Pauta neoliberal da mídia conservadora procura evitar definições
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Mário Augusto Jakobskind
Em tempo de eleição, a mídia conservadora, em nome da democracia, promove debates entre os dois candidatos à Presidência da República que disputam o segundo turno. No primeiro debate realizado na TV Bandeirantes, Lula e Alckmin foram pautados de uma forma a evitar o aprofundamento das questões.
Foi uma demonstração clara que a continuar assim, os dois aspirantes não terão oportunidade de demonstrar as diferenças que os separam, sobretudo no campo econômico. E, como se sabe, as diferenças existem e algumas delas são sutis, necessitando que as questões colocadas pelos jornalistas contribuam para se chegar lá.
Mas como a mídia conservadora não tem interesse nenhum que isso aconteça, é preferível montar um show midiático. Se a Bandeirantes, que ainda permite um debate um pouco mais solto, pode-se imaginar o que a TV Globo está aprontando em matéria de debate despolitizado? É isso mesmo, a pauta da mídia conservadora passa claramente pela despolitização, ou seja, nada de aprofundamentos e hora da verdade. Geraldo Alckmin atacou de questão ética, perdendo Lula a oportunidade de colocar com mais ênfase a falsa de ética do PSDB e PFL neste terreno. É cômico, se não fosse trágico, ficar aguentando diariamente figuras
execráveis da política brasileira falar sobre corrupção. O Senador Sérgio Guerra, por exemplo, um dos tais anões do orçamento (lembram?) deitando e rolando em matéria de ética e assim sucessivamente. Só falta agora Dom Paulo Maluf falar em honestidade.
Política externa ajuda a mostrar as diferenças
Mas, voltando a questão temática, no primeiro debate entre Lula e Alckmin praticamente só a política externa ajudou a mostrar as diferenças de posturas. O opusdeista Alckmin atacou o que ele e seus pares direitistas consideram "política frouxa" do governo Lula em relação à Bolívia. Lula deu uma resposta que deixou claro as diferenças entre um e outro. O governo brasileiro, felizmente, não embarcou na onda da direita, que só faltava colocar as tropas de prontidão na fronteira com a Bolívia. A direita brasileira, claro, não entende como um governo como o de Evo Morales defende os interesses nacionais. É o próprio esquema Alckmin.
O candidato direitista tentou criticar outro ponto da política externa, dando a entender que o Presidente fez viagens ao exterior inúteis, quando o Brasil deu uma arrancada no mundo.
Em síntese, o governo Lula foi à luta para diversificar os pólos de exportação, não se limitando apenas aos Estados Unidos e União Européia. Lula poderia ter mostrado que do lado do PSDB-PFL prevalece, como aconteceu no governo FHC, a subserviência aos Estados Unidos. Poderia lembrar também que os brasileiros corriam o risco de ver repetida a lamentável história protagonizada pelo então Ministro do Exterior de FHC, de nome Celso Láfer, o tal que tirou o sapato, sorrindo, para ser revistado pela alfândega estadunidense. Neste caso, ao contrário que alega Alckmin, não se trata de olhar no espelho retrovisor. É preciso, isto sim, não esquecer o vexame, para que não se repita. Um ministro de Alckmin, seja ele o prócer Láfer ou qualquer outro, não resistiria a uma
interpelação de qualquer funcionário da alfândega estadunidense.
Alckmin cobrou várias vezes a procedência da grana (R$ 1,7 milhão) que seria destinado para a compra do tal dossiê-armadilha. Claro, como bem disse Lula, Alckmin vem de uma área em que os presos eram torturados pelas autoridades e alguns, por causa disso, abriam o bico com rapidez. O caso agora está nas mãos da Polícia Federal, que felizmente, não usa mais os referidos métodos. Lula ao responder uma pergunta genérica, lembrou a falta de bom senso de Bush, que se seguisse os conselhos do Brasil, Alemanha, França e dos mais amplos setores da comunidade internacional, não embarcaria na insensatez da invasão e ocupação do Iraque.
Desmentidos que não valem nada
Alckmin mente e é contraditório. Ele jurou por tudo quanto é sagrado que não vai privatizar a Petrobrás, o Banco do Brasil, a Caixa Econômica, os Correios etc. Mas ao mesmo tempo,um de seus assessores econômicos, Mendonça de Barros, também conhecido como de lama, em função dos acontecimentos que ele protagonizou como Ministro das Comunicações de FHC, argumentava numa entrevista sobre a necessidade dessas privatizações, sobretudo da Petrobrás. Afinal, quem fala a verdade, ainda mais se tratando de PSDB, cuja linha mestra é levar até as últimas conseqüências as privatizações de estatais? Por que será que a mídia não coloca em confronto os posicionamentos de Alckmin, visivelmente eleitoreiro, e de Mendonça de lama, pragmático do esquema tucano? Outra contradição deste Alckmin. Ele também disse que não integra os quadros da Opus Dei, um grupo da Igreja Católica de extrema direita. Tá bom! Então, como ele explica o fato de que quando era prefeito de Pindamonhangaba, no longínquo ano de 1978, ter, segundo artigo publicado pela revista Fórum, dado o nome do fundador da Opus - Josemaría Escrivá de Balaguer - a uma rua daquele município do interior paulista. Este Alckmin argumenta que apenas um seu tio, nomeado pelo ditador de plantão, Garrasatazu Médici, para o STF foi integrante do grupo de extrema-direita, que também tem vínculos com o capital financeiro. Tem mais: Alckmin é
muito ligado a um senhor chamado Carlos Alberto di Franco, uma figura pomposa que freqüenta as colunas de opinião de jornais conservadores do Rio e São Paulo. Di Franco, professor doutor, diretor de um Master de Jornalismo para editores (um de seus alunos foi Ali Kamel, de O Globo) e outros babados, é militante da Opus Dei, sendo também amigão e consultor para qualquer parada de Alckmin. Por estas e muitas outras, Alckmin e seus desmentidos não podem ser levados muito a sério.
Um tema que deferia entrar na pauta de discussões dos candidatos
Um tema que poderia ser colocado em pauta para discussão, mas não o será por causa do conservadorismo da mídia nacional, é a informação divulgada pela agência de notícias Adital, segundo a qual o governo brasileiro, por meio do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), autorizou a construção de represas que trarão graves impactos ambientais e sociais para brasileiros e bolivianos. O IBAMA aprovou o Estudio de Impacto Ambiental (EIA) para a construção de duas represas no rio Madeira, rio que ocupa o segundo lugar no mundo pela riqueza de sua fauna e constitui o maior afluente do Amazonas. Este projeto, há tempos, tem sido objeto de duras críticas, não apenas dos afetados pelas numerosas represas do Brasil, mas também de cientistas da Bolívia e Brasil, que denunciamo risco de que o território boliviano seja inundado. Prossegue a Adital assinalando que o Fórum Boliviano sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento (FOBOMADE) denuncia que o objeto central das críticas está constituído pelo EIA. Este foi realizado pela Furnas e Odebrecht, o consórcio de empresas brasileiras que impulsiona os projetos. Os termos de referência do EIA, elaborados pelo IBAMA, especificavam como seu objeto as duas hidrelétricas e a la linha de transmissão associada. No entanto, o EIA resultou avaliando apenas as duas hidrelétricas, ficando o referente à linha de transmissão reduzido a alguns parágrafos e, segundo o próprio EIA, o reconhecimento do corredor de 10 quilômetros de largura por mais de 1.400 quilômetros de comprimento, previsto para condutores de 600 a 765 kv, foi feito num só sobrevôo desde Porto Velho (Estado de Rondônia) até Cuiabá (Mato Grosso).
Em suma: amanhã, se os movimentos sociais bolivianos e brasileiros reagirem a postura desta empreitada prejudicial ao meio ambiente, qual será a posição dos tucanos-pefelistas apoiadores de Alckmin? Vão pregar a repressão pura e simples, como é de praxe acontecer nestes casos quando esta gente está a frente de algum executivo. Quem não se lembra o que acontecia no Paraná, por exemplo, quando o Governo estava nas mãos do pefelista Jaime Lerner? Alckmin, rancoroso, já prometeu reprimir os movimentos que luta pela reforma agrária. Por estas e muitíssimas outras é que não dá para entender que 48% dos
eleitores de Heloísa Helena, segundo indicam as pesquisas, vão se bandear no segundo turno para o lado da direita braba hoje representada por Alckmin. Ou será que o esquerdismo de dona Heloisa foi mal entendido pela classe média que optou por ela no primeiro turno presidencial?
Mário Augusto Jakobskind é membro do conselho editorial do jornal Brasil de Fato
2006-10-22 10:05:50
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answer #6
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answered by Irmãos Metrôlha, é $$$ pra XUXU. 7
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