A melhor dica é:
Veja o Filme "A Noviça Rebelde"
Um pouco sobre a história:
Por princípio, a Arte imita a Vida, normalmente acrescentando cores mais ricas para que seja aceita melhor pelo público. O cinema sempre primou por essa agradável distorção da realidade. Algumas vezes porém, a Vida pode ser igualmente aventurosa e talvez até superar a versão que chega às telas. O mais singular exemplo é o de Georg e Maria Von Trapp, imortalizados nas telas pelo magnífico filme "A Noviça Rebelde".
O que tem de tão extraordinário neste filme produzido em 1965, que encanta todos os espectadores? História romântica, presença de crianças, uma trilha musical agradável, belas paisagens, será só isso? Não creio, existem muitos outros filmes com estes mesmos elementos que hoje amargam o esquecimento. Para entender o que torna "A Noviça Rebelde" tão especial, é melhor ir por partes...
Talvez o elemento que mais fascine as pessoas seja o fato de que quase tudo que é visto no filme, aconteceu de verdade. É fato que Maria, candidata a freira pouco ortodoxa, foi trabalhar como governanta na casa de Georg Von Trapp, viúvo e pai de sete filhos. Capitão reformado da marinha, Georg tenta reorganizar sua vida após a perda da primeira mulher. Ao conhecer Maria Kutscher, rompe o noivado com uma nobre vienense e casa-se com ela. Como está no filme, afronta o domínio nazista na Áustria e foge ao ser convocado para integrar a marinha alemã. Tudo isso está lindamente exposto no filme, personificado por Julie Andrews, Christopher Plummer e um grupo de talentosas crianças.
O que poucos sabem, e renderia até outros filmes, é que a vida dos Trapp sempre foi singular e aventureira, antes e depois do período retratado na fita. Durante a Primeira Guerra Mundial, o então tenente Von Trapp comandava um pequeno submarino da marinha do Império Austro-Hungaro. A precária embarcação ainda nos estágios experimentais, conduzia uma tripulação misturada com polacos, magiares, croatas, austríacos, tchecos e italianos. Ousadamente, Von Trapp conduz um ataque noturno e afunda o cruzador francês Leon Gambetta. Essa foi mais uma entre muitas ações heróicas que participou e liderou, desde o início da carreira militar durante a revolução na China. A brilhante carreira militar levou-o a receber a Cruz da Imperatriz Maria Tereza, a mais alta condecoração da Áustria em tempo de guerra, além do título de barão. Georg Von Trapp tinha na Áustria a imagem que Eisenhower viria a ter nos Estados Unidos.
Com a derrota na Primeira Guerra, o império Austro-Hungaro foi desfeito e a Áustria sem mar não precisava mais de Marinha. Georg sofreu muito com isto, mas dedicou-se então à sua família, formada por Agathe Whitehead, com quem se casara em 1910 e os sete filhos que vieram. Após a guerra, viveram tranqüilamente em Salzburgo, onde nasceu a sexta filha. Em 1922, uma epimedia de escarlatina arrebatou a região e os Trapp também foram afetados. Cuidando incansavelmente dos sete filhos doentes, Agathe também foi contaminada e faleceu devido à febre.
Desolado com a morte da companheira, Georg continuou sendo um pai extremado, aspecto que é relembrado pelos filhos ainda vivos. Diferentemente do que foi mostrado no filme, o patriarca da família costumava brincar com os filhos, incentiva a formação musical das crianças e a maior parte do tempo tomou conta da família sozinho. Em 1925, quando uma das filhas adoeceu, contratou uma noviça para tomar conta dela. A noviça era Maria Kutscher, de quem Georg se enamorou e foi correspondido. Casaram-se em 1927.
Maria também foi uma pessoa singular desde criança. Órfã de mãe aos dois anos, Maria foi criada por um primo de seu pai, num ambiente ateísta e socialista. Aos dezesseis anos, foi tocada pela pregação de um famoso pregador, ao entrar por engano numa igreja. Resolvida a ser freira, entrou para um convento. Apesar de extremamente devotada à atividade religiosa, teve sua saúde afetada pelo isolamento do claustro. Por força do destino, foi tomar conta da filha doente do capitão Von Trapp. O resto está no filme.
Mas o que não consta na fita é que devido à quebradeira dos bancos austríacos em 1932, Georg Von Trapp perdeu toda a sua fortuna. Para sobreviver, a casa foi transformada em pousada e todos os filhos tiveram que trabalhar para contribuir para o sustento da família. Nesse mesmo período, uma influência importante do pároco local, o padre Wasner, que ajudou a família a aprimorar os dotes musicais. Antes mesmo da chegada de Maria, Georg incentivava os filhos a cantar, e foi graças à sua fama pessoal que muitas portas foram abertas depois que o grupo começou a atuar profissionalmente.
Nessa época, acontecia a crescente influência do nazismo na Alemanha. Enquanto que muitos outros cidadãos importantes da Áustria aplaudiam e cooptavam para unir-se ao vizinho país, Georg era um dos poucos a levantar a voz contra o movimento. Em 1938 acontece a Anschluss, a anexação da Áustria pela Alemanha. Mantendo sua firme posição anti-nazista, Von Trapp não se solidariza com o novo poder. Recusa-se a hastear a bandeira com a suástica em sua casa, recusa-se a cantar no aniversário de Hitler, representando a Áustria e por fim, recusa um posto de comando da base de submarinos de Bremerhaven da marinha alemã. Essa talvez tenha sido a mais difícil renúncia para Georg, que amara a marinha e os submarinos mais que tudo.
Numa posição insustentável, Georg reuniu a família e mostrou a situação com clareza. Não havia outra saída a não ser deixar a Áustria e tudo o que haviam conquistado. Praticamente com a roupa do corpo, os Trapp e o padre Wasner tomaram um trem para a Itália, com a desculpa de excursionar para apresentações musicais. No dia seguinte à sua partida, as fronteiras foram fechadas.
Em 1938, a família Von Trapp chegou à América. Nos dezoito anos seguintes, o grupo Trapp Family Music percorreu os Estados Unidos num ônibus, enfrentando muitas dificuldades e privações. Contudo, o espírito de solidariedade e amor familiar conseguiu ajudá-los sempre. A fazenda que compraram para morar em Vermont, também foi utilizada como hotel para turistas e isso foi o alicerce dos negócios da família no ramo de hotelaria.
Georg Von Trapp morreu em 1949. Herói de guerra, nacionalista apaixonado, observador atento da política e acima de tudo o bastião da família presente em todos os momentos difíceis. Em 1949, sua mulher publica o livro The Story of the Trapp Family Singers, onde é narrada toda a trajetória da família.
Da vida para o cinema levaram apenas alguns anos. Em 1956, o produtor alemão Wolfgang Reinhardt fez o filme "Die Trapp Familie" que foi um tremendo sucesso na Alemanha. Houve uma seqüência, "Die Trapp Familie in Amerika" que também encantou multidões de fãs na Europa e América do Sul.
A conquista da América foi feita com uma peça na Broadway, que teve 1443 apresentações. Em 1965 foi rodado o filme "Sound of music", em locações na Áustria. Maria Kutscher reclamou da maneira como seu marido fora mostrado na peça e insistiu para que no filme ficasse mais próximo do que ele realmente fora. A escolha do ator Cristopher Plummer mostrou-se adequada, pois ele mesmo buscou este caminho.
"A noviça rebelde" foi um filme notável não apenas pela história que contava. A trilha sonora foi exaustivamente elaborada, pois além do filme ser um musical, estava retratando uma família que era famosa por sua musicalidade. O elenco foi escolhido cuidadosamente, tendo a excepcional Julie Andrews encabeçando o time e Plummer no contraponto do Capitão Von Trapp.
A fotografia é algo surpreendente, não só nas tomadas ao ar livre nos Alpes, mas também nas filmagens em cenário, em especial as noturnas. Observem as cenas no cemitério do convento e também quando Maria e Georg se entendem no jardim. Uma curiosidade sobre esta cena: Julie e Plummer não conseguiam conter o riso quando iam filmar e depois de trinta tomadas, resolveram fazer a cena em contraluz, que rendeu uma imagem fantástica.
Para a 20th Century Fox, "A noviça rebelde" representou o renascimento do estúdio. Quando todos esperavam a falência do grupo, que vinha de um fracasso monumental que foi "Cleopatra", Ernest Lehman, o roteirista de "O Rei e Eu" e "Amor, Sublime Amor" foi contratado para escrever o script do novo filme. O primeiro diretor contratado, William Wyler, que vinha do megasucesso "Ben-Hur" queria fazer uma história de guerra, com canhões, tanques e bombas. Por fim, Robert Wise, o mesmo diretor de "Amor, Sublime Amor" foi escolhido.
Maria pensou que teria a sua colaboração solicitada, mas o estúdio não deu a mínima para ela. Quando soube que já estavam sendo feitas as filmagens, visitou as locações em Salzburgo e teve um breve encontro com o elenco. Ela inclusive faz uma pontinha no filme, numa cena ao ar livre. Contudo, nem para a estréia do filme foi convidada. Apesar de tudo, ficou satisfeita com o resultado, principalmente por ter sido mantida fidelidade à história e à personalidade dos envolvidos.
"A Noviça Rebelde" foi um filme onde tudo deu certo. Uma boa história, um bom roteiro, uma direção segura, trilha musical impecável, elenco profissional e fotografia primorosa. A resposta da crítica e do público não poderia ser diferente do que foi. O filme ganhou cinco Oscars: Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Edição, Trilha Sonora e Arranjos. Em todos os países do mundo a recepção foi calorosa, com a única exceção da Alemanha. Lá só foi exibida uma versão sem o terço final do filme. É curioso, pois em 56 e 58 foram rodados lá os primeiros filmes sobre a família Trapp.
Mas, diferente dos blockbusters que fazem um enorme sucesso no lançamento e depois são esquecidos pelo público, "A noviça rebelde" tornou-se um cult movie, com um público fiel que assiste incansávelmente as versões que foram sendo lançadas em vídeo, laserdisk e agora em DVD. Que a FOX não me escute, mas só o filme já seria um atrativo grande para se comprar ou alugar o disco de "A noviça rebelde". Mas, graças ao bom Deus, foi mantido o mesmo padrão da versão americana. A versão nacional vem com dois discos, um com o filme e comentários do diretor Robert Wise e outro com tantos extras que fariam o soldado Ryan morrer de vergonha.
O filme vem num padrão impecável: formato de tela widescreen, áudio em inglês Dolby Digital 4.1 e espanhol 2.0 ( infelizmente, para quem gosta de filme dublado, não tem áudio em português), legendas em português, espanhol e inglês. O comentário do diretor não tem legendas, mas dá pra entender bem. Um ponto negativo: a trilha sonora isolada não tem as vozes, fica só o instrumental. Não sei se é porque gosto muito das músicas do filme, achei que ficou incompleto.
No disco de extras vem: documentário com catorze minutos feito em 1965, "Salzburg, sight and sound" apresentado por Charmian Carr, que interpretou a filha mais velha; documentário "The sound of music: from fact to phenomenon" com oitenta e oito minutos, falando sobre a verdadeira história da família Trapp e sobre o filme; spots de época para o rádio e para tv. E o melhor: os documentários são legendados em português.
Não é preciso dizer que "A noviça rebelde" reúne as qualidades de um clássico com a leveza de um filme divertido, ideal para ver com familiares entre zero e cem anos. É o retrato quase fiel de uma família que viveu grandes aventuras, mas que sobreviveu a tudo através da união e do amor. Não é uma história piegas, lacrimejante, ousada ou indiferente. É uma história simples da busca da felicidade. Assista e tire suas conclusões, mas esteja preparado, pois entre filme e extras são quatro horas e meia de diversão explícita.
2006-08-19 09:07:51
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answer #1
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answered by Anonymous
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