Horário Eleitoral Gratuito
Para descobrir qual é a sua influência sobre o processo de decisão do voto do eleitor, o cientista político Antônio Fernandes Júnior elaborou a pesquisa O horário gratuito de propaganda eleitoral e as eleições ao governo do Estado de São Paulo em 1998. O estudo, que se restringe ao efeito da TV no processo de decisão do voto, foi concluído na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, em junho de 2001.
"O senso comum nos diz que ninguém acompanha o horário eleitoral, pois ele é tedioso, cansativo e, portanto, com influência praticamente nula no processo de decisão do voto. Isso não é verdade", afirma Antônio Fernandes. Ele conta que na eleição de 1998 para governo do Estado de São Paulo, o espaço na televisão foi decisivo para o resultado final, pois alterou o quadro dos candidatos na disputa ao segundo turno.
Inicialmente, Fernandes se baseou em números de pesquisas anteriores: somente 20% dos televisores são desligados quando se inicia o horário eleitoral. Outro dado: conversas com amigos e parentes são o principal fator de influência na escolha de um candidato. "Mas, quando somamos a propaganda eleitoral de TV, os debates entre candidatos e notícias sobre eles, verificamos que a grande maioria tende a decidir seu voto a partir do que vêem na televisão." O estudioso conclui que o horário gratuito na TV é uma das principais fontes de informação da maioria da população. "É a linguagem com a qual estamos acostumados."
Segundo o pesquisador, numa campanha eleitoral há fatores de curto, médio e longo prazo envolvidos no processo de decisão do voto. O programa eleitoral está entre os de curto prazo, que engloba também as conversas com pessoas próximas, os comícios e a campanha nas ruas. Os fatos políticos que ocorrem do início ao fim da disputa eleitoral estão entre os fatores de médio prazo. E a longo prazo estaria a ideologia.
O estudo mostra ainda que todas as classes sociais acompanham, indistintamente e com muita curiosidade, o horário eleitoral. No entanto, os maiores índices de audiência são no início e no fim da veiculação. Mesmo assim, segundo Antônio Fernandes, "45% do aparelhos permanecem ligados no momento de menor audiência."
Fora do ar, longe dos votos
Junho de 1998, três meses antes do horário eleitoral gratuito, o então candidato ao governo de São Paulo Francisco Rossi, de acordo com números utilizados pelo pesquisador, estava na liderança concentrando 28% das intenções de voto. Paulo Maluf, em segundo lugar, tinha 26%. Mário Covas 14%, Marta Suplicy, 11%, Quércia 7% e indecisos 14%. Com o início do horário gratuito na TV, Maluf rapidamente empata com Rossi, Marta Suplicy também se favorece e sobe para 12% nas intenções de voto. Percebendo a importância do horário político Mário Covas adota uma estratégia que mudaria todo esse quadro: entra com uma representação no Tribunal Regional Eleitoral (TRE) contra os demais candidatos por eles terem invadido, na primeira semana, o tempo de programa dos concorrentes a cargos proporcionais.
Com essa ação, Francisco Rossi fica praticamente duas semanas fora horário eleitoral na televisão. "Ele não tinha como se defender, como contra-atacar. Nesse período, a candidatura Rossi 'despencou' de 25% para 19%, já empatando com o terceiro lugar, que era o próprio Covas. A partir daí o Rossi nunca mais se recuperou", conta o cientista político.
Antônio Fernandes explica que as duas primeiras semanas do horário eleitoral são cruciais, pois é o momento da apresentação dos candidatos à grande maioria da população. "É uma situação delicada, não pode haver nenhum erro na estratégia da campanha." Isto acontece, esclarece o pesquisador, porque mudanças na forma de se apresentar um candidato tendem a serem vistas pelos eleitores como contraditórias, fazendo com que surjam dúvidas e uma possível migração de votos para outro candidato. "Qualquer deslize neste período pode ser irreversível."
2006-06-15 02:01:35
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answer #1
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answered by Anonymous
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