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Ou de algum dos seus heterónimos, indicando qual.

2006-07-31 10:28:08 · 10 respostas · perguntado por Gilgethan 3 em Artes e Humanidades Livros e Autores

10 respostas

Amo Fernando Pessoa. É difícil escolher um poema preferido, mas gosto muito de:

TABACARIA

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
[...]

Álvaro de Campos

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ISTO

Dizem que finjo ou minto
Tudo que escrevo. Não.
Eu simplesmente sinto
Com a imaginação.
Não uso o coração.
Tudo o que sonho ou passo,
O que me falha ou finda,
É como que um terraço
Sobre outra coisa ainda.
Essa coisa é que é linda.

Por isso escrevo em meio
Do que não está ao pé,
Livre do meu enleio,
Sério do que não é.
Sentir? Sinta quem lê!

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Adoro AUTOPSICOGRAFIA também.



Abs

2006-08-01 14:29:34 · answer #1 · answered by Juliana 3 · 1 0

O meu poema favorito é:

"A minha vida é um barco abandonado"


A minha vida é um barco abandonado
Infiel, no ermo porto, ao seu destino.
Por que não ergue ferro e segue o atino
De navegar, casado com o seu fado ?
Ah! falta quem o lance ao mar, e alado
Torne seu vulto em velas; peregrino
Frescor de afastamento, no divino
Amplexo da manhã, puro e salgado.

Morto corpo da ação sem vontade
Que o viva, vulto estéril de viver,
Boiando à tona inútil da saudade.

Os limos esverdeiam tua quilha,
O vento embala-te sem te mover,
E é para além do mar a ansiada Ilha.

2006-08-01 21:16:16 · answer #2 · answered by Anonymous · 0 0

Autopsicografia

Fernando Pessoa


O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

2006-08-01 14:22:19 · answer #3 · answered by David 4 · 0 0

Mensagem, do heterônimo Álvaro de Campos e "Poema em Linha Reta"

2006-08-01 02:22:13 · answer #4 · answered by Noel Prosa 3 · 0 0

Nossa...
Fernando Pessoa era tantos que sua obra transformou-se em um universo vastíssimo, do qual eu não saberia pinçar apenas um poema. De seus heterônimos e sub-heterônimos, gosto principalmente do Pessoa ele-mesmo (ortônimo) e de Álvaro de Campos, apesar de saber que Caeiro era o mestre de todos.

Do ortônimo, amo os belíssimos 'Chuva Oblíqua' (em que há uma verdadeira intersecção entre sonho e realidade e a vida sonhada pode ser melhor do que a vida 'real'),

"Atravessa esta paisagem o meu sonho dum porto infinito
E a cor das flores é transparente de as velas de grandes navios
Que largam do cais arrastando nas águas por sombra
Os vultos ao sol daquelas árvores antigas...

O porto que sonho é sombrio e pálido
E esta paisagem é cheia de sol deste lado...
Mas no meu espírito o sol deste dia é porto sombrio
E os navios que saem do porto são estas árvores ao sol...

Liberto em duplo, abandonei-me da paisagem abaixo...
O vulto do cais é a estrada nítida e calma
Que se levanta e se ergue como um muro,
E os navios passam por dentro dos troncos das árvores
Com uma horizontalidade vertical,
E deixam cair amarras na água pelas folhas uma a uma dentro...

Não sei quem me sonho...
Súbito toda a água do mar do porto é transparente
e vejo no fundo, como uma estampa enorme que lá estivesse desdobrada,
Esta paisagem toda, renque de árvore, estrada a arder em aquele porto,
E a sombra duma nau mais antiga que o porto que passa
Entre o meu sonho do porto e o meu ver esta paisagem
E chega ao pé de mim, e entra por mim dentro,
E passa para o outro lado da minha alma...
(...)"

e 'Hora Absurda', onde somos barcos e o porto, tão sonhado, nunca é alcançado e onde sentimos que existe algo além do que podemos perceber, mas que está fora de nosso alcance.

"O teu silêncio é uma nau com todas as velas pandas...
Brandas, as brisas brincam nas flâmulas, teu sorriso...
E o teu sorriso no teu silêncio é as escadas e as andas
Com que me finjo mais alto e ao pé de qualquer paraíso...
Meu coração é uma ânfora que cai e que se parte...
O teu silêncio recolhe-o e guarda-o, partido, a um canto...
Minha idéia de ti é um cadáver que o mar traz à praia..., e entanto
Tu és a tela irreal em que erro em cor a minha arte...

Abre todas as portas e que o vento varra a idéia
Que temos de que um fumo perfuma de ócio os salões...
Minha alma é uma caverna enchida p'la maré cheia,
E a minha idéia de te sonhar uma caravana de histriões...

Chove ouro baço, mas não no lá-fora... É em mim... Sou a Hora,
E a Hora é de assombros e toda ela escombros dela...
Na minha atenção há uma viúva pobre que nunca chora...
No meu céu interior nunca houve uma única estrela...

Hoje o céu é pesado como a idéia de nunca chegar a um porto...
A chuva miúda é vazia... A Hora sabe a ter sido...
Não haver qualquer cousa como leitos para as naus!... Absorto
Em se alhear de si, teu olhar é uma praga sem sentido...

Todas as minhas horas são feitas de jaspe negro,
Minhas ânsias todas talhadas num mármore que não há,
Não é alegria nem dor esta dor com que me alegro,
E a minha bondade inversa não é nem boa nem má...

Os feixas dos lictores abriram-se à beira dos caminhos...
Os pendões das vitórias medievais nem chegaram às cruzadas...
Puseram in-fólios úteis entre as pedras das barricadas...
E a erva cresceu nas vias férreas com viços daninhos...

Ah, como esta hora é velha!... E todas as naus partiram!
Na praia só um cabo morto e uns restos de vela falam
Do Longe, das horas do Sul, de onde os nossos sonhos tiram
Aquela angústia de sonhar mais que até para si calam...

O palácio está em ruínas... Dói ver no parque o abandono
da fonte sem repuxo... Ninguém ergue o olhar da estrada
E sente saudades de si ante aquele lugar-outono...
Esta paisagem é um manuscrito com a frase mais bela cortada...

A doida partiu todos os candelabros glabros,
Sujou de humano o lago com cartas rasgadas, muitas...
E a minha alma é aquela luz que não mais haverá nos candelabros...
E que querem ao lago aziago minhas ânsias, brisas fortuitas?...

Por que me aflijo e me enfermo?... Deitam-se nuas ao luar
Todas as ninfas... Vejo o sol e já tinham partido...
O teu silêncio que me embala é a idéia de naufragar,
E a idéia de a tua voz soar a lira dum Apolo fingido...

Já não há caudas de pavões todas olhos nos jardins de outrora...
As próprias sombras estão mais tristes... Ainda
Há rastros de vestes de aias (parece) no chão, e ainda chora
Um como que eco de passos pela alameda que eis finda...

Todos os casos fundiram-se na minha alma...
As relvas de todos os prados foram frescas sob meus pés frios...
Secou em teu olhar a idéia de te julgares calma,
E eu ver isso em ti é um porto sem navios...

Ergueram-se a um tempo todos os remos... Pelo ouro das searas
Passou uma saudade de não serem o mar... Em frente
Ao meu trono de alheamento há gestos com pedras raras...
Minha alma é uma lâmpada que se apagou e ainda está quente...
(...)"

De Álvaro de Campos, alguns graus menos lirico e inúmeros graus mais cáustico, meus preferidos são 'Tabacaria' e 'Poema em Linha Reta', porque eu também

"(...) sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
(...)"

e, assim como ele, me indigno e me pergunto,

"(...)
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?(...)"

Mas, para além de poemas favoritos, amo sua obra porque me faz sentir também parte do mundo.

2006-08-01 00:46:20 · answer #5 · answered by Ereignis 2 · 0 0

Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.

(Odes de Ricardo Reis)

2006-07-31 19:52:54 · answer #6 · answered by filósofo 3 · 0 0

Gosto deste:

Onda que, enrolada, tornas,
Pequena, ao mar que te trouxe
E ao recuar te transtornas
Como se o mar nada fosse,

Porque é que levas contigo
Só a tua cessação,
E, ao voltar ao mar antigo,
Não levas meu coração?

Há tanto tempo que o tenho
Que me pesa de o sentir.
Leva-o no som sem tamanho
Com que te ouço fugir!

é lindo né?

2006-07-31 18:14:47 · answer #7 · answered by tom de azul 4 · 0 0

O Primeiro Fausto
é fantástico, aos seus pés só chega Tabacaria.

2006-07-31 17:42:11 · answer #8 · answered by Cochise César 3 · 0 0

Fernando Pessoa

A água da chuva desce a ladeira.
É uma água ansiosa.
Faz lagos e rios pequenos, e cheira
A terra a ditosa.

Há muito que contar a dor e o pranto
De o amor os não qu'rer...
Mas eu, que também o não tenho, o que canto
É uma coisa qualquer.


21/03/1928

2006-07-31 17:39:25 · answer #9 · answered by zerohora1 5 · 0 0

É difícil responder uma pergunta destas! Fernando Pessoa tem diversos poemas belíssimos. Um dos que gosto muito, muito, é aquele sem título que começa "Todas as cartas de amor são ridículas..." Este ele escreveu sob o heterônimo de Álvaro de Campos, meu favorito (Campos é depressivo, amalucado, estourado... uma figura!).

2006-07-31 17:36:17 · answer #10 · answered by Claire 3 · 0 0

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