Caro Alex,
ha 117 anos, um golpe de estado institui a republica, regime politico que ja conduzia nossos vizinhos ao caos e ao atraso, mas mesmo assim, entramos pelo mesmo caminho.
Com a instituicao do golpe, adquirimos alguns contra valores, como a traiçao, a falta de respeito por instituições, a irreverencia, a prevalencia dos maus instintos sobre os bons.
Logo, parte consideravel de nosso continuado atraso tem relação direta com aquele funesto 15 de Novembro, quando o Marechal Deodoro proclamou a republica gritando "Viva o Imperador" ( ele pensava estar derrubando apenas o gabinete ministerial de Ouro Preto...).
Termino esta mensagem postando dois textos sobre o mesmo assunto ( o nosso atraso e os motivos para tal), um de Rui Barbosa, o outro de Monteiro Lobato.
Sobre o futebol, não nos preparamos bem para esta copa.
Um Abraço,
Marcelo Paiva.
"De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto ...
Essa foi a obra da República nos últimos anos. No outro regime (monarquia) o homem que tinha certa nódoa em sua vida era um homem perdido para todo o sempre - as carreiras polÃticas lhe estavam fechadas.
Havia uma sentinela vigilante, de cuja severidade todos se temiam a que, acesa no alto, guardava a redondeza, como um farol que não se apaga, em proveito da honra, da justiça e da moralidade gerais. Na República os tarados são os tarudos. Na República todos os grupos se alhearam do movimento dos partidos, da ação dos Governos, da prática das instituições. Contentamo-nos, hoje, com as fórmulas e aparência, porque estas mesmo vão se dissipando pouco a pouco, delas quase nada nos restando.
Apenas temos os nomes, apenas temos a reminiscência, apenas temos a fantasmagoria de uma coisa que existiu, de uma coisa que se deseja ver reerguida, mas que, na realidade, se foi inteiramente.
E nessa destruição geral de nossas instituições, a maior de todas as ruÃnas, Senhores, é a ruÃna da justiça, colaborada pela ação dos homens públicos, pelo interesse dos nossos partidos, pela influência constante dos nossos Governos. E nesse esboroamento da justiça, a mais grave de todas as ruÃnas é a falta de penalidade aos criminosos confessos, é a falta de punição quando se aponta um crime que envolve um nome poderoso, apontado, indicado, que todos conhecem ...
Bati-me contra a Monarquia sem deixar de ser monarquista. A Monarquia parlamentar, lealmente observada, encerra em sà todas as virtudes preconizadas, sem o grande mal da República, o seu mal inevitável. O mal grandÃssimo e irremediável das instituições republicanas consiste em deixar exposto à ilimitada concorrência das ambições menos dignas o primeiro lugar do Estado e , desta sorte, o condenar a ser ocupado, em regra, pela mediocridade. “
Ruy Barbosa.
"Despercebidos de todos passaram-se este mês dois aniversários. A 2 de dezembro nasceu, a 5 de dezembro faleceu D. Pedro II. Quem foi este homem que não deixou lembranças neste paÃs? Apenas um imperador... Um imperador que reinou apenas durante 58 anos... Tirano? Despótico? Equiparável a qualquer facÃnora coroado? Não. Apenas a Marco Aurélio.
A velha dinastia bragantina alcançou com ele esse apogeu de valor mental e moral que já brilhou em Roma, na famÃlia Antonina, com o advento de Marco Aurélio. Só lá, nesse perÃodo feliz da vida romana, é que se nos deparam o sósia moral de Pedro II.
A sua função no formar da nacionalidade brasileira não está bem estudada. Era um ponto fixo, era uma coisa séria, um corpo com os há na natureza, dotado de força catalÃtica.
Agia pela presença.
O fato da existir na cúspide da sociedade um sÃmbolo vivo e ativo da Honestidade, do EquilÃbrio, da Moderação, da Honra e do Dever, bastava para inocular no paÃs em formação o vÃrus das melhores virtudes cÃvicas.
O juiz era honesto, se não por injunções da própria consciência, pela presença da Honestidade no trono. O polÃtico visava o bem público, se não por determinismo de virtudes pessoais, pela influência catalÃtica da virtude imperial. As minorias respiravam, a oposição possibilitava-se: o chefe permanente das posições estava no trono. A justiça era um fato: havia no trono um juiz supremo e incorruptÃvel. O peculatário, o defraudador, o polÃtico negocista, o juiz venal, o soldado covarde, o funcionário relapso, o mau cidadão, enfim, e o mau por força de pendores congeniais, passava muitas vezes, a vida inteira sem incidir num só deslize. A natureza o propelia ao crime, ao abuso, à extorsão, à violência, `a iniqüidade – mas sofreava as rédeas aos maus instintos a simples presença da Eqüidade e da Justiça no trono.
Ignorávamos isso na monarquia.
Foi preciso que viesse a república, e que alijasse do trono a Força CatalÃtica para patentear-se bem claro o curioso fenômeno.
A mesma gente, - o mesmo juiz, o mesmo polÃtico, o mesmo soldado, o mesmo funcionário até 15 e novembro honesto, bem intencionado, bravo e cumpridor de deveres, percebendo, na ausência do imperial freio, ordem de soltura, desaçamaram a alcatéia dos maus instintos mantidos em quarentena. DaÃ, o contraste dia-a-dia mais frisante entre a vida nacional sob Pedro II e a vida nacional sob qualquer das boas intenções quadrienais que se revezam na curul republicana.
Pedro II era a luz do baile.
Muita harmonia, respeito à s damas, polidez de maneiras, jóias d’arte sobre os consolos, dando ao conjunto uma impressão genérica de apuradÃssima cultura social.
Extingui-se a Luz. As senhoras sentem-se logo apalpadas, trocam-se tabefes, ouvem-se palavriados de tarimba, desaparecem as jóias...
Como, se era a mesma gente!
Sim, era a mesma gente. Mas gente em formação, com virtudes cÃvicas e morais em inÃcio de cristalização “.
Monteiro Lobato.
2006-07-10 18:36:41
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answer #3
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answered by Marcelo Paiva 2
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