"Passaram-se 50 anos desde que os Aliados quebraram as forças do nazi-fascismo na Europa. A Alemanha, mesmo ocupada e dividida, reergueu-se em pouco tempo, recuperando-se economicamente no ocidente. Não de forma milagrosa, como muitos acreditam. No final da Segunda Guerra, um parque industrial moderno - implantado pelos nazistas - pôde ser logo acionado. Somente 6,5% dos equipamentos de produção foram destruídos pelos bombardeios dos Aliados.
A social-democracia e o crescimento econômico da Alemanha Ocidental nos anos 60 levou o país ao chamado "Estado de bem-estar social", espelhado no modelo americano. Os primeiros anos de desnazificação (de 1945 a 1950) não foram fáceis para a sociedade alemã, especialmente para a geração que participou do regime nazista e da ascensão de seus líderes ao poder. A totalidade ou a quase totalidade da população participara do sistema. As atrocidades cometidas durante o período foram amplamente divulgadas, o que gerou forte sentimento de culpa. Até os anos 50 esse "fardo" era redimido pelos enormes pagamentos de recuperação aos sobreviventes do Holocausto e a Israel. Na década de 60, o julgamento de Adolf Eichmann, em Jerusalém, já incomodava uma Alemanha rica e democrática, que exigia uma imagem mais positiva de seu passado. A Guerra do Vietnã fez com que os alemães deixassem de se espelhar nos Estados Unidos, levando-os a questionar a necessidade de continuar a carregar aquele "fardo" sozinhos, já que o morticínio não era uma exclusividade do nazismo - ainda que o Holocausto o fosse. Buscando uma reafirmação nacional e a reconquista da dignidade e do orgulho da germanidade, as forças conservadoras tentaram, em 1985, unir vencedores e vencidos na passagem dos 40 anos do fim da Segunda Guerra, no cemitério militar de Bitbourg, com a presença do Presidente Ronald Reagan e de Helmut Kohl. A homenagem levantou uma grita geral dos democratas, especialmente nos Estados Unidos: 40 anos não eram o bastante para que se pudesse homenagear soldados alemães e membros da SS como vítimas da guerra. As feridas não estavam cicatrizadas. O passado não podia ser ainda enterrado.
Essa situação desconfortável para os alemães desencadeou uma batalha entre os historiadores: para alguns, se o passado nazista se recusava a passar, era preciso reconstruí-lo. Se as imagens dos vagões de gado e dos fornos crematórios não queriam se apagar, era necessário que profissionais se apossassem delas para retocá-las. Como escreveu Josef Joffe, "se não se podia limpar a mancha ancestral, talvez fosse possível fazer os crimes (nazistas) empalidecerem, jogando sobre os (crimes) dos outros uma luz ofuscante". Assim, se o passado não passa - graças à memória que dele guardam os sobreviventes e os que estudam seus testemunhos - alguns historiadores tentaram, a partir dos anos 60, reinterpretá-lo.
Historiadores nacionalistas procuraram minimizar o nazismo como um "período de apenas 12 anos" diante da "milenar história da Alemanha". Esse "breve desvio histórico" teria sido apenas uma resposta - dura, é verdade - à crise européia, mais do que uma continuidade da própria história alemã. Afinal, Hitler "nem era alemão". O nazismo teria cumprido, com todos os seus aspectos desagradáveis, a função necessária de uma revolução burguesa tardia, reagindo à permanência de uma ordem feudal e aristocrática no país, herdada do Império alemão, que a República de Weimar (1918-1933) não conseguira superar.
Como a estrutura social da Alemanha era extremamente rígida e hierarquizada, paralisando a própria ação parlamentar, o povo teria encontrado no movimento nazista uma política social eficiente que - não podemos esquecer - conseguiu tirar 8 milhões de alemães do desemprego em apenas quatro anos. Além disso, o nazismo modernizou o país, criando indústrias limpas e eficientes, organizações trabalhistas avançadas, auto-estradas que unificaram as regiões e benefícios materiais que puderam nivelar melhor as classes sociais. Esses historiadores não negam o Holocausto; simplesmente evitam sua problemática, descaracterizando-o como um fenômeno único na História, levando-o assim pouco a pouco ao olvido.
Mais radicais, os chamados "revisionistas" partem da assertiva de George Orwell, em 1984, de que "quem controla o passado também controla o futuro". Para eles, a "Solução Final" não foi uma novidade, tendo sido Karl Marx seu precursor ao propor a "extinção da classe burguesa". O estado de guerra - que teria sido para eles provocado por alguns judeus - justificaria os crimes de Hitler. De resto, Stalin, Truman e os soldados americanos no Vietnã não teriam deixado por menos. Tudo deve ser amalgamado e confundido para diluir a culpa alemã numa esmagadora História da Barbárie Universal.
Finalmente, os "negadores do Holocausto" ousam dar um passo além na destruição da História. Apoiados por pseudo-cientistas espalhados pelo mundo, até no Japão, divulgam, através de jornais, livrecos, revistas, vídeos, Internet e outros meios baratos de comunicação, que "o Holocausto nunca existiu". Tudo não passaria de mentiras divulgadas por judeus sionistas objetivando o declínio do Ocidente e a extorsão do povo alemão, para o crescimento do Estado de Israel. Alegando a inexistência de um plano para o assassínio em massa dos judeus e considerando que a "Solução Final" nada mais foi que a emigração dos judeus para o Leste, a fim de reuni-los num só lugar, esse grupo de negadores tem atraído jovens ignorantes do passado para grupos e partidos extremistas que almejam o retorno do fascismo.
Hoje, contam-se mais de 300 obras de caráter negacionista circulando pelo mundo, inclusive no Brasil, onde a Editora Revisão e a empresa de vídeos piratas Scotton Internacional, ligadas ao alemão Sigfried Ellwanger, editam e distribuem livros e vídeos de "cultura histórica", propagando amplamente a versão nazista da Segunda Guerra para as novas gerações.
A consciência do Holocausto não impediu que o anti-semitismo virulento ressurgisse. A guerra contra os judeus, deflagrada em 1939, continua... A negação do Holocausto é a mais cruel manifestação do anti-semitismo atual, atingindo, de imediato, os sobreviventes já idosos, novamente vitimados, agora em sua memória. E, depois, todos os que desejavam fazer dessa memória uma barreira contra o mal que não deveria jamais repertir-se."
Respondendo agora a sua segunda pergunta: A deles é aparecer.
2006-08-02 15:41:55
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answer #5
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answered by Ganesh 3
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