Como a ressurreição beneficiará todos os mortos no inferno
“Oh! Se Tu no Cheol me escondesses, ocultando-me até passar Tua ira.” — Jó 14:13, versão católica romana da Liga de Estudos Bíblicos.
HAVIA uma vez um tempo em que não existia “inferno”. E haverá novamente um tempo em que não existirá “inferno”. Em vista duma asserção tão forte, alguém talvez pergunte: Como se dará isso? Quem o fará? Viveremos até que isso aconteça?
2 Ao falarmos sobre nós vivermos para ver este tempo em que não haverá mais “inferno” somos levados a perguntar: Será isso de benefício para nós os que vivermos então na terra? Fará o desaparecimento do “inferno” com que se solte sobre esta terra um enxame de pessoas do pior tipo, para tornar nossas condições morais e sociais ainda piores do que são hoje? Tal idéia é chocante e amedrontadora. Que coisa boa poderia resultar disso para alguém, para Deus ou para o homem, especialmente para nós, os que já sofremos com perturbações e perturbadores? Estas parecem ser perguntas difíceis. Há, porém, respostas fidedignas a todas estas perguntas. Sem dúvida, todos estarão interessados em saber delas. Assim entenderemos o que realmente há de acontecer.
3 O “inferno” sempre esteve relacionado com a religião. De modo que o mais antigo Livro religioso, a Bíblia, devia poder dar as respostas certas. E ela as dá. A palavra “inferno” tem sido usada durante séculos. Por exemplo, quando o perseguido tradutor da Bíblia, William Tyndale, fez a sua tradução da parte grega da Bíblia original para o inglês, no ano 1525, ele disse em Mateus 11:23: “E tu Cafarnaum, que estás elevada ao céu, para o inferno [hell] serás rebaixada.” Quando o Dr. Martinho Lutero traduziu estas Escrituras Gregas Cristãs para o alemão, em 1522, ele usou a palavra alemã correspondente, “Hoelle”. Mas quando o santo católico romano Jerônimo traduziu as mesmas escrituras do grego comum para o latim, em 383 E. C., ele usou a palavra “infernus”. Então, o poeta italiano Dante Alighieri, do século quatorze, escreveu seu famoso poema intitulado Divina Comédia e chamou a primeira parte dele “Inferno”. Ele retratou o “Inferno” como uma cova funda com círculos cada vez mais apertados, nos quais as almas humanas condenadas sofriam após a morte do corpo. Tinha Dante razão?
4 Os clérigos religiosos da cristandade criaram na mente das pessoas de suas igrejas uma imagem do que eles entendem ser o “inferno”. É uma imagem terrível. A sua idéia do “inferno”, ensinada já por muito tempo, depende da doutrina da alma humana ensinada por eles. Imaginam que a alma humana seja uma coisa separada e distinta do corpo humano. Também, ao passo que o corpo humano é mortal e corrutível, a alma humana supostamente é imortal e incorrutível, sendo espiritual e por isso invisível, algo que não podemos sentir com o tato.
5 Portanto, conforme dizem os clérigos, quando o corpo humano morre, a alma humana não morre, mas sobrevive, embora não a possamos ver com os olhos naturais. Visto que ela precisa então abandonar o corpo em que viveu, precisa ir para outra parte no mundo invisível, espiritual. Mas, para onde? Em termos simples, as almas boas vão para o céu, mas as almas más vão para o inferno. O céu é assim posto em oposição ao inferno, e visto que o céu é um lugar de eterna felicidade e bênção, portanto, o inferno deve ser o lugar de eterno sofrimento, de tormento eterno. Os clérigos dizem que há fogo e enxofre lá no inferno.
6 Os clérigos da cristandade têm ensinado tal idéia dum “inferno” durante muitos séculos. Visto que afirmam ensinar o que a Bíblia Sagrada diz sobre o “inferno”, vemo-nos obrigados a ir diretamente à própria Bíblia para saber exatamente o que ela diz sobre este assunto. É verdade que a palavra “inferno” ocorre dezenas de vezes em diversas traduções da Bíblia, e, segundo tais traduções, a Bíblia ensina que há um “inferno”. Mas, a questão é: O que disseram e mostraram os escritores da Bíblia quanto a que é tal “inferno”? Temos de guiar-nos por aquilo que eles mostraram que é, não por aquilo que outros dizem que tais escritores bíblicos disseram que é. Poderíamos enganar a nós mesmos se deturpássemos aquilo que estes escritores bíblicos disseram.
DESDE QUANDO EXISTE O “INFERNO”
7 Sabemos que este “inferno” já existe pelo menos desde o ano 1750 antes de nossa Era Comum, o que foi há mais de 3.720 anos atrás. Este foi o ano em que os meios-irmãos invejosos de José, filho de Jacó, venderam José em escravidão ao Egito. Mais tarde, estes meios-irmãos mentiram ao seu pai Jacó a respeito do que havia acontecido ao seu amado filho José. Deram-lhe a impressão de que José fora morto por uma fera. O que disse o patriarca Jacó no seu pesar? Onde ele disse que estava então seu filho José? Jacó era hebreu, e a tradução católica romana da Bíblia feita sob os auspícios da Liga de Estudos Bíblicos mostra qual a palavra hebraica que Jacó usou, em Gênesis 37:35. Lemos ali: “Todos os seus filhos e filhas vinham consolá-lo, mas ele recusava toda consolação e dizia: ‘Não! Quero descer em luto ao Cheol [Seol], para junto do meu filho!’” Anos depois, quando os meios-irmãos de José pediram permissão para levar Benjamim, irmão germano de José, ao Egito, Jacó usou novamente esta palavra hebraica e disse: “Se lhe acontecer uma desgraça na viagem que empreendeis, fareis com que meus cabelos brancos desçam cheios de dor ao Cheol.” — Gên. 42:38; veja também 44:29, 31.
8 Os católicos romanos não devem desperceber que a tradução latina das palavras de Jacó pelo seu São Jerônimo não usa aqui a palavra hebraica Seol. Ela usa a palavra latina “infernus” e sua palavra relacionada “inferi”. Mas a tradução católica romana Douay, em inglês, usa a palavra “inferno” em todos os quatro lugares. (A Figueiredo, no primeiro.) Isto significa, então, que o patriarca hebreu Jacó acreditava que seu querido filho José estivesse no Seol, no infernus, no “inferno”. Também, Jacó esperava ir para lá, para junto de seu filho.
9 Não nos deixa isso admirados? Esperava Jacó ir realmente para um “inferno” tal como os clérigos da cristandade descreveram durante séculos às pessoas de suas igrejas? Esperava Jacó ir para um lugar de tormento eterno para sua alma, do qual nunca pudesse sair e acreditava ele que seu precioso filho José estivesse em tal lugar? Portanto, estão Jacó e seu filho José em tal lugar de eterno tormento ardente agora já por mais de 3.600 anos desde a sua morte? Isto seria difícil de acreditar, visto que no último livro das inspiradas Escrituras Hebraicas o Senhor Deus diz por meio de seu profeta Malaquias: “A Jacó eu amei e a Esaú [seu irmão gêmeo] eu odiei.” — Mal. 1:2, 3.
10 De qualquer modo, quando foi que o patriarca Jacó, como homem amado por Deus, foi para o Seol, para o infernus, para o “inferno”? Isto se deu depois de ele morrer no ano 1711 A. E. C., e José e seus irmãos, que ainda viviam, levaram o cadáver embalsamado e o enterraram na caverna de Macpela. Esta se encontrava perto da cidade de Hébron, que hoje está na terra de Israel. Na mesma caverna jazia enterrado o pai de Jacó, Isaque, e também seu avô Abraão. Jacó juntou-se assim a Abraão e Isaque no Seol, no infernus, no “inferno”. — Gênesis 49:33 até 50:13.
11 Não há motivos bíblicos para se acreditar que estes patriarcas hebreus estejam hoje sofrendo num “inferno” de eterno tormento ardente. Somos ajudados a entender isso por outros tradutores bíblicos. Por exemplo, o ex-sacerdote católico romano Martinho Lutero traduziu a palavra Seol por “cova” (die Grube). E mais tarde, no século depois de Lutero, a Bíblia inglesa autorizada pelo Rei Jaime I da Inglaterra, em 1611 E. C., traduziu Seol por “a sepultura”. Os hebreus, os próprios judeus, devem saber o que a sua própria palavra Seol significa; e, por isso, a tradução inglesa da Bíblia feita pela Sociedade Publicadora Judaica dos Estados Unidos traduz a palavra por “a sepultura”. (1917 E. C.) E o mesmo faz a tradução inglesa do rabino judaico Isaac Leeser. (1853 E. C.) Note, porém, que Seol não significa “uma sepultura”). Significa “a sepultura”, quer dizer, a sepultura comum a toda a humanidade morta. Uma vez que entendemos isso a respeito do “inferno”, conforme é ensinado pela Bíblia Sagrada, somos ajudados a compreender a situação da humanidade morta.
12 Assim, começando com o uso que Jacó fez da palavra hebraica, “Seol” ocorre sessenta e cinco (65) vezes nos trinta e nove (39) livros das inspiradas Escrituras Hebraicas. A palavra foi usada pelo profeta Moisés, por Jó, Samuel, Davi, Salomão, Isaías, Jeremias (em Reis), Ezequiel, Oséias, Amós, Jonas e Habacuque.
13 Os tradutores bíblicos não foram uniformes em verter a palavra Seol nas suas línguas. Por exemplo, a Bíblia inglesa autorizada pelo Rei Jaime traduz Seol trinta e uma vezes por inferno, trinta e uma vezes por “a sepultura” e três vezes por “a cova”. (Veja Almeida, ed. revista e corrigida) Portanto, qualquer pessoa razoável admitirá que, nas Escrituras Hebraicas inspiradas, as palavras “inferno”, “a sepultura” e “a cova” significam a mesmíssima coisa. E não há nenhuma relação com fogo, enxofre e tormento eterno. Na versão católica Douay da Bíblia, em inglês, lemos em Eclesiastes 9:5, 10: “Os vivos sabem que hão de morrer, mas os mortos não sabem mais nada. . . . Faze seriamente o que a tua mão puder fazer: pois não haverá obra, nem razão, nem sabedoria, nem conhecimento, no inferno [em latim: inferi] para onde te apressas.”
14 Não é de se admirar, então, que o patriarca Jó, nos seus sofrimentos terríveis pôde dizer: “Quem me dera que me protegesses no inferno [em latim: infernus] e que me ocultasses até que passasse o teu furor, e que me designasses um tempo em que te lembrasses de mim?” (Jó 14:13, Douay) O patriarca Jó sabia que Deus se lembra dos que estão no Seol, no “inferno”, no infernus. Jó cria que Deus se lembraria dele para seu bem, por causa de sua integridade fiel para com o verdadeiro Deus. O profeta Jonas também reconhecia isso, pois, quando estava dentro do grande peixe, no Mar Mediterrâneo, ele disse: “Eu clamei ao Senhor no meio da minha tribulação e Ele me escutou: clamei desde o ventre do inferno [em latim: inferi] e tu escutaste a minha voz.” (Jon. 2:3, Figueiredo) E depois havia também o salmista que escreveu: “Pois não deixarás a minha alma no inferno [em latim: infernus], nem permitirás que o teu Santo veja corrupção.” — Sal. 16:10, Almeida, ed. rev. e corr.
QUANDO NÃO HAVIA “INFERNO”
15 Agora é uma boa ocasião para perguntarmos, em vista de nosso entendimento corrigido do assunto, pela própria Bíblia, quando era que não havia “inferno”, infernus ou Seol? Era no tempo em que o primeiro homem e a primeira mulher, Adão e Eva, estavam no jardim paradísico do Éden, há quase seis mil anos atrás. Lemos a respeito daquele tempo feliz: “Plantou . . . o Senhor Deus um jardim no Éden [um paraíso de delícias, Matos Soares], do lado do oriente, e aí colocou o homem que ele formara.” Mais tarde, Deus colocou ali também a primeira mulher, ao lado de Adão. — Gên. 2:8-23; 1:26-28, Pontifício Instituto Bíblico, de Roma.
16 O “inferno” ou Seol não existia então na terra. Não havia cemitério escavado quer por Deus quer pelo homem. A sepultura comum do homem, assim como existe hoje, não tivera seu início naquele tempo. Não havia então nenhuma necessidade de tal coisa, pois o Senhor Deus não criara a humanidade para ir por fim quer para o “inferno” (Seol), quer para o céu. Ele desejava, amorosamente, que a humanidade vivesse para sempre na terra no meio de condições paradísicas. Foi por isso que ele disse a Adão, mesmo antes de se criar a esposa dele, Eva: “Da árvore da ciência do bem e do mal não comerás, porque no dia em que dela comeres, morrerás ao certo.” — Gên. 2:17, PIB.
17 Para não despercebermos este ponto importante, notemos que o Senhor Deus não disse a Adão que, no dia em que comesse do fruto proibido, ele iria para um “inferno” para sofrer conscientemente para sempre em tormento ardente. Advertiu Adão de que morreria ao certo pela desobediência. Mesmo depois de Adão seguir o exemplo de sua esposa e comer do fruto proibido, Deus disse a Adão na sentença de morte: “Comerás o pão com o suor de tua fronte, até que voltes à terra da qual foste tirado; porque és pó, e em pó te hás de tornar.” (Gên. 3:19, PIB) Isto estava em harmonia com a descrição da criação do homem, que reza: “O Senhor Deus formou o homem com o pó da terra e lhe insuflou nas narinas um hálito de vida, e com isso tornou-se o homem uma alma vivente.” (Gên. 2:7, PIB) O homem tornou-se uma alma humana vivente ao ser criado. Portanto, ao morrer, ele deixaria de ser uma alma vivente, e por isso não sobraria alma para sobreviver, que pudesse ser conscientemente atormentada para sempre em fogo e enxofre.
18 Levando uma vida condenada fora do paraíso de delícias por cerca de novecentos e trinta anos, Adão viveu mais de oitocentos anos depois da morte de seu segundo filho Abel. O justo Abel, que temia a Deus, foi assassinado pelo seu irmão mais velho, ciumento, Caim. Não se registrando a morte de quaisquer filhos de Adão e Eva antes disso, então o “inferno” (o infernus, Seol) veio à existência com a morte e o enterro de Abel. O Senhor Deus disse ao assassino Caim: “Que fizeste? Escuta! O sangue de teu irmão está clamando a mim desde o solo. E agora, maldito és, banido do solo, o qual abriu a sua boca para receber da tua mão o sangue de teu irmão.” — Gên. 4:1-11; 5:1-5.
19 Abel era homem que tinha fé em Deus. Lemos em Hebreus 11:4: “Pela fé Abel ofereceu a Deus um sacrifício de maior valor do que Caim, sendo por esta fé que se deu testemunho de que era justo, dando Deus testemunho com respeito a suas dádivas; e por intermédio dela, embora morto, ainda fala.” (Veja também 1 João 3:12.) Jesus Cristo também disse que Abel era justo. (Mat. 23:35) Por este motivo, o Senhor Deus lembra-se de Abel no seu estado morto, e, por isso, Abel foi para o Seol para o “inferno” ou infernus ao morrer e ser enterrado. Ele ainda se encontra na sepultura comum à humanidade morta. Sua morte foi dessemelhante da dos pecadores sentenciados, Adão e Eva. Podemos ter a certeza de que Deus se lembrará de Abel assim como se lembrará do patriarca Jó, no tempo divinamente designado. — Jó 14:13.
O “INFERNO” NAS ESCRITURAS GREGAS CRISTÃS
20 Visto que acabamos de mencionar Jesus Cristo, é oportuno perguntar: Não ensinou o próprio Jesus Cristo que há um fogo literal no “inferno”? Veja o que ele disse na sua parábola do rico e de Lázaro. Jesus disse: “Morreu também o rico, e foi sepultado no inferno [em latim: infernus]. E, quando estava nos tormentos, levantando os olhos, viu ao longe Abraão e Lázaro no seu seio; e, gritando, disse: . . . sou atormentado nesta chama.” (Luc. 16:22-24, Matos Soares) Esta parábola foi registrada pelo discípulo cristão Lucas na língua grega, de modo que ele não usou a palavra hebraica Seol. A tradução católica romana da Bíblia de Jerusalém mostra a palavra grega usada por Lucas, pois reza: “Morreu também o rico e foi sepultado. No seu tormento no Hades, olhou para cima.” Sim, aqui se usa a palavra grega Hades. E há fogo no Hades, para atormentar os mortos, conforme dá a entender A Bíblia de Jerusalém (The Jerusalem Bible)?
21 Antes de responder a esta pergunta, fazemos a seguinte: Por que tem esta palavra grega Hades aqui traduzida por inferno (infernus) o mesmo sentido da palavra hebraica Seol? Por que não contém a idéia do Hades ensinado nas mitologias gregas pagãs? Porque depois do tempo do poeta grego Homero (ou antes de 700 A. E. C.) o substantivo próprio Hades veio a significar não apenas o “lugar dos espíritos falecidos”, mas também “a sepultura” e “morte”. Veja Greek-English Lexicon, de Liddell e Scott, primeiro publicado em 1843, Volume I, página 21, coluna 2, sob Hades, seção II.)
22 Portanto, quando certos judeus de Alexandria, lá no Egito, que falavam grego, começaram a traduzir as Escrituras Hebraicas inspiradas para o grego comum, por volta de 280 A. E. C., e eles iniciaram o que agora é chamado de Versão dos Setenta (Septuaginta) grega, eles usaram a palavra Hades para traduzir a palavra hebraica Seol. Portanto, ao traduzirem as palavras do patriarca Jacó, em Gênesis 37:34; 42:38; 44:29, 31, eles puseram a palavra Hades na boca de Jacó, para significar “a sepultura”, e não a idéia falsa que Homero tinha do Hades. Portanto, quando se diz que Jesus Cristo usou Hades, este não se refere a um lugar de eterno tormento ardente.
“GEENA”
23 O lugar que Jesus Cristo associava com fogo não era o Hades, mas sim a Geena. Este nome significa realmente “Vale de Hinom”. Refere-se literalmente ao vale de Hinom, ao sul e ao sudoeste de Jerusalém. Nos dias de Jesus, este era usado como depósito de lixo da cidade, e usava-se fogo misturado com enxofre para eliminar o lixo e até mesmo os cadáveres de criminosos considerados vis demais para serem enterrados no Hades, na sepultura comum à humanidade. Em sentido simbólico, na maneira em que Jesus a usava, a Geena era símbolo da destruição total, eterna, a extinção para todo o sempre. O aniquilamento! O nome Geena ocorre apenas doze vezes nas inspiradas Escrituras Gregas Cristãs. O primeiro uso da palavra por Jesus é relatado em Mateus 5:22, 29, 30. Lemos ali (Liga de Estudos Bíblicos):
24 “Quem se irritar contra seu irmão, irá a juízo; quem disser: ‘Raca’ irá à barra do Sinédrio; quem disser: ‘Ímpio!’ será punido na geena de fogo. Se teu olho direito te é ocasião de pecado, arranca-o e atira-o longe de ti: pois é preferível percas um dos teus membros, a ser todo o corpo atirado à geena. E se a tua mão direita te é ocasião de pecado, corta-a e atira-a longe de ti; é preferível perderes um dos teus membros, a veres todo o corpo atirado à geena.” — Veja Marcos 9:43-47.
25 Para ilustrar que a Geena representava a destruição eterna, Jesus disse aos seus doze apóstolos: “Não temais aqueles que matam o corpo, mas não podem matar a alma; temei antes aquele que pode fazer a alma e o corpo perecerem na geena.” (Mat. 10:28, LEB) Então, se aquilo que é chamado “alma” é destruído, como poderia ser atormentado enquanto cônscio, em fogo e enxofre, para sempre? Na Era do Obscurantismo, não levava os perseguidores religiosos para sempre para queimar na estaca o corpo dum chamado “herege”. O fogo não serve para preservar.
26 As outras ocorrências de Geena poderá verificar em Mateus 18:9; 23:15, 33; Lucas 12:5 e Tiago 3:6. Em todos estes casos, a Vulgata latina de Jerônimo usa a palavra geena, não infernus. Os que Deus destina à destruição eterna representada pela Geena são aqueles que, iguais a Satanás, o Diabo, e seus anjos demoníacos, são incorrigíveis, além de poderem ser restabelecidos à justiça. Foi por isso que Jesus, na sua parábola das ovelhas e dos cabritos, disse aos semelhantes a cabritos: “Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, que está preparado para o Diabo, e para os seus anjos.” — Mat. 25:41, Figueiredo.
NÃO ELIMINADOS PARA SEMPRE NO “INFERNO”
27 Significa isso que os que vão para o “inferno”, quer dizer, para o “Hades” ou “Seol”, não são eliminados para sempre ali, que não permanecem ali para todo o sempre? Deve ser assim, se a Bíblia Sagrada mostrar que alguém saiu do “inferno” (infernus, Hades, Seol) para ficar fora para sempre. Lembremo-nos de que o salmista Davi escreveu: “Porque não deixarás a minha alma no inferno [em latim: infernus]; nem permitirás que o teu santo veja corrupção.” (Sal. 15:10, Figueiredo, ed. de 1945; 16:10, Trinitária) Estava Davi falando a respeito de si mesmo? O apóstolo cristão Pedro diz que não. No dia de Pentecostes do ano 33 E. C., Pedro citou este salmo de Davi e o aplicou à pessoa certa. Pedro disse:
28 “Porque não deixarás a minha alma no inferno [em latim: infernus], nem permitirás que o teu santo experimente corrupção. Tu me fizeste conhecer os caminhos da vida, e me encherás de alegria, mostrando-me a tua face. Varões irmãos, seja-me permitido dizer-vos ousadamente do patriarca Davi, que ele morreu e foi sepultado, e o seu sepulcro se vê entre nós até o dia de hoje. Sendo ele pois um profeta, e sabendo que com juramento lhe havia Deus jurado que do fruto dos seus lombos se assentaria um sobre o seu trono; prevendo isto, falou da ressurreição de Cristo, que nem foi deixado no inferno [em latim: infernus], nem a sua carne viu a corrupção. A este Jesus ressuscitou Deus, do que todos nós somos testemunhas.” — Atos 2:27-32, Figueiredo, 1945 e 1968.
29 Muitos dos que têm sido membros das igrejas lembrar-se-ão de terem recitado em conjunto o chamado “Credo” ou “Símbolo dos Apóstolos”, que reza: Creio em Deus Pai onipotente, Criador do céu e da terra; e em Jesus Cristo, seu único Filho, Nosso Senhor, o qual . . . foi crucificado, morto e sepultado; desceu aos infernos [em latim: inferna], no terceiro dia ressuscitou dos mortos; subiu aos céus, está sentado à direita de Deus Pai onipotente.” Os recitadores deste Símbolo ou Credo têm assim expresso a crença de que Jesus Cristo “desceu aos infernos”. Queriam dizer com estas palavras que desceu ao fogo e enxofre debaixo da terra, a fim de ser atormentado ali para sempre em lugar da humanidade? Não podiam ter-se referido a isso, por que diziam logo nas próximas palavras: “no terceiro dia ressuscitou dos mortos”. Assim, eles mesmos, assim como o apóstolo Pedro, confessaram que, no caso de Jesus Cristo, o “inferno” (infernus) não é um lugar do qual os mortos humanos que entraram nele nunca possam sair. Jesus não sentiu ali nenhum tormento.
30 Jesus Cristo estava no “inferno” (Hades ou Seol) durante partes de três dias (14-16 de nisã de 33 E. C.). Conforme nos diz Eclesiastes 9:5, 10, enquanto estava ali, não estava cônscio de nada. Não achou ali nem trabalho, nem razão, nem sabedoria ou conhecimento. Embora estivesse realmente morto, estava como que dormindo, inativo, desapercebido de tudo. Foi por isso que o apóstolo cristão Paulo escreveu a respeito da ressurreição de Cristo dentre os mortos: “Mas agora ressuscitou Cristo dentre os mortos, sendo ele as primícias dos que dormem.” (1 Cor. 15:20, Figueiredo) Portanto, a ressurreição, de fato, beneficiou a Jesus Cristo, que estivera morto no “inferno” (Hades ou Seol). E, por este motivo, é do propósito de Deus, o Todo-poderoso, que a ressurreição beneficie todos os demais mortos naquele “inferno”. Jesus Cristo foi apenas “as primícias” dos adormecidos ali na morte. A plena colheita de mortos humanos será despertada e trazida para fora no tempo designado por Deus. Esta é a idéia básica contida nas palavras inspiradas do apóstolo Paulo:
31 “Porque como a morte veio na verdade por um homem, também por um homem deve vir a ressurreição dos mortos. E assim como em Adão morrem todos, assim também todos serão vivificados em Cristo.” — 1 Cor. 15:21, 22, Figueiredo.
32 Que o “inferno” (Hades ou Seol) é o lugar do qual todos os mortos hão de ser libertos por meio duma ressurreição nos é assegurado pelas palavras do ressuscitado Jesus Cristo. Por volta do ano 96 E. C., ou trinta e dois anos depois do incêndio de Roma pelo Imperador Nero, o ressuscitado Jesus Cristo apareceu ao apóstolo João numa visão. Esta visão é relatada no último livro da Bíblia, chamado Apocalipse ou Revelação, e nela ele disse ao apóstolo João: “Eu sou o primeiro e o último e o vivente; e fui morto, mas eis aqui estou eu vivo por séculos dos séculos, e tenho as chaves da morte e do inferno [em latim: infernus].” — Rev. (Apo.) 1:17, 18, Figueiredo.
33 Visto ter ele “as chaves da morte e do inferno”, tem o ressuscitado Jesus Cristo o propósito de manter fechados ali para sempre os que estão na morte e no inferno? Ou é preciso que primeiro parentes ou amigos dos falecidos lhe paguem dinheiro antes de ele usar as chaves e deixar sair os que estão na morte e no inferno? Quão egoísta e comercial seria se ele se aproveitasse assim de ter “as chaves da morte e do inferno”!
34 Rejeitando completamente tal idéia, Jesus disse aos seus apóstolos: “O Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir, e para dar sua vida em redenção por muitos.” (Mat. 20:28, Figueiredo) Quando estava na terra como homem, Jesus Cristo nunca cobrou nem um único denário de prata por ressuscitar dos mortos aqueles que fez voltar à vida. O objetivo do ressuscitado Jesus Cristo quanto ao uso das “chaves da morte e do inferno” não é manter os mortos fechados para sempre, mas libertá-los amorosa e gratuitamente. O próprio Deus, que ressuscitou seu Filho Jesus Cristo do “inferno”, confiou-lhe estas “chaves” para este mesmo fim.
35 Na expectativa deste tempo alegre para ele, Jesus Cristo disse aos judeus: “Assim como o Pai tem a vida em si mesmo, assim também deu ele ao Filho ter vida em si mesmo. E lhe deu poder de exercitar o juízo, porque é Filho do homem. Não vos maravilheis disso, porque vem a hora em que todos os que se acham nos sepulcros, ouvirão a voz do Filho de Deus: e os que obraram bem, sairão para a ressurreição da vida: mas os que obraram mal, sairão ressuscitados para a condenação.” (João 5:26-29, Figueiredo) É evidente que a ressurreição de todos os mortos no “inferno” é para o benefício deles. É somente depois de alguns dos ressuscitados do “inferno” voltarem deliberadamente a transgressões que sua ressurreição acabará sendo uma de condenação à destruição eterna. Portanto, o objetivo da ressurreição é benéfico, visando dar vida eterna aos mortos. Abre para eles a oportunidade de usufruir a vida eterna na nova ordem de Deus.
36 Na mesma Revelação, ou Apocalipse, dada ao apóstolo João, o ressuscitado Jesus Cristo forneceu um quadro do tempo em que não haverá mais “inferno”. Isto se dará depois de este velho sistema mundano de coisas ter sido destruído e Deus ter criado novos céus e uma nova terra, quer dizer, um novo governo celestial e uma nova sociedade humana terrestre. Descrevendo esta cena maravilhosa, João escreveu:
37 “E vi um grande trono branco, e um que estava assentado sobre ele, de cuja vista fugiu a terra e o céu, e não foi achado o lugar deles. E vi os mortos, grandes e pequeninos, que estavam em pé diante do trono, e foram abertos os livros; e foi aberto outro livro que é o da vida, e foram julgados os mortos pelas coisas que estavam escritas nos livros, segundo as suas obras. E o mar deu os mortos que estavam nele; e a morte e o inferno [em latim: infernus] deram os seus mortos que estavam neles.” — Apo. (Rev.) 20:11, 13, Figueiredo.
38 Sim, quando o “inferno” (Hades ou Seol) tiver entregue o último morto nele, pela ressurreição de todos os mortos para os quais Jesus Cristo deu sua vida humana em redenção, então não haverá mais inferno. Em toda a terra, os habitantes não verão mais nem um único cemitério ou lápide funerária. A sepultura comum à humanidade terá sido destruída para sempre. É por isso que Apocalipse 20:14, 15, Figueiredo, prossegue: “E o inferno [em latim: infernus] e a morte foram lançados no tanque de fogo. Esta é a segunda morte. E aquele que se não achou escrito no livro da vida, foi lançado no tanque de fogo.” Quão glorioso será este dia de julgamento! “O inferno” receberá o golpe da morte. A morte que toda a humanidade herdou dos pecadores Adão e Eva será morta, deixará de existir, visto que toda a humanidade obediente será levada à perfeição da vida humana num paraíso restabelecido de delícias. As transgressões serão descontinuadas com a destruição de todos os que deliberadamente se tornarem iníquos e que terão de sofrer a penalidade da segunda morte.
[Perguntas de Estudo]
1, 2. (a) Que perguntas são suscitadas pela grande asserção da Sentinela a respeito do “inferno”? (b) Que perguntas se sentiriam induzidos a fazer a respeito de si mesmos aqueles que talvez vivam nesta época?
3. Como traduziram Tyndale, Lutero e Jerônimo a palavra grega original em Mateus 11:23 e como retratou Dante este lugar?
4. A imagem do “inferno” criada pelos clérigos da cristandade depende de que doutrina que eles ensinam?
5. Para onde vai a alma por ocasião da morte, segundo os clérigos, e como se contrasta o “inferno” com o céu?
6. Ensina a Bíblia a existência dum “inferno”, e como podemos saber o que este lugar é?
7. Pelo menos até que tempo remonta o “inferno”, pelo que sabemos, e qual era a palavra na língua antiga primeiro usada para se referir a ele?
8. (a) Que palavra usou Jerônimo na sua tradução latina das palavras de Jacó? (b) Que palavra usou a versão bíblica, inglesa, Douay, e, portanto, onde acreditava Jacó que estivesse seu filho José?
9. Em vista de Malaquias 1:2, 3, por que é difícil acreditarmos que Jacó esperasse ir para um lugar assim como os clérigos ensinam já há muito tempo?
10. Quando é que Jacó foi ao “inferno” e a quem se juntou ali?
11. (a) Como ajudam Martinho Lutero e a Versão Autorizada Inglesa do Rei Jaime a entender o que é o “inferno”? (b) Como verteram tradutores judaicos a sua própria palavra hebraica Seol e quanto abrange o significado desta palavra?
12. Quantas vezes ocorre “Seol” nas Escrituras Hebraicas e que homens usaram nela esta palavra?
13. Que termos mostra a Bíblia autorizada do Rei Jaime ser equivalentes em significado e o que mostra Eclesiastes 9:5, 10, quanto ao que não está relacionado com o “inferno”?
14. (a) Por que podia Jó dizer o que expressou a respeito do “inferno” em Jó 14:13? (b) Como mostraram Jonas e Davi que também reconheciam isso?
15. Quando foi que o “inferno” não existiu?
16. Por que não havia então começado a existir o “inferno”?
17. (a) O que devemos observar que Deus disse ou não disse quando advertiu Adão contra a desobediência? (b) Como concordam com a narrativa da criação as palavras de Deus ao sentenciar Adão, e, por isso, o que não podia acontecer quando Adão morreu?
18. Conforme mostra a narrativa de Genesis, com a morte e o enterro de quem começou o “inferno”?
19. O que dizem as Escrituras a respeito de Abel, para indicar que ele foi ao Seol para ser lembrado ali?
20. Que perguntas suscita a parábola de Jesus a respeito do rico e de Lázaro com respeito ao “inferno”, e segundo A Bíblia de Jerusalém, que palavra usou ali a narrativa de Lucas?
21. Por que tem a palavra grega Hades usada ali o mesmo significado que Seol e não a idéia de Homero a respeito do Hades?
22. Portanto, quando a Versão dos Setenta grega põe a palavra Hades na boca de Jesus, o que significa ela e o que não significa?
23, 24. (a) Com que palavras associou Jesus o fogo e a que se aplicava literalmente, mas que significado simbólico tinha? (b) Como advertiu Jesus contra a Geena, segundo Mateus 5:22, 29, 30?
25. Para ilustrar que Geena significa destruição eterna, o que disse Jesus a respeito da alma, em Mateus 10:28?
26. Em todos os lugares onde ocorre a palavra grega, que palavra usa a tradução latina de Jerônimo, e quem são os destinados a ir para tal lugar?
27, 28. (a) A experiência específica de quem mostra se os que vão para o “inferno” são eliminados para sempre ou não? (b) No Salmo 16:10, referiu-se Davi a si mesmo? E o que disse Pedro sobre isso em Pentecostes?
29. Como mostra o “Credo dos Apóstolos”, recitado por pessoas religiosas, se o “inferno” é ou não é lugar de tormento eterno em fogo?
30, 31. (a) Segundo Eclesiastes 9:5, 10, o que passou Cristo lá no “inferno”, e, portanto, ele estava como que fazendo o quê? (b) Ser Jesus Cristo chamado de “primícias” dos mortos no “inferno” significa o que para os demais ali?
32. Que o “inferno” é um lugar do qual há libertação é indicado em que palavras de Jesus em Revelação 1:17, 18?
33, 34. (a) O que mostra se é preciso que parentes e amigos paguem a Jesus Cristo dinheiro antes de ele usar as chaves para libertar os que estão na morte e no inferno? (b) De que foi o próprio Jesus Cristo liberto e por que lhe confiou Deus as “chaves”?
35. (a) O que disse Jesus a respeito do tempo alegre em que ele usará a chave do “inferno”? (b) Por que ou como é benéfico o objetivo da ressurreição?
36, 37. A quem se deu uma visão do tempo em que não haverá mais “inferno” e como descreve este a cena?
38. (a) Portanto, como será eliminado o “inferno” e como é isso retratado por Revelação? (b) Como se farão cessar a “morte” e a iniqüidade?
[Foto na página 617]
Dante, o poeta italiano, retratou o “inferno” como lagar em que os humanos sofrem após a morte do corpo. Tinha Dante razão?
[Foto na página 620]
Deus não disse que Adão iria para um “inferno” ardente se comesse do fruto proibido, mas sim que morreria.
[Foto na página 624]
A ressurreição abrirá a oportunidade para os mortos ressuscitados usufruírem a vida eterna. Quando o “inferno” tiver entregue seu último morto, os habitantes da terra nunca mais verão um cemitério, porque o próprio “inferno” receberá um golpe mortal.
[Mapa na página 621]
(Para o texto formatado, veja a publicação)
Geena ou o vale de Hinom era o depósito de lixo da cidade e tornou-se símbolo da destruição eterna.
MAPA DE JERUSALÉM DO PRIMEIRO SÉCULO
ÁREA DO TEMPLO
VALE DE HINOM
(GEENA)
2006-11-06
09:56:04
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Anonymous