PEDINDO UMA PIZZA EM 2009
Telefonista: Pizza Hot, boa noite!
Cliente: Boa noite, quero encomendar pizzas...
Telefonista: Pode me dar o seu NIDN?
Cliente: Sim, o meu número de identificação nacional
É 6102-1993-8456-54632107.
Telefonista: Obrigada, Sr.Lacerda. Seu endereço é Av. Paes de Barros, 19
88 ap. 2 B, e o número de seu telefone é 5494-2366, certo? O telefone do seu escritório da Lincoln Seguros é o 5745-2302 e o seu celular é
9266-2566.
Cliente: Como você conseguiu essas informações todas?
Telefonista: Nós estamos ligados em rede ao Grande Sistema Central.
Cliente: Ah, sim, é verdade! Eu queria encomendar duas pizzas,
uma quatro queijos e outra calabresa...
Telefonista: Talvez não seja uma boa idéia...
Cliente: O quê?
Telefonista: Consta na sua ficha médica que o Sr. sofre de hipertensão
e tem a taxa de colesterol muito alta. Além disso, o seu seguro de
vida proíbe categoricamente escolhas perigosas para a sua saúde.
Cliente: É, você tem razão!! O que você sugere?
Telefonista: Por que o Sr. não experimenta a nossa pizza
Superlight, com tofu e rabanetes? O Senhor vai adorar!
Cliente: Como é que você sabe que vou adorar?
Telefonista: O Sr. consultou o site "Recettes Gourmandes au Soja"
da Biblioteca Municipal, dia 15 de janeiro, às 14:27h, onde permaneceu
ligado à rede durante 39 minutos. Daí a minha sugestão...
Cliente: OK, está bem! Mande-me duas pizzas tamanho família!
Telefonista: É a escolha certa para o Sr., sua esposa e seus 4 filhos,
Pode ter certeza.
Cliente: Quanto é?
Telefonista: São R$49,99.
Cliente: Você quer o número do meu cartão de crédito?
Telefonista: Lamento, mas o Sr. vai ter que pagar em dinheiro. O
limite do seu cartão de crédito já foi ultrapassado.
Cliente: Tudo bem, eu posso ir ao Multibanco sacar dinheiro antes
que chegue a pizza.
Telefonista: Duvido que consiga, o Sr. está com o saldo negativo no banco.
Cliente: Meta-se com a sua vida! Mande-me as pizzas que eu arranjo
o dinheiro. Quando é que entregam?
Telefonista: Estamos um pouco atrasados, serão entregues em 45 minutos.
Se o Sr. estiver com muita pressa pode vir buscá-las, se bem que
transportar
duas pizzas na moto não é aconselhável, além de ser perigoso...
Cliente: Mas que história é essa, como é que você sabe que eu vou de
moto?
Telefonista: Peço desculpas, mas reparei aqui que o Sr. não pagou as
Últimas prestações do carro e ele foi penhorado. Mas a sua moto está
paga, e então pensei que fosse utilizá-la.
Cliente: @#%/§@&?#§/%#!!!!!!!!!!!!!
Telefonista: Gostaria de pedir ao Sr. para não me insultar... não
se esqueça de que o Sr. já foi condenado em julho de 2006 por desacato
em público a um Agente Regional.
Cliente: (Silêncio)
Telefonista: Mais alguma coisa?
Cliente: Não, é só isso... não, espere... não se esqueça dos 2 litros
de Coca-Cola que constam na promoção.
Telefonista: Senhor, o regulamento da nossa promoção, conforme citado
no artigo 3095423/12, nos proíbe de vender bebidas com açúcar a pessoas diabéticas...
Cliente: Aaaaaaaahhhhhhhh!!!!!!!!!!! Vou me atirar pela janela!!!!!
Telefonista: E machucar o joelho? O Sr. mora no andar térreo!
Luiz Fernando Veríssimo
2006-08-26 05:27:16
·
answer #1
·
answered by Marcelo 3
·
0⤊
0⤋
Chorei de tanto rir quando li essa crônica.
O que é Páscoa?
- Papai, o que é Páscoa?
- Ora, Páscoa é...bem...é uma festa religiosa!
- Igual Natal?
- É parecido. Só que no Natal comemora-se o nascimento de Jesus,
e na Páscoa, se não me engano, comemora-se a sua ressurreição.
- Ressurreição?
- É, ressurreição. Marta vem cá!
- Sim?
- Explica pra esse garoto o que é ressurreição pra eu poder ler o meu jornal.
- Bom, meu filho, ressurreição é tornar a viver após ter morrido.
Foi o que aconteceu com Jesus, três dias depois de ter sido crucificado.
Ele ressuscitou e subiu aos céus. Entendeu?
- Mais ou menos...Mamãe, Jesus era um coelho?
- Que é isso menino? Não me fale uma bobagem dessas!
Coelho! Jesus Cristo é o Papai do Céu!
Nem parece que esse menino foi batizado!
Jorge, esse menino não pode crescer desse jeito, sem ir
numa missa pelo menos aos domingos.
Até parece que não lhe demos uma educação cristã!
Já pensou se ele solta uma besteira dessas na escola?
Deus me perdoe!
- Mamãe, mas o Papai do Céu não é Deus?
- É filho, Jesus e Deus são a mesma coisa.
Você vai estudar isso no catecismo.
É a Trindade. Deus é Pai, Filho e Espírito Santo.
- O Espírito Santo também é Deus?
- É sim.
- E Minas Gerais?
- Sacrilégio!!!
- É por isso que a Ilha da Trindade fica perto do Espírito Santo?
- Não é o Estado do Espírito Santo que compõe a Trindade,
meu filho, é o Espírito Santo de Deus.
É um negócio meio complicado, nem a mamãe entende direito.
Mas quando você for ao catecismo a professora explica tudinho!
- Então como você acredita em algo que você não entende ?
Bom, se Jesus não é um coelho, quem é o coelho da Páscoa?
- Eu sei lá ! É uma tradição. É igual a Papai Noel,
só que ao invés de presente ele traz ovinhos.
- Coelho bota ovo?
- Chega! Deixa eu ir fazer o almoço que eu ganho mais!
- Papai, não era melhor que fosse galinha da Páscoa?
- Era, era melhor, ou então urubu.
- Papai, Jesus nasceu no dia 25 de dezembro, né?
Que dia que ele morreu?
- Isso eu sei: na sexta-feira santa.
- Que dia e que mês?
- ??????? Sabe que eu nunca pensei nisso?
Eu só aprendi que ele morreu na Sexta-Feira Santa
e ressuscitou três dias depois, no Sábado de Aleluia.
- Um dia depois.
- Não, três dias.
- Então morreu na quarta-feira.
- Não, morreu na Sexta-Feira Santa...
ou terá sido na Quarta-Feira de cinzas?
Ah, garoto, vê se não me confunde!
Morreu na sexta mesmo e ressuscitou no sábado,
três dias depois! Como?
Pergunte à sua professora de catecismo!
- Papai, por que amarraram um monte de
bonecos de pano lá na rua?
- É que hoje é Sábado de Aleluia, e o pessoal vai fazer
a malhação do Judas.
Judas foi o apóstolo que traiu Jesus.
- O Judas traiu Jesus no sábado?
- Claro que não! Se ele morreu na sexta!!!
- Então por que eles não malham o Judas no dia certo?
- É, boa pergunta. Filho, atende o telefone pro papai.
Se for um tal de Rogério diz que eu saí.
- Alô, quem fala?
- Rogério Coelho Pascoal. Seu pai está?
- Não, foi comprar ovo de Páscoa. Ligue mais tarde, tchau.
Papai, qual era o sobrenome de Jesus?
- Cristo. Jesus Cristo.
- Só?
- Que eu saiba sim, por quê?
- Não sei não, mas tenho um palpite de que o nome dele era
Jesus Cristo Coelho.
Só assim esse negócio de coelho da Páscoa faz sentido,
não acha?
- Coitada!
- Coitada de quem?
- Da sua professora de catecismo!
2006-08-28 08:28:27
·
answer #2
·
answered by Marise Lopes 5
·
2⤊
0⤋
Ed Mort e o anjo barroco
Mort. Ed Mort. Detetive particular. Está na plaqueta. Durante meses ninguém entrara no meu escri - escritório é uma palavra grande demais para descrevê-lo - a não ser cobradores, que eram expulsos sob ameaças de morte ou coisa pior. De repente, começou o movimento. Entrava gente o dia inteiro. Gente diferente. Até as baratas* estranharam e fizeram bocas. Não levei muito tempo para saber o que tinha havido. Alguém trocou minha plaqueta com a da escola de cabeleireiros, ao lado. A escola de cabeleireiros passou o dia vazia. Voltaire, o ratão albino, que subloca um canto da minha sala, emigrou para lá. Quando recoloquei a plaqueta no lugar, Voltaire voltou. Ele gosta de sossego. Mort. Ed Mort. Está na plaqueta certa. Eu estava pensando no meu jantar da noite passada - isto é, em nada - quando ela entrou. Nem abri os olhos. Disse: "A escola de cabeleireiros é ao lado". Mas quando ela falou, abri os olhos depressa. Se sua voz pudesse ser engarrafada seria vendida como afrodisíaco. Ela não queria a escola de cabeleireiros.
- Preciso encontrar meu marido.
- Claro - disse eu. - Vá falando que eu tomo nota.
Meu bloco de notas fora levado pelas baratas. Uma ação de efeito psicológico. O bloco não lhes serviria para nada. Só queriam me desmoralizar. Peguei o cartão que um dos pretendentes a cabeleireiro deixara em em cima da minha mesa, com um olhar insinuante, no dia anterior. Tenho um certo charme rude, não nego. Sou violento. Sorrio para o lado. Uso costeletas. No cartão estava escrito Joli Decorações e um nome, Dorilei. Virei do outro lado. Comecei a escrever enquanto ela falava. A Bic era alugada.
- Não fui à polícia para evitar escândalo. Meu marido é de uma família conhecida. Isso não pode sair nos jornais.
Escrevi: "Linda. Linda !"
- Somos muito ricos. Meu marido vive de rendas. Desapareceu há uma semana.
Escrevi: "Se eu conseguir que ela prove o meu fettucine, está no papo". Ela disse:
- Ele saiu para devolver um anjo barroco a uma loja de decorações. Descobriu que o anjo era falso. A loja se chamava Joli Decorações.
Escrevi: "Epa!" Era o nome do cartão. Pedi para ela esperar e fui até a escola de cabeleireiros, ao lado. Dorilei estava tendo trabalho para dominar o boufant.
Recebeu-me com um sorriso brejeiro. Agarrei-o, com dificuldade, pela camiseta colant. A escola de cabeleireiros estava cheia. Houve gritos. Senti que alguém tentava me arranhar por trás. Dei-lhe um cotovelaço. Bateu no medalhão. Doeu, mas doeu mais nele. Com o rabo do olho vi que outro se aproximava aos pulos. Estava armado com um pente elétrico. Derrubei um secador de cabelo no seu caminho. Fiz Dorilei rodopiar e o usei como escudo, ameaçando quebrar os seus dois pulsos. Isto os deteve. Mandei Dorilei falar, e depressa. Qual era a sua ligação com a Joli Decorações ?
- Trabalhei lá até ontem. Não pude continuar. O ambiente ! Por isso vim aprender a ser cabeleireiro.
O dono da Joli Decorações tinha se metido numa encrenca. Vendera um anjo barroco falso a um ricaço. O ricaço ameaçara denunciá-lo. Tinham se trancado no escritório de Randal, o dono, durante horas. Uma briga feia. No fim, saíram do escritório e da loja.
- Os dois juntos ?
- Juntinhos.
Randal tinha um sítio em Teresópolis. O endereço foi a última informação que tirei de Dorilei, antes de atirá-lo contra a parede. Saí sob vaias. Gente intolerante. Mort. Ed Mort. Está na plaqueta.
Um detetive particular deve ter o poder da dedução. Deve procurar pistas e segui-las, não importa o risco. Mas às vezes a coincidência ajuda. Disse para ela que sabia onde procurar seu marido. Ela se atirou nos meus braços. As baratas, revoltadas, fizeram uma pequena dança de protesto. Voltaire nem olhou. Ela insistiu em ir comigo para Teresópolis. Iríamos no seu carro. O meu estava num estacionamento e eu não tinha dinheiro para pagar a estada. Três anos. Eu às vezes ia visitá-lo e chutar os pneus. Sou assim. Sentimental. Sei lá.
No caminho para Teresópolis, discutimos o caso. O marido poderia ter sido seqüestrado. Ou então - foi ela mesmo quem disse - eliminado, para não contar o que sabia sobre o anjo barroco. Talvez existisse uma quadrilha de falsificadores de anjos. Como o marido era bem relacionado no meio de compradores de antigüidades, uma palavra sua podia arruinar os falsificadores. Sugeri que avisássemos à polícia. Ela disse que confiava em mim. Perguntou se eu estava armado. Respondi que sim. Meu 38 estava empenhado, mas canivete também é arma. Pensei: se eu morrer por ela, ela será minha devedora. Mas eu não estarei aqui para cobrar. Sorri com o lado da boca que ela podia ver, mas o outro lado pendeu de preocupação. Paradoxo. Perigo. Mamãe disse que eu devia estudar contabilidade.
Não foi preciso chegar até a casa. De uma colina, avistamos o jardim. Randal e o marido dela caminhavam entre os canteiros floridos. Estavam de mãos dadas.
Na volta ao Rio, ela não disse nada. Pensei em convidá-la a deixar aquela vida - apartamento na Vieira Souto, empregados, iates, viagens à Europa, aquela sujeira - e se juntar a mim. Meu fettucine com vinho Boca Negra a faria esquecer tudo. Tenho tudo que o Agnaldo Timóteo já gravou e ainda vou comprar uma eletróla. Perguntei se ela abandonaria o marido. Ela riu e perguntou se eu estava doido. Deixou-me na galeria. Esqueci de cobrar pelo trabalho.
O escri estava todo revirado. Frases escritas a batom nas paredes. A vingança dos cabeleireiros. As baratas só esperavam para ver a minha cara. Voltaire mudou-se para a loja de carimbos. Mort. Ed Mort. Estava na plaqueta, mas o Dorilei atirou no chão e sapateou em cima.
2006-08-26 01:10:46
·
answer #3
·
answered by Anonymous
·
2⤊
0⤋
deve ter acontecido com você.
- Não está se lembrando de mim?
Você não está se lembrando dele. Procura, freneticamente, em todas as fichas armazenadas na memória o rosto dele e o nome correspondente, e não encontra. E não há tempo para procurar no arquivo desativado. Ele está ali, na sua frente, sorrindo, os olhos iluminados, antecipando a sua resposta. Lembra ou não lembra?
Neste ponto, você tem uma escolha. Há três caminhos a seguir.
Um, o curto, grosso e sincero.
- Não.
Você não está se lembrando dele e não tem por que esconder isso. O “Não” seco pode até insinuar uma reprimenda à pergunta. Não se faz uma pergunta assim, potencialmente embaraçosa, a ninguém, meu caro. Pelo menos não entre pessoas educadas. Você devia ter vergonha. Não me lembro de você e mesmo que lembrasse não diria. Passe bem.
Outro caminho, menos honesto mas igualmente razoável, é o da dissimulação.
- Não me diga. Você é o... o...
“Não me diga”, no caso, quer dizer “Me diga, me diga”. Você conta com a piedade dele e sabe que cedo ou tarde ele se identificará, para acabar com a sua agonia. Ou você pode dizer algo como:
- Desculpe deve ser a velhice, mas...
Este também é um apelo à piedade. Significa “Não torture um pobre desmemoriado, diga logo quem você é!” É uma maneira simpática de dizer que você não tem a menor idéia de quem ele é, mas que isso não se deve à insignificância dele e sim a uma deficiência de neurônios sua.
E há o terceiro caminho. O menos racional e recomendável. O que leva à tragédia e à ruína. E o que, naturalmente, você escolhe.
- Claro que estou me lembrando de você!
Você não quer magoá-lo, é isso. Há provas estatísticas que o desejo de não magoar os outros está na origem da maioria dos desastres sociais, mas você não quer que ele pense que passou pela sua vida sem deixar um vestígio sequer. E, mesmo, depois de dizer a frase não há como recuar. Você pulou no abismo. Seja o que Deus quiser. Você ainda arremata:
- Há quanto tempo!
Agora tudo dependerá da reação dele. Se for um calhorda, ele o desafiará.
- Então me diga quem eu sou.
Neste caso você não tem outra saída senão simular um ataque cardíaco e esperar, falsamente desacordado, que a ambulância venha salvá-lo. Mas ele pode ser misericordioso e dizer apenas:
- Pois é.
Ou:
- Bota tempo nisso.
Você ganhou tempo para pesquisar melhor a memória. Quem é esse cara, meu Deus? Enquanto resgata caixotes com fichas antigas do meio da poeira e das teias de aranha do fundo do cérebro, o mantém à distância com frases neutras como “jabs” verbais.
- Como cê tem passado?
- Bem, bem.
- Parece mentira.
- Puxa.
(Um colega da escola. Do serviço militar. Será um parente? Quem é esse cara, meu Deus?)
Ele está falando:
- Pensei que você não fosse me reconhecer...
- O que é isso?!
- Não, porque a gente às vezes se decepciona com as pessoas.
- E eu ia esquecer você? Logo você?
- As pessoas mudam. Sei lá.
- Que idéia!
(É o Ademar! Não, o Ademar já morreu. Você foi ao enterro dele. O... o... como era o nome dele? Tinha uma perna mecânica. Rezende! Mas como saber se ele tem uma perna mecânica? Você pode chutá-lo, amigavelmente. E se chutar a perna boa? Chuta as duas. “Que bom encontrar você!” e paf, chuta uma perna. “Que saudade!” e paf, chuta a outra. Quem é esse cara?)
- É incrível como a gente perde contato.
- É mesmo.
Uma tentativa. É um lance arriscado, mas nesses momentos deve-se ser audacioso.
- Cê tem visto alguém da velha turma?
- Só o Pontes.
- Velho Pontes!
(Pontes. Você conhece algum Pontes? Pelo menos agora tem um nome com o qual trabalhar. Uma segunda ficha para localizar no sótão. Pontes, Pontes...)
- Lembra do Croarê?
- Claro!
- Esse eu também encontro, às vezes, no tiro ao alvo.
- Velho Croarê!
(Croarê. Tiro ao alvo. Você não conhece nenhum Croarê e nunca fez tiro ao alvo. É inútil. As pistas não estão ajudando. Você decide esquecer toda a cautela e partir para um lance decisivo. Um lance de desespero. O último, antes de apelar para o enfarte.)
- Rezende...
- Quem?
Não é ele. Pelo menos isso está esclarecido.
- Não tinha um Rezende na turma?
- Não me lembro.
- Devo estar confundindo.
Silêncio. Você sente que está prestes a ser desmascarado.
- Sabe que a Ritinha casou?
- Não!
- Casou.
- Com quem?
- Acho que você não conheceu. O Bituca.
Você abandonou todos os escrúpulos. Ao diabo com a cautela. Já que o vexame é inevitável, que ele seja total, arrasador. Você está tomado por uma espécie de euforia terminal. De delírio do abismo. Como que não conhece o Bituca?
- Claro que conheci! Velho Bituca...
- Pois casaram...
É a sua chance. É a saída. Você passa ao ataque.
- E não me avisaram nada?!
- Bem...
- Não. Espera um pouquinho. Todas essas coisas acontecendo, a Ritinha casando com o Bituca, o Croarê dando tiro, e ninguém me avisa nada?!
- É que a gente perdeu contato e...
- Mas o meu nome está na lista, meu querido. Era só dar um telefonema. Mandar um convite.
- É...
- E você ainda achava que eu não ia reconhecer você. Vocês é que esqueceram de mim!
- Desculpe, Edgar. É que...
- Não desculpo não. Você tem razão. As pessoas mudam...
(Edgar. Ele chamou você de Edgar. Você não se chama Edgar. Ele confundiu você com outro. Ele também não tem a mínima idéia de quem você é. O melhor é acabar logo com isso. Aproveitar que ele está na defensiva. Olhar o relógio e fazer cara de “Já?!”)
- Tenho que ir. Olha, foi bom ver você, viu?
- Certo, Edgar. E desculpe, hein?
- O que é isso? Precisamos nos ver mais seguido.
- Isso.
- Reunir a velha turma.
- Certo.
- E olha, quando falar com a Ritinha e o Mutuca...
- Bituca.
- E o Bituca, diz que eu mandei um beijo. Tchau, hein?
- Tchau, Edgar!
Ao se afastar, você ainda ouve, satisfeito, ele dizer “Grande Edgar”. Mas jura que é a última vez que fará isso. Na próxima vez que alguém lhe perguntar “Você está me reconhecendo?” não dirá nem não. Sairá correndo.
2006-08-26 01:36:42
·
answer #4
·
answered by paceyr 7
·
1⤊
0⤋
O quase
Ainda pior que a convicção do não é a incerteza do talvez, é a desilusão de um quase.
É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi.
Quem quase ganhou ainda joga, quem quase passou ainda estuda, quem quase morreu está vivo, quem quase amou não amou.
Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas chances que se perdem por medo, nas idéias que nunca sairão do papel por essa maldita mania de viver no outono.
Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna; ou melhor não me pergunto, contesto.
A resposta eu sei de cor, está estampada na distância e frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços, na indiferença dos "Bom dia", quase que sussurrados.
Sobra covardia e falta coragem até pra ser feliz.
A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai.
Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor, sentir o nada, mas não são.
Se a virtude estivesse mesmo no meio termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza.
O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si.
Não é que fé mova montanhas, nem que todas as estrelas estejam ao alcance, para as coisas que não podem ser mudadas resta-nos somente paciência porém, preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer.
Pros erros há perdão; pros fracassos, chance; pros amores impossíveis, tempo. De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma. Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance.
Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar.
Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando porque, embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu.
Estou para ganhar 10 pontos com a melhor resposta.
Não é quase, já é meu!
2006-08-26 01:22:31
·
answer #5
·
answered by Ronaldo 2
·
1⤊
0⤋
Hey! essa eu realmente adoro...ri muito..não foi simplesmente copiada e colada...a parte da ilha de páscoa então...kkkkk
Ressaca
Luís Fernando Veríssimo
Hoje, existem pílulas milagrosas, mas eu ainda sou do tempo das grandes ressacas. As bebedeiras de antigamente eram mais dignas, porque você as tomava sabendo que no dia seguinte estaria no inferno. Além de saúde era preciso coragem. As novas gerações não conhecem ressaca, o que talvez explique a falência dos velhos valores. A ressaca era a prova de que a retribuição divina existe e que nenhum prazer ficará sem castigo.
Cada porre era um desafio ao céu e às suas feras. E elas vinham: Náusea, Azia, Dor de Cabeça, Dúvidas Existenciais - golfadas. Hoje, as bebedeiras não têm a mesma grandeza. São inconseqüentes, literalmente. Não é que eu fosse um bêbado, mas me lembro de todos os sábados de minha adolescência como uma luta desigual entre a cuba-libre e o meu instinto de autopreservação. A cuba-libre ganhava sempre. Já dos domingos me lembro de muito pouco, salvo a tontura e o desejo de morte.
Jurava que nunca mais ia beber, mas, antes dos trinta, "nunca mais" dura pouco. Ou então o próximo sábado custava tanto a chegar que parecia mesmo uma eternidade. Não sei o que a cuba-libre fez com meu organismo, mas até hoje quando vejo uma garrafa de rum os dedos do meu pé encolhem.
Tentava-se de tudo para evitar a ressaca. Eu preferia um Alka-Seltzer e duas aspirinas antes de dormir. Mas no estado em que chegava nem sempre conseguia completar a operação. Às vezes dissolvia as aspirinas num copo de água, engolia o Alka-Seltzer e ia borbulhando para a cama, quando encontrava a cama. Mas os métodos variavam.
Por exemplo:
Um cálice de azeite antes de começar a beber - O estomago se revoltava, você ficava doente e desistia de beber.
Tomar um copo de água entre cada copo de bebida - O difícil era manter a regularidade. A certa altura, você começava a misturar a água com a bebida, e em proporções cada vez menores. Depois, passava a pedir um copo de outra bebida entre cada copo de bebida.
Suco de tomate, limão, molho inglês, sal e pimenta - Para ser tomado no dia seguinte, de jejum. Adicionando vodca ficava um bloody-mary, mas isto era para mais tarde um pouco.
Sumo de uma batata, sementes de girassol e folhas de gelatina verde dissolvidas em querosene - Misturava-se tudo num prato pirex forrado com velhos cartões do sabonete Eucalol. Embebia-se um algodão na testa e deitava-se com os pés da ilha de Páscoa. Ficava-se imóvel durante três dias, no fim dos quais o tempo já teria curado a ressaca de qualquer maneira.
Uma cerveja bem gelada na hora de acordar - Por alguma razão o método mais popular.
Canja - Acreditava-se que uma boa canja de galinha de madrugada resolveria qualquer problema. Era preciso especificar que a canja era para tomar. No entanto, muitos mergulhavam o rosto no prato e tinham de ser socorridos às pressas antes do afogamento.
Minha experiência maior era com a cuba-libre, mas conheço outros tipos de ressaca, pelo menos de ouvir falar. Você sabia que o uísque escocês que tomara na noite anterior era paraguaio quando acordava se sentindo como uma harpa guarani. Quando a bebedeira com uísque falsificado era muito grande, você acordava se sentindo como uma harpa guarani e no depósito de instrumentos da boate Catito's em Assunção.
A pior ressaca era de gim.
Na manhã seguinte, você não conseguia abrir os dois olhos ao mesmo tempo. Abria um e quando abria o outro, o primeiro se fechava. Ficava com o ouvido tão aguçado que ouvia até os sinos da catedral de São Pedro, em Roma.
Ressaca de martini doce: você ia se levantar da cama e escorria para o chão como óleo. Pior é que você chamava a sua mãe, ela entrava correndo no quarto, escorregava em você e deslocava a bacia.
Ressaca de vinho. Pior era a sede. Você se arrastava até a cozinha, tentava alcançar a garrafa de água e puxava todo o conteúdo da geladeira em cima de você. Era descoberto na manhã seguinte imobilizado por hortigranjeiros e laticínios e mastigando um chuchu para alcançar a umidade. Era deserdado na hora.
Ressaca de cachaça. Você acordava sem saber como, de pé num canto do quarto. Levava meia hora para chegar até a cama porque se esquecera como se caminhava: era pé ante pé ou mão ante mão? Quando conseguia se deitar, tinha a sensação que deixara as duas orelhas e uma clavícula no canto.
Olhava para cima e via que aquela mancha com uma forma vagamente humana no teto finalmente se definira. Era o Peter Pan e estava piscando para você.
Ressaca de licor de ovos. Um dos poucos casos em que a lei brasileira permite a eutanásia.
Ressaca de conhaque. Você acordava lúcido. Tinha, de repente, resposta para todos os enigmas do universo. A chave de tudo estava no seu cérebro. Devia ser por isso que aqueles homenzinhos estavam tentando arrombar a sua caixa craniana. Você sabia que era alucinação, mas por via das dúvidas, quando ouvia falar em dinamite, saltava da cama ligeiro.
Hoje não existe mais isto. As pessoas bebem, bebem e não acontece nada. No dia seguinte estão saudáveis, bem-dispostas e fazem até piadas a respeito.
De vez em quando alguns dos nossos se encontram e se saúdam em silêncio. Somos como veteranos de velhas guerras lembrando os companheiros caídos e o nosso heroísmo anônimo.
Estivemos no inferno e voltamos, inteiros.
Um brinde.
E um Engov.
2006-08-26 01:11:06
·
answer #6
·
answered by Anonymous
·
1⤊
0⤋
Quando a Comissária de Bordo desejou as boas vindas dos passageiros "em nome do Comandante Assis e da sua tripulação" ouviu-se uma voz que disse:
- Não. O Assis não!
Depois a mesma voz chamou uma das aeromoças
- Por favor?
- Sim? Em que posso ajudar?
- Não dá para trocar de vôo? Não quero ir neste.
- Infelizmente não vai ser possível, já iniciamos a descolagem.
- Putz...
O avião saiu do chão e a mesma voz disse:
- Foi-me calhar logo o Assis. LOGO O ASSIS!
Ninguém nunca soube se era uma brincadeira ou não. O facto é que foi um vôo tenso.
2006-08-26 02:11:52
·
answer #7
·
answered by Gibi 6
·
0⤊
1⤋
vou procurar e te mando por e-mail , pois no momento é impossível.
2006-08-26 02:07:44
·
answer #8
·
answered by Anonymous
·
0⤊
1⤋
mikey mouse
2006-08-26 01:14:04
·
answer #9
·
answered by LUIzão 2
·
0⤊
2⤋