Agosto/06
Por que não abaixam os juros?
É impressionante o número de políticos, líderes sociais, empresários, advogados, jornalistas e leitores que ainda não entendem porque o Banco Central não abaixa os juros em termos reais. Nestes últimos 12 meses, os juros não caíram, ao contrário do que foi noticiado em manchetes de jornais.
O que caiu foi a inflação, o juro real ficou na mesma. Se você é um destes que acha que o Banco Central é quem determina a taxa de juros, anote este conselho de teoria econômica.
Só existe uma forma de reduzir os juros em um país onde o Estado toma emprestado para si 80% da poupança do povo. A única forma de reduzir os juros nestes casos é reduzindo a dívida. Ou seja, devolvendo o dinheiro emprestado aos seus legítimos donos, o povo brasileiro.
Se o governo chegasse para os bancos e dissesse: “Toma seu dinheiro de volta, não queremos mais estes empréstimos caríssimos.", os bancos ficariam com um monte de recursos parado nas mãos, sem remuneração e perderiam dinheiro. Para emprestar, teriam de reduzir os juros. Administradores financeiros competentes muitas vezes conseguem reduções nos juros para suas empresas, simplesmente “ameaçando” devolver suas dívidas.
Se o governo devolvesse somente 10% da dívida, e ameaçasse devolver mais 20% nos próximos anos, o juro real despencaria, e o governo pagaria 30% a menos.
Só que todos os nossos governos se recusam a devolver as dívidas que governos anteriores contraíram. Não há interesse nem estímulo político em pagar o que o governo anterior tomou emprestado e gastou. Dá para entender o porquê. Todo governo quer ser reeleito, e para isto tem de gastar mais do que o governo anterior.
O ex-Ministro da Fazenda Delfim Netto ficou famoso por defender abertamente, em 1982, a seguinte heterodoxia econômica: "Dívida não se paga. Dívida se ****, **** e enrola".
Delfim felizmente já mudou de idéia, hoje percebe que a única forma de reduzir os juros é reduzindo a dívida. Reduzir a dívida como proporção do PIB, política defendida atualmente pela maioria de seus colegas economistas, não reduz necessariamente o montante da dívida. Só a faz crescer num ritmo menos acelerado, o que não resolve o problema.
A proposta Déficit Nominal Zero, é um inteligente truque da escola Nominalista de Economia a qual Delfim pertence, que enganaria políticos que por não entenderem de economia reduziriam a dívida sem perceber.
É que a inflação embutida nos juros, não é juros, algo que não canso de alertar aos leitores de Veja, e sim, devolução da dívida. Ao pagar a totalidade dos juros gerando um Déficit Zero, os políticos devolveriam a dívida sem perceber. Ou já perceberam, razão pela qual a proposta não vingou.
A história mostra que o governo nunca devolveu aos seus legítimos donos a dívida que contraiu. De tempos em tempos, na época de inflação brava, o governo tungava os investidores em 30%, e a famosa correção monetária ao longo de sua vida só corrigiu 10% da inflação e não os 100% prometido. Os 5 milhões de famílias que ainda investem em títulos públicos, estão ressabiados, e provavelmente acham que a dívida nunca será devolvida, por isto os juros são elevados.
Torcem por recuperar o investido via juros, e não via devolução do principal. Para piorar a situação, a cada eleição aparece um candidato que anuncia o repúdio da dívida ou o seu calote, este ano na figura de Heloísa Helena, o que simplesmente confirma as piores suspeitas e eleva os juros mais uma vez.
Pode-se fazer política monetária com juros baixos, como no Chile e no México, e o Banco Central só precisa aumentar os juros de 1 a 2% para conseguir o efeito contracionista desejado, o que importa é a variação do juro, não o seu patamar inicial.
Se você é um daqueles que quer ver este país crescer novamente, em vez de escrever artigos sobre como reduzir os juros, lute para que o governo devolva aos seus legítimos donos, aquilo que ele tomou emprestado.
Além de reduzir o montante da dívida e os juros a serem pagos, seria uma lição ética e moral a todos os brasileiros, um exemplo a ser seguido pela sociedade que nem sempre cumpre os compromissos de terceiros. Devolver o que foi tomado.
Stephen Kanitz
stephen@kanitz.com.br
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2006-08-10
11:45:48
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TIOZIM
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