolucionário na história da igreja. El era apenas o pároco que, preocupado, via como as almas dos fiéis eram desnorteadas por um grande escândalo, descaradamente apregoado em nome da santa Igreja: a venda do perdão de Deus, como se fosse mercadoria, por meio de cartas de indulgência. Estas são algumas das teses apresentadas por Lutero: - Dizendo nosso Senhor e Mestre Jesus Cristo: Arrependei-vos... etc., pretendia falar da vida interior do cristão que deveria ser um contínuo e ininterrupto arrependimento (Tese I) - Pregam futilidades humanas quantos alegam que no momento em que a moeda soa ao cair na caixa a alma se vai do purgatório (Tese 27) - Todo o cristão que se arrepende verdadeiramente dos seus pecados e sente pesar por ter pecado, tem pleno perdão da pena e da dívida, perdão esse que lhe
pertence mesmo sem compra de indulgência (Tese 36) - Esperar ser salvo mediante breves de indulgência é vaidade e mentira, mesmo se o comissário de indulgências e o próprio papa oferecessem sua alma como
garantia (Tese 52).
A Reação de Roma, como era de se esperar, foi violenta. Lutero foi chamado para responder processo em Roma, dentro de sessenta dias. Mas, por interferência de Frederico, o Sábio, Príncipe da Saxônia, o Papa consentiu que a questão fosse tratada em Augsburgo, pelo Cardeal Cajetano. Este exigia simplesmente que Lutero se retratasse, o que este, naturalmente, não fez. Tinha Lutero nessa época o apoio do capítulo da Ordem dos Agostinhos e do corpo docente da Universidade de Wittenberg. A Alemanha, enfim, tinha toda uma percepção ética que apoiava a maior parte das teses de Lutero afixadas em Wittenberg.
O Papa temia, com razão, que este moviemento viesse a construir uma oposição cerrada contra Roma entre os príncipes alemães. Era necessário usar alguma tática que lhe permitiesse resolver a questão sem ferir a vaidade dos políticos envolvidos. Assim, espertamente, condecorou o protetor de Lutero, Frederico, o Sábio, com a "Ordem da Rosa Áurea da Virtude" e enviou o conselheiro Karl von Miltitz que conseguiu que Lutero escrevesse uma carta ao papa, declarando sua fiel submissão; mas reafirmou, também, sua doutrina da justificação pela fé somente, sem os méritos de obras (um dos pontos de sua doutrina que eu mesmo acho exagerado). Expôs e defendeu sua posição num debate com o Dr. João Eck em Leipzig. O que precipitou o rumo das coisas foi sua declaração de que nem todas as doutrinas de João Huss (queimado como herege em Constança, em 1415) eram falsas, e que os concílios são passíveis de erros em suas decisões. Isto o colocou à margem da igreja papal, que se fundamentava sobre a infalibilidade do papa e dos concílios.
A resposta do Papa foi a bula de excomunhão Exsurge Domine. Ela ainda dava 60 dias para Lutero retratar-se do que havia escrito e ensinado. Lutero, apesar da angústia, manteve-se firme e, em 03 de janeiro de 1521, esgotou-se o prazo dado na bula, sendo então proferido o anátema definitivo, pela bula Decet Romanum Pontificem.
Em 1521 houve a primeira Assembléia do Sacro Império, presidida pelo jovem imperador Carlos V, eleito em 1520, em sucessão a Maximiliano, para dirigir o reino "em que o sol não se punha". Lutero, intimado, compareceu diante da assembléia em de abril de 1521. Perguntado se renunciava ao que tinha escrito, respondeu: "Não posso, nem quero retratar-me, a menos que seja convencido do erro por meio da palavra bíblica ou por outros argumentos claros. Aqui estou; não posso de outra maneira! Que Deus me ajude. Amém".
Proscrito pelo imperador, Lutero corria sério risco de vida, mas foi posto em segurança pelo duque Frederico, através de um seqüestro simulado durante sua viagem de retomo, e escondido no Castelo de Wartburgo, nas proximidades de Eisenach. Sua principal realização nesse período foi a tradução do Novo Testamento grego para um alemão fluente de grande aceitação popular. Segundo cosnta, os primeiros 5 mil exemplares esgotaram-se em 3 meses. Em cerca de dez anos houve 58 edições. Em 1522, ainda com risco de vida, reassumiu as funções de professor em Wittenberg. Juntamente com Felipe Melanchthon cognominado Praeceptor Germaniae - educador da Alemanha), seu grande amigo e colaborador, instruiu centenas de estudantes alemães, boêmios, poloneses, finlandeses, escandinavos. Por esta época também estabeleceu o catecismo básico luterano e os rituais da Igreja, muitos foram adaptações do ritual romano. Em vários pontos, Lutero apenas fez o que se propôs, reformou a Igreja de modo a que se fizesse mais transparente à mensagem do Cristo, mantendo os ritos e símbolos que ajudavam a meditação dos fieis e estimulavam uma interiorização da alma. Assim, a comunhão era feita realmente com pão comum e vinho. Os vitrais permaneceram e, com excessão do crucifixo, a adoção de outras imagens era facultativa. A arte era exaltada, em especial a música (lutero mesmo era bom compositor e deixou vários belíssimos hinos) e era dado muita ênfase à educação intelectual dos fieis, em especial por meio da Teologia, Filosofia e Ciências. Apesar de haver pessoas com a função de conduzir os cultos e reuniões da assembléia, Lutero afirmava que todos tinham igual capacidade do entendimento íntimo de Deus e seus desígnios e cada um é responsável por seus atos, conforme a sua consciência. Sua posição firme e coerente lhe granjeou grande estima e em 1555, 9 anos após sua morte, a Paz de Augsburgo atendeu, de certa forma, aos reclamos dos evangélicos. Os príncipes e cidadãos do império respeitariam a filiaçao religiosa de cada um, e o povo teria a opção de adotar a confissão religiosa do respectivo domínio ou de emigrar a território que tivesse a confissão desejada.
Martinho Lutero faleceu aos 62 anos de idade, em 18 de fevereiro de 1546, em sua cidade natal, Eisleben, depois de solucionar um litígio entre os condes de Mansfeld. Com grande cortejo fúnebre e ao som de todos os sinos, Lutero foi sepultado sob as lajes da igreja do Castelo de Wittenberg, onde sempre pregava o evangelho e deu início ao processo de liberdade religiosa que iria abraçar todo o mundo.
2006-08-26 21:06:31
·
answer #6
·
answered by Tsunami 5
·
0⤊
2⤋