Designa-se por Período helenístico (do grego hellenizein – "falar grego", "viver como os gregos") o período histórico que decorre entre a morte de Alexandre, o Grande em 323 a.C., e a conquista do Antigo Egipto em 30 a.C. pelos romanos. Caracteriza-se pela difusão da civilização grega numa vasta área que se estendia do Mediterrâneo oriental à Ásia Central. De modo geral, o helenismo foi a concretização de um ideal de Alexandre: o de levar e difundir a cultura grega aos territórios que conquistava. É neste período histórico que as ciências particulares têm seu primeiro e grande desenvolvimento. É o tempo de Euclides e Arquimedes. O helenismo também marca um período de transição para o apogeu e domínio de Roma.
Em 336 a.C., Alexandre, filho de Filipe II, tornou-se rei da Macedónia e dois anos depois senhor de toda a Grécia. Durante o seu curto reinado de treze anos (entre 336 e 323 a.C.), Alexandre realizou a conquista de territórios mais rápida e espectacular da Antiguidade. Procurando realizar o sonho do seu pai, Alexandre lança-se na conquista do Império Persa aqueménida de Dário III, que na época governava praticamente todo o Médio Oriente. Bastariam quatro anos e três batalhas (Granico, Issus e Gaugamela) para derrotar o soberano. Os três anos que se seguiram, até 327 a.C., foram dedicados à conquista das satrapias da Ásia Central; por volta de 325 a.C. Alexandre já se achava no Vale do Indo. Segundo o que se pensa, o macedónio pretendia ir até o Ganges, mas seus soldados recusaram-se a avançar mais, sendo Alexandre forçado a ordenar o regresso. Na Babilónia Alexandre tentou assegurar a viabilidade deste império, associando as antigas classes dirigentes do Império Aqueménida à estrutura governativa do seu império. Alexandre pretendia criar um grande estado multiétnico, onde a herança grega e macedónia coexistia com a herança persa e asiática. A morte prematura do rei, aos trinta e três anos, deu por terminado este original projecto, na época criticado por macedónios e gregos.
O período dos diádocos
A morte de Alexandre não deixou clara a questão da sua sucessão. Os generais de Alexandre Magno - os diádocos - disputam entre si a sucessão em lutas que se estendem durante quatro décadas (entre 323 a.C. e 280 a.C.).
Nestas lutas acabarão por se afirmar três generais de Alexandre: Lisímaco (c. 360-281 a.C.) que fica com a Macedónia, Grécia e parte da Ásia Menor, Seleuco (c. 358-281 a.C.) que domina a maior parte da Ásia e Ptolomeu (c. 367/366-283 a.C.) que se apodera do Egipto e da Líbia. Esta divisão estará na origem dos futuros reinos helenísticos. Ptolemeu, compreendendo que não será possível manter a unidade do império, concentra-se em consolidar o seu poder no Egipto. Contudo, a luta continua entre Lisímaco e Seleuco; o primeiro invade a Ásia em 281 a.C. sendo vencido e morto por Seleuco em Curupédio (Ásia Menor). Por sua vez Seleuco será assassinado por Ptolomeu Cerauco.
Por esta altura verifica-se também a invasão dos Gauleses, que contribuirá para acentuar o caos. Em 277 a.C. estes são derrotados em Lisimaquia. O perigo que a invasão representava faz com que Antígono Gónatas (neto de um dos generais de Alexandre) e Antíoco (filho de Seleuco) estabeleçam um pacto através do qual cada um se comprometia a não se involver na área de influência do outro. Por volta de 270 a.C., a tríplice divisão do império é aceite de forma definitiva: os Ptolomeus governam o Egipto (dinastia dos Lágidas), Antíoco fica com a Síria e a Pérsia (dinastia dos Selêucidas) e Gonátas domina as regiões européias (dinastia dos Antígonas). O reino dos Selêucidas, devido à sua grande extensão territorial, revela-se fraco e em pouco tempo fica reduzido à região da Síria. A partir deste reino nascerá outro, o reino de Pérgamo, cujo governador, Êumenes (263-241 a.C.) derrota Antioco I em Sardes no ano de 262 a.C., obrigando-o desta forma a reconhecer a sua indepedência. O sucessor de Êumenes, Átalo (241-197 a.C.), derrota os Gauleses (ou Gálatas, como eram denominados pelos autores gregos estes descendentes dos Gauleses que se tinham fixado na Ásia Menor), atribui-se o título de rei e expande o seu território na Ásia Menor à custa dos Selêucidas.
Os reinos helenísticos acabarão por ser progressivamente integrados no Império Romano, seja através da conquista ou por doação. Pérgamo torna-se em 200 a.C. o primeiro aliado dos Romanos na Ásia e quando o rei Átalo III morre em 133 a.C. o reino é integrado no Império Romano, segundo a vontade expressa no testamento real. A Macedónia dos Antígonas torna-se uma província romana em 146 a.C.., enquanto que Selêucidas, que já tinham perdido a sua importância política por volta de 160 a.C., foram absorvidos por Roma em 64 a.C.. Por último, os Ptolomeus do Egipto são derrotados na Batalha de Ácio em 31 a.C. e no ano seguinte o Egipto transformou-se numa província romana.
A ciência na era helenística
A ciência alcançou um grande desenvolvimento no período helenístico, não sendo ultrapassada nas suas realizações durantes muitos séculos. Na medicina, destacaram-se Herófilo e Erasístrato, que viveram em Alexandria na primeira metade do século III a.C.. Herófilo, considerado o fundador da anatomia, recusava-se a aceitar os dogmas estabelecidos, atribuindo maior importância à observação direta. Fez estudos importantes no campo da frenologia, tendo feito a distinção entre cérebro e cerebelo. Descreveu também o duodeno, o pâncreas e a próstata e descobriu o ritmo do pulso, apresentando lei matemática para a sístole e a diástole. Erasístrato, considerado o iniciador da fisiologia, salientou-se pelo estudo dos vasos sanguíneos e da circulação do sangue. Descreveu também os pulmões. Na matemática, Euclides de Alexandria, autor de Elementos, lançou nesta obra as bases da geometria como ciência. Apolónio de Perga estuda as secções cónicas. Mas o maior matemático foi Arquimedes de Siracusa (c.287-212 a.C.) que inventou o cálculo integral e descobre a lei da impulsão, tendo realizado também algumas invenções (planetário, bomba aspirante). Na astronomia, Aristarco de Samos (c.310-230 a.C.) defende que o Sol é o centro do sistema planetário (heliocentrismo), teoria que gerou polémica na época e foi constestada por Arquimedes e Hiparco de Niceia. Este último foi responsável pela atribuição ao ano solar da duração de 365 dias, 5 horas, 55 minutos e 12 segundos, um cálculo errado apenas por 6 minutos e 26 segundos. Eratóstenes de Cirene (c.275-194 a.C.) descreve a Via Láctea e organiza a geografia como ciência.
Arte
A arte helenística encontra-se ao serviço dos soberanos e das classes sociais mais ricas, apresentando inovações técnicas e temáticas. Na arquitectura detecta-se uma influência oriental, presente no aparecimento do arco e da abóboda. Vulgariza-se o uso do capitel coríntio (templo de Zeus Olímpico em Atenas). Os grandes edifícios da era são de natureza secular (teatros, estádios).
Pérgamo foi um dos principais centro de produção escultórica. O patético e o teatral estão patentes em obras como Laocoonte, ao mesmo tempo que se nota um revivalismo do idealismo clássico (Vénus de Milo, Vitória de Samotrácia). Como novidades surge a representação da infância, da velhice, da dor, da ira, das diferenças raciais. Outro aspecto explorado nesta era foi a representação de alegorias, como a Tyche de Eutíquides, personificação da cidade síria de Antioquia. A pintura perdeu-se quase na totalidade, sendo apenas certo que neste período começa a representar-se as paisagens.
Arte helenística é o termo aplicado à arte e arquitetura gregas ou de inspiração grega a partir do final do século IV até o final do século I a.C. No período helenístico, quando a civilização grega espalhou-se através do Mediterrâneo e Oriente Próximo, algumas obras, como a Vênus de Milo (150 a.C.), preservaram as antigas tradições. A Vitória de Samotrácia (200 a.C.) é grandiosa na percepção e cheia de vida. Um sentimento pleno de emoção e movimento aparece na batalha dos deuses e gigantes no grande altar de Zeus, em Pérgamo (século III a.C.), hoje em Berlim, e no grupo de Laocoonte, bem mais tardio, no Vaticano.
A pintura do período helenístico é bem conhecida a partir dos túmulos do sul da Rússia, Macedônia e Alexandria, bem como através de cópias encontradas nos sítios arqueológicos de Herculano e Pompéia.
Filosofia
Para a filosofia, contudo, o helenismo marca o surgimento de um novo período: a filosofia helenística (cujo início é tradicionalmente associado com a morte de Alexandre, em 323 a.C.). As principais escolas filosóficas deste período são o Estoicismo, o Epicurismo, o Ceticismo e também o Cinismo. É nesse período do pensamento ocidental que a filosofia se expande da Grécia para outros centros como Roma e Alexandria.
Literatura
Parte considerável da literatura do período helenístico perdeu-se, restando muitos fragmentos de obras. Na poesia, destacam-se dois nomes: Calímaco (c.305-c.240 a.C.), autor de hinos, epigramas e de dois poemas épicos (Hécale e Aitia), e Teócrito (c.300-206 a.C.), criador do género pastoril (idílios). No teatro, surge a Comédia Nova, que retrata as paixões dos cidadãos comuns, fazendo uma crítica aos costumes. O principal representante desta nova tendência da comédia grega foi Menandro.
2006-08-22 09:39:28
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O Período helenístico normalmente é entendido como um momento de transição entre o esplendor da cultura grega e o desenvolvimento da cultura romana. Tal concepção está associada a uma visão eurocêntrica de cultura e portanto torna secundários os elementos de origem oriental, persa e egípcia, apesar de ter esses elementos como formadores da cultura helenística.
A Grécia viveu seu momento de maior esplendor cultural no século V a.C., particularmente a cidade de Atenas. Foi o Século de Ouro ou Século de Péricles. Época de apogeu da democracia, a cidade combinou guerra e desenvolvimento. Contraditoriamente esse século foi marcado por inúmeras guerras, que viram nascer e ruir o imperialismo de Atenas, Esparta e Tebas sucessivamente, esse último já no século IV a.C.
As constantes guerras que envolveram as cidades gregas foram responsáveis por grande mortalidade, gastos e destruição, enfraquecendo o "mundo grego" e conseqüentemente, facilitando as invasões estrangeiras. A conquista do território grego pelos macedônios combinou a decadência grega e a ascensão do Reino de Felipe II
A história não dá importância para o Reino da Macedônia. Formado a partir do século VIII a.C. ocupou principalmente as regiões de planícies ao norte da Grécia, vivendo principalmente da agricultura e pastoreio, uma vez que o controle ateniense das regiões costeiras forçou os governantes macedônios a se concentrarem na unificação dos planaltos e planícies da Macedônia, tarefa completada por Amintas III, que reinou de 389 a 369 a.C. os dez anos seguintes foram marcados por crises internas, com a rebelião da nobreza territorial contra o poder central.
Em 359 a.C., Filipe II sucedeu a Perdicas III no trono macedônio. Depois de restabelecer e até ampliar as fronteiras do país, consolidou-as mediante o estabelecimento de colônias e apoderou-se da região mineira de Pangeu, onde conseguiu o ouro necessário para cunhar sua própria moeda. Dessa maneira atraiu a nobreza e ao mesmo tempo organizou uma poderosa estrutura militar, responsável pela conquista dos territórios gregos, com a vitória na Batalha de Queronéia em 338 a.C. Felipe II foi assassinado no ano seguinte e o sucedeu seu filho, Alexandre III.
Alexandria, no Egito, com 500.000 habitantes, tornou-se a metrópole da civilização helenística. Foi um importante centro das artes e das letras, e a própria literatura grega tem uma fase chamada "alexandrina". Lá existiram as mais importantes instituições culturais da civilização helenística: o Museu, espécie de universidade de sábios, dotado de jardim botânico, zoológico e observatório astronômico; e a biblioteca, com 200.000 volumes, salas de copistas e oficinas para preparo do papiro.
Do ponto de vista cultural, o período compreendido entre 280 e 160 a.C. foi excepcional. Tiveram grande desenvolvimento a história, com Políbio; a matemática e a física, com Euclides, Eratóstenes e Arquimedes; a astronomia, com Aristarco, Hiparco, Seleuco e Heráclides; a geografia, com Posidônio; a medicina, com Herófilo e Erasístrato; e a gramática, com Dionísio Trácio. Na literatura, surgiu um poeta extraordinário, Teócrito, cujas poesias idílicas e bucólicas exerceram grande influência. O pensamento filosófico evoluiu para o individualismo moralista de epicuristas e estóicos, e as artes legaram à posteridade algumas das obras-primas da antigüidade, como a Vênus de Milo, a Vitória de Samotrácia e o grupo do Laoconte. À medida que o cristianismo avançava, a civilização helenística passou a representar o espírito pagão que resistia à nova religião. O espírito grego não desapareceu com a vitória dos valores cristãos; seria, doze séculos depois, uma das linhas de força do Renascimento.
2006-08-22 16:36:25
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answer #3
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answered by Anonymous
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