Na mitologia grega, Pandora ("bem-dotada") foi a primeira mulher, criada por Zeus como punição aos homens pela ousadia do titã Prometeu em roubar aos céus o segredo do fogo.
Em sua criação os vários deuses colaboraram com partes; Hefestos moldou sua forma a partir de argila, Afrodite deu-lhe beleza, Apolo deu-lhe talento musical, Deméter ensinou-lhe a colheita, Atena deu-lhe habilidade manual, Poseidon deu-lhe um colar de pérolas e a certeza de não se afogar, e Zeus deu-lhe uma série de características pessoais, além de uma caixa, a caixa de Pandora.
Hesíodo, Os trabalhos e os dias; Primeira Parte, Trad. Mary de Camargo Neves Lafer; ed. 3a.; Iluminuras; em “Mito de Pandora e Prometeu”; pg.27-29.
(...) “Filho de Jápeto, sobre todos hábil em suas tramas, apraz-te de furtar o fogo fraudando-me as entranhas; grande praga para ti e para os homens vindouros! Para esse lugar do fogo eu darei um mal e todos se alegrarão no ânimo, mimando muito este mal’. Disse assim e gargalhou o pai dos homens e os deuses; ordenou então ao início Hefesto muito velozmente terra à água misturar e aí pôr humana voz e força, e assemelhar de rosto às deusas imortais esta bela e deleitável forma de virgem; e a Atena ensinar os trabalhos, o polideláleo tecido tecer; e à áurea Afrodite à volta da cabeça verter graça, terrível desejo e preocupações devoradoras de membros. Aí pôr espírito de cão e dissimulada conduta determinou ele a Hermes Mensageiro Argifonte. Assim disse e obedeceram Zeus Cronida Rei. (...) Fala o arauto dos deuses aí pôs e a esta mulher chamou Pandora, porque todos os que têm olímpia morada deram-lhe um dom, um mal aos homens que comem pão. E quando terminou o íngreme invencível ardil, a Epimeteu(1) o pai enviou o ínclito Argifonte veloz mensageiro dos deuses, o dom levando; Epimeteu não pensou no que Prometeu lhe dissera jamais dom do Olímpio Zeus aceitar, mas que logo o devolvesse para mal nenhum nascer aos homens mortais. Depois de aceitar, sofrendo o mal, ele compreendeu. Antes vivia sobre a terra a grei dos humanos a recato dos males, dos difíceis trabalhos, das terríveis doenças que ao homem põe fim; mas a mulher, a grande tampa do jarro alçado, dispersou-os e para os homens tramou tristes pesares. Sozinha, ali, a Expectação (2) em indestrutível morada abaixo da bordas restou e para fora não voou, pois antes repôs ela a tampa no jarro, por desígnios de Zeus porta-égide, o agrega-nuvens. Mas outros mil pesares erram entre os homens; plena de males, a terra, pleno, o mar; doenças aos homens, de dia e de noite, vão e vêm, espontâneas, levando males aos mortais, em silêncio, pois o tramante Zeus a voz lhes tirou. Da inteligência de Zeus não há como escapar!”
(1)Epimeteu é irmão e reverso de Prometeu (; seu nome indica que ele tem a compreensão dos fatos só após terem eles acontecido, como podemos verificar no mito. Fala-se em “Prometéia” e em “Epmetéia”, como formas de inteligência dos fatos. (nota do tradutor, na obra citada)
(2)Elpís foi traduzida por “Expectação” porque comporta mais o sentido amplo de espera (do negativo ou do positivo) do que a palavra “Esperança”, que tradicionalmente aparece nas traduções.
Caixa de Pandora é uma expressão utilizada para designar qualquer coisa que incita a curiosidade mas que é preferível não tocar (como quando se diz que "a curiosidade matou o gato"). Tem origem no mito grego da primeira mulher, Pandora, que por ordem dos deuses abriu um recipiente (há polémica quanto à natureza deste, talvez uma panela, um jarro, um vaso...) onde se encontravam todos os males que desde então se abateram sobre a humanidade, ficando apenas aquele que destruiria a esperança no fundo do recipiente. Existem algumas semelhanças com o mito judaico-cristão de Adão e Eva em que a mulher é, também, responsável pela desgraça do gênero humano.
Segundo a lenda grega, Prometeu criou o homem de argila e roubou a chama sagrada de Hélio (Deus Sol) para dar-lhe o sopro da vida. O intuito era criar um ser que ajudaria a cuidar de sua mãe Gáia (Terra). O homem, porém, também era imortal e assexuado, reproduzindo-se de forma rápida. Por ordem de Zeus, Prometeu foi preso e condenado a ficar acorrentado no alto de uma montanha, onde todos os dias uma águia gigante vem comer-lhe as vísceras que são regeneradas à noite, ficando fadado a sentir dores por toda eternidade. Antes, porém, ele deixou uma caixa contendo todos os males que poderiam atormentar o homem com seu irmão Epmeteu, pedindo-lhe que não deixasse ninguém se aproximar dela. Os homens começaram a desvastar a Terra e, a fim de castigá-los, os deuses reuniram-se e criaram a primeira mulher, a qual foi batizada como Pandora e incumbida de seduzir Epmeteu e abrir a caixa. Naquela época os deuses ainda não moravam no Olimpo mas em cavernas. Epmeteu colocara duas gaiolas com gralhas no fundo da caverna e a caixa entre elas. Caso alguém se aproximasse, as gralhas fariam um barulho insuportável, alertando Epmeteu. Seduzindo-o, Pandora conseguiu convencê-lo a tirar as gralhas da caverna sob o pretexto de que tinha medo delas. Após terem-se amado, Epmeteu caiu em sono profundo. Pandora foi até a caixa e a abriu: um vortéx de males tais como mentira, doenças, inveja, velhice, guerra e morte saíram da caixa de forma tão assustadora que ela teve medo e fechou antes que saisse a última delas: o mal que acaba com a esperança.
2006-07-07 05:30:28
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A Caixa de Pandora
Por Sérgio Pereira Alves
Eu sempre achei interessante falar sobre este tema: Mitologia. Isto para mim tem uma relação estreita com outros assuntos da Psicologia AnalÃtica, principalmente com os conceitos ligados à s imagens arquetÃpicas. E este ponto em comum são os sÃmbolos apesar deles em si, representarem algo extremamente vasto, pois um sÃmbolo possui infinitos significados, diferindo de um signo, um sinal que possui apenas um. Mesmo que não reconhecemos o significado de um determinado sÃmbolo em uma narrativa mitológica, a estória ainda nos fascina porque de alguma forma reconhecemos nela algo que está intimamente relacionado com a nossa própria estória. Ou ainda com algo que vem do fundo de nosso ser. Um mito pode tanto ser um relato do que se compreendia como sendo a história da humanidade como também a história de nossa humanidade, como indivÃduos.
Em todo mito seus personagens estão intimamente interligados da mesma forma que nossos conteúdos inconscientes. O difÃcil mesmo é conseguirmos compreender uma pequena parte de uma estória que as vezes possui múltiplas conexões e desdobramentos. Como acontece internamente, é difÃcil conseguirmos separar o significado de um fato isolado de um contexto geral em nossas vidas. A estória de Pandora, "aquela que possui todos os dons" não foge a esta regra, e para que vocês possam ter uma visão mais global deste mito eu vou lhes dar um breve relato daquele momento histórico. A história de Pandora começa bem antes da própria Pandora.
Antes que o Céu e a Terra fossem criados, tudo era Um. Isso era chamado de Caos. Um grande Vazio sem forma onde potencialmente continha a semente de todas as coisas. A terra, a água e o ar eram um só. A terra não era sólida, nem a água lÃquida; o ar não era transparente. Mas aà os Deuses e a Natureza começaram a interferir: a terra foi separada da água e, sendo mais pesada, ficou em baixo; a água tomou os lugares mais baixos da terra e a molhou; e o ar, quando tornou-se mais puro, ficou no alto, formando o céu onde as estrelas começaram a brilhar. Foi dada aos peixes e a alguns outros seres a possessão do mar; aos pássaros, o ar; e aos outros seres a terra.
Porém, um animal mais nobre, onde um espÃrito pudesse ser alojado, tinha que ser feito, e aà surgiu a idéia de se criar o Homem. Esta tarefa coube a Prometeu ("aquele que prevê"), e seu irmão Epimeteu ("aquele que pensa depois" ou "o que reflete tardiamente"). Eram filhos de Jápeto, que por sua vez era filho de Urano (Céu) e de Géia (Terra) e descendiam da primeira geração dos gigantes destronados por Zeus, os Titãs. Eles haviam sido poupados da prisão por não terem lutado contra os Deuses na disputa para dividir os territórios.
Para executar sua tarefa, Prometeu sabia que nas entranhas da terra dormiam algumas sementes dos céus. Então, pegando em suas mãos um pouco de terra, molhou-a com a água de um rio e obteve argila; moldou-a, cuidadosamente, carinhosamente, até obter uma imagem que fosse semelhante à dos deuses. Mas ainda faltava dar vida à quele boneco. Epimeteu havia criado todos os animais, dotando cada um deles com caracterÃsticas como a coragem, a força, os dentes afiados, as garras, etc. Como o homem foi criado por último, o estoque das qualidades estava reduzido. Então Prometeu procurou por caracterÃsticas boas e más nas almas dos animais e colocou-as, uma a uma, dentro do peito do homem. E o homem adquiriu vida. No entanto, ainda faltava alguma coisa, algo mais forte, o Sopro Divino. Prometeu tinha uma amiga entre os deuses, Atená, deusa da Sabedoria. Esta admirou a obra do filho dos Titãs e insuflou naquela imagem semi-animada um espÃrito. E os primeiros seres humanos passaram a caminhar sobre a terra, povoando-a.
Mas o homem saÃra das mãos de Prometeu, nu, vulnerável, indefeso e sem armas. Eles não sabiam fazer nada; não tinham o conhecimento de como amolar as pedras para cortar melhor a pele dos animais; não sabiam como pescar, pois não conheciam os meios para tal. Condenados, desde o seu nascimento, os primeiros homens se nutriam de frutas e carne crua. Usavam folhagens para se protegerem do frio. Tinham como abrigo apenas grutas profundas e escuras. Não sabiam nem fazer uso da centelha divina com a qual haviam sido presenteados. Podiam ver, mas não percebiam a beleza do azul do céu; podiam comer, mas não sentiam o doce sabor das frutas; podiam escutar, mas não sonhavam com o barulho das cascatas e o som divino do canto dos pássaros.
Com relação à esta condição humana, existe uma descrição das Eras que se seguiram. A Era do Ouro onde o homem não precisava fazer nenhum esforço para sobreviver. Tudo permanecia intocado pois não havia necessidade de fortificações, armas ou barcos. Uma Era de inocência e felicidade onde a verdade prevalecia e não havia nenhum juiz para ameaçar ou punir. Depois a Era da Prata onde Zeus encurtou a Primavera e assolou a Terra com o calor e frio criando as estações. As casas se tornaram necessárias, a terra deveria ser tratada para produzir frutos e a juventude eterna não existiria mais. Com a Era do Bronze os conflitos começaram. Depois veio a Era dos Heróis. Nesta época Astréia foi a última Deusa a deixar a humanidade. Ela é a Deusa da Inocência e da Pureza que depois de deixar a Terra foi colocada entre as estrelas na Constelação de Virgem – a Virgem Temis ( Justiça ) era a mãe de Astréia. Ela é representada segurando uma balança onde ela pesa as reclamações dos lados oponentes. E por último a Era do Ferro onde as discórdias pioraram. O crime, a ambição e a violência reinaram expulsando a modéstia, a verdade e a honra.
Enquanto isto, na abóbada celeste reinava Zeus e todos os outros deuses. Zeus havia destronado seu pai, Cronos (Tempo) pondo fim à antiga geração dos deuses da qual Prometeu fazia parte. Zeus então voltou sua atenção para a recém-criada humanidade e dela exigia honras e sacrifÃcios, oferecendo, em troca, sua proteção. Desde que Zeus e seus irmãos começaram a disputar o poder com a geração dos Titãs, Prometeu, apesar de não ter participado desta guerra, era visto como inimigo e seus amigos mortais como uma ameaça constante.
Neste clima de disputas e desconfianças, mortais e imortais se encontraram em Mecone (Grécia) para decidir as obrigações e direitos dos seres humanos. Prometeu intercedeu como legÃtimo advogado de suas criaturas e pediu aos deuses que não cobrassem muito por sua proteção. Neste ponto, Prometeu teve a idéia de por à prova o poder e a clarividência de Júpiter. Sacrificou um enorme e belo touro e dividiu-o em duas partes e disse aos deuses do Olimpo que escolhessem uma delas, a outra caberia aos humanos. Antes, porém, em um dos montes colocou apenas os ossos e cobriu-o cuidadosamente com o sebo do animal, fazendo-o parecer maior que o outro monte de carne, entranhas e gordura, coberto com a pele do touro. E assim Zeus escolheu o monte maior e ao descobrir que fora enganado por Prometeu, vinga-se dele recusando aos homens o último dos dons para manterem-se vivos: o fogo. Simbolicamente, Deus privou o homem da luz na alma, da consciência.
Sentindo muita pena dos pobres mortais, Prometeu desceu à Terra para ensiná-los a ver as estrelas; a cantar e a escrever; mostrou como fazer para domesticar os animais mais fortes; demonstrou-lhes como fazer barcos e velas e como poderiam navegar; ensinou-os a enfrentar as variantes diárias da vida e a fazer ungüentos e remédios para suas feridas. Deu-lhes o dom da Profecia, para o entendimento dos sonhos; mostrou-lhes o fundo da Terra e suas riquezas minerais: o cobre, a prata e o ouro e a fazer da vida algo mais confortável. E, por último, ele roubou uma centelha do fogo celeste e a trouxe à terra. Com o fogo Prometeu ensinou aos homens a arte de trabalhar os metais. Esta seria uma forma de reanimar a inteligência do homem, dando-lhes consciência, e de proporcionar melhores condições de vida para poderem se defender com armas eficazes contra as feras e cultivar a terra com instrumentos adequados.
Logo que a primeira semente do fogo do Sol foi utilizada em fogueiras a humanidade passou a conhecer a felicidade de viver melhor, de comer um alimento menos selvagem, de aquecer-se e receber luz. Mas, em sua alegria imoderada, os homens julgaram-se iguais aos deuses, esquecendo seus deveres para com seus semelhantes. Zeus sentiu-se irado ao ver que o novo brilho que emanava da Terra era o do fogo. Sem poder tirar o conhecimento de como obter o fogo dos homens, arquitetou um outro malefÃcio. E assim, decidiu punir tanto o ladrão quanto os beneficiados. Zeus entrega Prometeu a Hefesto, seu filho, e a seus seguidores, Kratós e Bia (o Poder e a Violência). Estes levam-no para o deserto de CÃtia e lá, prendem-no com correntes inquebráveis à uma parede de um penhasco na montanha caucasiana. E Prometeu preso à rocha, de pé, sem poder dormir e incapaz de dobrar os joelhos fatigados tinha seu fÃgado devorado diariamente por uma águia. Mas, como ele era imortal, suas vÃsceras refaziam-se à noite sendo dilacerado novamente no dia seguinte. Sua tortura deveria durar para toda a eternidade pois as decisões de Zeus eram irrevogáveis e ele havia profetizado que seu sofrimento só terminaria quando um homem puro e de bom coração morresse em seu lugar.
Depois de 30.000 anos de sofrimento, Hércules passou por ali e viu o exato momento em que a ave divina destroçava o fÃgado de Prometeu. Não pensou duas vezes e lançou sobre ela uma flecha veloz e mortal. Depois o libertou das pesadas correntes. Os dois seguiram viagem juntos. Mas faltava cumprir com a exigência de Zeus. QuÃron, um centauro, antes imortal, aceitou morrer por ele pois ele havia sido envenenado por Hidra e provavelmente iria morrer de qualquer jeito. Mesmo assim, o senhor dos deuses, obrigou Prometeu a usar um anel com uma pedra encrustada. Era uma pedra retirada do Cáucaso, onde esteve preso. Zeus poderia, assim, vangloriar-se dizendo que seu inimigo continuava preso à montanha.
Para castigar o homem, Zeus ordenou a Hefesto (Vulcano), o Deus das Artes, que modelasse uma mulher semelhante à s deusas imortais e que ela fosse muito dotada. A mulher ainda não havia sido criada. Poucas horas depois, Hefesto chegou com uma estátua de pedra que retratava uma belÃssima e encantadora donzela. Ela era linda, e clara como a neve. Atená (Minerva) lhe deu a vida com um sopro e ensinou-lhe a arte da tecelagem, os outros deuses dotaram-na de todos os encantos; Afrodite (Vênus) deu-lhe a beleza, o desejo indomável e os encantos que seriam fatais aos indefesos homens. Apolo confere-lhe a voz suave do canto e a música, as Graças embelezaram-na com lindÃssimos colares de ouro e Hermes (Mercúrio), a persuasão. Em outras palavras, Hermes deu-lhe graciosa fala enchendo-lhe o coração de artimanhas, imprudência, ardis, mentira e astúcia. Por tudo isso ela recebeu o nome de Pandora ( "a que possui todos os dons"). E da forma mais perfeita e eficaz fez-se o malefÃcio.
Zeus enviou Pandora como presente a Epimeteu cujo nome significa ("aquele que pensa depois" ou "o que reflete tardiamente"). Epimeteu havia sido avisado por Prometeu para não aceitar nenhum presente dos deuses, mas, encantado com Pandora, desconsidera as recomendações do irmão. Pandora chega trazendo em suas mãos um grande vaso (pithos = jarro) fechado que trouxera do Olimpo como presente de casamento ao marido. Pandora abre-o diante dele e de dentro, como nuvem negra, escapam todas as maldições e pragas que assolam todo o planeta. Desgraças que até hoje atormentam a humanidade. Pandora ainda tenta fechar a ânfora divina, mas era tarde demais: ela estava vazia, com a exceção da "esperança", que permaneceu presa junto à borda da caixa. A única forma do homem para não sucumbir à s dores e aos sofrimentos da vida. Assim, essa narração mÃtica explica a origem do males, trazidos com a perspicácia e astúcia “daquela que possui todos os dons”.
Pandora por não ter nascido como uma deusa é conhecida como uma semideusa. Dizem que foi por ambição que ela abriu a caixa. Ela queria se tornar uma deusa do Olimpo e esposa de Zeus. Por isso, Zeus para castiga-la tirou-lhe a vida. Mas, Hades com interesse nas ambições de Pandora, procurou as parcas (dominadoras do tempo) e lhes pediu para que voltassem o tempo. Sem permissão de Zeus elas nada puderam fazer. Hades convenceu o irmão a ressuscitar Pandora. Devido aos argumentos do irmão, Zeus a ressuscitou dando-lhe a divindade que ela sempre desejara. Foi assim que Pandora tornou-se a deusa da ressurreição. Para um espÃrito ressuscitar Pandora entrega-lhe uma tarefa, se o espÃrito cumprir a devida tarefa, ele é ressuscitado. Pandora com ódio de Zeus por ele ter a tornado uma deusa sem importância, entrega aos espÃritos somente tarefas impossÃveis. Assim nenhum espÃrito até hoje conseguiu e nem conseguirá ressuscitar.
Deste mito ficou a expressão caixa de Pandora, que se usa em sentido figurado quando se quer dizer que alguma coisa, sob uma aparente inocência ou beleza, é na verdade uma fonte de calamidades. Abrir a Caixa de Pandora significa que uma ação pequena e bem-intencionada pode liberar uma avalanche de repercussões negativas. Há ainda um detalhe intrigante que poderÃamos levantar do porque a esperança estava guardada na caixa entre todos os males. Dependendo da perspectiva em que olharmos os pares de opostos, a esperança pode também ter uma conotação negativa por ela pode minar as nossas ações nos fazendo aceitar coisas que deverÃamos confrontar.
A linguagem mitológica com todos os seus paradoxos, vem de uma necessidade do homem de se conhecer mais. Para espantar o medo e a insegurança e explicar melhor os fenômenos naturais. Tudo que se apresentava aos olhos dos homens, era entendido como personalidades divinas. Assim o sol, a terra, a noite, os rios, as árvores eram deuses. Ménard nos fala dessas alegorias da linguagem onde cada rio era um deus e cada regato uma ninfa.. “Se num trecho eles corriam nas mesma direção era porque eles se amavam.” “As catástrofes, os acidentes da vida se revestiam do mesmo aspecto na narração. A história de Hilas, um jovem arrebatado pelas ninfas, nos mostra claramente o que devemos entender pela linguagem mitológica dos antigos. Nos tempos atuais, quando um jornal nos descreve a morte de um rapaz que se afogou, diria: Deplorável acidente acaba de afligir a nossa comunidade. Um jovem indo de manhã bem cedo banhar-se, morreu tragicamente afogado......etc. Os gregos diriam: Era tão belo que as ninfas, apaixonadas, o raptaram e levaram para a profundeza das águas.”
Assim na narração mitológica, os significados são muito ampliados e uma redução seria cruel pois isto destruiria toda e qualquer aceitação e compreensão de um mito. Todos sabemos que um “bom leitor” é aquele que mantém a sua mente aberta para entrar na narrativa sem qualquer preconceito e racionalidade, para não destruir a realidade que o escritor está tentando criar. Então vejamos: Quando Júpiter se casa com Métis (Reflexão) ele a engole e dá a luz à uma filha Minerva ( A Sabedoria Divina) que lhe sai do cérebro. Se fizermos uso de uma redução, esta é uma imagem terrÃvel, grotesca. Agora, olhe sob essa outra perspectiva; o deus nutre-se da Reflexão para gerar a Sabedoria. Mnemosina (A Memória) desposa Zeus e deles nascem as Musas (A Inspiração). O sopro divino em união com a Memória faz nascer a Inspiração.
Se a verdade do mito segue a alguma lógica, esta é a do Inconsciente. à mais uma intuição compreensiva da realidade da qual não se necessita provas para ser aceita. Pois ela, em si, nos remete à realidade interna nos dando uma vaga noção de significado. Como nos sonhos, quando percenbemos que existe algo de importante ali. E isso também era tudo que Jung pedia ao tratarmos com esta estranha realidade do inconsciente. Manter as nossas mentes abertas para que possamos captar um mÃnimo dessa linguagem tão peculiar. O mito não é uma lenda. O mito não é uma mentira. Ele nos conta de nossa realidade interna, portanto ele é verdadeiro para quem o vive. A narração de determinada história mÃtica é uma primeira incursão do homem em sua busca de significado sobre o qual a afetividade e a imaginação exercem grande papel. Mas normalmente quando se fala de mito ou que alguma coisa é um mito, é mais no sentido desta coisa não ter nenhum compromisso com a realidade. Como as lendas que são estórias sobrenaturais, como a mula sem cabeça e o saci pererê.
Os mitos ou a criação destes estão presentes em todas as culturas, em todos os tempos desde o inÃcio da humanidade como um mecanismo de sobrevivência do homem em sua tentativa para explicar o mundo através de sua realidade interna. Sua narrativa é um relato projetivo de um material inconsciente onde a linguagem simbólica é naturalmente criada num processo completamente isento de intenção que funciona como uma tentativa para elucidar os segredos. Como vocês sabem a projeção não é um método intencional. Ela acontece, ela nunca é produzida. E na ocorrência dessas projeções, observamos todo um empenho que se resume na busca de significado, no encontro com a sombra e no restabelecimento do contato com o feminino. Nas narrações das “qualidades divinas” de uma Deusa há um movimento de trazer para a consciência algum conteúdo inconsciente: Deméter (a eterna mãe); Koré (a eterna jovem); Artémis (a eterna guerreira) ou Afrodite (a eterna amante).
Estes traços do feminino atribuÃdos a estas Deusas simplesmente nos mostram o desconhecimento e o fascÃnio que eles causam ao homem desde a sua origem. Desde os mais remotos tempos, o mito grego representa o feminino como um reflexo importante de diversos aspectos da realidade e evolução que vão além dos limites do papel que a mulher tinha na sociedade grega. Podemos ver isso claramente nos relatos mÃticos, em trechos das narrativas épicas, das tragédias, como em obras de arte. A Deusa Mãe representava mais especificamente a terra fecunda na qual o homem semeava e de onde retirava tudo que necessitava. Com algumas alterações na representação, a figura feminina ainda ocupava o lugar de destaque e recebia todas as honras. E como a Senhora da fertilidade e da fecundidade ela ainda reinava. Com o correr dos milênios, a imagem da Deusa ganhou novos atributos, e foi associada a diversos animais e a outras funções. Com a expansão das tribos guerreiras do continente, as culturas matriarcais foram conquistadas, e um Deus Macho e guerreiro dominou o panteão. A Deusa, então, assumiu o papel de mãe, esposa ou filha dele. As cidades se tornaram um espaço dos homens e dos Deuses machos; já o interior da casa, o campo, as matas. Isto é, as áreas limÃtrofes entre o civilizado e o selvagem, eram dominados pela Deusa Mãe em suas múltiplas facetas: Afrodite, Psique, Deméter, Perséfone, Ãrtemis, entre outras. A cada uma delas coube uma caracterÃstica, uma pequena parcela do domÃnio da antiga Deusa Mãe.
No mito de Prometeu e de Pandora, a mulher aparece como um "presente" dado aos homens. Semelhante à s deusas ela foi moldada em suas feições recebendo ainda todos os dons divinos. E foi Hermes quem lhe pôs no coração a perfÃdia e os discursos enganosos, além da curiosidade. Desde então, a mulher é considerada a origem de todos os tormentos do homem. Tanto na tradição Grega quanto na Judaico-Cristã há uma tentativa de transgressão dos limites humanos e é a entidade feminina quem impulsiona o homem para tal ação. Na narrativa dos Hebreus a tomada de consciência era oferecida ao homem por Eva. No mito Grego, houve primeiro uma simulação frustrada pela brincadeira de Prometeu ao tentar testar o poder e a clarividência dos Deuses. Depois o próprio Prometeu traz o fogo como presente mas os homens embevecido com a nova condição, se julgam iguais aos deuses e provocam uma situação de serem punidos novamente. Aà chega Pandora que ao abrir a caixa derrama sobre a terra todas as desgraças. E a conseqüência é a perda do paraÃso. Mas também se não fossemos expulsos, não crescerÃamos. Ainda hoje, a visão que se tem da mulher costuma ser permeada da influência desses dois mitos. Há quem a veja como uma bênção de Deus e daria tudo para ter a sua companhia. Há, por outro lado, quem pense diferente.
Mas agora lembrem-se que estamos falando de uma realidade interna expressa nos mitos. Esta linguagem simbólica usada projetivamente se resume na busca do homem pelos segredos de seu próprio inconsciente; no encontro com a sombra e no restabelecimento do contato com o feminino. E neste clima de tensões, paradoxos e incertezas confrontamos a nós mesmos na busca pelo equilÃbrio. Na procura de significado onde esta anima, tão bela e cheia de perfÃdia, nos faz crescer.
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HesÃodo. Os trabalhos e os dias. Tradução de Mário da Gama Khuri
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VERNANT, J.-P - O universo, os deuses, os homens - São Paulo: Cia. das Letras,
MÃNARD, René. – Mitologia Greco-Romana, vol. I, Fittipaldi Editores Ltda, São Paulo, 1985
MEUNIER, Mário. Nova Mitologia Clássica. -: Ibrasa,1976., 2000.
KERÃNYI, K. - Os deuses gregos [ trad. O.M. Cajado ] - São Paulo: Cultrix, 1993.
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KHURY, Mário da G. Dicionário de Mitologia Grega e Romana. Rio de Janeiro: Zahar, 1990.
2006-07-09 21:00:19
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answer #2
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answered by nudacarol 3
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