Quando amar é sofrer
Entenda por que o amor pode perder o caráter generoso para atuar a serviço do narcisismo e da baixa auto-estima de quem ama; médicos explicam o que é normal e o que patológico nesse sentimento
Por Pamela Cristina Leme
Até onde o amor pode chegar? Como explicar que tal sentimento é capaz de levar à destruição de si próprio e de quem se ama? O amor e o ódio caminham de mãos dadas? Essas são as perguntas quem vêm à tona quando alguém vive uma paixão obsessiva. Num misto de rejeição e insegurança, posse e castigo, carência e ciúme, vingança e desespero, a mente pode se transformar num turbilhão de sentimentos devastadores, que por vezes terminam em perseguições, suicídios, assassinatos e outras tragédias. Quando o amor deixa de ser prazeroso e passa a restringir a possibilidade de viver sem amarradas, ele abre caminho para o chamado amor patológico.
Psicoterapeuta e pesquisadora do AMORE (Ambulatório do Amor em Excesso), da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo), Eglacy Sophia explica que no amor saudável é comum e esperado um comportamento recíproco de prestar atenção e cuidar do parceiro. Mas quando esse comportamento se torna excessivo e o indivíduo passa a fixar atenção no amado mais do que gostaria, abandonando outras atividades e pessoas anteriormente valorizadas, está caracterizado o amor patológico. "Quando amar significa sofrer, é um forte indício para ficar atento em relação a esse quadro", alerta.
A psicóloga Judith Vero, co-autora do livro "Falando de Amor - Uma Escuta Musical dos Vínculos Afetivos" (Editora Ágora), conta que esse sentimento avassalador pode se manifestar em diferentes níveis. "Entre casais, amigos, irmãos ou na relação de uma mãe com o filho, esse é um amor que faz mal e vem de quem não quer permitir que o amado viva sua própria vida", aponta. A pré-disposição para desenvolver o amor patológico varia de pessoa para pessoa. De acordo com Eglacy, tem gente que desenvolve esse sentimento obsessivo por uma ansiedade somada a fatores depressivos. "Nesses casos, o relacionamento destrutivo e o conturbado funcionam como atenuante do sofrimento gerado por esses sintomas", sinaliza.
No entanto, existem ainda casos em que o amor patológico ocorre como único problema, particularmente em pessoas com baixa auto-estima e profundos sentimentos de raiva, abandono e rejeição. Outro importante fator predisponente para o amor patológico é o modelo familiar. "Nesse caso, ocorre o ´casamento´ de um indivíduo que cuida do outro quase que constantemente com outro indivíduo que necessita de cuidado, ou seja, que se mostra fraco ou carente. Quando uma criança recebe esse modelo de relação dos pais, ela pode repeti-lo em sua relação amorosa, na vida adulta", ressalta a psicoterapeuta.
Como diagnosticar o amor patológico
Segundo Eglacy Sophia, é possível encontrar semelhanças entre as características desse tipo de amor e da dependência de álcool e de outras drogas. São elas:
Sintomas de abstinência (como angústia, taquicardia e suor) na ausência ou no distanciamento (mesmo afetivo) do amado;
O indivíduo se preocupa excessivamente com o outro;
Atitudes para reduzir ou controlar o comportamento de cuidar do parceiro são mal-sucedidas;
É despendido muito tempo para controlar as atividades do parceiro;
Abandono de interesses e atividades antes valorizadas;
O quadro é mantido, apesar dos problemas pessoais e familiares.
Amando demais
A médica da USP afirma que ainda não foram feitos estudos epidemiológicos sobre a manifestação do amor patológico entre homens e mulheres, mas existem indícios que esse problema parece ser mais freqüente entre elas devido a características culturais facilitadoras. "A tendência em considerar prioritária a relação a dois e a ilusão de que um homem trará significado para sua vida, são características mais relatadas por mulheres", defende a pesquisadora. Mas é importante salientar que o amor patológico não é um quadro exclusivo das mulheres. "Em consultório e em instituições públicas, costumamos atender, com excelentes resultados, a vários homens com esse problema", garante.
E qual é o papel do ciúme no que diz respeito ao amor patológico? Ele é sua principal manifestação ou um dos sinais de que o amor está errado? Segundo Eglacy, muitas pessoas confundem o ciúme patológico ou os delírios de ciúmes com a paixão obsessiva, que tem o ciúme como uma das conseqüências. "Assim como ocorre no amor patológico, no ciúme patológico existe medo da perda do outro ou do espaço afetivo ocupado na vida dele, além da auto-estima rebaixada e a sensação de insegurança", lembra a psicoterapeuta. A diferença é que, enquanto o ciúme patológico surge como uma preocupação infundada, irracional e irreal, o amor patológico ocorre em pessoas para os quais as situações triviais do dia-a-dia passam a ser provas da veracidade da traição do outro. "O potencial para atitudes violentas e egoístas também é destacado nesse quadro", destaca.
Punir o outro, aliás, é quase sempre um dos objetivos de quem tira a própria vida em nome do amor, por exemplo. Isso porque a pessoa se sente incapaz de conviver com a frustração de não ter o objeto amado, ou ainda sofrer de profunda crise de auto-estima. Quando o amor chega a tal alienação e cegueira, dá margem para a fantasia. Qualquer gesto ou palavra são interpretados como um tipo de sinal positivo que mantém esperança e certeza de que é correspondido. É neste contexto que a linha que separa o amor e o ódio pode ficar tênue. "O processo de constatação que o parceiro realmente é distante e incapaz de propiciar a atenção e o amor que o indivíduo deseja costuma ser acompanhado de sentimentos de raiva e de ódio", alerta Eglacy.
Vencendo a obsessão
A atenção e compressão externa são medidas fundamentais para ajudar quem sofre com um amor que perdeu os limites. O amado deve perceber que o outro não controla sua vida por maldade ou escolha própria. "Quando alguém liga sete vezes seguidas para o seu trabalho perguntado onde você está, por exemplo, é um indicativo de que a pessoa não tem controle sobre essa conduta e precisa de tratamento especializado", salienta a médica do AMORE. Depois, uma conversa franca sobre o problema e o que está provocando em cada um pode ajudar a aliviar a angústia vivenciada por ambos. Dr. Judith afirma que o processo pode ser completado com incentivo para a busca de tratamento com um especialista. "É possível passar por cima do amor patológico. Não há receita pronta para lidar com o amor, mas um médico pode ensinar a encarar com naturalidade essa crise sentimental", completa.
Novas perspectivas
Parte de um projeto de pós-graduação pela Faculdade de Medicina do Hospital das Clínicas da USP, batizado "Amor Patológico: Aspectos Clínicos e de Personalidade", Eglacy coordena um estudo inédito sobre o assunto. De acordo com ela, o objetivo da pesquisa é "compreender a fundo e cientificamente o problema para, a partir desses dados, propiciar ajuda a diversas pessoas que sofrem com esse distúrbio no país". Ela conta que tal dificuldade ainda não foi estudada e classificada pela psiquiatria. "Vamos abrir a primeira porta em um hospital para conhecer e tratar o amor patológico como um quadro específico e individual e não apenas como um problema de relacionamento de casal, como ocorre em outros centros", explica. De acordo com ela, para resolver efetivamente o amor patológico, é preciso focar o tratamento nos sintomas individuais e familiares que o provocam.
A psicoterapeuta aceita voluntários que queiram participar da pesquisa. São aceitos interessados de ambos os sexos, com idade a partir dos 18 anos e que estejam vivendo um relacionamento destrutivo. As triagens são agendadas pelo telefone (11) 3069-7805, somente às quartas-feiras, das 10h às 17h. Os participantes vão passar por dezesseis sessões de psicoterapia e psicodrama em grupo.
Conheça algumas medidas para dosar o amor
Assim como ocorre com o ciúme, o limiar entre o que é normal e o que é patológico no amor a dois é difícil de ser estabelecido. Não existe uma maneira certa ou errada para amar, uma vez que isso é variável de indivíduo para indivíduo e de casal para casal.
Para ajudar na avaliação da sua "dosagem" do amor com relação ao seu parceiro, procure se questionar sobre:
Você costuma sentir-se satisfeito com a quantidade de atenção e tempo que despende ao seu parceiro ou percebe que fez mais do que gostaria?
Você acha que a quantidade de atenção que dirige ao seu parceiro está sob seu controle ou é comum tentar diminuir e não conseguir?
Você mantém outros interesses e relacionamentos ou abandonou pessoas e funções em decorrência da sua vida amorosa?
Você continua se desenvolvendo pessoal e profissionalmente após o início de seu relacionamento amoroso?
Se respondeu "não" à maioria das questões, é um sinal de alerta para o amor patológico. Nesse caso, existe a necessidade de realizar uma avaliação clínica mais aprofundada com um especialista.
Fonte: Dra. Eglacy Sophia, psicoterapeuta e pesquisadora do AMORE (Ambulatório do Amor em Excesso), da USP
SERVIÇO
Dra. Eglacy Sophia
Ambulatório do Amor em Excesso (AMORE) da USP
R. Dr. Ovídio Pires de Campos, s/n° - São Paulo, SP
Consultas: (11) 3069-7805
Clínica SOL
Travessa Ponder, 64 - Ibirapuera - São Paulo - SP
Consultas: (11) 3051-6211
Dra. Judith Vero
Rua Batatais, 148 - Jardim Paulista - São Paulo, SP
Consultas: (11) 3887-5786
2006-06-22 04:58:26
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answer #1
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answered by Anonymous
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AMAR É A COISA MAIS FACIL...
DIFICIL É SER AMADO(A)
ESSA É A VERDADE, VERDADEIRA
FIQUE FELIZ SE SÓ FOR AMADA
BOA SORTE
2006-06-23 01:57:57
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answer #2
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answered by PRINCIPE SAUDITA 3
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Acredite, ser amado é mais difícil ainda.
2006-06-22 05:02:44
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answer #3
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answered by Antonio César 3
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Uai, eu nao acho... se vc e a outra pessoa se dao bem, o sentido de amar se torna quase incontrolavel... o q é dificil é entender os costumes da outra pessoa... as manias, as dificuldades, a maneira da pessoa agir talvez torne a convivencia mais dificil... mas se ela e vc se dao numa boa, o amor é consequencia...
2006-06-23 08:29:52
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answer #4
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answered by Nina 2
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amar eh tao facil. ter um relacionamento amoroso que de certo, isso, sim eh dificil. as pessoas têm personalidades diferentes, e apesar dos opostos, supostamente, se atraírem, existem muitos conflitos entre amantes. naum soh entre eles, todo mundo briga: irmaos, amigos, pais e filhos... enfim, por isso, tambem brigamos com nossos parceiros, a diferença e que por ser nosso parceira a gente se sente pior, por que incoscientemente (ou conscientemente) a gente sente que talvez vai ser abandonado. esse eh o meu modo de ver.
2006-06-25 17:56:33
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answer #5
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answered by Jane 1
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Acredito que nós, seres contemporâneos, nos acostumamos a viver tudo de forma muito intensa, rápida e nos tornamos seres plenamente egocêntricos... Esse lance de ficar, essa coisa mecânica de ir lá, beijar/transar sem um envolvimento mais profundo, fez com que nos tornassemos imaturos afetivamente...
Não estamos preparados para vivenciar um envolvimento pleno que o amor exige, que muitas vezes é o abrir mão do EU, aceitar o OUTRO tal qual ele é e se permir envolver naquela relação sem deixar-se seduzir por outros envolvimentos... Talvez por isso os casos de amores modernos são eternos enquanto duram... Rápidos, velozes e mal temos tempo para "processar" aquela paixão que as vezes nos acomete... Por isso, quando deixamos de sentir aquele "friozinho na barriga" em um relacionamento, não buscamos respostas para descobrir o que aquela paixao virou... saimos em busca dessa sensação novamente... intensa, mas momentânia...
2006-06-25 15:04:59
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answer #6
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answered by guinho 1
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Não é que amar seja dificil é que complicamos quando estamos com outras pessoas sempre queremos cobrar ou achamos que algo esta errado.... isso faz com que o relacionamento se complique.
2006-06-22 23:34:06
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answer #7
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answered by Anonymous
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Mas quem disse para você que
"Odiar é fácil"
"solidão é fácil"
"ter fome é fácil"
Tudo, absolutamente tudo tem a sua dificuldade.
Pior é quando essa dificuldade é criada por nós mesmos com ciúmes, cobranças, humor, exageros, carências, etc, etc, etc,.
Onde está a sua dificuldade?
Amar não é difícil! O difícil é encontrar o equilíbrio e não deixar que somente o coração guie seus passos.
Fica difícil uma analise mais perfeita sem saber exatamente oque está acontecendo.
Amar para você é difícil porque você ama alguém que não lhe quer e por isso você sofre? Você tem o livre arbitreo.
Amar é difícil porque você está sendo vigiada e ele não confia em você? Você tem o livre arbitrei para provar sua fidelidade ou sair fora.
Fica difícil te ajudar assim.
2006-06-22 07:43:38
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answer #8
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answered by VWORIO 4
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quando vc achar o cara verar que não é tão difícil assim
2006-06-22 05:00:46
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answer #9
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answered by marcondesdecampos 3
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